Vandal celebra estreia no palco do AFROPUNK Bahia:
Divulgação

Para muitos artistas, tocar em um determinado evento pode ser um marco fundamental em sua carreira. É assim que Vandal, multiartista baiano, se sente em relação à sua estreia no AFROPUNK Bahia.

Apesar de já ter participado de uma série de festivais brasileiros acompanhando o BaianaSystem, o rapper acredita que sua participação na terceira edição do evento que tem a premissa de celebrar a cultura preta será “uma grande porta de entrada” para outros festivais que acontecem no país e para que olhem diretamente para o seu trabalho.

Em conversa exclusiva com o TMDQA!, Vandal falou sobre sua participação no AFROPUNK e a importância de levar suas músicas para o palco do festival:

Eu sempre olhei o AFROPUNK como uma meta e uma realização por entender que a organização do evento tem esse cuidado de gabaritar gêneros, gabaritar propostas e discursos. E um artista como eu se encontra em cima do palco do AFROPUNK e, sendo um AFROPUNK Bahia, eu me encontro frente ao meu povo, frente à minha gente, frente à minha comunidade, frente a quem eu represento. É o fechar de um ciclo para se abrir outro. Porque estando no AFROPUNK é esperado que o país e que os outros festivais olhem e digam, ‘Nossa, o Vandal, ele pode estar fazendo esse trânsito de festivais pelo país’.

Considerado pioneiro em trazer o Drill e o Grime para o Brasil, o artista também falou sobre a importância do festival continuar oferecendo espaço para o estilo, que no ano passado foi representado através do show da carioca N.I.N.A.

Usando muitas vezes a terceira pessoa para responder as perguntas, Vandal falou sobre sua relação com os gêneros musicais e o papel da artista que tocou na última edição do festival:

O Vandal fala como alguém que realmente fez essa pesquisa, como alguém que deu a cara a tapa, como alguém que guerreou por isso e que fica feliz em ver o quanto o Drill e o Grime se tornaram promissores dentro do país, mas que ainda se vê de uma certa forma excluído disso pelo grande público, pela grande mídia, mas entende que faz parte de um processo. E mais uma vez eu falo em coroar, coroar toda essa caminhada, toda essa luta, toda essa pesquisa.

A N.I.N.A é uma artista muito importante, uma mulher preta, que tem uma contundência dentro do seu discurso, dentro da sua música e que eu tive a felicidade de conhecer pessoalmente.

Na conversa, o músico também falou sobre a presença do seu hit “BALAH IH FOGOH” na trilha sonora da série Cangaço Novo e, sem muitos spoilers, contou o que os fãs podem esperar de sua participação no AFROPUNK Bahia, que acontece no dia 19 de Novembro.

Confira abaixo o papo com Vandal na íntegra!

AFROPUNK Bahia

A terceira edição brasileira do AFROPUNK acontece nos dias 18 e 19 de Novembro, novamente no Parque de Exposições de Salvador e promete ser mais um final de semana de muita celebração da cultura e das vidas pretas.

Além de Vandal, o line-up de peso deste ano também inclui Djonga, Tasha & Tracie convida Tati Quebra Barraco, Carlinhos Brown, Majur, Luccas Carlos, Alcione convida Mangueira, BaianaSystem com Patche Di Rima & Noite e Dia, IZA, KayBlack e Caverinha e muito mais.

Os ingressos ainda estão à venda e podem ser adquiridos através do site do Sympla.

TMDQA! Entrevista Vandal

TMDQA!: Vandal, o anúncio da sua participação no AFROPUNK Bahia foi muito celebrado e chamou atenção de muita gente de forma positiva por ser uma apresentação solo. Como é para você ter esse reconhecimento tanto do festival, como do público que te acompanha?

Vandal: Realmente houve uma celebração muito grande, dentro da cidade principalmente — o povo preto de Salvador, o povo que me acompanha há tanto tempo. Já existia esse clamor pela minha participação dentro do AFROPUNK desde quando foi anunciada a possibilidade da vinda do AFROPUNK para a Bahia. Eu fico muito honrado, fico muito feliz. Obviamente, eu sei da minha importância dentro dessa história, dessa linha de tempo da música Rap de Salvador e do Brasil.

