Jack Antonoff
Divulgação

Hoje, Jack Antonoff é um sinônimo de sucesso. Prestes a completar 40 anos de idade, o músico começou a fazer sucesso de verdade com o Fun., banda que se tornou bastante conhecida com o hit “We Are Young”; depois disso, no entanto, sua carreira decolou e ele se tornou produtor de alguns dos maiores nomes da indústria, de Lorde Taylor Swift.

A uma demanda por seus serviços é enorme — só em 2023, seu catálogo ganhou as adições de Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd, de Lana Del Rey; diversas novas faixas das Taylor’s Version dos discos de Taylor Swift; Lost at Sea, de Rob Grant, pai de Lana Del Rey, e o single “Get the Hell Out of Here”, de Maren Morris. Em meio a tudo isso, existe um respiro chamado Bleachers.

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O projeto mais pessoal (talvez de toda a carreira) de Jack Antonoff voltou após cerca de 3 anos com um disco auto-intitulado, sucessor de Take the Sadness Out of Saturday Night e que exibe uma maturidade sonora notável. Mais do que isso, no entanto, o trabalho do Bleachers mostra Antonoff desarmado, confortável em explorar suas raízes e influências sem passar pelos filtros da indústria.

O músico, claro, diz que não há uma pressão pelo sucesso mesmo quando trabalha com nomes gigantes. No entanto, é bem perceptível que é no projeto que ele toma a frente que realmente encontra uma sonoridade que foge de sua própria identidade como produtor — algo que, vale ressaltar, passa longe de ser ruim e faz parte da sua construção de marca.

Em uma entrevista bem-humorada e sincera ao TMDQA!, Jack deu mais detalhes sobre essa vida recheada de compromissos e mergulhou no processo que foi reencontrar inspirações para o Bleachers seguir vivo mesmo no olho do furacão.

Confira a conversa na íntegra a seguir, incluindo trechos em que Jack dá ótimos conselhos sobre os segredos da produção e promete uma vinda ao Brasil em breve!

TMDQA! Entrevista Jack Antonoff

TMDQA!: Oi, Jack! É um prazer falar com você hoje. Poxa, não sabia que teríamos vídeo, desculpe estar com a câmera desligada. Mas é bom te ver e ver que você é você mesmo! [risos]

Jack Antonoff: Olá! Sem problemas. Eu estou te imaginando. [risos]

TMDQA!: [risos] Primeiro de tudo, queria dizer que o novo disco está sensacional. Eu gostei muito mesmo…

Jack: Eu não vejo a hora de ir até aí para tocá-lo!

TMDQA!: Nossa, sem dúvidas, nós estamos esperando por você, tenha certeza disso! Mas, bom, olha, os singles são ótimos e tudo mais, mas me chamou muita atenção o fato do álbum fazer muito sentido quando ouvido do começo ao fim. Tem uma vibe diferente, na minha visão, quando você faz isso. Acho que você sabe bem que vivemos um momento esquisito na indústria, e uma coisa positiva é que temos muita gente jovem voltando a adotar isso de ouvir discos completos. Queria saber se algo nesse sentido entra em jogo quando você vai fazer um disco, se há um pensamento de “fazer um single” e “compor um disco”, por assim dizer…

Jack: A maior lição que tive na vida é que é sempre sobre o que quer que seja que eu esteja sentido. Se eu começar a pensar sobre o que as outras pessoas podem sentir, se eu começar a pensar sobre o que está rolando culturalmente… Não importa. Tipo, o meu trabalho é puxar e esticar essa cultura, independentemente do que esteja rolando com ela.

Eu só quero fazer as coisas que eu sinto, o que soa fácil, mas na verdade é bem difícil. Você tem que constantemente vestir uma grande armadura para se lembrar dessa posição. Mas é só isso que eu faço; se eu penso em um single, por exemplo, eu não sento e fico pensando, “Ah, o que será que as pessoas vão gostar?” e coisas assim. Eu só sento e penso, “Se eu pudesse colocar o mundo inteiro em um lugar, que música eu tocaria pra eles?”.

Quando eu penso na abertura de um álbum, eu penso em uma situação onde eu estou há três anos sem ver um amigo, e qual seria a primeira coisa que eu falaria para essa pessoa. Então, é dessas formas que eu imagino isso. Eu só quero que seja algo que, pra mim, pareça certo, porque aí significa que você está oferecendo ao mundo algo que importa.

TMDQA!: Essa resposta é muito boa! Achei uma reflexão bem interessante e uma baita dica para quem está lançando coisas. Bom, olha, como um estrangeiro aos EUA, eu acho que o Bleachers tem uma cara muito… americana. [risos] E eu digo isso da melhor forma possível.

Jack: Sim. Eu sou muito, muito americano mesmo.

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TMDQA!: Eu me pergunto o quanto disso, do projeto em si, é simplesmente você abraçando as sonoridades e influências que você cresceu ouvindo, talvez simplesmente voltando para um tempo mais simples ou algo do tipo.

