Segundo dia do festival Doce Maravilha é marcado por muita chuva e show histórico de Caetano Veloso
Foto por Alex Woloch / Divulgação Doce Maravilha

Texto por Gabriel von Borell e Lara Teixeira

Sob muita expectativa do público carioca, o festival Doce Maravilha fez sua estreia na Marina da Glória, no Rio de Janeiro no último final de semana e obrigou o público a lidar com o contraste entre o impactante line-up e uma série de intempéries que envolveram o evento.

Por causa do mau tempo que se instalou na cidade a partir da tarde de sábado (12), o festival apostou fortemente em seu line-up sensacional para fazer valer o ingresso de quem pagou para estar lá, especialmente por conta das dificuldades de organização em seu último dia.

O evento, que teve a curadoria artística do renomado jornalista e compositor Nelson Motta, viu seu encerramento ser marcado por chuvas, ventanias fortes e muita lama na Marina da Glória, mas também por apresentações carismáticas, dançantes, resistentes e emocionantes.

Alterações nos horários do Doce Maravilha começaram no sábado

No primeiro dia, sem chuva, a experiência foi muito mais tranquila e os participantes puderam curtir o festival sem grandes transtornos.

Se no domingo houve alterações na ordem de apresentação dos artistas que provocaram muita reclamação justificada dos fãs, no sábado a única mudança foi o horário do show de Maria Gadú, que deveria ter se apresentado antes de Os Garotin, que abriram o evento às 14h45 no Palco MangoLab.

Como o Palco Amstel, principal do evento, estava completamente sem condições de receber o show da cantora no horário marcado (15h45) por causa dos estragos da ventania, que derrubou até parte da estrutura de um dos banheiros masculinos, Gadú foi avisada de que subiria ao palco somente mais tarde.

Com isso, a organização apostou no palco secundário e antecipou a performance de Jorge Du Peixe e Los Sebosos Postizos, que fizeram sua homenagem a Jorge Ben Jor e animaram o público que chegava no final da tarde à Marina da Glória com sucessos como “Os Alquimistas Estão Chegando” e “Umbabarauma”.

Maria Gadú fez seu retorno aos palcos no Rio de Janeiro

Quando o céu começava a escurecer, Gadú finalmente pôde se apresentar no palco principal e fez um show inesquecível em seu retorno à Cidade Maravilhosa.

No repertório, a artista paulista encantou os fãs com belas interpretações para canções famosas como “Dona Cila”, “Quando Fui Chuva” e “Bela Flor”, além do hit “Shimbalaiê” e versões para “Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor”, de Milton Nascimento, e “Lanterna dos Afogados”, d’Os Paralamas do Sucesso.

A partir daí, o Doce Maravilha conseguiu seguir o roteiro original de sábado e o primeiro show da noite foi, como previsto, o do duo Anavitória, que manteve no Palco Amstel a atmosfera tranquila criada pela apresentação de Gadú.

Na primeira parte do setlist, as cantoras passearam entre hits mais recentes de sua carreira, como “Te Amar É Massa Demais” e “Pupila”, e músicas que estouraram no início de sua trajetória, como “Agora Eu Quero Ir” e “Trevo (Tu)”, além de interpretarem “Partilhar”, de Rubel.

Para a segunda metade da apresentação, a dupla tocantinense chamou Samuel Rosa, que fez a plateia cantar alto com sucessos do Skank como “Ainda Gosto Dela”, “Dois Rios” e “Vou Deixar”.

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Com o intervalo mais curto entre os shows por conta dos contratempos causados pelo vendaval da tarde, a plateia rapidamente correu para o Palco MangoLab para não perder nem um minuto do encontro de Adriana Calcanhotto com Rodrigo Amarante.

Os dois, que pareciam velhos amigos cantando juntos, escolheram faixas marcantes da carreira de Adriana, como “Esquadros”, “Cariocas”, “Maresia” e “Vambora”. Já seu parceiro de palco apresentou “Evaporar”, música que fez com sua banda Little Joy, e hits do Los Hermanos como “Deixa o Verão” e “O Vento”, que marcaram o ápice da animação dos fãs.

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Logo depois, o Palco Amstel reuniu Emicida com Maria Rita em uma mistura que, como todo mundo previa, deu muito certo. O rapper emocionou a plateia com sucesso recentes como “A Ordem Natural das Coisas”, “Quem Tem Um Amigo (Tem Tudo)”, “AmarElo” e “Principia”.

Enquanto isso, a filha de Elis Regina botou os fãs para sambarem com “Corpitcho” e fez sua versão para o sucesso “O Bêbado e o Equilibrista”, eternizado na voz de sua mãe.

