blink-182 no Peru
Foto por Amanda Tissot

Demorou, mas aconteceu: o blink-182 finalmente fez a sua estreia nos palcos sul-americanos na noite do dia 12 de março, no estádio da Universidade Mayor de San Marcos em Lima, capital do Peru.

A banda entregou um show que mesclou a nostalgia dos hits clássicos com novidades do disco ONE MORE TIME… (2023) no setlist, muitas piadas sexuais em espanhol e a típica energia adolescente da banda – mesmo enquanto seus integrantes beiram já a faixa dos 50 anos de idade. O trio californiano parecia determinado em apagar a má impressão que deixaram no público latino após o cancelamento da turnê na América do Sul no ano passado com um show muito divertido e enérgico.

O blink-182 já tinha se comprometido em outras ocasiões, porém nunca havia de fato cumprido a promessa de realizar shows no hemisfério sul, fosse porque a banda se separou (em 2005 o grupo entrou em um hiato indefinido logo após confirmar sua presença no falecido Chimera Festival em São Paulo), traumas psicológicos com viagens aéreas ou por outros motivos de saúde de um dos integrantes. 

A realidade é que, desde sua fundação oficial em 1992 até a última terça-feira, os fãs sul-americanos de uma das bandas mais marcantes do Pop Punk dos anos 90 tinham que se contentar em assistir às performances do trio pela TV, internet ou encarar uma viagem intercontinental para poder ver o show de Mark Hoppus (vocal/baixo), Tom DeLonge (vocal/guitarra) e Travis Barker (bateria). 

Isso tudo já é passado para as milhares de pessoas que estiveram no estádio em Lima e conseguiram finalmente assistir não só ao blink-182, mas também a mais uma passagem do icônico Offspring pelo país, além de curtirem a abertura da noite de shows pela banda local (também muito querida pelo público peruano), o 6 Voltios.

Os portões do estádio universitário, que possui capacidade para 32.000 pessoas durante eventos esportivos, foram abertos às 16h30 no horário local. As filas eram extensas e a concentração de fãs nos arredores já era considerável ao longo do dia. Alguns mais fanáticos inclusive encararam a missão de estabelecer um acampamento na parte externa na semana que antecedeu o show para garantir um lugar mais próximo do palco.

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A verdade é que o cancelamento da turnê sul americana do blink-182 em 2023 deixou os fãs peruanos ressabiados, e até o fim de semana que antecedeu o evento ainda havia ingressos disponíveis para todos os setores do estádio. Com a chegada das bandas no país e a perspectiva da realização do show se concretizando, no entanto, os ingressos começaram a sair e na noite do evento restaram somente 200 entradas, segundo informações do fã-site peruano blink-182.peru.

Engana-se porém quem pensa que os milhares de presentes entre o público eram somente peruanos. Desde a chegada da banda na capital Lima no último domingo (10 de março), o que se via pela cidade era um caldeirão de nacionalidades diversas, com a presença de fãs de toda a América Latina em pontos turísticos e também concentrando-se na frente do hotel Miraflores Park, onde a banda se hospedou. Muitos aproveitaram a ocasião do único show fora de festivais da turnê sul-americana do blink-182 para viajar até Lima e fazer parte dessa celebração nostálgica da carreira dos ícones de um subgênero que moldou toda uma geração ao redor do mundo.

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6 Voltios

Com pontualidade, às 18h30 no horário local, o quarteto peruano de pop punk/hardcore
6 Voltios tomou o palco para começar a festa, empolgando os presentes com a sua formação composta por Alexis Korfiatis (voz principal e guitarra), Marcel Caillaux (baixo), César Ríos (guitarra) e Alvaro Charapaqui (bateria). 

Alexis entrou no palco com uma bandeira do Peru amarrada no pescoço, levando o público mais patriota ao delírio, com uma performance bem ensaiada e repleta de canções que foram cantadas pelos presentes como um grande coral.

O 6 Voltios deixou o seu cartão de visita para os veteranos do gênero que emulam, rendendo elogios de Mark Hoppus e Noodles durante os sets das atrações principais. Para os curiosos, a banda acaba de lançar material inédito com o bom single cantado em inglês, “In Your Mind”.

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Offspring

Apesar dos donos da festa na noite da última terça serem o trio de San Diego/Los Angeles, foram os também californianos de Huntington Beach que subiram a régua, executando
uma enxurrada de hits bem conhecidos que permeiam a longeva carreira.

