Cigarettes After Sex
Cigarettes After Sex (Crédito: Divulgação)

Seria “Pistol” o tiro de largada para uma nova fase do Cigarettes After Sex? De acordo com o vocalista e líder da banda, Greg Gonzalez, sim.

A canção abre novas possibilidades sonoras para o trio texano, que este ano voltará a São Paulo como parte da programação do Lollapalooza Brasil. Será curioso ver como a banda oscila entre as vibrações que evoca, sempre caminhando entre o intenso e o íntimo.

Isso porque, embora continue viralizando online com suas canções climáticas, o som do Cigarettes dificilmente é pop, radiofônico ou vendável. Sua música é, antes de tudo, um portal de sensações.

Evocativa e intensamente romântica, a sonoridade é geralmente descrita como dream pop, shoegaze e slowcore, com vocais suaves e arranjos minimalistas de guitarra, teclado e bateria. Essas qualidades únicas têm conquistado seguidores em todo o mundo e permitiram que a banda vendesse mais de 2,5 milhões de discos até o momento. 

Com mais de 1,8 bilhão de streams no Spotify, 8,5 milhões de ouvintes mensais e 585 milhões de streams no YouTube, a lista de fãs do Cigarettes After Sex inclui celebridades como Taylor Swift, Kylie Jenner e David Lynch. A música do grupo também foi incluída em anúncios de programas de TV como The Handmaid’s Tale Killing Eve, graças às suas qualidades de trilha sonora.

Porém, o Cigarettes After Sex também se utiliza do potencial lírico poético, sempre voltado para amor, luxúria e desejos não realizados. Essa combinação única cria uma atmosfera melancólica, íntima e envolvente que ressoa profundamente com seus ouvintes.

Não por acaso, o Brasil continua sendo uma de suas principais bases de fãs no mundo todo. O fundador, cantor e guitarrista Greg Gonzalez conversou por Zoom com o Tenho Mais Discos Que Amigos! sobre o retorno ao país e os novos caminhos criativos que 2023 trará.

Confira abaixo!

TMDQA! Entrevista Greg Gonzalez (Cigarettes After Sex)

TMDQA!: Olá, Greg! Seu último single, “Pistol”, é muito bom e é incrível como tem a vibração do Cigarettes After Sex, mas também traz uma energia diferente. Parece mesmo que é um capítulo novo para vocês. O quão importante foi essa música ao estabelecer o tom do futuro da banda?

Greg Gonzalez: Essa música é muito importante. Nos últimos dois anos, eu queria mudar um pouco a direção em que íamos – ou evoluir, melhor dizendo.  Encontrar um modo em que o Cigarettes pudesse manter nossos sentimentos de romance, sensualidade, suavidade, como de um sonho… mas também trazer para um contexto mais pop e moderno. Estava pensando especialmente em uma pista de dança dos dias atuais. Adoro a sensação de imaginar duas pessoas na pista, dançando juntas, e começa a tocar sua música favorita. Não necessariamente pra cima, mas emocional, que possa significar muito para eles. Muitas das melhores músicas do pop podem ser super pra cima, e você olha a letra e são sobre coração partido. Tipo os Pet Shop Boys fazendo cover de “Always On My Mind”, sabe? Acho que essa música é super de coração partido, mas é bem pra cima também. 

Então fiquei pensando no que o Cigarettes poderia ser. Se existiria um mundo em que uma das nossas músicas pudesse ser encaixada no set em que um DJ está tocando um monte de músicas pop, todos estão dançando na pista. Mas ao mesmo tempo que as pessoas pudessem chorar ouvindo, então é meio que o começo de tomar a iniciativa de colocar essa música no mundo e ver qual era a sensação.

Passando por um momento complicado emocionalmente falando esse ano, essa música, “Pistol”, me afetou de alguma forma sempre que eu colocava. Isso me fez sentir que era a decisão acertada de lançá-la, mas agora que já saiu, consigo ver mais claramente que é a direção em que quero ir. Quero fazer alguns movimentos para fazer isso perfeitamente. Mas vai ser nessa direção. As coisas que estamos trabalhando têm mais ou menos essa mesma ideia. Espero que nosso próximo disco saia no próximo verão e vai ser mais um monte de coisas como “Pistol”.

