Edu Falaschi

Edu Falaschi tem o seu nome marcado no heavy metal com uma obra repleta de clássicos desde os tempos de Angra, que agora parecem ganhar um companheiro forte na lista com o lançamento de Vera Cruz, primeiro trabalho do vocalista em carreira solo.

Fazer um disco à altura de clássicos como Rebirth ou Temple Of Shadows não é tarefa fácil e a competição de qual dos discos é o melhor sempre será algo muito subjetivo. O que cabe pontuarmos é que, sim, temos mais um grande álbum de metal brasileiro que, por toda a sua complexidade, pode ser colocado no patamar dos grandes registros já produzidos pelo estilo no nosso país.

Vera Cruz é um disco épico que mistura realidade com ficção e faz um mergulho na história do nosso Brasil, repleto de lendas e batalhas numa busca interessante das nossas raízes — tudo isso acontecendo na época do descobrimento da Ilha de Vera Cruz pelos portugueses, no ano de 1500.

O ouvinte brasileiro de heavy metal que se acostumou a ouvir várias bandas estrangeiras cantando e tocando suas rapsódias e aventuras medievais tem a chance de entrar de cabeça num universo parecido, só que dessa vez com a nossa autenticidade, com tudo se passando nas nossas fronteiras.

No álbum temos um time de talento inquestionável com os guitarristas Roberto Barros e Diogo Mafra, o baixista Raphael Dafras, Fábio Laguna nos teclados e Aquiles Priester na bateria, refletindo num trabalho cuidadosamente bem elaborado com extrema precisão técnica e a identidade marcante de todos nos arranjos das composições.

Para criar todo o universo de Vera Cruz, Edu se juntou a Fabio Caldeira (Maestrick) que desenvolveu um livro com toda a história que se tornaria a obra musical produzida por Thiago Bianchi (Noturnall, Shaman) e que chega no momento em que o vocalista comemora 30 anos de carreira.

Vários momentos podem ser destacados, como a rápida “The Ancestry”, “Sea Of Uncertainties” e a espetacular “Land Ahoy”, que traz um clima que resume muito bem o disco no quesito metal brasileiro com todas as suas sonoridades.

Edu mais uma vez se mostra um compositor exímio para as belas canções como “Skies In Your Eyes” e ainda guardou para a reta final do disco duas surpresas: as participações de Max Cavalera e Elba Ramalho em “Face Of The Storm” e “Rainha do Luar”, respectivamente.

Temos uma obra que merece ser ouvida com muita atenção e, ao passar das audições, mais detalhes serão absorvidos e cada vez mais a história vai ganhando outros sentidos para o ouvinte.

Tivemos o prazer de conversar numa chamada de vídeo super descontraída com Edu Falaschi que, com um violão em punho e a sua leveza habitual, falou sobre todo o processo de composição do disco, as participações especiais e sobre tudo que podemos esperar nos próximos passos de sua carreira.

Confira a entrevista abaixo!

TMDQA Entrevista Edu Falaschi

TMDQA: Quando a ideia de lançar o Vera Cruz amadureceu na sua cabeça? 

Edu Falaschi: Então, não teve um momento assim do nada, veio vindo, desde 2017 quando iniciei a carreira solo que, como a maioria sabe, comecei com clássicos do Angra e me juntei com o Aquiles Priester e o Fabio Laguna. De lá pra cá, os fãs pediam alguma coisa nova. Com o Aquiles eu não gravava há 10 anos e com ele gravei o EP The Glory At The Sacred Truth. Foi um mega sucesso e atualmente os plays já passaram de 1 milhão.

Continuamos a turnê e o Roberto Barros falava sempre sobre gravarmos um disco e eu ficava esperando o momento certo.

Quando terminamos a turnê do Temple Of Shadows In Concert, decidi com o Roberto que era o momento. A gente se fechou no estúdio e pensei que só iria lançar quando tivesse algo realmente muito bom e ficamos juntos nisso até que nasceu o Vera Cruz. 

TMDQA: Se fosse pra resumir o conceito do disco e a história do Vera Cruz, seria possível? 

