Mike Shinoda (Linkin Park) em 2001
Foto de Mike Shinoda via Shutterstock

Rapper e multi-instrumentista do Linkin Park, Mike Shinoda utilizou um espaço na Rolling Stone para falar das diversas ocasiões de racismo que sofrera com sua família desde a infância. Nipo-estadunidense, o músico chegou a revelar que não conseguia identificar sua história nos livros que estudava no colégio.

“Lembro que quando estudamos a Segunda Guerra Mundial na escola aqui em Los Angeles na década de 1990, havia dois parágrafos em nossos livros de história”, disse Shinoda à revista. “Um sobre Pearl Harbor e outro sobre o encarceramento de 120 mil nipo-estadunidenses.”

Pouco após o ataque de Pearl Harbor fazer com que os Estados Unidos entrassem oficialmente na Segunda Guerra Mundial, em 1941, Franklin Roosevelt emitiu a Ordem Executiva 9066, que determinava que famílias nipo-estadunidenses ao longo da costa oeste do país seriam enviadas para campos de prisioneiros. Isso tudo sob a crença de que eles poderiam estar agindo como espiões de guerra.

Entre esses grupos com milhares de homens, mulheres e, é claro, crianças, estavam o pai de Shinoda e sua família. Não houve um nipo-americano sequer condenado por traição ou espionagem durante esse período, o que fez com que governantes do país se retratassem mais tarde com as famílias afetadas, pagando reparações e pedindo desculpas publicamente.

“Como uma pessoa cuja família passou por isso, foi decepcionante não haver mais informações”, relembrou Shinoda sobre suas aulas de história.

A abordagem, no entanto, não foi tão diferente da que encontrava em casa.

Se você conhece as famílias nipo-americanas – bem como as famílias japonesas – não há muita abertura para falar sobre esses assuntos. O termo que usamos é shikata ga nai, que significa ‘Não pode ser evitado’. É quase como ‘O que está feito está feito’.

“Por que falar sobre o passado?”, relata Shinoda, relembrando uma das várias ocasiões em que seus familiares tocaram apenas na superfície do assunto.

O passado do pai de Shinoda

O avô de Mike Shinoda foi o primeiro membro da família a sair do Japão e ir para os Estados Unidos. Ele teve 13 filhos, incluindo o pai de Shinoda.

A geração Nisei (da qual fizeram parte o pai de Shinoda e todos os irmãos), morou em Orosi, na Califórnia. Na época, o avô de Shinoda tinha vários negócios locais com a família, porém tudo acabou abruptamente com a ordem de Roosevelt. O pai de Shinoda tinha apenas três anos de idade.

Famílias nipo-americanas foram colocadas em ônibus direcionados a diversos campos, onde ficariam praticamente encarceradas. “Eles foram colocados nas baias onde os cavalos costumavam estar”, declarou o músico. “Fezes de cavalo e feno no chão. Não havia camas, amenidades ou qualquer coisa.”

As memórias do meu pai eram coisas como praticar esportes. Alguém adquiriu um projetor que exibia filmes na lateral de uma caixa d’água. Eles tinham todos esses maravilhosos jardins e as crianças colhiam frutas e legumes.

No entanto, o pai de Mike também lembrava-se da sujeira dos campos e de como tudo era mal cuidado. “Eles acordavam nas macas cobertas de sujeira: levante. Faça a mesa para o café da manhã. Varra toda a poeira. Abaixe os pratos. Use os banheiros coletivos. Volte para limpar a poeira da mesa novamente para comer.”

Os campos foram fechados em 1946, e então as famílias puderam voltar para suas casas e reconstruir suas vidas. Quando viram que os prédios onde viveram e trabalharam foram destruídos e vandalizados, migraram para diferentes partes da Califórnia.

“O racismo não era um sentimento, era um fato,” diz Shinoda sobre o desenrolar da vida a partir dali.

Não havia sutileza no racismo. Eles literalmente tinham insultos racistas nos jornais. Os próprios políticos estavam usando o termo. Os professores da escola chamavam seus familiares de nomes racistas na sala de aula.

A infância de Mike Shinoda e, mais tarde, Kenji

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O pai de Shinoda casou com uma mulher branca de Appalachia, que fez questão que os filhos estivessem cientes de sua herança japonesa: desde participar do festival Obon em família a cozinhar pratos típicos em casa.

Ao longo da vida, ao mesmo tempo, Shinoda reuniu as histórias de sua família sobre os campos. “Senti que aprendi algo sobre racismo e discriminação ouvindo música,” diz ele.

Qualquer coisa de Boogie Down Productions a NWA, Ice Cube. Eles estavam falando sobre coisas que não estavam nos noticiários… Foi assim que eu aprendi sobre os Panteras Negras, Malcolm X e o racismo sistêmico que eles estavam enfrentando.

Em 2005, já adulto, Shinoda gravou “Kenji”, faixa lançada por seu projeto paralelo Fort Minor. “Eu estava procurando por um tópico que parecesse único para a música, e essas palavras começaram a vir para mim do nada,” diz ele.

Na canção, Shinoda relata a história do seu pai “em forma de sonho”, como ele mesmo diz nos versos.

“Eu ouvia de outras pessoas depois que ‘Kenji’ saiu: ‘Muito obrigado por fazer isso, porque agora eu tenho uma conversa real e profunda com meus pais’”, disse ele à Rolling Stone.

“O objetivo de escrever ‘Kenji’ era ‘deixe-me contar minha história’”, relatou o rapper.

É a primeira vez que algumas pessoas ouvem falar desses campos. Eu ouço regularmente de pessoas de todas as cores que elas foram tocadas por essa música. Esse é um dos seus objetivos como artista: fazer coisas que impressionem as pessoas dessa maneira e, neste caso, ensiná-las.

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