Na sequência do festival, o Palco MangoLab promoveu a união da calmaria de Luedji Luna com a explosão de Margareth Menezes. Como uma forma de celebrar a ancestralidade das duas, as artistas cantaram músicas potentes como “Mãe Preta”, composta por Luedji para o mais recente disco de Margareth, Autêntica (2019).

Na reta final da apresentação, a Ministra da Cultura fez todo mundo sair do chão com hinos do carnaval como “Faraó” e “Dandalunda”.

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Doce Maravilha
Foto por Diego Castanho / TMDQA!

Para encerrar a programação principal do primeiro dia de evento, Gilberto Gil e BaianaSystem reeditaram sua parceria estabelecida em 2019 em Salvador, na Bahia, e registrada em álbum de estúdio.

O projeto do veterano cantor junto com o grupo incluiu no repertório canções de Gil como “Emoriô”, “A Novidade” e “Sarará Miolo”, além da conhecida versão de Gilberto para “Is This Love”, de Bob Marley.

Os fãs de Russo Passapusso e companhia também puderam pular bastante e sacudir o esqueleto com faixas da banda como “Lucro/Descomprimido”.

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Segundo dia do festival Doce Maravilha é marcado por muita chuva e show histórico de Caetano Veloso

Doce Maravilha
Foto por Diego Castanho / TMDQA!

O segundo dia do festival Doce Maravilha foi bastante prejudicado pelo mau tempo que tomou conta do Rio de Janeiro no último domingo (13) mas, ainda assim, cumpriu seu objetivo de entregar shows que vão ficar na memória de boa parte do público.

A abertura do último dia do evento ficou por conta de Michael Sullivan, que embalou aqueles que já haviam chegado com suas capas de chuva com sucessos de Tim Maia e Xuxa. O dono de algumas das composições dos artistas citados fez o público soltar a voz com hits como “Azul da Cor do Mar”, “Eu Amo Você”, “Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar)”, “Ilariê”, “Lua de Cristal” e muitas outras.

Em seguida foi a vez de Hodari e Luccas Carlos, dois artistas da nova geração, se encontrarem no palco em uma apresentação que começou com um público mais tímido, mas que aos poucos foi sendo envolvido pelo som que acompanhava a voz dos artistas, a guitarra de Hodari, as rimas de Luccas e as batidas do DJ e do baterista que acompanharam a dupla.

Chuvas fortes e mudanças na programação do Doce Maravilha

A programação do segundo dia do Doce Maravilha começou a passar por algumas mudanças a partir do show de João Gomes devido à intensificação da chuva e dos ventos. A apresentação que estava marcada para as 18h começou cerca de 30 minutos depois, pois o palco, que já estava todo montado com os equipamentos da banda do jovem cantor, começou a ficar totalmente molhado e obrigou a produção a retirar os instrumentos.

Alguns minutos depois, a equipe voltou a arrumá-los e, com sua banda a postos, o fenômeno do piseiro fez todo mundo se jogar na dança, mesmo debaixo de chuva, ao entoar com sua voz marcante alguns de seus maiores sucessos.

O músico ainda incluiu releituras de músicas de Pitty, Paula Toller e Vanessa da Mata, que foi sua convidada da noite. Juntos, eles finalizaram o show cantando hits da artista como “Só Você e Eu”, “Amado”, “Ainda Bem”, “Boa Sorte”, encerrando com “Ai, Ai, Ai…” enquanto o público tomava um banho de chuva.

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Show de João Gomes e Vanessa da Mata no Doce Maravilha
Foto por Felipe Gomes / Divulgação Doce Maravilha

Enquanto uma multidão se apertou para conseguir entrar na parte coberta da Marina da Glória, que tinha um pequeno palco para o show do talentoso Miguelzinho e seu afinado cavaco e estava sendo usada como espaço de alimentação, descanso e lojas, outra parte do público se dirigiu para o show da Orquestra Imperial, que preparou uma belíssima homenagem à saudosa Rita Lee.

A performance da incrível big band, estruturada pelo maestro Felipe Pinaud, mostrou os músicos com figurinos alusivos à indumentária lendária de Rita e revezou os vocais entre Nina Becker, Emanuelle Araújo, Matheus VK, Moreno Veloso, Rodrigo Amarante e Rubinho Jacobina, apresentando clássicos como “Chega Mais”, “Ovelha Negra”, “Baila Comigo”, “Mania de Você”, “Agora Só Falta Você” e muito mais.