Jack: Sabe, às vezes eu acho que os fãs de outros países entendem a música americana melhor do que os americanos, porque eles conseguem ouvi-la claramente sem todas as questões internas esquisitas com relação ao que diabos é a América [EUA]. Tipo, se você está ouvindo na América do Sul, eu sinto que você consegue perceber toda a dor e a alegria de uma maneira muito mais clara, enquanto ao viver no país, você meio que tem que refletir sobre si mesmo dentro disso. E a América [EUA] é uma coisa tão, tão esquisita.

É um lugar esquisito e um conceito esquisito. Tem tanta dor, tanta escuridão, e ao mesmo tempo tem tanta alegria e tanta esperança. Eu acho que o motivo pelo qual a América [EUA] é uma coisa que me inspira é porque se conecta muito com o que é ser simplesmente um ser humano. Muita coisa é fodida, e muita coisa é maravilhosa a qualquer momento.

É por isso que eu adoro viajar pelos EUA. Eu amo andar na rua. Você vê uma coisa de um lado que é a pior coisa que você já viu, e aí você vira pro outro lado e vê a coisa mais bela que já viu. E é muito interessante pra mim ter que colocar isso de uma forma que faça sentido na minha cabeça.

Então, eu nunca quero… Sabe, isso é quem eu sou, é de onde eu sou. Essa luta interna sobre o que é a América está no meu corpo e é algo que eu nunca vou deixar de colocar na minha música.

TMQDA!: É engraçado porque faz sentido pra mim isso que você falou. Tipo, pra mim, enquanto estrangeiro, faz todo sentido você colaborar com o Bruce Springsteen; enquanto isso, alguém dos EUA pode achar esquisito por serem gerações tão diferentes.

Jack: Eu acho que você percebe que é uma luta parecida. Sabe, podemos estar falando sobre racismo, sobre o Vietnã, a imigração, as armas, tipo, esse lugar sempre foi uma bagunça completa com diferentes opiniões.

TMDQA!: Sim. Mudando um pouco de assunto, uma música que me chamou muita atenção nesse disco é “We’re Going to Know Each Other Forever”, que tem uma melancolia que eu não senti tão presente nos trabalhos anteriores. Você pode falar mais sobre de onde veio isso?

Jack: Olha, eu nunca sei de onde elas vêm. Eu só fico feliz quando elas aparecem. Mas depois que elas aparecem, eu geralmente entendo por qual motivo elas apareceram pra mim e, no caso de “We’re Going to Know Each Other Forever”, eu sinto que depois que eu a escrevi eu fiquei tipo… Eu escrevi essa frase que diz “Does anyone leave their hometown and actually survive?” [“Alguém de fato sai da sua cidade natal e sobrevive?”, em tradução livre] e, depois que eu escrevi essa frase, eu comecei a pensar sobre crescer na escola.

E eu pensei que, sabe, é tão estranho. Você vai pra escola e você vê todos os amigos e sabe onde todo mundo está. E aí, as pessoas ficam mais velhas, uma pessoa morre, a outra fica viciada em drogas, essa faz isso, a outra faz aquilo. A vida de todo mundo fica tão complicada. Então, é quase que sério! [risos] Será que alguém sai da sua cidade natal e sobrevive? E isso me fez pensar sobre comunidade e meio que as comunidades nas quais nos encontramos ou que criamos para nós mesmos.

E eu só queria ficar na frente do meu público, porque a esta altura nós estamos juntos há um bom tempo, e simplesmente gritar: “we’re going to know each other forever” [“nós vamos nos conhecer pra sempre”], com toda a glória e toda a dor disso. Então, de fato, é sobre o meu público e a minha família.

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TMDQA!: Falando no seu público, a gente precisa falar sobre você ainda não ter vindo pro Brasil, hein? O que está rolando? Podemos esperar alguma novidade nesse sentido em breve?

Jack: Eu prometo a vocês que estamos indo com esse álbum. Nós temos uma equipe nova pra esse disco e estaremos aí. Essa era a coisa que as pessoas com quem costumávamos trabalhar nunca conseguiram fazer; nos levar até aí. Eu vejo os fãs na internet todos os dias. A paixão pela música aí é especial demais e toda vez que meus amigos vão eu fico com muita inveja! Eu prometo a vocês que estarei aí.

TMDQA!: Aí sim. Vamos estar te esperando! Voltando ao disco, eu posso estar errado nisso, mas eu sinto que vários dos elementos que me chamaram atenção, como essa melancolia, remetem a bandas como The National e Bon Iver. De um jeito ou de outro, são bandas às quais você esteve exposto nos últimos anos, trabalhando com a Taylor Swift e tudo mais. Foi uma inspiração consciente de alguma forma?

