Que tal embarcar em uma jornada no túnel da música pesada com o que de mais relevante foi lançado no mundo do hard rock/metal há 40 anos? Lá nos anos 70, bandas que estão aí até hoje como AC/DC, Judas Priest, Lynyrd Skynyrd e Aerosmith já faziam muito barulho, assim como outras bandas que já não estão mais entre nós, como o The Runaways e o Led Zeppelin. Se a sua intenção é relembrar ou até mesmo conhecer música “nova”, a lista abaixo é perfeita para você.
Vamos lá?
Mahogany Rush – IV
A banda canadense capitaneada por Frank Marino – que ficou mais conhecido por sua obsessão com o mestre das guitarras Jimi Hendrix que por sua técnica, apuradíssima por sinal – entrega um disco variado musicalmente, ainda que calcado na sonoridade viajante e cheia de riffs psicodélicos do mestre Hendrix. Destaques para “Jive Baby”, “Dragonfly” e “Little Sexy Annie”.
Ted Nugent – Free-For-All
O redneck mais famoso da música norte-americana aparece com este que é seu segundo disco solo (antes, Ted Nugent fez parte da banda psicodélica The Amboy Dukes) que conta com ninguém menos que Meat Loaf nos vocais, antes mesmo de Bat out of Hell se tornar um fenômeno da cultura pop mundial. Free-For-All traz o típico timbre ácido de Ted nas guitarras e letras, afiado como as garras de um gato com raiva. “Street Rats”, “Writing on the Wall” e “Dog Eat Dog” prendem a atenção do ouvinte de imediato.
Thin Lizzy – Johnny the Fox
1976 foi um ano e tanto para a gangue comandada por Phil Lynott. Os irlandeses alcançaram seu auge criativo e gravaram não só uma obra-prima, mas duas. As circunstâncias para a criação de Johnny the Fox eram as mais impróprias possíveis: na turnê de Jailbreak, Lynott foi acometido por uma hepatite e teve de ser hospitalizado, ficando mais de um mês internado. Este disco também mostra como a personalidade criativa de cada integrante da banda era forte, não sendo raras as vezes em que Lynott e Robertson (guitarra rítmica) discordaram a respeito das composições. Musicalmente falando, Johnny the Fox traz aquele velho hard/blues rock malandro dos irlandeses, com doses cavalares e poderosas da dupla de guitarristas, que ficaria mais tarde conhecida como uma das melhores de todos os tempos. O hit desse disco é a dançante “Don’t Believe a Word”.
Truth and Janey – No Rest for the Wicked
Os anos 70 são repletos de bandas maravilhosas que, por falta de agenciamento correto, ou pelo simples fato de ter sido uma época tão fervilhante criativa e musicalmente falando, passaram despercebidas pela crítica. É o caso do norte-americano Truth and Janey, conjunto que gravou apenas dois discos, deixando esta pérola aos nossos ouvidos, que mistura heavy metal com psychedelic rock, resultando numa viagem lisérgica repleta de momentos pesados. “Remember”, que conta com duas partes – “A Child” e “Building Walls” – traz seus mais de 9 minutos de puro heavy psych setentista. Recomendadíssimo.
Rory Gallagher – Calling Card
Co-produzido por Roger Glover (Deep Purple, Rainbow etc), o sexto disco do guitarrista irlandês Rory Gallagher desbrava variações nunca antes ouvidas do estilo que o caracterizou como o blues man de respeito que sempre foi, muito disso devido à produção de Glover, tendo sido considerado como um dos trabalhos mais refinados de Gallagher, exaltados por pérolas como “Do You Read Me”, a faixa-título e “Jack-Knife Beat”.
