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Crédito: divulgação

Hoje com 43 primaveras completadas, a paulista Dani Louzada descobriu um câncer raro no cérebro há quase dois anos, mais precisamente em Novembro de 2018. Incurável, o tumor cerebral colocou Dani em meio a um grande desafio.

Moradora da capital e longe da família, a então cicloativista (pessoa que usa a bicicleta como meio de transporte e reivindica direitos políticos para a categoria) precisou da ajuda de amigos depois de parar de trabalhar por conta do desgaste físico que chega com o diagnóstico.

Daniela nasceu em Intanhaém, na Baixada Santista, e, anos atrás, foi para São Paulo em busca de uma vida melhor. Com pais já falecidos e sem parentes por perto, Dani contou com duas presenças fundamentais no período mais difícil da sua vida: os amigos Max Alvim e Cris Oliveira.

Ele, cineasta e companheiro em diversas manifestações culturais e também políticas. Ela, cicloativista igual a Dani, mora na casa da amiga para auxilia-la na batalha contra o câncer. Por conta de colegas em comum, Max cruzou o caminho de Dani há pouco mais de dois anos, em um festival de música e comunicação em São Paulo chamado “O Povo Pode”.

Antes, a paciente sempre esteve envolvida com movimentos populares e questões voltadas para mobilidade urbana, além de se dedicar a pessoas em situação de rua. Logo depois, ela adoeceu e eles se aproximaram ainda mais.

Já Cris conheceu Dani nos eventos de cicloativistas. Após um ano pedalando fora do Brasil, Cris voltou ao país e amiga a recebeu em sua casa em São Paulo. É ela quem mais cuida de Dani no dia a dia, embora existam grandes amigos que também colaboram. Eles fazem, por exemplo, bazar, rifa, vaquinha online e muito mais.

O principal é arcar com as contas de aluguel e contratar o serviço de uma cuidadora profissional para Dani, que, com a evolução da doença, não pode ficar sozinha. Com o objetivo de reforçar essa rede de suporte ao longo do tratamento, foi criado um grupo no Whatsapp para oferecer o que for que ela esteja precisando e assim amenizar seu sofrimento.

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Dani antes do diagnóstico de câncer cerebral

Ponto de virada

Três meses atrás, o início de um projeto significou uma injeção de ânimo para Daniela. Disposto a criar recursos para lhe dar sustentação financeira, Max convidou para uma conversa a diretora de canais no YouTube Roby Amaral, da SLK Comunicação. O assunto? Ele queria ampliar a voz de Dani e Roby sugeriu que fosse desenvolvido um canal no YouTube para ela.

O tema começou a ganhar força já que eles acreditavam que Dani tinha muito a contribuir, tanto para quem está com câncer como para quem lida direta ou indiretamente com um paciente oncológico. Sem recursos, Max entrou no projeto como diretor e Roby topou fazer a produção executiva, além de bancar o investimento inicial. Dessa forma, surgiu o “Terminal”.

Mas, se engana quem pensa que o título está associado à terminalidade da vida. Como Dani coloca, seu canal não é sobre a morte, e sim sobre a interrupção, no sentido de deixar de executar tarefas que eram habituais na sua rotina, como pedalar. “Fazer a gestão de um canal com temática tão delicada só potencializa a vontade de aprender e evoluir. Essa é uma área que as pessoas falam pouco, então a gente pode contribuir trazendo um bom vocabulário, uma maneira de se expressar e de falar mais assertivamente com essas pessoas que vivem com o câncer,” define Roby.

“A gente tem todo o canal pensado, com diversos quadros, e uma estratégia clara para que esse conteúdo seja interessante para quem sofre com a doença e também para quem não é paciente. Esse é um trabalho bem minucioso e muito gostoso de fazer porque a gente aprende muito. É gratificante entregar um conteúdo assim. Nós da SLK estamos super animados com o projeto,” completa.

Os mais de mil inscritos no canal, em poucas semanas, é um indicador de que os vídeos estão funcionando. “Eu acredito que contar a verdade, falar sobre os dias não tão legais é a receita do sucesso. Nos comentários aparecem pessoas que têm proximidade com o câncer ou que estão com câncer. Elas fazem elogios, se identificam com a verdade. Todo mundo sente dor,” revela Dani. “Transparência cria esse vínculo,” completa Cris, que está na função de produtora.

