Por Nathália Pandeló Corrêa

Foto por Tania Feghali

Kazu Makino passa a quarentena fazendo o que faz melhor: criando. Ela está em um estúdio onde dá os primeiros passos para o próximo disco da banda que a fez popular: Blonde Redhead, um trio novaiorquino que mistura sons psicodélicos, indie, dream pop, experimentais e noise num caldeirão que já rendeu nove álbuns desde 1993.

Para quem cria música há tanto tempo, ela demorou para se aventurar em seu primeiro trabalho solo. Adult Baby foi lançado em 2019 acompanhado de um filme que traduz a sua natureza sinestésica, uma expressão libertária de sensibilidade e experimentação. Talvez ela devesse ter apostado em si mesma há mais tempo, como admite em entrevista ao Tenho Mais Discos Que Amigos!, mas o fato é que essa experiência já exercita novos músculos criativos, que ela põe em prática no próximo trabalho do Blonde Redhead.

Enquanto isso, a vocalista e multi-instrumentista coloca na rua uma nova interpretação para a faixa-título de Adult Baby, um remix assinado por Benke Ferraz, da banda brasileira Boogarins. Conversamos sobre essas incursões de terceiros em um trabalho tão pessoal, como a artista olha para trás na própria carreira e o que ela tem ouvido em quarentena no nosso papo abaixo.

TMDQA!: Oi Kazu, obrigada por seu tempo! Primeiramente, como você tem se mantido ocupada e sem enlouquecer nesses tempos de isolamento social?

Kazu: Oi, estou bizarramente ocupada e às vezes me sinto sobrecarregada, apesar de que todos os dias seguem como os anteriores nesse período. Social e politicamente, mas também fisicamente, é um tempo de provações. Mas no fim, tudo o que eu podia fazer era o que eu sabia… Estou trabalhando em um novo disco do Blonde Redhead com o co-produtor de Adult Baby, Sam Owens, em seu estúdio Flying Cloud, no norte do estado [de Nova Iorque]. Estou vivendo aqui e os gêmeos [os irmãos Simone Pace e Amedeo Pace, que completam o trio] vêm para cá de tempos em tempos.

TMDQA!: Existe uma duplicidade no seu trabalho – nunca é uma coisa só. Loira e ruiva ao mesmo tempo, adulta e bebê tudo junto. A maioria de nós cria e consome arte como uma forma de se entender melhor. A sua música é uma maneira de expressar sua identidade? E se sim, como ela mudou ao longo dos anos e dos projetos diferentes em que trabalhou?

Kazu: Sim, o trabalho solo me pareceu especialmente uma forma de colocar um espelho de mim na música e estou tentando duplicar esse sentimento no novo disco do Blonde Redhead, porque sinto que é preciso ter muito bons motivos para seguir em frente… e eu tendo a ficar um pouco mais relaxada quando trabalho com a banda, então estou tentando não fazer mais isso (risos).

https://www.youtube.com/watch?v=24vnk2mTtKw

TMDQA!: Mesmo assim, um disco de estreia solo pode ser muito sobre o que você tem a dizer, como expressa suas ideias. E você deu vida a Adult Baby em forma de filme com a ajuda da Eva Michon, e agora colaborou com o Benke Ferraz nesse remix. Esses são ambos “estranhos” olhando para dentro do seu trabalho. Como é ter outras pessoas trazendo suas experiências e influências para o que é a sua visão?

Kazu: É simplesmente uma grande recompensa quando seu trabalho passa por outros artistas que você realmente admira. Acho que é a coisa mais lisonjeira, mais do que receber elogios ou qualquer aclamação. O momento em que você sente que seu trabalho teve algum tipo de influência ou faz parte do mundo criativo, por assim dizer.

 

TMDQA!: “Adult Baby”, a faixa, é mais discreta, minimalista e sensual. O remix tem uma abordagem mais dançante e intensa para a mesma música. Ele te mostrou um lado novo da sua própria canção que não conhecia – ou foi a realização de algo que você já tinha em mente?

Kazu: Não, eu não tive nada a ver com isso (risos). Eu realmente amo o que ele fez. O modo como a música sai de mim está fora do meu controle… E eu só tenho que deixá-la existir, então ver uma transformação assim me faz pensar o quanto de controle outros artistas têm sobre suas criações…

TMDQA!: Você já conhecia o Boogarins antes dessa colaboração? Como seus caminhos se cruzaram?

Kazu: Eu sabia da existência deles, porque sempre gostei da cena de música brasileira, mas nós nunca nos conhecemos, apesar de que eu acho que nós participamos do mesmo festival, chamado Coquetel Molotov, em Recife.

TMDQA!: Se você pudesse voltar no tempo e dar um conselho para sua versão mais jovem, quando estava começando a criar música, o que seria?

Kazu: Faça um trabalho solo (risos). Não que eu me arrependa de trabalhar com a banda. Acho que as pessoas muitas vezes se subestimam, incluindo eu mesma. Mas ser ingênua e inocente também é uma boa qualidade, acho. E falaria para ensaiar mais também.

TMDQA!: O nome do nosso site tem tudo a ver com a presença inegável que a música tem nas nossas vidas. Você tem um disco que tem te feito companhia nessas últimas semanas e meses de isolamento?

Kazu: Fiz uma playlist para quando eu não consigo dormir, o que acontece com frequência nesses dias, e tem Ryuichi Sakamoto, Dean Blunt, Arca, Frank Ocean, pessoas assim. Mas quando estou acordada, não ouço nada além da música que estou fazendo agora.

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