Eu sou um artista bem peculiar, eu sou um artista de trincheira, um artista que mantém uma veracidade no que se propõe a fazer, um artista que trabalha diferente. Mas eu sou um artista que também sofre muito por isso. Eu sou um artista que é excluído de um cenário nacional pelos outros artistas de Rap e pelos outros artistas da música brasileira em si, né?

Meio que eu sou um cara que ficou de parte de tudo e isso acontece também pelo meu posicionamento, pela forma que se vê o Vandal como alguém oriundo de favela, verdadeiramente, genuíno, um puxador, como eu me considero, desse povo preto, desse povo de favela e esse reconhecimento para mim parte de identificação.

Tem muita gente que clama por artistas como eu, por pessoas como eu galgando espaços, conseguindo fazer da sua música sua arte, sendo que nós somos tão honestos e verdadeiros com a nossa arte, com o nosso povo, e o público observa isso.

Tem muita coisa que não tem gabarito, não tem capacidade artística, não tem capacidade musical, não tem contato verdadeiro com público, não tem uma história genuína que eu também respeito e entendo que faz parte do processo, mas que são agraciados de forma muito intensa. E artistas como eu que lutam tanto, que o povo tem essa identificação e que representam genuinamente o povo preto… E frisando, eu sou um artista que não tem um povo branco, o povo branco não é o público majoritário do Vandal.

O Vandal é um artista que tem de forma majoritária o povo, o público preto. É um dos únicos artistas no país que o frontline do seu show é construído por público preto. É um artista que não se gourmetizou e que continua falando e sendo a voz do povo preto de Salvador, da Bahia e do Brasil.

TMDQA!: Você vai estar tocando em casa e eu queria saber qual é a sensação de fazer parte de um evento como esse e qual é importância de levar suas obras para o palco de um festival como o AFROPUNK?

Vandal: Jogar em casa é muito mais gostoso, né? Fazendo essa alusão com futebol, você jogar para sua torcida, para o seu povo, para o seu público. Eu tenho identificação muito forte com Salvador, eu tenho a Bahia como a minha prioridade, como a minha primeira opção em tudo que eu faço — na minha música, no meu discurso, na minha forma de falar, na minha forma de se vestir.

Todo o imagético que circunda Vandal tem o nome São Salvador bem explícito, tem a Bahia bem explícita. Quando eu falo da Bahia eu falo da Bahia inteira, a identificação que eu tenho com o povo do interior, o povo das ilha… Eu sou um artista que circunda a Bahia, eu sou um artista que circunda os bairros de Salvador e a região metropolitana.

Estar no palco do AFROPUNK, que é um festival que tem esse caráter Global… Eu já observava o AFROPUNK há muito tempo dentro das minhas pesquisas de festivais mundo afora, dentro das minhas pesquisas musicais, e eu sempre via os line-ups do AFROPUNK com artistas de estilos e propostas diferentes, de gêneros diferentes.

Eu sempre olhei o AFROPUNK como uma meta e uma realização por entender que a organização do evento tem esse cuidado de gabaritar gêneros, gabaritar propostas e discursos. E um artista como eu se encontra em cima do palco do AFROPUNK e, sendo um AFROPUNK Bahia, eu me encontro frente ao meu povo, frente à minha gente, frente à minha comunidade, frente a quem eu represento. É o fechar de um ciclo para se abrir outro. Porque estando no AFROPUNK é esperado que o país e que os outros festivais olhem e digam, “Nossa, o Vandal, ele pode estar fazendo esse trânsito de festivais pelo país”.

O AFROPUNK irá se caracterizar como uma grande porta de entrada do Vandal para todos esses festivais que acontecem no país, tendo em vista que o Vandal roda esses festivais com o BaianaSystem há muito tempo. Acredito que o AFROPUNK vem para coroar, até porque nesse mesmo dia tem um show do BaianaSystem e tem um show do Olodum.