Jack: Ah, sim, eu amo as músicas dessas bandas há muito tempo! Mas eu sempre fui muito atraído por… Eu amo quem canta bem grave, fica bem profundo. Então, seja o The National ou o Depeche Mode ou o Tom Waits, eu sempre foi muito inspirado por pessoas com vozes graves. Até o Elvis, porque acho que é a região na qual minha voz soa melhor, então eu amo fazer isso.

TMDQA!: Faz sentido! Jack, como produtor, você definitivamente virou um ícone da cultura Pop atual. Nesse sentido, um disco do Bleachers, que é muito mais pessoal, por assim dizer, há uma certa autoconsciência ao explorar esse lado?

Jack: Não! Uma vez que eu estou no estúdio, não há nenhum tipo de preocupação nesse sentido de forma alguma. Eu sinto, sim, fora do estúdio. Mas eu também sinto que, uma vez que eu comecei a escrever ou estou na sala [de gravação], eu não ligo pra mais nada porque tudo que eu quero fazer é encontrar aquela voz interior e nada mais importa, esteja eu sozinho ou com outra pessoa, é a mesma coisa.

No que diz respeito a fora do estúdio, eu sinto quase que como se a quantidade de informação que é jogada a nós todos os dias faz com que seja quase cômico se importar com algo que não seja o que você pensa.

TMDQA!: É, isso definitivamente faz sentido.

Jack: Então, sabe… Esse é meio que o trabalho também, sabe? Tipo, se a cultura for algo estável, é algo com que não vou me importar muito. Eu não estou dentro da cultura, eu estou do lado de fora dela, puxando e esticando e isso é ser um artista. Se o que eu fizer funcionar para a forma como as pessoas se sentem, ótimo; se soar como algo deslocado muitas vezes, é o que é.

TMDQA!: Sim, faz sentido também. Falando em coisas diferentes, você trabalhou recentemente com o Paramore em um remix de “Sanity”. Não me aguentei e preciso perguntar: tem mais algo vindo aí nessa parceria?

Jack: Isso é tudo que fizemos até agora. Mas o que eu posso dizer é que eu conheço esses três há mais de 10 anos, eles levaram minha banda antiga junto em turnê, e eles sempre me apoiaram tanto e eu os amo tanto.

TMDQA!: Certo. Vamos ver o que vem por aí! [risos] Acho que só temos tempo para mais duas perguntas, então vou tentar ser rápido. Eu sinto que você tem uma trajetória muito única na música, porque você meio que “começou” com Fun.; bom, na verdade, começou bem antes disso…

Jack: Ah, não, o Fun. já era com 10 anos de carreira! [risos]

TMDQA!: É, eu digo no sentido de estourar, porque isso faz com que você não seja um músico frustrado que acabou virando um produtor, sabe? Você teve o seu sucesso, e depois encontrou ainda mais sucesso como produtor. E, agora, você tem outra dimensão na carreira com o Bleachers. Então, eu queria saber qual a sua reflexão sobre essa trajetória e o quão importante é manter um projeto tão pessoal como o Bleachers sem abrir mão de todo o resto, que certamente te ajuda a pagar as contas por aí! [risos]

Jack: Olha, eu estou sempre fazendo o que eu faço. Desde que eu tenho 13 anos até hoje, eu escrevo meus próprios discos, eu os canto, eu amo fazer turnês, eu amo produzir os discos dos meus amigos. Então, sabe, eu só… Eu não tenho controle sobre isso

TMDQA!: Escrever é a sua coisa, né? É o que você sabe fazer de melhor, é o que você faz.

Jack: Sim, é tudo que eu faço, e eu amo fazê-lo. Então, às vezes, eu acho que eu estou aqui de um jeito ou de outro. Então eu fico feliz quando as coisas vão bem, e a lição que você aprende com os sucessos é que basta ser você mesmo. Eu passei muitos anos sem fazer sucesso e estava tudo bem também.

TMDQA!: Pra fechar, como o nome do nosso site é Tenho Mais Discos Que Amigos!, a gente sempre gosta de perguntar: quais foram os discos que mudaram a sua vida? Pode ser um Top 5, ou 3, ou quantos quiser.

Jack: Eu diria que Foreign Affairs, do Tom Awaits, mudou minha vida no sentido de entender a que ponto um artista pode levar as coisas. E No More Shall We Part do Nick Cave e Miseducation of Lauryn Hill e talvez The Decline, do NOFX.

TMDQA!: Nossa, essa é uma surpresa pra mim. Esse é aquele disco que é na verdade uma única música muito longa, né?

Jack: Isso! É uma obra tão bonita. Eu tenho muita vontade de gravar ela inteira um dia, seria legal demais.

TMDQA!: Seria incrível! Apoio muito essa ideia. Quer escolher um último pra fechar um Top 5?

Jack: Eu iria com The Sunset Tree, dos Mountain Goats.

TMDQA!: Maravilha. Jack, muito obrigado! Foi um prazer bater um papo com você, queria que pudéssemos falar mais, mas espero te ver em breve por aqui para continuarmos essa conversa.

Jack: Prometo pra você que estarei por aí! Até a próxima.

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