Tomar a música como um ofício, independentemente de qualquer área segmentada, é definitivamente muito desafiador. No jornalismo, para ser mais específica, nos cabe lidar com o tanto de informações que recebemos diariamente. Discos e até bandas surgem a todo momento, vivendo um mercado bastante expansivo e que nem sempre são alcançados às massas, e basicamente o nosso papel é tornar isso cada vez mais acessível.

Além de trazer notoriedade aos artistas que buscam certa visibilidade, precisamos também da capacidade de filtrar o que de fato destaca, seja no som, na estética ou em outros detalhes minuciosos que devemos nos atentar ao abordar sobre a música de alguém.

No entanto, não me coube filtrar quando conheci Xavier Amin Dphrepaulezz, conhecido pelo nome de Fantastic Negrito. Uma versão ao vivo de “Scary Woman”, debaixo de um viaduto, me tomou a atenção por completo e já previa o que poderia surgir dali: vencedor de dois Grammys, pela categoria de Melhor Álbum de Blues Contemporâneo, e uma trajetória um tanto peculiar, inclusive de sua terceira vida, como ele mesmo diz.

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Ao chegar quiçá em um dos momentos mais grandiosos da sua carreira, Fantastic não nos poupa visceralidade quando se trata da sua forma de fazer música. Com mais detalhes abaixo, ele fala sobre seu disco mais recente, Please Don’t Be Dead, o Grammy, a relação com Chris Cornell e sua estreia no Brasil. Confira e divirta-se!

TMDQA!: Olá, obrigada pelo seu tempo. Primeiro eu queria saber porque o nome “Fantastic Negrito”? De onde veio e que tipo de mensagem você quis transmitir quando o escolheu?

Fantastic Negrito: Eu escolhi para celebrar de onde a música veio. Para celebrar os heróis do Delta do Mississipi, e celebrar este legado musical que eu sou — um legado que deu tanto à cultura do mundo todo, e realmente não obtém o crédito por isso. Fantastic Negrito não tem nada a ver comigo. É uma desculpa para dizer seus nomes e dar brilho a todos eles.

TMDQA!: Em meio às outras duas, é um prazer conhecê-lo nesta vida. Como vai essa terceira? Desde que você decidiu voltar à música, você vem realizando muito. Como tudo isso veio junto e como você se sente sobre o seu sucesso agora?

Fantastic Negrito: Eu acho que essa terceira vida surgiu porque cheguei em um ponto diferente. Eu estava realmente olhando para a música nesta encarnação de mim mesmo como colaborador. Foi muito diferente da maneira como eu abordava a música antes. Quando eu era mais jovem, eu sempre tentava tirar algo disso – tornar-se uma estrela, conseguir um contrato com uma gravadora – você sabe, ter o melhor de tudo. E então eu acho que é por isso que é diferente desta vez porque eu tomei a decisão de sair às ruas e tocar para as pessoas da Bay Area [na Califórnia]. Isso mudou a maneira que eu percebi a música.

TMDQA!: Vamos falar um pouco sobre o álbum “Please Don’t Be Dead”, que apareceu na nossa lista de melhores discos em 2018 no segundo lugar. Esses registros mostram uma perspectiva muito poderosa sobre a realidade política e social dos EUA. Quando você sentiu a necessidade de cantar sobre esses temas e como isso influenciou o relacionamento com seus fãs e os lugares em que você toca?

Fantastic Negrito: Eu tive a ideia enquanto estava na Europa porque as pessoas me faziam a mesma pergunta: o que está acontecendo na América? E eu nunca realmente vejo minha música como política, mas eu vejo da perspectiva de — eu sou um ser humano vivendo em uma vila chamada Terra e há coisas acontecendo, e está tudo bem em ter algo a dizer sobre isso. E eu acho que sendo um artista, você realmente tem uma grande oportunidade de se conectar com as pessoas através da música. Eu acho que é uma das melhores maneiras, então eu só acho que se você é um artista, há muita coisa acontecendo agora que é muito fácil se inspirar.

TMDQA!: E quanto aos acidentes que o levaram a afirmar que você “morreu” duas vezes, o que fez você escolher a foto para a capa do álbum “Please Don’t Be Dead”. O que exatamente dessa imagem mais se destaca para você e o que ela representa?

Fantastic Negrito: Eu lembro de olhar para a foto e me sentir muito surpreso porque me lembrava do estado em que o mundo estava. Especialmente o estado em que a América estava. Acabamos de passar por uma grande reviravolta, e eu sinto que a América esteve em um acidente, ficou em coma por 3 semanas e está acordando. Ou tem que acordar. Eu pensei que a imagem realmente não tinha nada a ver comigo, mas um retrato da América atualmente.