Nazareth – Close Enough for Rock ‘n’ Roll
Faça-se justiça ao esclarecer que Close Enought for Rock ‘n’ Roll figura principalmente por sua faixa de abertura e carro-chefe do disco, a bombástica “Telegram”, que carrega consigo quase 8 minutos do mais revigorante hard rock setentista. A música aborda a vida gloriosa e arriscada que as bandas da época viviam, de tours, ressacas, garotas a drogas, festas regadas a bebidas etc, culminando num riff muitíssimo bem sacado de “So You Wanna Be a Rock ‘n’ Roll Star”, clássico do Byrds. O disco apresenta outros momentos empolgantes como “Born Under the Wrong Sign” e “Vancouver Shakedown”, mas “Telegram” por si só já garante esta pedrada como um dos melhores discos do ano de 76.
Sweet – Give Us a Wink!
O quarto disco dos britânicos trouxe a guinada definitiva do Sweet ao hard/heavy que algumas bandas do chamado glam rock resolveram enveredar, com a baixa do estilo, que à época, já não fazia tanto sucesso, tanto pela saturada natural de todo gênero que estoura por alguns anos quanto pelo nascimento do punk, que dava seus primeiros passos no Reino Unido. Encontram-se provas cabais da mudança de sonoridade quando se ouve os singles que viriam a se tornar clássicos “Action” e “The Lies in Your Eyes”. A nova roupagem do grupo caiu nas graças do público, que colocou o single de “Action” no top 15 do Reino Unido e em vários outros países da Europa. Destaca-se ainda “Cockroach”, “4th of July” (terceiro single, que falhou nas paradas de sucesso) e a longa (para os padrões da banda) “Healer”, com seus mais de sete minutos.
The Runaways – The Runaways
Ainda que se tenha falado sobre a presença feminina no mundo do rock, muito disso se deve ao quinteto norte-americano The Runaways. Numa época em que a predominância masculina no gênero era enorme, Joan Jett e companhia quebraram paradigmas lançando este, que é considerado um dos registros mais sujos – à época de seu lançamento – levantando a questão de se o rótulo de “sexo frágil” cabia mesmo às mulheres. A mistura de hard rock e punk contida em petardos como “Cherry Bomb”, “You Drive Me Wild” e “American Nights” foi se concretizando nos anais do rock ano após ano e hoje são considerados clássicos, tanto pelo seu conteúdo histórico quanto pela própria sonoridade, direta e crua.
Made in Brazil – Jack o Estripador
Um dos maiores expoentes da música pesada em terras brasileiras, o Made in Brazil chegou ao seu segundo disco esbanjando uma fúria e gana pra gringo nenhum botar defeito. Ainda que a tecnologia necessária pra se gravar um disco tenha chegado tardiamente no Brasil, a banda conseguiu entregar um registro nada menos que cristalino, onde produção e mixagem trabalharam arduamente para que o resultado saísse satisfatório. Musicalmente falando, o disco traz aquela sonoridade festiva que consagrou o conjunto. Exemplos claros disso são os clássicos “Meu Amigo Elvis”, “Jack o Estripador” e as duas partes de “Eu Não Transo Mais”.
UFO – No Heavy Petting
Na década de 70, era muito comum que uma banda lançasse discos anualmente e o UFO não foge à regra. Lançado após o ótimo Force It (1975), No Heavy Petting soa como uma continuação natural deste, onde o hard rock/heavy metal dos britânicos permeia os pouco mais de 30 minutos do registro. Já em seu quinto lançamento, a banda soa coesa e entrosada, onde quem ganha com isso tudo é o ouvinte. As dançantes “Natural Thing”, “A Fool in Love” e “Can You Roll Her” fazem um contraponto perfeito para as mais lentas e introspectivas, como “Belladonna” (com um violão dedilhado de muito bom gosto em sua introdução) e “Martian Landscape”.
Queen – A Day at the Races
Após ter lançado A Night at the Opera, um dos divisores de águas da história da música contemporânea, a missão do Queen era mais que ingrata: fazer um álbum que ao menos respondesse à (elevada) altura do seu antecessor e bem… Não fizeram feio. A Day at the Races foi uma investida proposital em uma espécie de continuação de seu antecessor – desde a arte da capa à disposição das músicas – e por isso, dividiu opiniões à época de seu lançamento. Porém, quatro décadas passadas, nota-se que o registro esbanja qualidade. O hard rock com pitadas pop de Freddie Mercury e sua trupe encanta em “Somebody to Love” (alguém aí percebe nesta uma pitada de “Bohemian Rhapdosy?”), “Tie Your Mother Down” e “White Man”, ao passo que o momento mais emotivo fica por conta da belíssima balada “You Take My Breath Away”, enquanto que o lado mais açucarado do pop da Rainha aparece em “Good Old-Fashioned Lover Boy”.
