Gabrielle Aplin
Foto: Matthew Sterling

Por Nathália Pandeló Corrêa

No auge da pandemia, Gabrielle Aplin foi gente como a gente: se recolheu ao interior da Inglaterra, morando em uma fazenda e cuidando das plantações.

O resultado foi uma reconexão com um lado criativo adormecido há muito tempo. Seu último álbum àquela altura, Dear Happy, era justamente o oposto de lockdown. Foi feito em dois continentes, com múltiplos produtores. Inaugurando a próxima fase na carreira, ela promoveu o encontro das suas raízes folk com uma visão pop alternativa que guiou seu último trabalho.

Dessa imersão pessoal e musical nascerá Phosphorescent, seu quarto álbum de estúdio. A artista vem entregando canções inéditas — com direito a lyric videos em Português — há alguns meses, solidificando essa nova fase com o EP Never Be The Same.

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Gabrielle Aplin
Divulgação

O compacto é capitaneado pela faixa-título inédita, um retorno à forma para a cantora que ousou desafiar seus próprios moldes e mostrar com orgulho seu potencial pop.

De certa forma, Gabrielle faz desse novo momento uma volta às origens — a uma vida mais simples, à forma que compunha no início da carreira. Mas escolheu seguir em frente e olhar para o futuro, com uma perspectiva renovada e amadurecida.

E, no dia seguinte ao seu aniversário de 30 anos, Aplin conversou com o Tenho Mais Discos Que Amigos! de sua casa, em algum lugar da zona rural inglesa, com a mesma simpatia que conquistou os fãs brasileiros desde a época do megahit “Home”.

Ela conta que aprende Português no Duolingo, reflete sobre as mudanças em sua carreira e fala sobre a possibilidade de voltar ao país quando o disco finalmente sair, em 13 de janeiro de 2023. Confira nosso papo abaixo!

TMDQA! Entrevista Gabrielle Aplin

TMDQA!: Oi Gabrielle! Obrigada por seu tempo.

Gabrielle Aplin: Obrigada pelo seu!

TMDQA!: Imagina, o prazer é meu. Pra começar, feliz aniversário atrasado! Já se sente com 30 anos? E deu pra comemorar?

Gabrielle: Obrigada! Eu comemorei um pouco sim. Não sei muito bem como me sinto – velha, jovem, tudo junto, ao mesmo tempo! Eu amo comida, então ontem eu e meu parceiro saímos e comemos muito (risos).

TMDQA!: Me parece uma comemoração! E olha, de alguém com 34 anos, acho que você vai ficar bem após os 30. 

Gabrielle: Ah, obrigada! (risos)

TMDQA!: Mas sei que você está ocupada, então quero entrar de cabeça no assunto desse novo disco. Estava pensando que as músicas que você já lançou dão uma dica dos seus caminhos neste próximo trabalho. Mas o que você acha que vai surpreender mais as pessoas quando finalmente pudermos ouvir o disco inteiro?

Gabrielle: Uuuuh! Pra mim… bem, escolhemos singles com algum tipo de fórmula. “Isso parece com rádio”, ou “isso vai ser bom para isso ou aquilo”, alguma estratégia. Mas não fiz o disco com singles em mente, fiz como uma grande peça em que tudo se encaixa. Apesar de ser ótimo lançar as músicas, não fiz com isso em mente. Foi feito como um corpo de trabalho completo. Acho que algumas canções do álbum são bem intrincadas, pessoais, orgânicas. Escrevi no lockdown da pandemia e quando chegou a hora de gravar, queria que soasse bem… humano. Quando fui juntar essas partes, não queria que fosse algo feito no computador, e sim algo feito por pessoas. Então tem tudo isso, isolamento mas também união. Queria que fosse algo físico, sabe? Um fã disse outro dia que soa como English Rain, mas depois da tempestade. E essa é uma ótima forma de descrever, porque realmente parecia que eu estava fazendo meu primeiro disco de novo, só que agora adulta.

TMDQA!: Com uma nova perspectiva, né?

Gabrielle: Exatamente.

