Greyson Nekrutman, novo baterista do Sepultura
Divulgação

Nas últimas semanas, o “rodízio de bateristas de Metal” virou notícia por todo lado. Com a saída de Eloy Casagrande do Sepultura, o local vago foi rapidamente ocupado pelo jovem Greyson Nekrutman, que mal teve tempo para aprender as músicas e já foi “arremessado” para o olho do furacão, embarcando na turnê de despedida da banda brasileira.

Com apenas 21 anos de idade, Greyson tem feito um trabalho fenomenal – ainda mais levando em conta as circunstâncias. Em pouquíssimo tempo, ele já superou todas as desconfianças por ser um “baterista de Jazz”, algo que ele garante não ser representativo de sua totalidade, com performances incríveis como a de “Roots Bloody Roots” que você confere abaixo.

Continua após o vídeo

Em seu pouco tempo de Brasil, Greyson já até aprendeu algumas palavras em português, decidiu que o pão de queijo é mesmo (até o momento!) sua comida favorita e recebeu o carinho dos fãs brasileiros, que o abraçaram em um ato de boas-vindas não apenas ao novo emprego, mas à história da música brasileira como um todo.

Antes de seu terceiro show com o grupo, que aconteceu em Brasília no último sábado (9), Greyson tirou um tempo para conversar com o TMDQA! e o que se vê é, de fato, um jovem que agarrou com todas as forças a maior oportunidade de sua vida até o momento.

Ele não faz nenhuma questão de esconder a empolgação não apenas com a dimensão da banda da qual faz parte agora, mas também com o fato de estar aprendendo sobre uma nova cultura, conhecendo um país tão diferente do seu e vivendo uma vida que, para muitos, é apenas um sonho.

Confira a íntegra da conversa logo abaixo e fique de olho no Instagram e X/Twitter do TMDQA! para assistir a cortes em vídeo em breve!

TMDQA! Entrevista Greyson Nekrutman (Sepultura)

TMDQA!: Oi, Greyson! É um prazer estar falando com você por aqui, e fico feliz por você aparentemente estar curtindo bastante o Brasil. Estamos em Brasília agora e, pelo visto, você tem se divertido na cidade. Quais são suas impressões do país por enquanto?

Greyson Nekrutman: Eu amo o Brasil até agora! Eu vi muito de São Paulo, fui pra Belo Horizonte e agora estou em Brasília. Todo lugar é tão único e diferente. Comidas diferentes, culturas diferentes, tudo é diferente sobre esse país, cada cidade tem uma vibe diferente e eu estou amando. De verdade, eu amo essas experiências.

TMDQA!: A sua entrada no Sepultura foi algo rápido, não só para você mas para os fãs também. Você consegue nos dar uma espécie de guia, uma linha do tempo para os fãs entenderem como foi esse processo?

Greyson: Eu nem sei se teve muito uma linha do tempo. Foi tipo… Eu sempre ouço as pessoas falando, “Você vai receber uma ligação e aí um dia tudo vai mudar”, e eu nunca acreditei nisso até isso acontecer. Porque eu, de fato, basicamente tive uma semana para aprender todas as músicas e ajeitar todas as minhas coisas.

“Ei, você vai para um novo país, totalmente sozinho. Você precisa pegar essas coisas, precisa arrumar as malas e pensar”… E quando eu fui… Não quero dizer que fui arremessado pra dentro disso porque isso soa quase negativo, mas fui arremessado da melhor maneira possível, foi muita coisa para processar – e ainda é.

Tenho tanta coisa para pensar sobre, e tantas coisas com as quais… não é me preocupar, mas no sentido de ficar ansioso sobre, de uma maneira positiva. Simplesmente tem sido a mudança de vida mais maluca possível, de verdade.

TMDQA!: Para você ter aceitado o convite tão rápido, imagino que você obviamente já era um fã do Sepultura, conhecia a banda e tudo mais. Dito isso, também pudemos ver uma foto sua com o Eloy em uma convenção de música, e sinto que rola uma admiração muito grande pelos trabalhos da galera no passado, né. Como tem sido incorporar o seu estilo ao trabalho dos bateristas anteriores?

Greyson: A primeira palavra que vem à mente é respeito, porque eu nunca, mesmo com o Suicidal… Tipo, eu entrei e o Suicidal já tinha tido incontáveis bateristas antes de mim, então eu nunca entrei no Suicidal pensando, “Ah, eu sou o Greyson, eu vou tocar do jeito que eu quero tocar”, porque não é como se eu estivesse me diminuindo, mas eu sou o tipo de pessoa que simplesmente respeita as pessoas mais do que a maioria.

Então, eu cheguei aqui dizendo, “Ok, as coisas que o Eloy escreveu que são incríveis, eu vou manter; as coisas que o Iggor escreveu que são incríveis, eu vou manter; o que o Jean escreveu, eu vou manter, e vou adicionar minha assinatura”. Mas eu nunca quis chegar aqui falando, “Oi pessoal, eu sou o Grayson, vamos nessa”.

