Brett Gurewitz
Foto por Alice Baxley (via Alt Press)

Brett Gurewitz, guitarrista e compositor do Bad Religion, é também fundador da prolífica gravadora Epitaph Records, conhecida por lançar diversas bandas do meio Punk e de seus subgêneros, como o Post-Hardcore, o Hardcore e o Pop Punk.

Em uma nova entrevista com a Alt Press, a lenda do gênero falou sobre diversas questões relacionadas ao racismo. Inicialmente, ele foi perguntado sobre qual conselho estava dando às bandas de seu selo, e respondeu de maneira prudente:

Eu não estou dando conselhos porque eu não sou uma pessoa Negra. Mas eu estou ouvindo conselhos, e o conselho que eu tenho seguido é basicamente o que o ‘Black Lives Matter’ está recomendando para os aliados, que é não expressar sua opinião se você for uma empresa branca, ou se você for uma pessoa branca, amplifique as vozes Negras e use a linguagem do movimento ‘Black Lives Matter’ e direcione as pessoas a recursos para ação direta e por aí vai. A questão é que não é realmente suficiente não ser racista hoje em dia. Você precisa ser um antirracista, e o racismo não vai morrer até que as pessoas brancas vejam isso como um problema branco que eles precisam resolver ao invés de um problema Negro pelo qual nós precisamos ter empatia. Eu acho que a forma de consertar isso é mudando a perspectiva.

Brett Gurewitz, Punk e racismo

Tentando ajudar a oferecer uma solução, Brett ressaltou que o maior erro das pessoas brancas nesse momento é “tentar tornar sobre você” uma luta dos outros. Ele pede para que as pessoas se eduquem e recomenda livros que estão em uma lista no site da Epitaph, como Como Ser Antirracista Eu e a Supremacia Branca, que ainda não chegou ao Brasil.

Por outro lado, ele teve palavras bem duras para a comunidade Punk que se mantém em silêncio durante esses movimentos. Para ele, essas pessoas não entenderam a essência do gênero e Gurewitz chega a dizer que se sente “envergonhado” pelos fãs do Bad Religion que ironizam o discurso de que vidas negras importam:

Eu acho que a maior coisa que eu aprendi é quantos dos meus colegas da comunidade Punk Rock ficaram em silêncio quando essa grande e nobre causa surgiu. Eu acho que o silêncio é cumplicidade. Eu acho que muitas bandas de Punk e Hardcore, não todas, estão fazendo as coisas certas. Mas outras, até demais, que são parte dessa cena, uma cena que tem suas raízes na justiça social, têm ficado em silêncio. E para mim, o silêncio nesse momento é cumplicidade. É um momento importante. É um momento importante de mudança social que as pessoas vão olhar para trás e ver que seus comportamentos naquele momento eram essenciais e reveladores. É uma pena.

O que eu aprendi é que muita gente foi atraída pelo Punk por causa da violência e do aspecto antissocial, e eu acho que eles nunca entenderam a ética do Punk. Mas para mim, e eu sou um dos caras originais da cena Punk original que ainda está por aí, a ética do Punk sempre foi a ética da justiça social. Sempre foi sobre falar a verdade sem medo para os poderosos. A ética do Punk é chocar as pessoas para mudar as normas sociais, e espera-se que para melhor, mas não simplesmente para causar choque. E sim, o ‘pit’ é violento e catártico, mas isso é para dançar. O que serve de combustível para a música e para a necessidade da dança catártica é a raiva e a indignação com as injustiças no mundo. O Punk é sobre isso. E isso é para os nossos irmãos e irmãs Negros. O futuro é multicultural. O futuro inclui todos. Não há nenhum futuro no racismo. Eu e meus amigos que estávamos fazendo Punk Rock — nós éramos progressivos. Não havia nada de conservador sobre nós. E os aspectos feios da cena Punk que sempre estiveram por aí vieram à frente e só realmente fazem eu me sentir mal.

Quando eu vejo fãs do Bad Religion aparecendo e dizendo, ‘Bom, você sabe, Vidas Azuis Importam’, eu só sinto vergonha por esses garotos ouvirem minha música. Eles não são mais garotos. Esses caras têm tipo 40, 50 anos. Mas por sorte, a mensagem verdadeira da minha banda resistiu ao teste do tempo. A gente tem letras que falam de justiça social desde 1981. Eu fiz uma playlist, aliás, de músicas de protesto do Bad Religion que passa por várias décadas, e está no Spotify e Apple [Music]. As pessoas podem ouvi-la, e as letras que se relacionam aos valores que sentíamos na época — os valores da justiça social, da justiça racial, da inclusão — eles são mais pungentes hoje do que jamais foram. Mas o que eu aprendi é que muita gente que entrou no Punk Rock não tinha ideia do que é o Punk Rock.

Você pode conferir a playlist que Brett falou acima e que inclui clássicos como “American Jesus”, “Change of Ideas” e mais logo abaixo.

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