Belvedere - The Revenge Of The Fifth

Por Gustavo Schiochet

Com o lançamento dos primeiros jogos de videogame da série Tony Hawk’s Pro Skater e o sucesso de bandas como CPM 22 e Dead Fish nas rádios e na MTV, no início dos anos 2000 o termo “hardcore melódico” ganhou alguma visibilidade no Brasil.

Criado durante a transição da década de 80 para a de 90, o gênero (também conhecido por alguns como skate punk ou punk rock californiano) nada mais era que uma evolução do hardcore punk de bandas como Black Flag e Dead Kennedys, mantendo a velocidade e a agressividade dessas bandas, mas com mais esmero técnico e um certo apelo pop. Como o próprio nome já diz, uma variação mais melódica.

Mas, ainda que bandas como Bad Religion e Lagwagon já fizessem um som bastante rápido e trabalhado, foi exatamente durante o auge de popularidade do estilo no Brasil que ele, no exterior, começou a ficar mais hardcore e mais melódico. Em grande parte, graças aos não-tão-conhecidos canadenses do Belvedere.

Ao lado de nomes como Propagandhi e Satanic Surfers, a banda formada em 1995 na cidade de Calgary (mas com primeiro disco lançado apenas em 1998) foi uma das principais responsáveis por uma onda de virtuosismo técnico e ritmo ultra acelerado que tomou conta do hardcore melódico a partir dos anos 2000 e que praticamente redefiniu o significado do gênero. Membros de bandas como A Wilhelm Scream, Mute e Forus frequentemente citam Belvedere como o principal nome dessa cena.

Se por tudo que já foi dito até aqui já seria justo imaginar que qualquer lançamento deles teria que superar toneladas de expectativas por parte dos fãs, The Revenge Of The Fifth é muito mais que o quinto disco dos caras. Esse é o primeiro lançamento do grupo em 12 anos e marca o retorno de uma banda que havia acabado e que, para alguns, já carregava um status de lendária. E, para a alegria daqueles que gostam de música complexa, rápida e melódica, o álbum entrega em 12 faixas tudo que era esperado dele e mais um pouco.

A faixa que abre o disco é “Shipwreck”, praticamente um presente para os fãs de longa data do Belvedere. Ainda que estonteantemente rápida e com uma simplicidade jovem digna do início da banda, ela mostra o amadurecimento dos integrantes e a evolução técnica de cada um deles.

O disco segue com “Hairline”, a primeira música nova divulgada para o público desde a reunião, antes mesmo do lançamento do álbum. Um pouco menos rápida, mas muito mais melódica e complexa que a anterior, ela mostra que os fãs podem ficar tranquilos quanto ao novo baterista Casey Lewis, que tinha o difícil trabalho de substituir o incrível Graham Churchill. Com pouco menos de 3 minutos, a track é um dos pontos altos do álbum e tem cara de música que não vai sair do setlist dos caras até o fim (de verdade) do Belvedere.

“Years” é mais uma que parece feita para agradar os fãs mais antigos e aqueles que gostam do punk anos 90 mais tradicional. Curta, rápida, divertida e menos firulenta. Ainda que talvez não tão memorável, é eficiente e direta ao ponto. Mantém a pegada do disco e não deixa o ouvinte perder o interesse pelo que vem a seguir.

A quarta música é uma porrada. Muito rápida e relativamente crua (até onde o virtuosismo do Belvedere permite), “Transmissions” conta com o vocal menos melódico do baixista Jason Sinclair nos versos e lembra bastante faixas clássicas mais pesadas deles como “Cellophane Coffin” e “Slaves to the Pavement”. Mais hardcore como um todo, mas melódica mesmo (e olhe lá) só nos refrães.