Não, sabe, foi um processo de tentar entender o que a banda precisava de mim e aí, claro, o que os fãs querem e tentar fazer minhas próprias afirmações ao mesmo tempo em que respeito todas as pessoas incríveis que estiveram na banda antes de mim. Nunca foi sobre estar substituindo alguém; eu sou, respeitosamente, o próximo baterista.

TMDQA!: Pelo que a gente tem visto online, a recepção do público brasileiro tem sido bem boa com você. Como você tem sentido a experiência desses primeiros shows?

Greyson: A combinação de vir ao Brasil, conhecer todas as bandas brasileiras, conhecer a banda em si, tudo de uma vez só, novamente, é muita coisa pra processar, mas da melhor maneira possível. Hoje é o meu terceiro show, já fiz dois, e tudo correu incrivelmente bem.

Acho que a maior mudança e o maior desafio pra mim é simplesmente a escala de tudo isso. Porque eu não estou acostumado com toda a produção, a quantidade de gente envolvida, a quantidade de equipe envolvida. Tipo, eu era só um baterista de Nova  York que estava tocando em várias bandas por aí, mas simplesmente não nesse nível.

E aí, acho que acima de tudo isso, o apoio que eu recebi desde o começo e ainda estou recebendo de todos os fãs leais me fez continuar seguindo. Porque no começo, é realmente muita coisa pra processar. É tipo, “Ah, será que eles vão gostar de mim? Será que vão me odiar? Será que vão gritar pedindo aquela pessoa ou outra pessoa?”. Sei lá, sabe, “Será que vão protestar?”.

Mas não. Todo mundo tem feito com que eu me sinta bem-vindo e todos têm sido muito gentis, e todo mundo fez com que fosse muito fácil pra mim, pra ser honesto. Agora, estou empolgado para ver como o show se desenvolve nos próximos meses.

TMDQA!: E não são só os fãs do Sepultura, né? Vi que até disco do Suicidal você já assinou por aqui.

Greyson: Sim! Ontem, chegando no aeroporto, tinha um cara segurando um disco do Suicidal e eu fiquei tipo, “Eita, uau, ok!”, sabe? Acho que é incrível, e talvez seja um pouco polêmico dizer, mas até por ser um estrangeiro. Tipo, eu não sou do Brasil. Então, eu não sabia se eu chegaria aqui e eles estariam tipo, “Ah não, nós queremos…”, sabe.

Pelo contrário, todos têm sido muito receptivos aqui. “Prove isso, prove aquilo”. Tipo, “Bem-vindo à nossa cultura”, o que é algo que eu amo.

TMDQA!: O que você já provou daqui que chamou sua atenção?

Greyson: Então, falando tanto de comida quanto da cultura e tudo mais… Olha, novamente, é a questão de estar aqui por apenas pouco mais de uma semana, além de estar viajando pelo país nesse tempo. Mas desde o primeiro dia que cheguei aqui, eu lembro que falei pra uma das pessoas que trabalha conosco, “Eu quero frutas brasileiras de verdade, e isso e aquilo, quero provar tudo”.

Então, eu amei tudo que provei! Provei várias frurtas e comidas e a cultura. Depois dos nossos primeiros dois shows, nós voltamos [pra São Paulo] no domingo e aí, obviamente, no domingo a Avenida Paulista fecha para carros e abre para uma festa doida o dia inteiro, e então eu fiquei andando por ali depois dos dois primeiros shows e fiquei simplesmente chocado. O Samba que rolava na rua, as pessoas, a comida, eu fiquei tipo, “O que é isso?!” [risos]

Acho que essa é a minha parte preferida de tudo isso. Eu amo a banda, amo todo mundo que está envolvido nisso, mas a verdade é que estou em outro país, sozinho, aprendendo tudo sobre ele. É incrível.

TMDQA!: Qual sua comida preferida até agora? Dá pra escolher uma?

Greyson: Ah, cara. Pão de queijo, é assim que fala?

TMDQA!: É assim mesmo! [risos] É uma das poucas palavras que já aprendeu em português?

Greyson: “Gosto rio”, mas me disseram que eu não posso dizer isso. Tipo, se você quer um Guaraná, não é isso que fala? “Gosto rio”?

TMDQA!: Gostaria! [risos]

Greyson: Isso! [risos] E aí tem as mais fáceis. “Obrigado”, “oi”, “oi, como vai”.

[equipe da banda começa a cantar: “Creisson, Creisson, Creisson!”]

Greyson: Creisson! Creisson! [risos]

TMDQA!: [risos] Greyson, com tão pouco tempo para aprender tudo, imagino que tudo foi um grande desafio. Mas você sabe dizer quais foram as músicas mais fáceis e mais difíceis de aprender?

