Novo espetáculo de teatro Mundaréu de Mim
Crédito: Bruno Favery

A multi-artista Josyara recebeu um convite especial para atuar como diretora musical do espetáculo Mundaréu de Mim e, assim, aceitou o desafio de encarar algo inédito em sua carreira.

Dona de dois elogiados discos de Música Popular Brasileira Contemporânea, Mansa Fúria (2018) e ÀdeusdarÁ (2022), a cantora revelou em entrevista exclusiva ao TMDQA! que sua experiência na música foi fundamental, ao lado de sua intuição, para guiar a peça musical que trata de amor, luto e saudade e se passa no período de Carnaval.

Josyara apontou que o grande desafio durante o processo de construção do musical foi entender que método ela poderia usar e quais necessidades precisaria atender através de sua contribuição.

A partir das composições feitas pelo autor Vitor Rocha ao lado do compositor Gui Leal, a artista tentou visualizar a junção das letras e das cenas com sua proposta de usar naipes de sopro e de percussão, trazendo como referências sonoras trabalhos da Orkestra Rumpilezz e do maestro e multi-instrumentista Moacir Santos. Antes da estreia do espetáculo, ela nos contou:

Essa foi a linguagem que eu quis trazer e também, junto com Beto Lemos, que assumiu os arranjos, quisemos trazer essa brasilidade muito forte, das festas de rua, do carnaval, das manifestações culturais de rua. Então, eu fui entendendo a partir do texto, a partir do que eu posso aproveitar do arranjo pra conversar com aquele personagem, com aquela cena. Foi um desafio que eu ainda vou processar um pouco depois que a estreia acontecer, tudo que eu aprendi.

Mundaréu de Mim tem sido apresentado no Parque da Água Branca, na zona oeste de São Paulo, desde o dia 6 de Outubro e fica em cartaz até o dia 29 de Outubro, tendo ganhado inclusive sessões extras devido à demanda — mais de 15 mil pessoas já foram conferir o espetáculo.

Estreia do musical “Mundaréu de Mim

Como te falamos aqui, todas as sessões, que têm capacidade para receber até 3 mil pessoas, são gratuitas e não há necessidade de garantir os ingressos antecipadamente. A peça pensa na democratização do acesso à cultura e, por isso, é apresentada a céu aberto (mediante lotação) e conta com uma grandiosa estrutura onde os atores ficam em cena o tempo todo.

Na entrevista, Josyara destacou a importância de projetos como esse, que oferecem acesso à cultura de forma gratuita para a população que muitas vezes não consegue ir para shows e espetáculos por questões financeiras.

Confira abaixo o papo na íntegra com a cantora sobre sua estreia como diretora musical e alguns detalhes sobre os bastidores do espetáculo!

TMDQA! Entrevista Josyara

TMDQA!: Oi, Josyara! Tudo bem? É um prazer falar contigo. Pra gente começar, queria saber se essa é a primeira vez que você está assinando a direção musical de um espetáculo. E como foi para você receber esse convite para integrar o time do “Mundaréu de Mim”?

Josyara: Oi! Tudo bem, prazer. É a primeira vez que eu faço uma direção de um espetáculo de teatro musical. E eu recebi, assim… primeiro eu fiquei um pouco assustada quando Duda me ligou mas ela me encorajou e falou, “Ah, vamos nessa, a gente vai criando junto”. Então foi aceito de coração! Fiquei muito feliz.

TMDQA!: No seu disco mais recente, além de compor, cantar e tocar, você assinou os arranjos, a direção e a produção do álbum. Eu queria saber se essa bagagem facilitou ou influenciou o seu trabalho como diretora musical do espetáculo e, se sim, de que forma?

Josyara: Com certeza! Como é a primeira vez em outra linguagem, eu estava ali e estou ainda, já que a gente ainda vai estrear, estou buscando a minha musicalidade, trazendo a minha intuição — como pode soar aquela música, as escolhas da formação, guiando também arranjos.

Então, sem dúvidas, é um olhar que eu sempre uso no meu trabalho enquanto cantora, compositora, produtora, né? Eu fui usando essa percepção musical mesmo que eu tenho, muito pela intuição, pra poder chegar onde a gente chegou agora.

TMDQA!: Eu ia até te perguntar um pouco sobre isso. Como foi essa sua preparação para assumir o cargo desse espetáculo? Como foram seus estudos e quais foram as referências que você usou para direcionar a construção do musical?

Josyara: Pra mim esse foi o grande desafio, né? Que método usar, o que que as pessoas precisam da postura de uma direção musical em um teatro, né? Foi uma coisa que eu fui tateando bastante e vivendo pra captar essas sensações e trocar, tanto com o elenco quanto com Duda.

Mas, basicamente, eu precisei muito entender que canções eram essas que já tinham sido compostas, né? Já tinham sido compostas por Vitor Rocha e Gui Leal. Então, entender como é que elas iam soar na proposta que eu estava querendo trazer, que era a formação de naipes de sopro e naipes de percussão, com influências muito próximas da Orkestra Rumpilezz, Moacir Santos.

Essa foi a linguagem que eu quis trazer e também, junto com Beto Lemos, que assumiu os arranjos, quisemos trazer essa brasilidade muito forte, das festas de rua, do carnaval, das manifestações culturais de rua. Então, eu fui entendendo a partir do texto, a partir do que eu posso aproveitar do arranjo pra conversar com aquele personagem, com aquela cena.