TMDQA!: Ótimo saber disso. Estou curiosa pra saber no que vocês tão trabalhando. Também queria saber sobre essa trajetória em que vocês estão como banda. Porque tiveram um sucesso orgânico, mas que foi relativamente rápido. Como foi lidar com as pressões de muitos mais ouvidos para agradar e como esses acontecimentos ajudaram a tomar decisões sobre os passos seguintes da Cigarettes After Sex?

Greg: É bem louco, porque foi uma longa jornada. Eu faço música há tanto tempo, mas aconteceu como um relâmpago caindo num lugar e do nada, essas músicas viraram uma loucura no YouTube. Foi basicamente isso que aconteceu em 2015. Me sinto sortudo, porque antes disso tive muito tempo para entender as coisas que queria fazer, mas, ainda mais importante, as coisas que não queria fazer. Acho que o que mais ajudou foi traçar uma rota de carreira. Queria que as músicas fossem sobre romance, que era o que eu queria ouvir de outros artistas. Queria que as canções viessem de um lugar pessoal, muitas são como um livro de memórias, histórias reais da minha vida, envolvendo pessoas que eu conhecia. Tudo seria preto e branco e as fotos iam ser escolhidas por mim, para serem usadas nas redes sociais. Clipes, enfim, tudo isso eu tinha uma boa ideia do que eu queria. O que acho que acontece às vezes é que alguns artistas crescem rápido e não sabem qual caminho seguir. E posso te dizer que as pessoas vão tentar te puxar em todas as direções possíveis (risos), então tinha que ser meio rígido. 

Quando isso aconteceu, foi como um milagre, com certeza. Era o que eu mais queria na vida, pelo que eu vinha trabalhando desde todo o sempre. Parecia que tinha acontecido muito rápido por causa do YouTube e que poderíamos ir por todo o mundo, fazer turnês. Como eu vinha tocando música a vida toda, queria muito. Enquanto a banda não dava dinheiro, eu nunca tinha tido um emprego formal, só trabalhava num cinema, mas ganhava dinheiro tocando ao vivo com bandas, então toco música quatro vezes por semana desde que eu tinha 16 anos.

TMDQA!: Então esse é o emprego dos sonhos, né?

Greg: Sim, agora eu posso tocar nesses shows quatro vezes por semana, mas com a diferença de que é a minha própria música, que as pessoas têm experiências positivas com ela. Somos muito sortudos porque as pessoas sempre nos dizem o quanto nossa música significa pra elas. Desde então, tem sido uma montanha russa, de uma forma positiva. Claro que tem altos e baixos, mas amo fazer turnê e me conectar com uma plateia, porque acho que são os melhores fãs, são as pessoas mais doces que eu já conheci.

TMDQA!: Você tocou em alguns assuntos que eu queria abordar, na verdade. Eu vi uma entrevista antiga em que você define seu som como “delicado”, e acho que é a melhor definição possível. Mas ao mesmo tempo, traduzir essa sensação de intimidade para o palco, enquanto traz um pouco de energia também, pode ser um desafio. Como vocês têm feito isso nessa nova turnê?

Greg: O interessante disso também é que parece que há algo meio yin/yang rolando nos nossos shows com relação à música gravada, o que eu acho que é bem legal. Porque a música colocam em momentos de intimidade, para relaxar, ou o que as pessoas me falam sempre é que as ajuda a dormir, se estão tendo ansiedade, então funciona como remédio, o que acho ótimo. Temos isso, em que as pessoas colocam a música em situações delicadas, mas no show em geral as pessoas ficam loucas, cantando muito alto, aplaudindo para cada coisa que acontece. Me parece um show selvagem quando estou no palco! Isso vem de as pessoas gostarem tanto das músicas que se sentem empolgadas em compartilhar com uma plateia, experienciar isso junto. Mas eu prefiro isso, porque… Até acho que algumas pessoas prefeririam ir ao show e encontrar algo bem delicado, uma versão do Cigarettes para assistir sentado, mas eu prefiro o show de rock, é o tipo de show que eu ia quando era mais jovem e que era divertido. Mas é bem louco mesmo e ficou ainda mais desde esse último ano, porque rolaram uns virais no TikTok e isso trouxe um público mais jovem nos Estados Unidos, e esses jovens são barulhentos, são novos, fazem loucuras (risos). Eu achava que o público era bem selvagem antes, mas ficou ainda mais. Na América do Sul, nossos fãs aí são os mais loucos!