Greyson: Acho que, pra mim, as mais fáceis foram “False”, “Mind War” e “Territory”. Tipo, as que eram um pouco mais “retas” na minha cabeça e que eu podia lembrar das partes. “Choke” também. As mais complicadas foram “Phantom Self” e “Means to an End”. Simplesmente porque têm tantas partes! São tantas mudanças dentro da música e eu fico tipo, “Espera aí, essa é aquela parte ou outra?”. E, novamente, tive pouco mais de uma semana pra decorar isso e a ordem me deixou mentalmente frito! [risos]

TMDQA!: [risos] Faz sentido. Um outro ponto interessante é que, quando você foi anunciado, muita gente se preocupou com o fato de você ser um “baterista de Jazz”. A gente até postou um vídeo de você tocando “Caravan”, chegou perto de 1 milhão de visualizações já, mas os comentários foram logo mudando de tom depois que você postou um vídeo tocando “Roots Bloody Roots”…

Greyson: Você pode falar o que quiser sobre essa questão do Jazz, mas no fim das contas, sabe… Eu estava até falando com o Andreas sobre isso: a música do Sepultura tem tanto groove! E é uma coisa mais tradicional do Brasil, não sei falar tão bem sobre isso, mas as mesmas ideias vêm no Jazz e todo o meu pano de fundo musical se encaixa muito bem no mundo do Metal.

Então, sabe, um baterista de Speed Metal provavelmente não seria a melhor escolha só por ele tocar super rápido. Há um elemento no sentido de ser necessário ter esse groove, ter uma dinâmica, todas essas coisas vêm do mundo do Jazz.

Então, quando as pessoas pensam, “Ah, ele é um baterista de Jazz”, “ele é um baterista disso ou daquilo”, é tipo, “Não, eu sou só um baterista!”. Eu toco tudo, e eu amo tudo.

TMDQA!: E você já era fã de Metal.

Greyson: Sim, eu amo Metal! Eu amo tudo, essa é a questão.

TMDQA!: Foi interessante ver a reação da galera ao seu vídeo tocando Slipknot com a pegada tradicional nas baquetas, bem de Jazz. [risos] Todo mundo dizendo que era a primeira vez que alguém tocava blast beats daquele jeito.

Greyson: Isso foi um meme, de verdade! Eu fiz isso só pra deixar a galera brava, no vídeo em que eu toco as partes do Joey Jordison. Eu fiz essa versão e eu pensei, “Todo mundo consegue fazer uma cover de Joey Jordison, mas será que a maioria das pessoas vai conseguir tocar isso com a pegada tradicional?”. [risos] Foi essa a questão, foi por isso que eu fiz. Só tornar a coisa um pouco diferente, deixar mais interessante.

TMDQA!: Certíssimo! Greyson, um ponto que acho que é legal esclarecermos também é a sua saída do Suicidal Tendencies. A banda anunciou o Jay Weinberg no seu lugar e, no meio dessa confusão toda, queria saber como foi esse processo.

Greyson: Não tem nem muito o que dizer. Estamos todos bem uns com os outros, todo mundo está de boa. Eles entenderam a oportunidade que eu tinha e a situação que aconteceu, e o Mike [Muir, vocalista do Suicidal Tendencies] foi a primeira pessoa pra quem eu liguei, e eu liguei pessoalmente pra todo mundo pra explicar a situação.

TMDQA!: E o Mike é um cara muito legal, né.

Greyson: Uma pessoa incrível! Ele me deu uma ótima oportunidade e eu nunca serei nada além de honesto com as pessoas, então eu nunca iria… Eu não quis que ele pensasse que eu tinha planejado isso há meses, porque não foi a verdade. Aconteceu, eu recebi uma ligação, eu liguei pro Mike 24 horas depois de receber a ligação e falei pra ele.

Eu disse a ele o que eu achei que precisava fazer com a minha vida e carreira, o que eu achava que era a melhor decisão pra mim e acho que fiz isso da maneira certa com eles, porque eu saí realmente bem com todos.

TMDQA!: E eles acharam um ótimo substituto.

Greyson: Sem dúvidas, vai ser incrível!

TMDQA!: Pra fechar, Greyson, como o nome do site é Tenho Mais Discos Que Amigos, a gente sempre pede pros nossos entrevistados montarem uma lista com 5 discos que mudaram sua vida. Consegue mandar essa?

Greyson: [pensa um pouco] Crash, da Dave Matthews Band. O disco homônimo do The Used. O Around the Fur, do Deftones, e aí eu diria que o Daft Punk, como chama o último álbum mesmo?

TMDQA!: Random Access Memories?

Greyson: Isso! Com esse são quatro, né. E aí para o quinto, vou colocar o Roots, do Sepultura. Por que não?!

TMDQA!: Sem dúvidas! Perfeito, Greyson. Muito obrigado pelo seu tempo, e boa sorte nessa jornada. Que seja incrível pra você, pra banda e pros fãs!

Greyson: Obrigado!

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