Edu Falaschi: Vou tentar resumir. Na verdade é um disco que celebra 30 anos de carreira como cantor, como compositor profissional e é uma homenagem ao Brasil também. Eu tinha esse desejo de falar da história do meu povo, do meu país. 

Bolei uma historia fictícia… Eu gosto dessa parada mais épica, mais medieval e pensei de falar isso com o lance do Brasil. Aí pesquisamos, eu e o Fábio Caldeira, e descobrimos várias coisas incríveis. Vieram vários templários pro Brasil, tem monumentos templários aqui também.

Pensei que seria o link perfeito, pois o Brasil tem essa ligação também com o medieval. Aí desenvolvi a historia que mistura ficção com a história do Brasil. 

TMDQA: Sim… E o público do metal se acostumou a curtir muitas bandas que contam histórias e lendas de suas origens, como Blind Guardian, Rhapsody Of Fire, as bandas da Noruega, não é? Como você enxerga a importância de nós brasileiros também falarmos sobre esses temas e nossas origens e lendas?

Edu Falaschi: É importante a gente estudar, saber das nossas origens. O Brasil é muito grande, uma parte territorial gigantesca. O que você ouve no Norte é totalmente diferente do que você ouve no Sul, é outro mundo, outro universo. O Brasil tem uma cultura muito rica em estilos. Eu acho que a gente tem que se orgulhar de tudo que a gente tem. Quantos países têm a diversidade que a gente tem de cultura, de arte, de linguagem? 

O jeito que se fala no norte, nordeste é diferente do sul. A gente tem uma riqueza pra explicar muito grande, artisticamente falando. 

Se pegarmos o heavy metal tradicional, ele tem uma base, mas a gente tem outras maneiras de tocar isso, a maneira do Brasil. É hora da gente ter orgulho de ser latino, de ter uma cultura foda. A gente tem problemas? Tem pra caralho, mas isso vem do jeito que o Brasil foi tratado, do jeito que o Brasil foi explorado e a gente acha que o Brasil é só isso e não é.

O brasileiro é super inteligente, tem mil características positivas de qualidade de um povo de primeiro mundo que a gente só não destaca por que o podre é mais destacado. 

A gente tem que se orgulhar da parte boa de ser brasileiro, não da parte ruim. E é isso que a música traz, o que temos de mais intrínseco do ser humano. A gente deveria explorar mais isso. 

TMQDA: E na hora de compor esse tipo de trabalho, que tem começo, meio e fim, por onde você começou? 

Edu Falaschi: Quando eu vou compor eu não tenho uma fórmula, eu nunca parei pra compor, tipo; vou fazer uma música agora. Em geral eu estou indo, sei lá, na padaria por exemplo e vem uma ideia. Surge um acorde e eu fico brincando, e de repente vai surgindo, vai nascendo, é meio que intuitivo. Eu faço harmonia, na sequência a melodia de voz. 

No caso do Vera Cruz eu pedi pro Fabio Caldeira escrever a história toda, um livro mesmo. Aí eu peguei esse livro e fiz as letras baseado nele. Foi mais ou menos essa ideia.  

TMDQA: Quando o disco saiu, mais uma vez o mercado japonês foi sucesso absoluto. Você tem alcançado resultados incríveis, pois o disco ficou em primeiro lugar na Amazon, à frente de nomes gigantes do metal mundial. 

Como você enxerga essa diferença entre os mercados brasileiro, europeu e japonês? E como você enxerga a forma que nós brasileiros consumimos metal em tempos de aplicativos de streaming? 

Edu Falaschi: Cara, essa é uma ótima pergunta, mas é muito complexa pra responder. São várias diferenças, principalmente culturais. A gente tem no Japão essa cultura do material físico, é muito importante o CD em si. 

No Brasil eu senti que estavam perdendo esse interesse e pensei que sim, tem gente que gosta e acho que encontrei o porquê da pessoa ir pro streaming e não adquirir o CD físico. 