Resistência de Marcelo D2 e festa de Liniker e Péricles

Os fãs de Caetano Veloso que estavam ansiosos para celebrar os 50 anos do disco Transa no show previsto para às 20h30 foram talvez os principais prejudicados da edição. Isso porque Marcelo D2, que iria encerrar a programação Doce Maravilha, foi obrigado a assumir o palco principal debaixo de uma chuva torrencial no horário previsto para o artista baiano.

Ao lado de sua banda, o rapper entregou uma poderosa homenagem ao seu disco A Procura da Batida Perfeita, que completa 20 anos em 2023, e ainda “quebrou um galho” enquanto a organização tentava resolver a situação de Caetano para que o show pudesse acontecer.

D2 contou com o apoio dos fãs durante a performance, que foi marcada por alguns problemas técnicos causados pela água da chuva que invadia o palco, incluindo até mesmo choques do microfone no cantor. Essas questões tomaram tempo de sua apresentação, que incluiu performances de “1967”, “A Maldição do Samba”, “Loadeando”, “Desabafo” e “Contexto”, do Planet Hemp, com participação do companheiro de banda BNegão.

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Marcelo D2 no Doce Maravilha
Foto por Gabriel Siqueira / Divulgação Doce Maravilha

Enquanto o show de Marcelo D2 acontecia, cada vez mais poças de água iam se acumulando na área de terra do local.

Neste meio tempo, a equipe de Caetano publicou nas redes sociais que estava “acompanhando a situação e tentando resolver tudo da melhor forma possível, prezando pela saúde e segurança de Caetano Veloso, dos músicos e da equipe técnica envolvida no show”. Porém, até 23h15, que era o horário do último show da noite, não havia sido confirmada a apresentação do músico.

Mesmo sem a chuva aliviar, muitas pessoas foram acompanhar o show inédito de Liniker em parceria com Péricles. Com suas poderosas vozes, a dupla se conectou de uma forma impressionante e mesclou hits das duas carreiras e releituras do samba no setlist, animando o público e mostrando que o grande line-up era realmente a força motriz do Doce Maravilha mesmo em meio à situação inóspita.

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A espera e o show histórico de Caetano Veloso

Liniker e Péricles no Doce Maravilha
Foto por Felipe Gomes / Divulgação Doce Maravilha

Cerca de 00h30, um tempo depois que o show de Liniker e Péricles já havia terminado, a equipe de Caetano Veloso compartilhou uma nova nota informando que o músico já estava na Marina da Glória, mas que o show havia sido transferido para o palco menor por ser mais protegido da chuva.

Porém, a falta de informação com relação ao horário da apresentação começou a irritar parte do público, que não tinha desistido de ver o show. Foi possível ouvir algumas vaias enquanto o palco estava sendo arrumado e os instrumentos da banda de Caetano estavam sendo testados. Neste momento, Moreno Veloso, filho do cantor, apareceu pedindo para que todos aguardassem mais um pouco e declarando que em breve o show iria começar.

Faltando dois minutos para 1h da madrugada desta segunda-feira (14), Caetano surgiu no centro do palco usando uma blusa social e uma capa de chuva vermelha; depois de ser ovacionado pelos fãs, iniciou seu show com o hit “You Don’t Know Me”, faixa de abertura de Transa, e foi acompanhado pelo público que, rapidamente, deixou de lado a chateação com o atraso.

Além de tocar as sete músicas presentes no disco que estava sendo homenageado, gravado no período em que esteve exilado na Europa por causa da Ditadura Militar, o artista baiano ainda incluiu no repertório faixas de períodos que ele definiu como “pré e pós-Transa“.

Em determinado momento do show, Veloso convocou para o palco o guitarrista Jards Macalé, o baterista Tutty Moreno e o percussionista Áureo de Sousa, todos parte das gravações do disco em Londres.

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Caetano Veloso e Jards Macalé no Doce Maravilha
Foto por Felipe Gomes / Divulgação Doce Maravilha

O show que deixou muitos fãs emocionados foi finalizado com a performance de “Nostalgia”, última canção do elogiado disco de Caetano Veloso. Te contamos mais detalhes da apresentação da lenda da MPB por aqui.

Apesar dos imprevistos causados pela chuva e a falta de comunicação do festival, que foi cobrada pelo público do evento, a estreia do Doce Maravilha, musicalmente falando, conseguiu entregar uma belíssima celebração da música brasileira, promovendo shows históricos e encontros inéditos que entraram para a história dos festivais.

O saldo para quem compareceu ao Doce Maravilha foi positivo, especialmente no primeiro dia. Mas, no balanço geral, considerando as decisões mal calculadas do domingo que renderam tantas críticas nas redes sociais, o festival precisará cuidar de todos os pontos reforçados pelo público para ninguém experimentar esse gosto amargo novamente na edição 2024.

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