Texto por Gui Beck / Estúdio Gaveta

Fotos por Rafael Beck / Estúdio Gaveta

“Riot”, do inglês, significa “Rebelião”, “Revolta”, “Motim”.

Nome mais do que apropriado a um festival de Rock. Minhas expectativas não eram nada pequenas quando a missão de cobrir o Riot Fest, acontecendo nos dias 16, 17 e 18 de setembro, na metrópole norte-americana de Chicago, se desenhou. Faria o Riot Fest jus ao seu inspirado nome?

Nosso destemido time formado por este que vos escreve mais seu irmão e parceiro criativo saiu de uma primeira experiência de cobertura do Rock in Rio quase que diretamente para o avião rumo a Chicago, terra dos Smashing Pumpkins, de Patti Smith, e claro, mais recentemente, bastante lembrada como o cenário de metade das séries do Universal Channel.

Por conta desse ângulo que escolhi pra começar a falar um pouco do festival de Chicago, as comparações com o Rock in Rio são inevitáveis, uma vez que essa questão do nome é sempre tão presente quando se fala do megafestival brasileiro e se questiona quanto ele condiz com a “alma” do evento, por assim dizer.

O Riot Fest não tem o tamanho todo de um Rock in Rio mas tem alma com certeza, e uma alma furiosa. Não é tanto sobre o line up, que contou, ao longo de 3 dias, com quase 100 atrações, tendo como headliners My Chemical Romance, The Original Misfits e Nine Inch Nails.

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Alexisonfire no Riot Fest 2022
Foto por Rafael Beck / Estúdio Gaveta

É mais sobre uma atitude geral meio que de “assistir à minha banda favorita tocando ao vivo é o que importa”, e não tanto “passar voando de tirolesa na frente do palco enquanto rola o show da minha banda favorita é o que importa”.

E não estou aqui criticando uma coisa nem outra, até porque aqueles que passaram mesmo voando na frente da sua banda favorita no Rock in Rio com certeza jamais irão esquecer a experiência. Só relatando mesmo que no Riot Fest não tinha esse negócio não.

Também não tinha fogos de artifício, nem muito cenário nos shows. Por outro lado, tinha muita música, tocada rápida e furiosamente por boa parte das atrações nos cinco palcos espalhados na área especialmente cercada para o festival no Douglas Park, zona oeste de Chicago. Todos com nomes começando com a letra R, os palcos Riot, Roots, Rise, Radicals e Rebel, tiveram punk, pop punk, emo, rock alternativo, rock industrial e rap, entre alguns outros rótulos possíveis. Se você esperava uma resenha detalhada sobre cada um dos shows, ou mesmo apenas sobre os headliners, sinto desapontá-lo, e, mais do que isso, sinto só trazer esse aviso à essa altura do texto, mas esse não será esse tipo de relato.

O que posso contar, ser de três dimensões que só consegue estar em um lugar por vez que sou, são alguns highlights do que vi e do que mais me impactou pessoalmente nos três dias de festival. De forma bem objetiva e prática, tentando aderir ao espírito sem muita firula do Riot Fest aqui vão meus destaques musicais.

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Primeiro Dia de Riot Fest 2022

Público no Riot Fest 2022
Foto por Rafael Beck / Estúdio Gaveta

Descendents, pela energia do show e pela sorte que tiveram de tocar no fim da tarde, pois cada pôr do sol no parque foi especialmente belo.

Marky Ramone’s Blitzkrieg, pelo setlist generoso recheado de hits dos Ramones e por ver de pertinho a atitude inabalável e mãos rápidas do Marky.

Por fim, Portugal. the Man, que apesar de não ser nenhuma banda estreante, ainda foi uma bela surpresa, ao menos para mim que não tinha muita intimidade com as melodias e o som indie psicodélico da banda. Rolou até cover de “In Bloom”, do Nirvana, no setlist.

Segundo Dia de Riot Fest 2022

Curti bastante Bridge City Sinners com toda uma atitude mais punk em cima da sonoridade folk do banjo, violino e afins.

Alexisonfire foi paulada, barulho dos bons. Bad Religion eu já tinha visto há algumas décadas e segue sem decepcionar. Melhores mosh pits, com homens, mulheres, e acho que vi uma criança e um dinossauro (provavelmente uma pessoa vestida de dinossauro, só pra esclarecer), todos fervendo juntos naquele pôr do sol bonito que já mencionei.