TMDQA!: Gabrielle Aplin virando pop nem é notícia mais, mas “Never Be The Same” é provavelmente a mais pop de todas do EP!

Gabrielle: Sim!

TMDQA!: Pois é! É uma música que grita recomeços, novas fases, para você e para todos nós, se pensar bem. Você fez essa canção bem pra cima e alegre intencionalmente, ou ela foi te guiando até lá?

Gabrielle: Na verdade, foi a única música que eu escrevi pensando sobre não ter muitas músicas animadas no álbum. Precisava de mais uma música pra cima, e acontece que eu realmente amo dance music. Escrevi como um dance e queria incluir no disco, porque se encaixa perfeitamente no que Phosphorescent é e no que o álbum diz, mas seria estranho do nada ter uma música dance no disco.

Então tive que diminuir essa distância, acrescentei guitarras. Queria que as pessoas ouvissem num bar, mas ao mesmo tempo tem aquele tempo clássico do house. Queria que soasse orgânico, mas adoraria ter um remix de “Never Be The Same” numa boate! (risos). Ela foi bem rápida, e acho que posso dizer que foi intencional que fosse algo pop, mas tive que diminuir a intensidade dela para que se encaixasse na proposta do disco.

TMDQA!: E acho que soa mesmo orgânico. E você comentou como fazer esse novo disco foi como voltar ao seu primeiro. Estava pensando que lá no início era fácil te imaginar compondo no piano ou com um violão. Mas sua música evoluiu e muito mudou na indústria também, com a pandemia e tudo mais. Como você compararia seu processo criativo lá no início com agora?

Gabrielle: Quando eu fiz meu primeiro disco, não sabia o que estava fazendo (risos)! Só estava criando coisas. Na verdade, eu fiz esse novo disco com a mesma equipe que fez o meu primeiro, no mesmo lugar.

No meu último disco, Dear Happy, eu gravei em vários lugares. Gravei em Los Angeles, Noruega, Londres. Foi com pessoas diferentes, muito foi escrito num computador com sintetizadores, e trabalhei com um produtor, que trazia coisas e eu acrescentava letras. O que foi interessante nisso – além de adorar viajar e o fato de ter feito em muitos lugares – é que depois eu tive que aprender a tocar as minhas próprias músicas. E eu as tinha escrito! Achei isso estranho. Só queria compor muitas músicas e é isso. Tudo [do novo álbum foi] escrito no piano, com um pouco de violão, escrevi tudo. E depois eu já sabia tocar o disco, e nesse sentido foi muito orgânico.

Queria fazer um disco moderno, não um álbum retrô, mas a abordagem foi bem tradicional. Parecia muito anos 60. Estávamos no estúdio e ficávamos lá até terminar tudo. Não me mandaram pra todos os cantos, não tinha ninguém da gravadora me inspecionando, pedindo pra ouvir. Fui deixada em paz por um ano e depois entreguei. Sou muito grata por isso, porque acho que é algo muito bom para o trabalho. Gosto de ter a oportunidade de ser artista.

Sinto que é muito similar com English Rain, só que agora sei o que estou fazendo. E posso manter as coisas que quero e também poder fazer o mesmo processo, só que de forma confiante. Foi muito honesto, sabe? Não sinto que tenho nada a provar, não estou tentando ser maneira. Só quero ser artista e foi a melhor experiência que tive ao fazer um disco.

TMDQA!: Muito bom ouvir isso. Estava pensando aqui justamente que entre Dear Happy e Phosphorescent, dez anos terão passado. Você disse que não sabia exatamente o que estava fazendo naquela época, então se você pudesse voltar no tempo e dar um conselho para a artista que era naquele momento – algo que aprendeu ao longo do tempo nesse negócio da música – o que você diria?

Gabrielle: Acho que diria que esse negócio está constantemente evoluindo. Teria me dito para aproveitar cada coisa enquanto está lá, porque tudo se desenvolve, tudo muda. Quem teria dito há 10 anos que teríamos o TikTok? Tudo está mudando o tempo todo, então diria basicamente “aproveite o passeio”. É isso.

