Daft Punk
Foto: Divulgação

Mais cedo nesta segunda-feira, 22 de Fevereiro de 2021, recebemos a notícia de que o lendário duo francês Daft Punk está encerrando suas atividades.

Sem dúvida alguma um dos nomes mais importantes da história da música eletrônica e possivelmente grande responsável pela popularização do gênero ali no início dos anos 2000, a dupla formada por Thomas Bangalter Guy-Manuel de Homem-Christo deixa um legado irretocável.

Apesar de toda a influência que seus primeiros três discos — HomeworkDiscovery e Human After All — tiveram, talvez seja o último lançamento de estúdio que realmente acabe eternizado como a obra-prima não apenas do Daft Punk, mas até mesmo de todo o século 21.

Com um processo que durou cinco anos, Random Access Memories foi lançado em 2013 e abrigou hits como “Get Lucky”, “Instant Crush”, “Lose Yourself to Dance” e outros que serviram não apenas como um atestado à capacidade absurda dos músicos franceses (certificada por inúmeros prêmios na indústria) mas também dos instrumentos verdadeiros, da tecnologia analógica e do que o verdadeiro cuidado com a arte pode ser capaz de criar.

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Daft Punk e Random Access Memories

Para fazer RAM, o Daft Punk desembolsou milhões e milhões de dólares. Claro que essa proposta, por si só, já tira da conversa muitos pretendentes a criar algo tão belo quanto, mas é sempre bom lembrar que os caras só chegaram nesse ponto depois de quase 20 anos de carreira.

Quando a dupla fez Human After All em 2005, foram necessárias apenas seis semanas e um arsenal restrito de instrumentos. No próximo trabalho, a ideia era ir (muito) além e reviver os anos 70 e 80, considerados por muitos como a época de ouro das gravações e, por que não, da música.

Para isso, foram convidadas verdadeiras lendas daquele tempo: além das famosas contribuições de Nile Rodgers (Chic) na guitarra, o duo buscou inspirações em discos como Rumours (Fleetwood Mac) e Hotel California (Eagles) e contou com Nathan East  (Michael Jackson, George Harrison, Ringo Starr, etc.) e James Genus (Chick Corea, Herbie Hancock, etc.) no baixo, Omar Hakim (Weather Report, Miles Davis, David Bowie, etc.) e John Robinson (Michael Jackson, Barbra Streisand, etc.) na bateria e Chris Caswell (Jason Mraz, Stevie Wonder, etc.) nos teclados.

Tudo foi gravado ao vivo. Guitarras, sintetizadores, teclados, bateria, baixos, vocais — tudo. Ao contrário do que muitos pensam, a visão de Bangalter e Homem-Christo sobre a digitalização da música é bem negativa e eles já chegaram a deixar bem claro que computadores “não são instrumentos”.

Justamente por isso, a ideia do álbum era fazer música que eventualmente fosse sampleada (e não o contrário). Esse conceito, por si só, é fundamental para entendermos Random Access Memories: “devolver a vida à música”.

A ideia de usar samples não é nada que o Daft Punk recuse — aliás, um de seus maiores hits (“Robot Rock”) é totalmente baseado em um. Ainda assim, os franceses tinham uma mentalidade muito clara de resgatar, em seu novo trabalho, o som que os influenciou durante toda a vida e que permitiu o uso dessa mesma técnica por tantos outros artistas.

Mais do que isso, o duo parecia querer mostrar que ainda havia espaço para a experimentação na música e que o resultado poderia, sim, dominar as paradas e se tornar lucrativo.

Foi exatamente o que aconteceu (em especial com o mega hit “Get Lucky”), e RAM passou a ser o símbolo da era moderna para aqueles que valorizam os avanços tecnológicos mas, ao mesmo tempo, não abrem mão do que já era bom.

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O legado de Random Access Memories e do Daft Punk

Isso fica claro pelo tremendo uso de tecnologias analógicas presente no disco, que também abraça a modernidade e possui diversas faixas digitais — além de terem escalado nomes relativamente recentes da música como Julian Casablancas Pharrell Williams para equilibrar a formação que contava com tantas lendas do passado.

Esse equilíbrio é a base de tudo que essa obra-prima oferece. O único extremo adotado pelo Daft Punk foi acerca da qualidade: os processos de mixagem e masterização foram extremamente vigiados, com os mínimos detalhes ajustados para que soassem como o grupo queria.

Da mesma forma, as gravações orgânicas dos músicos eram constantemente arrumadas por Bangalter e Homem-Christo, desenhando cada canção exatamente da forma como elas foram imaginadas e, às vezes, até criando referências umas às outras dentro do próprio álbum.

É natural que muitos daqueles que ouvem superficialmente a obra se questionem o que diabos o Daft Punk fez em Random Access Memories, já que grande parte da execução ficou por conta de outros músicos. A resposta é, justamente, esse processo de “montagem” que ganhou status de lendário e é o grande responsável pelos elogios ao duo.

Dessa forma, é um pouco cedo demais para especular qual será o verdadeiro legado do Daft Punk. Talvez acabe sendo, de fato, a popularização da música eletrônica lá nos anos 2000.

Por outro lado, ainda que muitos artistas cumpram seu papel plenamente e entreguem ótimos materiais nos dias de hoje, a efemeridade da música é uma característica quase intrínseca da nossa forma moderna de consumi-la.

O Daft Punk, em Random Access Memories, venceu isso. Pelo menos para este que escreve, este sim será o verdadeiro legado dos lendários robôs. Adeus e obrigado!

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