Às 19h30, Dexter Holland (Vocal/Guitarra), Noodles (guitarra), Todd Morse (baixo) e seus músicos de apoio tomaram o palco ao som do interlúdio “Lullaby” sendo executado diretamente nas caixas de som e logo mostraram que não dariam descanso ao público. “Come Out and Play”, “All I Want” e “Want You Bad” em sequência revelaram uma banda com energia renovada, em plena forma, com os vocais de Dexter atingindo notas altas que até um tempo atrás fariam os fãs questionarem a disposição do vocal para aguentar sequências maiores de shows.

O público continuava a chegar ao estádio durante o set do Offspring, sendo que muitos ainda enfrentavam trânsito intenso nos arredores e muitas filas para entrar, mas os já presentes demonstravam como é bom fazer parte de uma plateia latina: cada riff de guitarra era cantado em uníssono no pit, como se todos fossem uma grande torcida organizada. Esse detalhe não passou despercebido por Dexter e Noodles, que a todo momento elogiavam o coral e não conseguiam esconder a sua satisfação por estarem ali mais uma vez. Por muitas vezes os dois estimularam a plateia a continuar se esgoelando e em tom de brincadeira disseram que essa era “a melhor noite da história do rock“.

Noodles também se atentou à quantidade de bandeiras que ilustravam a grade e mostravam a diversidade geográfica do público ali presente e se demonstrou feliz por todos terem escolhido estar ali presenciando mais um show do Offspring. O set da banda continuou com músicas como “Staring At The Sun”, “Original Prankster”, “Hammerhead”, “Bad Habit” e uma cover de “Blitzkrieg Bop” dos Ramones, que contou com a participação de um animador de torcida vestido de gorila, empunhando uma placa com o bom e velho grito de guerra “Hey, Ho! Let’s Go!” em mãos para guiar o público.

Então “Why Don’t You Get a Job” do disco Americana (1998) veio para acalmar as várias rodas punk (ou pogo, como chamam em espanhol), que se proliferaram pela pista ao longo do show, e com ela uma chuva de bolas de praia coloridas que a produção arremessou para cima da plateia durante a música. Noodles voltou a agradecer o público do Peru pela sua entrega junto à banda, disse que amava estar no país para provar sua rica gastronomia e tomar a cerveja Cusqueña (produzida na região da cidade de Cusco).

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O show seguiu com “Can’t Get My Head Around You” e o hit “Pretty Fly (For a White Guy)”, que contou com bonecos infláveis gigantescos do personagem principal do clipe no palco, como se ele fosse um bonecão de posto, o que tirou risadas de muitos ali. Esses elementos cenográficos, além de chuvas de papel picado lançado por canhões na beira do palco, foram constantes ao longo do show.

O Offspring encerrou a primeira parte do set com a clássica “The Kids Aren’t Alright”, deixou o palco e retornou para o bis com “You’re Gonna Go Far Kid”. Noodles aproveitou a deixa para elogiar a performance do 6 Voltios como uma grande representante do punk latino e perguntou quem estava ansioso pela atração principal da noite, fazendo piada com o título da música e dizendo que “esses garotos do blink-182 ainda vão chegar longe um dia“.

Bastante ovacionado pelo público presente, o Offspring deixou claro que definitivamente não é só mais uma banda de abertura.

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blink-182

Após a troca de palco e divertidas interações do público com o fotógrafo Clemente (que trabalha para as estrelas da noite e ficava atiçando a audiência com sua câmera), o momento definitivo havia chegado.

O estádio, agora muito mais cheio, aguardava ansiosamente a queda das luzes para o início do tão aguardado primeiro show do blink-182 na América do Sul. E ela veio, para então dar início a uma introdução com a grandiosa trilha tema do filme 2001: Uma Odisseia no Espaço, “Assim Falou Zarathustra” de Richard Strauss – que acompanhava um vídeo na tela do palco com a formação do símbolo que representa o trio, o sorriso ilustrado acompanhado de 5 setas. Para o delírio absoluto do público presente, Mark, Tom e Travis estavam no palco do estádio San Marcos.

A banda iniciou o seu set com “Anthem Part Two”, faixa de abertura do disco Take Off Your Pants and Jacket (2001), e um grande empurra-empurra começou na região mais próxima da grade, formando “ondas” com as pessoas que tentavam desesperadamente chegar o mais perto possível do palco para ver os seus ídolos de perto.

Assim que a banda entrou no primeiro verso da canção, o som do palco caiu – deixando somente o som cru da bateria de Travis Barker audível, além do coro das pessoas cantando a letra da música. A banda não parou de tocar e a falha logo foi corrigida, ainda antes do primeiro refrão.