TMDQA!: No ano passado, o evento trouxe a N.I.N.A, que é uma das fortes representantes do Grime e do Drill do Brasil, e este ano o festival vai destacar o gênero através do seu show, mesmo com você trazendo outros elementos em suas músicas. Como é para você ver que o festival continua oferecendo espaço para esse estilo musical?

Vandal: É muito importante falar sobre Drill no Brasil por essa perspectiva de alguém que realmente foi o pioneiro desse movimento dentro do país, né? Os outros veículos de mídia sempre falam de uma forma como um dos, ou talvez, etc, mas não, o Vandal verdadeiramente é o artista que encabeçou e que ousou e que teve essa coragem de assumir o Drill e o Grime no Brasil.

Foi ele quem deu a cara a tapa, foi quem continuou. Deixo uma ressalva aqui para todos os artistas que também se aventuraram dentro disso, mas o Vandal não se configura como uma soberba pelo pioneirismo dentro desse processo. O Vandal fala como alguém que realmente fez essa pesquisa, como alguém que deu a cara a tapa, como alguém que guerreou por isso e que fica feliz em ver o quanto o Drill e o Grime se tornaram promissores dentro do país, mas que ainda se vê de uma certa forma excluído disso pelo grande público, pela grande mídia, mas entende que faz parte de um processo. E mais uma vez eu falo em coroar, coroar toda essa caminhada, toda essa luta, toda essa pesquisa.

A N.I.N.A é uma artista muito importante, uma mulher preta, que tem uma contundência dentro do seu discurso, dentro da sua música e que eu tive a felicidade de conhecer pessoalmente.

Acredito que agora com o show do Vandal, frisando também que é um show que carrega um mix de vários estilos, é um show que tem uma proposta bem abrangente em relação a nuances musicais e que vai ser coroado nesse palco preto, nesse palco AFROPUNK realizado na nossa Salvador.

TMDQA!: Recentemente, você comentou sobre a presença de “BALAH IH FOGOH” na trilha sonora da série Cangaço Novo e no texto publicado em sua conta do Instagram você aborda a questão da invisibilidade na indústria e aponta que muitas vezes isso te faz querer desistir. Queria saber o que te motiva a continuar apostando em sua carreira e não desistir de sua originalidade, que acaba gerando uma forte conexão com seus fãs?

Vandal: A inclusão de “BALAH IH FOGOH” dentro da trilha sonora de uma minissérie como Cangaço Novo, que mexeu não só com o país, mexeu com o mundo, foi festejada pelo povo de Salvador, festejada pelo povo da Bahia e festejada também nacionalmente, porque se viu ali dentro desse mercado, dentro dessa indústria, uma possibilidade da verdade, de conseguir seu espaço.

Como você conseguir realizar seus sonhos sendo verdadeiro é muito difícil, eu acho que eu sou uma grande prova, um grande exemplo de alguém que se mantém fiel à sua essência, à sua verdade, e estou conseguindo graças a muita luta e muito esforço alcançar a possibilidade de espaços.

Em conversa com o próprio núcleo da série, foi muito importante para mim ouvir deles que a música motivou eles durante as gravações. O feedback que eu recebi do público, das pessoas em Salvador, do dia a dia, nas redes em si foi muito interessante. Eu vi que as pessoas comemoraram juntas comigo. As pessoas me viam nas ruas, mandavam mensagens, todas comemorando muito como se fosse uma vitória delas próprias e isso foi muito importante. Me faz concluir essa resposta com o que me leva até essa motivação, e essa motivação me é dada pelas pessoas.

Eu tenho um sonho de mostrar novas possibilidades, de mostrar para os novos artistas, de mostrar para as pessoas que sonham que é possível sim você fazer o seu caminho sem gourmetizar, sem mudar extremamente o seu jeito, o seu estilo, a sua originalidade.

Eu venho pra mostrar que é possível, sim, você usar os instrumentais que você quer. Eu sofri muito né? Desde quando eu comecei a fazer o tipo de música que eu faço, quando comecei a fazer o Drill, o próprio Grime… Quando comecei a vir com isso eu tocava em São Paulo, eu tocava no Rio de Janeiro, as pessoas apontavam pra mim e pediam pra eu descer do palco, davam risada principalmente da minha forma de escrever, da minha forma característica de escrever nas redes sociais. Riam muito de mim, riam muito da forma que eu me visto, das bolsas que eu uso.