TMDQA!: E em meio aos tempos difíceis em todo o mundo, o que você acha que é o papel da arte hoje em dia quando se trata de tornar mais fácil para as pessoas passarem por essas fases, além de terem um impacto político?

Fantastic Negrito: Eu não considero minha música política. Eu não gosto da palavra política porque sugere que você está pedindo alguma coisa ou há alguma expectativa. Eu apenas considero a música que faço ser um comentário sobre a vida cotidiana. Nós apenas estamos passando por um período muito tumultuado e divisivo agora, e eu acho que é o trabalho dos artistas estar na linha de frente. Eu não acho que tem que ser político. Eu acho que é realmente sobre a verdade, e eu não acho que política tem muito a ver com a verdade. Mas acho que a arte tem tudo a ver com a verdade.

TMDQA!: Há uma música poderosa neste álbum chamada “Dark Windows”, escrita como uma homenagem a Chris Cornell. Ele levou você para fazer a abertura de sua turnê solo e também os shows de Temple Of The Dog, certo?

Fantastic Negrito: Isso, correto.

TMDQA!: As letras dessa música mencionam músicas do Soundgarden como “Fell On Black Days” e “Black Hole Sun”, e mostram um aspecto sombrio em geral para sua escrita e sua preocupação com Chris. Como foi seu relacionamento com ele e quão importante ele foi para sua carreira? Ele parece ter influenciado muito você, a ponto de você decidir escrever sobre ele. Você se sentiu confortável escrevendo sobre um músico tão conhecido?

Fantastic Negrito: Eu me senti muito confortável escrevendo “Dark Windows” porque acho que Chris e eu tivemos uma conexão muito especial. Nós estávamos muito perto — de uma distância confortável. Não é como se estivéssemos tipo “vamos passear e visitar um ao outro”. Eu acho que foi algo muito profundo entre nós dois artística e criativamente, e ambos fomos canalizados para uma certa frequência. Em um piscar de olhos, nós sabíamos disso, e acabamos fazendo três turnês juntos em um ano. Ele causou um impacto muito profundo em mim e eu queria honrá-lo porque o considero um amigo.

TMDQA!: Falando sobre o Grammy, você já ganhou um com “Last Days of Oakland” e agora com o “Please Don’t Be Dead” pela mesma categoria. Como você se sente sobre esse reconhecimento formal dos críticos, especialmente depois de passar por tanto?

Fantastic Negrito: Eu me sinto muito bem em ser reconhecido. É ótimo e temos que celebrar! Então você tem que guardar tudo e fazer discos. É ótimo ser reconhecido, mas devemos caminhar em direção à luz como artistas. Eu nunca faço um disco pensando no Grammy, já que o momento mais puro e honesto que eu tenho como artista e produtor de discos está sendo naquele estúdio, e eu quero ficar lá porque isso me fez apaixonar pela música novamente. E é nisso que mais me importo. Mas é sempre uma grande honra ser reconhecido pela minhas habilidades e contribuição à música.

TMDQA!: Seus shows ao vivo são conhecidos por sua energia absurda. Como você planeja trazer tanta intensidade no palco, especialmente para a sua estreia aqui no Brasil? O que podemos esperar?

Fantastic Negrito: Já me disseram que o meu show ao vivo é como uma igreja sem religião e eu gosto dessa ideia. Você pode esperar que eu seja um artista que se doa muito no palco porque adoro tocar para o público. É tão catártico e insano, e um momento tão lindo de celebrar o espírito humano. Estamos todos interagindo e sentindo as vibrações do outro, é incrível demais!

TMDQA!: Há algum artista brasileiro que você esteja ouvindo ultimamente?

Fantastic Negrito: Eu amo a música do Brasil, mas sou ruim com nomes. Alguém acabou de compartilhar algumas músicas de um rapper brasileiro chamado Emicida. E claro, lendas como Sergio Mendes, João Gilberto, Milton Nascimento… Eu amo todos eles.

TMDQA!: E para finalizar, a nossa tradição: você tem mais discos que amigos?

Fantastic Negrito: Sim definitivamente. Amigos são um bem raro.

Please Don’t Be Dead chega ao Brasil

A noite TMDQA! com o Fantastic Negrito mudou de lugar e agora irá acontecer no dia 19 de Março, no Cine Joia, icônica casa de shows da capital paulista conhecida por abrigar alguns dos shows mais lendários da cidade.

Com a mudança de local, os valores de ingressos também foram alterados e agora você pode garantir a sua entrada para esse showzão com tickets a partir de 80 reais. Não haverá mais show de abertura na noite.

Veja o serviço logo abaixo e corra para garantir o seu ingresso do show do Fantastic Negrito clicando aqui.

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