Kansas – Leftoverture
Uma banda muito AOR (Adult Oriented Rock) para o Progressive Rock e muito Progressive Rock para o AOR. Transitando nessa esfera de subgêneros, o sexteto norte-americano lançou em 1976 este, que seria seu maior sucesso comercial. Leftoverture já abre com a música que consagrou a banda para a história do rock: “Carry on Wayward Son” possui a estrutura de uma música radiofônica, mas ao mesmo tempo o requinte instrumental necessário que o fã mais exigente pede. Impossível falar do disco sem abrir um tópico para a épica “Magnum Opus” – que ostenta seus mais de oito minutos – onde Steve Walsh e companhia deixam a virtuose e técnica apuradas falarem mais alto e entregam ao ouvinte uma verdadeira sinfonia de ritmos descompassados e intrincados, imprimindo de vez sua marca no mundo progressivo. Outros destaques ficam por conta das acessíveis “Miracles Out of Nowhere” e “Questions of My Childhood”.
Scorpions – Virgin Killer
Mais um disco dos escorpiões alemães com capa duvidosa, e felizmente, mais uma obra-prima. O Scorpions e o UFO têm algumas peculiaridades semelhantes: pode-se destacar a regularidade anual de lançamentos de ambos os conjuntos, a qualidade técnica e a passagem do excelente guitarrista Michael Schenker (deixando sua marca nos três primeiros registros dos alemães e que à época do lançamento de Virgin Killer e No Heavy Petting, fazia parte do UFO). Sonoramente falando, Virgin Killer mostra uma banda em seu auge criativo e talvez, mais pesado. “Catch Your Train”, a faixa-título e “Backstage Queen” são amostras sinceras da ferocidade com qual a banda estava quando criou petardos como esses. Embora tenham ficado conhecidos mundialmente por suas baladas românticas só a partir do multiplatinado Love at First Sting, Virgin Killer possui açucaradas canções, como “In Your Park“ e a dramática “Crying Days”. Destaque ainda para “Hell Cat”, cantada pelo exímio guitarrista Uli Jon Roth.
Lynyrd Skynyrd – One More from the Road
Primeiro de três discos ao vivo dessa lista, One More from the Road marca a carreira dos norte-americanos por ter sido o primeiro e único registro ao vivo do Lynyrd Skynyrd em sua formação clássica, fato ocorrido pelo trágico acidente de avião sofrido pela banda em 1977, culminando na morte de dois de seus integrantes. Mas como o assunto aqui é música, esse ao vivo duplo repassa a carreira dos mestres do southern rock até sua data de lançamento (contabilizando quatro discos de estúdio), onde o conjunto consegue reproduzir com técnica invejável seus temas, muito cantados por grande parcela do público. Como é característico do estilo, a banda entrega em “Free Bird” – um dos maiores hinos da história do rock – uma saraivada de riffs de guitarras, transformando a música numa grande jam festiva. Como o disco foi gravado na fase áurea do conjunto, a sua audição por completo é recomendada. Óbvio que destaques supremos como “Tuesday’s Gone”, “Sweet Home Alabama”, “Gimme Three Steps” e a já citada “Free Bird” prendem a atenção do ouvinte num primeiro momento, mas quando a fase é boa, nada sai ao menos mediano.