TMDQA!: Esse é dos bons. Quando Dear Happy saiu, a arte de capa parecia dizer “estou acrescentando algumas cores à artista que você já conhece”. Phosphorescent parece ir até o fim, até brilhar! Você acha que esse disco pode ser visto como uma declaração de que todos contemos multidões, que ninguém é uma coisa só?

Gabrielle: Com certeza! Esperar que um artista verdadeiro faça sempre as mesmas coisas é… me deixar entediada! É diferente no mundo pop, ou se você é apenas uma intérprete. Você já sabe o que esperar. Mas eu ficaria entediada se tivesse que fazer o mesmo sempre. Somos produto do nosso ambiente. Antes da pandemia, estávamos tão acostumados a ter de tudo, o tempo todo, uma espécie de sobrecarga sensorial.

Agora, isso sumiu. Com Phosphorescent, ao longo do tempo de produção, me mudei para a zona rural, comecei a cuidar da horta (risos), cultivava legumes, e comecei a ter uma ligação verdadeira com a natureza, muito mais do que teria tido em outras circunstâncias. Foi muito importante pra mim estar em um estúdio que usa energia renovável, achei que isso foi importante e foi demais ter meu disco feito assim.

Pensei inclusive que seria demais se o sol revelasse as fotos — por isso elas são azuis, porque são cianótipos e o sol as revelou. Queria incorporar a natureza em todas as partes do álbum, porque senti que isso foi algo que aconteceu na medida que eu o fazia. Queria que parecesse o mais natural possível.

TMDQA!: E parece. Quer dizer, aquela sua foto com um carneiro… é um carneirinho?

Gabrielle: É sim! (risos)

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Gabrielle Aplin
Divulgação

TMDQA!: É uma das melhores fotos de divulgação que recebi esse ano! (risos) Enfim, sei que temos que encerrar, tenho só mais duas perguntas. 

Gabrielle: Claro, sem problemas!

TMDQA!: Como você acha que essa nova fase, esse novo disco vai ser lembrado? Quando já tiver passado um tempo, o que você acha que vai torná-lo memorável dentro da sua discografia?

Gabrielle: Uau… Espero que este seja meu… Como diria? Não quero falar que é meu melhor álbum, porque espero fazer ainda melhores no futuro. Não quero atingir meu auge agora (risos).

TMDQA!: Mas o último é sempre o melhor, né?

Gabrielle: Sim! Quero que esse seja uma espécie de momento de amadurecimento, que passe que sou uma artista e levo isso a sério. Quero que seja pra mim o que Blue foi para a Joni Mitchell – esse é o disco.

Não importa o que eu faça no futuro, esse sempre será importante pra mim, porque pela primeira vez, eu tive liberdade para criar tudo, 100%. Todos me respeitaram e eu respeitava todos os envolvidos, eles eram muito importantes e traziam algo que ninguém mais poderia trazer. Espero que outros artistas possam ter esse mesmo tipo de tratamento, porque foi tão bom.

TMDQA!: É um luxo atualmente!

Gabrielle: Com certeza é.

TMDQA!: E minha última pergunta: você obviamente tem um longo histórico com seus fãs brasileiros e tem lançado lyric videos em Português. Podemos te esperar por aqui num futuro próximo?

Gabrielle: Espero que sim! Estou implorando pra todo mundo, toda vez que falamos sobre isso, eu digo, “por favor, Brasil!”. Não tem nada anunciado ou concreto ainda, mas estou fazendo tudo sob meu poder, não vejo a hora de voltar. Estou aprendendo Português no Duolingo, tenho que praticar minhas frases (risos).

TMDQA!: Do lado de cá, a gente faz a nossa parte, que é encher o seu Instagram com “come to Brazil”.

Gabrielle: Com certeza, e eu aqui mandando spam pra gravadora, “por favor!”.

TMDQA!: Então Gabrielle, boa sorte com o novo disco e esperamos te ver por aqui. Obrigada por falar com a gente.

Gabrielle: Obrigada a você! Também espero! Se cuida.

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