Se você entregar um material bem feito, como esse que fizemos pro Brasil, exclusivo, um material diferenciado, feito com amor, o fã vai ver que é de verdade e vai comprar. Assim a gente vendeu duas mil caixas do box que fizemos com o Vera Cruz. 

É uma questão de mostrar pra galera que é legal ter. O streaming também é legal, é prático, pra ouvir no carro, mas o que eu penso é que uma coisa não substitui a outra. Eu também gosto de streaming, o Spotify é muito bom, mas acho que o físico é muito mais legal pra você mostrar pra alguém, pro seu filho, pro seu pai, pra guardar pra sempre, porque esse material físico é eterno né? 

Eu acho que as diferenças são meio que culturais. O brasileiro é mais amoroso, é mais caloroso, a galera canta tudo no show. Na Europa a galera é mais fria. Tem muitas diferenças em muitas coisas. 

TMDQA: Após o lançamento, vi muitos comentários positivos sobre o fato da sua voz estar muito semelhante a épocas clássicas como a do Temple Of Shadows e do Rebirth, ambos gravados com o Angra. Isso está acontecendo de fato? Tem essa volta da voz do Edu aos tempos clássicos? 

Edu Falaschi: O pessoal percebeu certo. Eu tive um problema na voz por muito tempo e tive que mudar o jeito de cantar que fazia no Rebirth e antes do Rebirth também. Em 2017, 2018 eu comecei a sentir que as técnicas que eu usava antigamente poderiam ser usadas novamente no Vera Cruz. Por isso que tem essa sonoridade e o cara percebe que o mesmo agudo que está nas músicas do Rebirth está no Vera Cruz. É legal pra caramba porque são técnicas de 20 anos atrás.  

TMDQA: Nesse disco você está cercado de grandes parceiros de longa data. Mesmo sendo uma pergunta óbvia, como se deu a entrada deles no processo de composição?

Edu Falaschi: Na verdade quem compôs comigo foi o Roberto Barros, que estava junto desde o inicio da produção. O resto da galera eu mandei a música pronta para que eles colocassem o DNA deles na forma de tocar e acho que esse é o grande tempero do Vera Cruz. Eu deixei todos bem livres para fazer os arranjos, cada qual com suas técnicas. 

É um álbum de um time, foi muito importante pro resultado final. É uma obra de uma equipe. 

TMDQA: Temos o Max Cavalera e a Elba Ramalho participando do disco. O nome da Elba não deixa de ser curioso para um disco de metal. Como se deu essa escolha e como foi o contato com eles pra fazer o convite? 

Edu Falaschi: Desde o início eles foram as minhas escolhas pro disco e eu tive a sorte de ter quem eu imaginei desde o início. 

Ter o Max Cavalera foi algo do caralho! Até hoje eu fico pensando se é real mesmo. A Elba é uma diva, é uma pessoa maravilhosa, cantora sensacional. Fui muito feliz de ter esse presente deles aceitando o meu convite.  

Eles colocaram a vida deles ali, colocaram a voz com vontade, abraçaram o projeto e isso foi o mais importante de tudo.  

A Elba eu fui lá no Rio de Janeiro, fui gravar na casa dela e ela me tratou como um amigo de muitos anos. 

TMDQA: Como é que segura a ansiedade pra colocar esse trabalho na estrada com toda a estrutura que ele merece? 

Edu Falaschi: É foda! O músico quer ir pra estrada. É bom porque essa próxima turnê eu não quero fazer uma turnê simples, a banda no palco e acabou. Como é um disco muito rico, cinematográfico e tal, eu quero fazer uma turnê teatral, uma parada com uma grande produção. Eu tenho tempo e vou tentar realizar tudo isso. 

TMDQA: A última pergunta: você, Edu Falaschi, tem mais discos que amigos?

Edu Falaschi: Cara, eu tenho mais amigos, tenho sim, hahaha!

TMDQA: Edu, muito prazer em falar com você e esperamos te ver na estrada em breve. 

Edu Falaschi: O prazer foi meu! Muito obrigado de verdade pelo espaço e pela oportunidade. Um abração pra vocês! 

 

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