Blue Öyster Cult – Agents of Fortune
Erroneamente comparado pela mídia como o Black Sabbath norte-americano, o Blue Öyster Cult criou em 1976 seu maior hit. “(Don’t Fear) the Reaper” deu uma visibilidade nunca experimentada pela banda, fazendo com que a agenda de shows do culto da ostra azul ficasse cada vez mais lotada. Agents of Fortune abre com a enigmática e excelente “This Ain’t the Summer of Love”, com Donald Roeser despejando riffs certeiros em sua introdução. O misterioso Eric Bloom, dono de um timbre vocal único, cria ao longo do disco uma ambiência soturna e muito interessante. Isso pode ser notado em “Sinful Love” e na assustadora “The Revenge of Vera Gemini” (que conta com a participação mais do que especial de Patti Smith). Os momentos mais intensos do disco aparecem nas ótimas “rockarias” de “E.T.I (Extra Terrestrial Intelligence)” e “Tatto Vampire”, havendo espaço até para a swingada “Morning Final”, com um baixo fortemente influenciado pelo funk.
Led Zeppelin – The Song Remains the Same
Há 40 anos atrás, o Led Zeppelin já era um gigante ativo. Tendo lançado obras que ficariam anos mais tarde encravadas no inconsciente da cultura pop, Robert Plant e companhia eram uma das poucas bandas que faziam sucesso simultaneamente no Reino Unido e Estados Unidos. Prova disso foi a gravação deste ao vivo em três noites no Madison Square Garden em Nova York, que serve também como trilha sonora do filme de mesmo nome. Musicalmente falando, The Song Remains the Same não consegue captar o que tornou o Led Zeppelin ser o Led Zeppelin, mas nem de longe compromete. Jimmy Page certa vez, disse que a intenção não era gravar um ao vivo, e sim, uma trilha sonora para o filme. “Rock and Roll”, “Celebration Day” e “The Song Remains the Same” abrem o disco empolgando qualquer ouvinte. A partir da linda “The Rain Song”, as coisas ficam mais atmosféricas e entorpecentes e/ou entorpecidas. “Dazed and Confused” vem na sequência e se transforma numa jam hipnotizante, com seus mais de 26 minutos. Na mesma pegada, surgem “No Quarter”, “Stairway to Heaven”, “Moby Dick” e “Whole Lotta Love” (com nuances de “The Crunge” e “Boogie Mama”), todas beirando experimentações ao vivo que soam como verdadeiras transições mentais, especialmente na instrumental, onde o baterista John Bonham brilha. Ainda que The Song Remains the Same tenha recebido à época críticas negativas quanto à qualidade de captação sonora, não deixa de ser um registro com a marca e excelência de uma banda do porte do Led Zeppelin.
Boston – Boston
Um disco feito para as rádios tocarem-no de ponta a ponta. A resenha de Boston poderia muito bem se fundamentar apenas nessa frase. Se houve um disco lançado em 1976 que merece a alcunha de coletânea, o debut do quinteto norte-americano é disparado o grande favorito. O álbum abre com nada menos que uma quina de canções simplesmente arrebatadoras. O clássico “More Than a Feeling” dá a dica do que está por vir: canções acessíveis, muito bem executadas, com um vocalista que imprime como poucos sua identidade sonora. “Peace of Mind” bebe da fonte de sua antecessora, sendo uma belíssima continuação. O destaque maior, porém, vem a seguir com a intro “Foreplay” dando espaço para “Long Time”. Nessa faixa, o Boston abraça o progressivo e entrega ao ouvinte uma das músicas mais trabalhadas da banda. A ode ao estilo rock and roll de se viver entra em seguida com “Rock & Roll Band”, seguindo a risca a fórmula “banda acima da média + riffs e solos inspirados + timbre inconfundível de Tom Scholz”. “Smokin’” mantém o clima festivo deixado pela anterior. Ainda há espaço para outra obrigatória balada romântica “Let Me Take You Home Tonight”, que foi mal distribuída no tracklist do disco, quebrando um pouco seu desfecho, ainda que nem de longe comprometa o resultado final.
Peter Frampton – Frampton Comes Alive!