A alegria e a energia no ambiente eram contagiantes, não havia forma de ficar parado quando o blink embalou uma sequência nostálgica com “The Rock Show”, “Family Reunion”
e “Wendy Clear”, b-side do já clássico disco Enema of the State (1999). Foi somente após “Feeling This”, que teve seu verso muito cantado por todos presentes, que a dupla dinâmica formada por Mark e Tom começou a interagir com o público, fazendo seu show de comédia com tema sexual, desta vez com Tom falando em espanhol.

O show continuou com um mini-solo de bateria de Travis, que serviu para puxar a ótima “Violence”, do disco homônimo de 2003. A faixa foi combustível para as primeiras rodas do show do blink, e o baixista Mark Hoppus ainda cobriu a cabeça do baterista para que ele tocasse boa parte da música sem conseguir enxergar o seu instrumento. Tom continuou suas piadas escatológicas em espanhol para a decepção do seu parceiro Mark, que só podia lamentar e se desculpar com o público – obviamente tudo dentro do tom de brincadeira e humor impróprio que a banda gosta de carregar desde o início.

A sequência veio com “Up All Night”, a única música do disco Neighborhoods (2011) presente no set. Mark então disse se sentir muito feliz por poder estar com a banda finalmente em Lima e Tom completou dizendo que “viemos de muito longe para poder tocar para vocês aqui. A América do Norte e a América do Sul precisam se unir, somos vizinhos” e então puxou os primeiros acordes de “Reckless Abandon”, que contou com mais uma interrupção do sistema de som geral do palco, enquanto a plateia cantava os primeiros versos. 

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A banda ainda passeou por músicas do seu disco mais recente, ONE MORE TIME…, como “MORE THAN YOU KNOW”, “ANTHEM PART 3”, “TURPENTINE”, “EDGING” e “DANCE WITH ME”, faixa que parece ter sido composta especialmente para ser tocada para audiências latinas, pelo seu grito de “Olê, Olê, Olê!” no refrão. Após “Aliens Exist”, o trio ainda tocou a rápida “Happy Holidays, You Bastard” e passou o microfone para o baterista Travis Barker cantar “FUCK FACE”, música que remete às influências punk/hardcore da banda e foi composta em parceria com Tim Armstrong, do Rancid.

Momentos marcantes do show vieram, por exemplo, durante a canção “Stay Together for the Kids”, quando Mark pediu para o público acender as luzes dos seus celulares, iluminando todo o estádio (mas também deu um comando de voz em espanhol para que a “Siri” mandasse uma mensagem pornográfica para as mães dos presentes) e o hit “I Miss You”, definitivamente a música mais cantada pelo público – especialmente durante o verso “Where are you/and I’m so sorry…”, momento onde a banda deixa o público assumir os vocais de Tom DeLonge, ocasião que vem se repetindo por todos os shows do blink-182 ao redor do mundo. 

O blink-182 ainda revisitou um single da era Matt Skiba, “Bored to Death”, com Tom bastante confortável nos vocais do seu ex-substituto, e começou a se dirigir para o final da apresentação, que durou 1h30 – mas não sem antes emendar os hits “What’s My Age Again”, “First Date” e All the Small Things”, bem cantados e comemorados por todos os presentes. A plateia ficou com um gosto agridoce ao reconhecer o marcante riff de guitarra da abertura de “Dammit”, single da era do disco Dude Ranch (1997) que tradicionalmente marca o fim das apresentações do trio e representou a última possibilidade de moshes, pogos e bate-cabeças da noite. 

Para o bis, a banda retornou ao palco uma vez mais para cantar a balada que dá nome ao seu último disco, “ONE MORE TIME”, fazendo referências visuais no telão do palco a muitos momentos do passado do blink-182. 

Os fãs cantaram uma última vez na noite com Mark, Tom e Travis, que se despediram com a bandeira do Peru no centro do palco ao som da canção “Contigo Perú”, do falecido cantor afro-peruano Arturo “Zambo” Cavero, um gesto gentil de reverência ao país que os recebeu tão bem pela primeira vez no continente sul-americano.

O show de terça-feira foi um grande indicativo do que os fãs brasileiros podem esperar para o próximo dia 22 de Março, na 11ª edição do Lollapalooza, considerando que a banda pouco varia o seu repertório e o formato do show hoje, repleto de efeitos cenográficos e de luzes, não permite mais tantos improvisos como no passado. No que depender do estado catártico dos fãs no estádio San Marcos, a expectativa de ver o show de uma banda tão aguardada há décadas como o blink-182 definitivamente será recompensada.

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