TMDQA!: É isso que eu ia dizer, porque sabemos uma coisa ou outra sobre públicos malucos! Digamos que ficamos meio empolgados, mas com os eventos ao vivo voltando com tudo, sinto que as pessoas só sentiram muita falta, né?

Greg: Isso, com certeza.

TMDQA!: Na verdade, isso nos traz para o Lollapalooza Brasil. Porque eu chutaria que o Brasil é uma das suas maiores bases de fã, mas queria saber se vocês veem como um desafio encarar uma plateia maior ainda nos festivais e se vocês têm expectativas pra esse show, considerando que já estiveram aqui antes. Poderia compartilhar também algumas das suas memórias daqui?

Greg: Claro. Eu até estava falando mais cedo que antes da banda crescer e ficar conhecida no YouTube, alguns dos primeiros e-mails que eu recebi de fãs foram do Brasil, por algum motivo. Eles diziam que a música os ajudava muito, a passar por um coração partido, então é possível que a gente tenha chegado primeiro ao Brasil antes de qualquer lugar (risos), o Brasil é a base de fãs original. Toda vez que pudemos ir aí, foi um pandemônio! É um prazer tocar para o público brasileiro e ver o nível de atenção e energia que recebemos. Isso foi muito especial.

Esse show deve ser uma mudança interessante, porque não sei o tamanho dos lugares onde tocamos no Brasil, mas saber que vamos tocar no Lollapalooza, isso significa que será uma plateia grande. Então pode ser bem maior do que nossos shows, porque obviamente tem artistas enormes tocando que vão levar muita gente. Vai ser interessante ver isso e é muito empolgante. Pra mim, quanto mais melhor!

TMDQA!: Num dia qualquer no Lollapalooza Brasil, dependendo do horário, tem 50 mil ou 100 mil pessoas, entre três palcos. Ainda assim, é uma plateia considerável, mas tenho certeza que todos vão ficar felizes em vê-los. Só tenho uma última pergunta. Você estava falando da estética da banda, as fotos em preto e branco e tudo mais. E de fato é uma marca da identidade do Cigarettes After Sex, e ajudou a solidificar a presença nas redes sociais, como você dizia, e a chegar a novos públicos. Você pode nos contar como vocês têm abordado isso agora, ainda mais com o TikTok, e como vê essas diferentes gerações de fãs interagindo?

Greg: Eu não quero ser um negacionista, eu tenho amigos que viram os olhos e dizem “ah, TikTok, preguiça”, e eu acho que toda nova mídia que chega tem aspectos positivos. Acho que o jeito que lido com as redes sociais é tentar achar quais são nossos pontos fortes. Tipo, no início eram as fotos. Depois pensei em postar trechos de filmes que gosto, em preto e branco e sem som. Isso pode se tornar algo, parece que as pessoas gostam disso. Isso nem tem a ver com a música, mas ajuda a construir essa identidade, porque as coisas pessoais têm um lugar no mundo do Cigarettes. No Twitter, eu pensei em postar as letras das músicas. Às vezes postava só um verso e isso foi legal, porque quando componho, quero sentir que cada verso pode ser forte e funcionar sozinho. E só postar uma linha ajudava a promover as nossas músicas.

No TikTok, a gente viralizou antes mesmo de criar um perfil oficial. Eu levei um tempo pra entender como funciona, mas acho que é muito baseado em movimentos, então no TikTok eu gosto de mostrar mais a banda, Jacob, eu e Randy, e usar o TikTok como um modo de nos mostrar, porque não tem muitas fotos nossas, não aparecemos tanto. Como fã de outros artistas, adoro vê-los fazendo entrevistas, por exemplo, então queria abraçar isso e nos mostrar mais. Pareceu algo natural, e nessa próxima turnê acho que vamos fazer mais tiktoks. 

TMDQA!: Devo dizer que está dando certo. É isso, Greg, vamos continuar ouvindo o que vocês lançarem esse ano. E divirtam-se no Brasil!

Greg: Muito obrigado!

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