Disco mais vendido de 1976 e eleito pelos leitores da revista Rolling Stones como álbum do ano, Frampton Comes Alive! é uma espécie de arrebatador de números. E não é para menos, o duplo ao vivo faz jus a todos os méritos que recebeu e recebe até os dias atuais. Impossível não associar a técnica talk box utilizada em “Do You Feel Like We Do” à Frampton. Técnica esta que se espalhou pelo mundo do rock (alguém falou em “Livin’ on a Prayer”?). Inclusive, esta faixa merece todo um parágrafo isolado: seus mais de 14 minutos são permeados por um bom gosto que só quem ouve consegue descrever como é a sensação. Difícil falar de Frampton Comes Alive! sem mencionar honrosamente os hits que impulsionaram este álbum nas paradas: “Show Me the Way” e “Baby, I Love Your Way” são canções tão populares que estão encravadas no subconsciente da cultura pop mundial. Ainda ressalta-se o groove característico do guitarrista em “(I’ll Give You) Money”, além dos ótimos covers preparados para este ao vivo: de “Shine On” da sua ex-banda Humble Pie e uma versão bem diferente para o clássico dos Rolling Stones, “Jumpin’ Jack Flash”. Indispensável.
Aerosmith – Rocks
O quarto disco de Steven Tyler e sua gangue só veio a confirmar o que Toys in the Attic (1975) anunciou: a sonoridade definitiva de uma das maiores bandas da história do rock estava oficialmente formada. “Back in the Saddle” abre Rocks da melhor maneira possível: Joe Perry solando e tendo como contraponto a voz esganiçada de seu vocalista. A faixa que hoje é um clássico, foi lançada como single e alcançou a boa posição de número 38 na Billboard, dando provas de que o Aerosmith tinha realmente caído nas graças do público. O segundo single vem logo na sequência, apresentando a malandra e certeira “Last Child”, outra que conseguiu uma boa posição nos charts da parada norte-americana. A terceira e última música de trabalho, “Rats in the Cellar“ pega o ouvinte de surpresa ao se deparar com um hard rock visceral, sendo a melhor faixa do disco para este que vos escreve. Steven Tyler chegou a dizer que a música é como se fosse uma espécie de sombra de “Toys in the Attic”, e muito se explica, já que ambas possuem o andamento parecido. Doses sacanas e rockeiras do típico Aerosmith podem ser encontradas em “Combination”, “Sick as a Dog”, “Nobody’s Fault” (que foi “coverizada” até pelo Testament) e “Lick and a Promise”. O disco fecha com a sentimental e belíssima balada “Home Tonight”.
KISS – Destroyer
Dono de uma reestruturação musical, Destroyer é considerado por muitos como a maior obra do KISS, consolidando e amadurecendo a sonoridade apresentada nos seus três primeiros discos, sofisticando o hard rock festeiro do quarteto norte-americano. As composições são equilibradas e o resultado final do disco soa melhor ainda depois de uma audição por completa em seus pouco mais de 30 minutos. Como todo clássico, o disco abre com uma daquelas músicas que carregam consigo uma identidade tão forte que fica associada à banda pelo resto de sua trajetória. Assim é “Detroit Rock City”, e por consequência assim é o KISS: fulminante, veloz e certeiro. A sofisticação outrora mencionada aparece já na segunda faixa, “King of the Night Time World”, como que um pedido do grupo ao ouvinte afastar os móveis da sala e dançar freneticamente. Na mesma toada, seguem “Flaming Youth” e “Shout it Out Loud”, um dos hinos imortais dos mascarados. “God of Thunder” (que já recebeu até cover do Death), com o baixista Gene Simmons na liderança dos vocais dá um tom totalmente contrário à anterior, soando suja e soturna, sendo este, um dos destaques de Destroyer. Pendendo pro lado pomposo e glam do KISS, “Great Expectations” segue com Simmons nos vocais, agora bem mais polido, e o andamento até sugere se tratar de uma balada romântica, mas na verdade é sacanagem pura, vide sua letra. “Sweet Pain” e “Do You Love Me?” resgatam o sentimento de festa apresentado no começo do disco. E como não poderia faltar uma balada romântica no disco, “Beth” sintetiza com propriedade o termo power ballad. Cantada pelo baterista Peter Criss e construída em sua grande parte no piano, foi o melhor single da banda até aquele momento, rendendo ao KISS uma boa sétima colocação na Billboard. Variado e dotado de uma excelência musical incrível, Destroyer sempre terá seu lugar no coração dos fãs dos mascarados.