Audiência em foco

Sobre os resultados do canal, Erick Lobo, que cuida da inteligência digital do conteúdo postado por Dani, garante que o saldo é positivo. “A gente pega todo o material postado e faz a campanha em cima dessas pessoas que lutam ou lutaram contra o câncer e também aquelas que convivem com um paciente da doença. A gente chega nessas pessoas através do trabalho que é feito, tanto no Facebook quanto no Google, para apresentar esse conteúdo que pode ser interessante para elas. O resultado tem sido muito bom porque há muito engajamento,” afirma.

Erick também revela que o propósito do canal impactou a vida dele: “A gente se apegou a Dani por causa do contato muito próximo. A gente torce por ela e reflete sobre uma realidade que, embora não seja nossa, está presente na vida de tantas pessoas. É um assunto sério e que todo mundo precisa discutir”.

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Cantinho em casa onde Dani grava seus vídeos

Conceitos estruturais

A frente do projeto, esta é a primeira empreitada de Max no YouTube, apesar de ter trabalhado em projetos virtuais antes mesmo do surgimento da plataforma do Google, nos primórdios da internet. Segundo ele, o projeto possui três pilares.

O primeiro é a dimensão informacional, o compromisso de carregar o máximo de informações possível sobre o tema e para a audiência interessada; o segundo é a dimensão de entender que eles carregam o compromisso sobre a humanização do SUS (Dani, desde o início, realiza seu tratamento pelo sistema público de saúde); e o terceiro pilar é a dimensão comunicacional.

“Não cabe ao canal só informar, tem que promover encontros entre as pessoas. A gente vai buscar cada vez mais a relação entre a audiência através dos comentários,” explica Max.

Experiência prévia

Para Dani, o principal atrativo do seu conteúdo é o realismo, ela não esconde suas lutas diárias. O câncer também não é novidade na sua vida. Antes de ser acometida pela doença, Dani passou sete meses cuidando do pai, Iranilto, que teve câncer de pulmão.

“Com a descoberta do meu câncer, eu que tive que aprender a ser cuidada. Já tinha uma bagagem de como conversar com médicos e quero que as pessoas entrem no canal e saibam como conseguir apoio, assim como saibam quais são os seus direitos. As pessoas comparam com câncer com falta de caráter, tipo ‘o fulano é o câncer da sociedade’. Elas (as pessoas) devem tratar o câncer como ele deve ser tratado, para quebrar o tabu,” defende Dani.

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foto: divulgação

Ela conta que seu tipo de câncer atinge 5% da população e que existem poucos estudos, por ser um tipo raro. “Eu era invisível não apenas para a sociedade mas até dentro do hospital. Meu desejo é desmistificar o câncer e criar conexões. O ‘Terminal’ carrega sonhos e esperanças,” reflete a paciente, que pedalava 22 km por dia e agora anda com o auxílio de uma bengala.

Sem esmorecer, Dani exalta o tratamento do SUS. Por meio dele, ela tem acompanhamento no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, hospital de ponta onde alega ser melhor atendida do que em muitos locais da rede privada.

Espaço compartilhado

Como o “Terminal” é um lugar de acolhida diante de uma jornada dura, o canal está ganhando mais uma protagonista. Trata-se da arquiteta e cenógrafa Rita Anderaos, diagnosticada com câncer de mama. “Ela (a Rita) entrou para dar sequência no canal, que não é meu. Ele é do terminal. A proximidade com a finitude faz a gente rever a caminhada, os conceitos se transformam. O câncer muda a sua forma de encarar a vida,” observa Dani, que não se priva dos pequenos prazeres.

Recentemente, ela resolveu tomar um banho de chuva, mesmo sabendo que não podia. Como consequência, precisou se internar. Mas, para Dani, valeu a pena. Naqueles breves segundos, ela se sentiu mais viva que nunca. Afinal, o câncer é somente uma parte dela.

Quem quiser contribuir com a vaquinha virtual da mais nova youtuber do pedaço, é só acessar aqui.

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