Foi um desafio que eu ainda vou processar um pouco depois que a estreia acontecer, tudo que eu aprendi… até pra nos trabalhos futuros eu já ter um caminho mais firme. Mas foi tudo, como eu já disse, muito intuitivo, muito da minha musicalidade e do meu entendimento de como pode soar uma música ali.

TMDQA!: Eu ia até te perguntar sobre essa junção do seu trabalho com o Vitor e com o Gui Leal. Como funcionou essa parceria e como foi a sua atuação durante esse processo?

Josyara: Então, foi assim… Foi um lugar muito aberto, porque essas canções tinham um formato de piano e voz. A gente viu uma audição, que tinha já um encaminhamento de arranjos, mas a partir dessa escolha de formação que fugiu um pouco desse padrão banda — foi uma coisa mais charanga, fanfarra, grupos de afoxé, muito dessa minha referência pessoal da minha história, da minha cultura — eles foram curtindo, né? Foram gostando muito dessa ideia, dessa linguagem.

E aí, junto com Beto Lemos, que é um grande arranjador e também diretor musical, a gente pôde afinar e ir trazendo a diversidade desses ritmos, da manifestação de rua. Então o público pode ouvir desde o samba enredo ao maracatu e muitos sotaques de Brasil.

TMDQA!: Falando sobre esses sotaques, eu li que a peça foi se adaptando durante os ensaios, até o com o próprio elenco. Eu queria saber se o fato de ter pessoas de diferentes regiões do Brasil no elenco também influenciou na parte musical do espetáculo e, se sim, de que forma?

Josyara: Com certeza. Eu acho que toda dramaturgia de se passar num carnaval… a vontade, o desejo de trazer esses carnavais também, né? Não só as outras manifestações e tudo mais, mas que carnaval é esse? É um só do Sudeste? Não, temos muitos carnavais.

Então, esses sotaques também são do elenco e estão sendo ali enaltecidos e falados do jeito que são. É muito bonito também quando essas canções acontecem e foram escolhas muito bacanas tanto de produção, quanto de Duda, de ter essa diversidade de cores e sotaques muito importante.

TMDQA!: Falando do musical em si, o projeto vai ser completamente acessível, né? Tanto com a entrada gratuita, como por ter a presença de um intérprete de libras, um telão mostrando legendas das músicas e audiodescrição, entre outras coisas. Queria que você me falasse da importância de existirem peças assim, especialmente nesse sentido de ter um entretenimento gratuito desse porte.

Josyara: É isso. Eu acho que está dado que a gente precisa muito de eventos, de acesso à cultura, às linguagens artísticas, porque todo mundo gosta, né? Acho que a dificuldade que a gente tem hoje são peças muito caras, shows que nem todo mundo pode ver.

Então, eu acho que essa parte do IBT [Instituto Brasileiro de Teatro] de trazer essa democratização, da acessibilidade como um todo, é fantástica. Eu acho que foi a coisa que mais me pegou também e é muito bonito a gente ter um musical brasileiro falando de brasilidade pra todo mundo que quiser e puder colar ali no parque com a gente.

TMDQA!: Voltando a falar da sonoridade, a gente sabe que a trama se passa durante o Carnaval, mas a história aborda tanto temas mais alegres como outros mais sentimentais, como o luto. Eu queria que você me contasse um pouco sobre a sonoridade que o público vai encontrar no espetáculo, porque como você falou, a banda vai contar com diversos instrumentos, né?

Josyara: A gente estava querendo muito que os arranjos conversassem com essas canções e com esses momentos, né? Então a gente está falando, como você disse, de um cenário carnavalesco, mas é um drama, muito profundo. Na audição, eu me emocionei muito, sempre me emociono quando eu vejo. Tem cenas belíssimas e a música está ali pra potencializar essas cenas também na conversa.

Eu acho que nisso, junto com esse arranjo, junto com esse momentos lúdicos, emocionantes, casou super bem a presença do sopro, da percussão. Dá uma atmosfera diferente do que a gente está acostumada de algumas formações mais  no padrão baixo, guitarra, bateria. Dá um caráter também.

Tem a coisa dali, como é que fala… De muitas manifestações, como eu disse, rítmicas, mas também tem uma coisa muito grandiosa, épica, nesses momentos. Vai ficar bem bonito, acho que as pessoas vão se emocionar junto com a cena e que a música vai dar esse brilho todo importante pra tudo acontecer.

TMDQA!: Josyara, muito obrigada pela conversa. Para a gente encerrar, você quer deixar uma mensagem ou um convite para os leitores do Tenho Mais Discos Que Amigos?

Josyara: Massa! Obrigada também pelo convite para falar um pouco. Eu quero convidar todo mundo a assistir, a apreciar esse espetáculo tão bonito, tão profundo que fala sobre relações de pai, mãe, sobre perda, sobre luto e também sobre alegria. Fala sobre o desejo de vibrar na alegria também. É muito importante, fala muito das famílias brasileiras como um todo e certamente todo mundo vai se identificar de alguma forma — seja pelas canções, seja pela história. Convido todo mundo a assistir.

Queria também completar com algo que esqueci de falar antes, que para mim foi muito, muito importante nesse processo todo: a Juliana Linhares, que está no elenco, que é uma parceira minha da música, e está fazendo a assistência de direção. Ela é uma grande atriz também, me guiou bastante, me deu muitos insights e me ajudou nas ideias, então acho que vale muito falar dela e trazer o nome dela. Só enriqueceu, foi muito importante para mim.

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