“Delicastressin” é uma das melhores músicas do disco. O instrumental é incrível, com destaque para a dobradinha de guitarras de Steve Rawles e Scott Marshal, mas sem perder a pegada e a empolgação que fazem dessa uma ótima música de punk rock acima de tudo.
Depois de 5 músicas, quando você já espera que o disco esteja perdendo fôlego, vem outra paulada. “Revenge Of The Fifth”, que leva o nome do álbum, é talvez a faixa mais virtuosa no instrumental, lembrando em vários momentos o projeto paralelo ultra técnico, rápido e melódico This is a Standoff, liderado pelo vocalista e guitarrista Steve (e que também contava com o ex-baterista Graham) durante o hiato do Belvedere. Com certeza um ponto alto.

De um jeito estranho, “Red Pawn’s Race” oferece um descanso para a intensidade do disco. Com destaque para a simples, porém efetiva, linha de baixo, a introdução da música oferece raros 30 segundos de calmaria em meio ao ritmo frenético disco. Depois, claro, voltam os versos rápidos, além de um solo de guitarra fritado pra headbanger nenhum botar defeito. É uma das músicas mais longas do disco, com pouco mais de 4 minutos, mas não chega a cansar.

“Achiles” vem a seguir, e é outra faixa que já havia sido divulgada antes do lançamento do disco. Ironicamente, é uma das mais fracas e chegou a preocupar os fãs da banda. Pelo menos na modesta opinião deste que vos fala, não chega a ser ruim e funciona melhor aqui que sozinha. O refrão é ótimo e o ritmo mais lento e relativamente imprevisível é bem-vindo, quando ouvido no contexto do disco.

A nona música é “The Architect”, uma das minhas favoritas. Muita velocidade, muita técnica, muita pegada, muita melodia. A introdução e os versos são tão intensos que chegam a deixar zonzo, e são pontuados com um refrão lindamente grudento e mais cadenciado. É tudo tão bom que chega a ser difícil destacar alguma coisa. Faixa incrível. “So Above, So Below” tem apenas um minuto, mas consegue trazer o contraste da simplicidade rápida e upbeat com o peso mais técnico e lento. Um filler, mas um bom filler – e que resume bem o álbum.

Penúltima música do disco, “Carpe Per Diem” é outra que merece destaque. É “diferentona” e um dos momentos mais “roqueiros” do disco, por falta de palavras melhores. Com um riff relativamente simples, mas muito empolgante, é daquelas músicas para puxar ferro ou acelerar o carro ouvindo. É um ótimo fechamento para um disco eletrizante do começo ao fim.

Não, ainda não acabou. Eu sei que eu disse que a faixa 11 é um ótimo fechamento para o álbum, mas é porque a décima segunda música é quase uma faixa bônus, uma cena pós-créditos, uma sobremesa. “Generation Debt” tem um quê de rock progressivo e de heavy metal, muito mais longa e lenta que as outras músicas do disco. É outra pegada, ligada ao resto quase que apenas pelos timbres nos instrumentos e pelo vocal de Steve Rawles, mas exatamente por isso é tão legal. Se a música anterior fecha bem um disco eletrizante do começo ao fim, essa mostra outro lado da mesma banda e dá uma experiência diferente ao ouvinte, muito bem-vinda depois de uma sequência matadora de músicas rápidas. No mais, a arte de capa é bacana e a produção está impecável.

Com muitas músicas ótimas e nenhuma que dê para destacar como um ponto negativo, com certeza The Revenge Of The Fifth vale a ouvida. É o melhor disco do Belvedere? Vai ser lembrado e influenciar mais diversas outras bandas pelos próximos anos? Talvez não, mas sem dúvidas ele não faz feio frente aos atuais clássicos Twas Hell Said Former Child (de 2002) e Fast Forward Eats the Tape (de 2004). Mostra que nos últimos 12 anos a banda não perdeu a energia ou a criatividade. Muito pelo contrário, ganhou maturidade e provavelmente também gastou bastante tempo praticando escalas e essas coisas de músicos técnicos.

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REVIEW GERAL
Nota
8.5
resenha-belvedere-the-revenge-of-the-fifthO disco é tudo que os fãs esperavam e mais. Sobra técnica e velocidade, mas sem sacrificar a melodia e a pegada do álbum, que é empolgante do começo ao fim e demonstra maturidade por parte dos músicos. Ainda assim, só o tempo dirá se será influente e memorável.