Gogol Bordello e seu gypsy punk é energia do começo ao fim e por conta até da nacionalidade ucraniana do vocalista Eugene Hütz, o show ainda teve um forte tom de protesto anti-guerra.

GWAR foi bem divertido. No palco eles são como se o KISS tivesse tomado uma overdose de esteróides e decidido virar comediante. Teve encenação de decapitação e banho de sangue (cenográfico eu suponho) na galera, sobrando inclusive para o fotógrafo do nosso time, bem próximo do palco no momento da tragédia.

E pra terminar, muito digno de nota foi ter o privilégio de ver Misfits com Glenn Danzig nos vocais e tocando na íntegra o lendário disco Walk Among Us, que completa 40 anos em 2022.

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Terceiro Dia de Riot Fest 2022

Ressalto Lunachicks pela energia, extravagância e presença de palco da banda toda.

Coolio, pela nostalgia dos tempos de clipes clássicos da MTV como o de “Gangsta’s Paradise”. Yeah Yeah Yeahs pela teatralidade e prêmio para a Karen O. de melhor figurino de uma vocalista no Riot Fest.

Ice Cube, porque afinal é o Ice Cube, mas se não fosse, ainda ganhava muitos pontos pela força em cima do palco, seja proferindo sua música, seja comandando o povo com muita autoridade.

E por último, mas com certeza, não menos importante, Nine Inch Nails, que encerrou o festival com todo o peso industrial da sua música, ainda que por conta do clima de penumbra misteriosa que a iluminação e toda a fumaça da cenografia trouxeram, me pergunto se eram eles mesmo ali. Não posso dizer que consegui chegar a uma distância excelente pra ver o show. De onde eu estava não sei se distinguiria entre o Trent Reznor e o Luan Santana.

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Coolio no Riot Fest 2022
Foto por Rafael Beck / Estúdio Gaveta

Parque de Diversões dos Punk Rockers

Skate no Riot Fest 2022
Foto por Rafael Beck / Estúdio Gaveta

O que mais posso dizer sobre o festival? Além da música, tinha skate park, fliperama, roda gigante e outros brinquedos de parque de diversão, mas o que que tinha de sobra mesmo eram tendas de venda dos mais diversos itens.

De produtos de cannabis e óculos de sol a camisetas, botons e patches. Escolhi um monte de coisa legal pra comprar e aí me lembrei que moro no Brasil e não ganho em dólar e larguei tudo. Mas aí, numa nova reviravolta na história, me dei conta de que para ter uma experiência mais completa do festival precisava realmente me tornar um dos frequentadores e ter a experiência do consumo.

Escolhi uma camiseta com estampa da “Volta dos Mortos Vivos” e uns botons legais pra minha filha, saquei o cartão de crédito e acabei com o problema ganhando um pequeno rombo no orçamento. Nada que uns dois dias comendo pão e água não normalizem.

Falando em comida, em um dado momento em que a fome falou mais alto, também nos demos o direito de experimentar um prato de funnel cake que apesar de vir em um formato bem diferente, é muito parecido em sabor com o doce frito conhecido (pelo menos de onde eu venho) como cueca virada, procure no Google.

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Lunachicks no Riot Fest 2022
Foto por Rafael Beck / Estúdio Gaveta

Fora essa extravagância culinária, no quesito alimentação, não demos muita sorte na área de imprensa. Zero comidinhas por lá. Nisso especificamente, ponto para o Rock in Rio que tinha um fornecimento constante e beeem variado de refeições e belisquetes para a imprensa.

Por outro lado, numa demonstração talvez do seu espírito mais rock and roll, o Riot Fest nos forneceu combustível líquido constante, sem e com álcool. Bebida liberada, de shots de Jack Daniels a cerveja, energético, água e outros itens. Prioridades, meu amigo, é o que sempre digo. Comer é necessário, claro, mas haverá ocasiões em que suas prioridades podem mudar.

Claro que eu teria mais coisas para contar mas acho que é chegada a hora de encerrar esse relato. Ainda é cedo em Chicago e temos um dia de folga pra tentar aproveitar. Se o Riot Fest fez enfim, jus ao nome? Fez sim, teve bastante coisa furiosa e foi tudo uma festa.

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