Eu passei esse processo de apontamento, de cancelamento, e de uma certa forma eu consegui e venho conseguindo mostrar para as pessoas que a luta faz com que você consiga. Não abaixe a cabeça para ninguém, para o que é imposto. O Vandal é a personificação do sonho, é o sonho concreto, é o sonho materializado. As pessoas olham e dizem, “Poxa, o Vandal passou por tudo isso e tá conseguindo fazer as coisinhas dele, do jeito dele, da forma que o coração dele tanto quer”.

TMDQA!: O que você acredita que o AFROPUNK Bahia, que está indo para sua terceira edição, pode proporcionar de retorno para sua carreira?

Vandal: Eu creio que seja coroar esse momento que o Vandal já vem vivendo há muitos anos. São mais de 10 anos de carreira dentro dessa história, puxando essa cidade, puxando o povo preto dessa cidade, puxando o povo de favela dessa cidade.

Acredito que o AFROPUNK vai ser esse divisor de águas para a minha carreira, dentro dessa história de mostrar para a indústria, para o mercado, para os grandes festivais que sim, é possível. Que o Vandal é sim uma realidade, que a música feita com veracidade é possível, que a música feita pelo preto, que a música feita por alguém que não detém o público branco, que a música feita por alguém que não é cult, por alguém que não é gourmetizado, é possível. Que sim, existem outros modais de carreira, que existem sim outros discursos, que sim, existe outra forma de se portar, de se vestir, de se manter, de dialogar com público e que sim, existe um outro modal de artista que é o Vandal.

Acredito que o AFROPUNK vem para coroar isso tudo e vem pra mostrar pro Brasil e para o mundo que existe um perfil de artista como Vandal. O Vandal é muito único. O Vandal é o que eu lutei para dentro da minha história. O principal legado que eu venho trazendo para a música brasileira é de se fazer algo único, de se apontar para alguém que é verdadeiro ao extremo, se apontar para alguém que tem ali seu nome, sua história, seu jeito, sua originalidade, sua verdade, seu estilo como identidade principal.

Quando você me ouve, o Vandal é o que ele representa, principalmente para o povo preto e para o povo de favela.

TMDQA!: O que o público pode esperar do seu show no AFROPUNK? Você pode compartilhar algum spoiler? Vai ter algum lançamento novo até o dia do seu show?

Vandal: O povo pode esperar do Vandal o que eles sempre sabem que vão encontrar. Eu sou um artista que se entrega, que tá ali para realmente fazer essa troca honesta e verdadeira com o público. Dentro disso, eu prefiro deixar essa lacuna em relação à estrutura do show, em relação a participações, em relação ao que vai vir musicalmente.

Eu acredito que vai ser um show revelador, vai ser um show com novidades e vai ser um show que vai ser um divisor de águas dentro da minha carreira e para os outros artistas, vai ser um show que vai entregar essas novas possibilidades que eu tanto clamo e que eu tanto luto.

Complementando essa pergunta, eu não poderia deixar de falar e enaltecer o Rap feito na Bahia, o rap baiano. Eu, como um ponto de cultura dentro dessa história, dessa linha do tempo do Rap baiano, desde os artistas mais antigos, dos artistas que não conseguiram efetuar sua caminhada, que tiveram que parar, que tiveram problemas na vida por algum motivo, até para com os artistas novos, que estão nessa luta para conquistar esse espaço… Eu me considero e me coloco como puxador dessa música baiana, desse rap baiano, alguém que é a personificação dessa música feita na Bahia, desse Rap feito na Bahia, e que não mede esforços para fazer com que a voz, o estilo, o jeito de se vestir, as gírias, toda essa temática que é abordada no Rap da Bahia se mantenha viva e forte e consiga permanecer viva e seja levada para os espaços nacionais.

Fico feliz em poder me manter como esse puxador, como essa voz desses artistas e principalmente dessa linha do tempo do Rap feito na Bahia, dessa transição de passado e presente para o futuro.

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