Judas Priest – Sad Wings of Destiny
Sad Wings of Destiny é o culpado pela guinada definitiva do Judas Priest ao som pesado. Segundo disco dos britânicos, o registro apresenta uma ampla gama de sonoridades e estilos diferentes, combinando a música clássica ao hard rock veloz de uma maneira pouco antes vista. Após a introdução “Prelude”, “Tyrant” toma de assalto, mostrando uma banda apostando incessantemente na alternância de ritmos, claramente influenciada pelos lançamentos de Deep Purple e Queen à época. O turbo é acionado de vez em “Genocide”, um hard rock provocativo, tendo como destaque principal a técnica de Rob Halford, que mais tarde viria a se tornar uma das maiores referências vocais da história do metal. Na sequência “Epitaph” – uma triste balada – retrata com veemência a influência que o Queen teve na sonoridade do Priest. “Island of Domination” bota a rotação novamente veloz, com destaque para a famosa dupla de guitarristas K.K. Downing/Glenn Tipton, sendo um dos responsáveis pela criação das chamadas guitarras gêmeas.
Um dos marcos da história do heavy metal mundial, “Victim of Changes” merece um capítulo a parte. Com seus quase oito minutos de duração, o Judas Priest apostou todas suas fichas nessa canção, e o resultado não poderia ser menos que magnífico. Não há como apresentar um destaque individual, sendo a banda em si merecedora de todos os méritos. Construída a partir de outras duas músicas (“Whiskey Woman” e “Red Light Lady”), “Victim of Changes” sintetiza todas as características que fizeram do grupo ser sinônimo de música pesada: das guitarras gêmeas ao vocal quase operístico de Halford, tudo se encaixa perfeitamente como um quebra-cabeça. Um riff melodioso toma de assalto e anuncia a chegada de outro hino da banda – “The Ripper” – que conta a história de Jack the Ripper através da visão do próprio estripador. “Dreamer Deceiver”, mais uma balada dramática, mostra a técnica e alcance vocais de Rob Halford, que canta no seu limite. O solo melodioso de Tipton faz a faixa ser mais um ponto alto de Sad Wings of Destiny. O disco fecha com a continuação de ”Dreamer Deceiver”, “Deceiver”, com uma roupagem sonora bem mais direta e pesada que sua antecessora, soando apocalíptica, bem apropriada para o fechamento de um registro. Coeso, rico tecnicamente falando e inspirado, Sad Wings of Destiny nasceu por si só clássico.
AC/DC – Dirty Deeds Done Dirt Cheap
Segundo disco lançado internacionalmente e terceiro em sua terra natal, os australianos do AC/DC aproveitaram a boa recepção que o debut High Voltage (1975) obteve, que conseguiram entregar um trabalho tão empolgante quanto seu antecessor.
O disco abre com a faixa-título que é simplesmente um clássico, com o acompanhamento acelerado da bateria de Phil Rudd na introdução dando o tom que se segue, sendo executada nos shows até os dias de hoje. “Ain’t no Fun (Waiting Round to Be a Millionaire)” vem em seguida com sua pegada totalmente bluesy que conta a velha história de garotos que resolvem largar tudo para tentar a vida fazendo rock and roll. Depois de sua metade, a canção incendeia e o AC/DC nos entrega mais uma de suas memoráveis canções. “There’s Gonna Be Some Rockin’” vem na rabeira de sua antecessora com o clima lá nas alturas, destacando a famosa dupla de guitarristas Angus e Malcolm Young, tocando riffs verdadeiramente endiabrados. Já em “Problem Child”, o destaque fica por conta da interpretação debochada de Bon Scott, contando como se esta fosse uma música sobre si mesmo. A sacana “Squealer” salta a latente veia malandra do grupo, com uma letra pra lá de apimentada, mantendo a eletricidade do disco, com uma forte linha de baixo a cargo de Mark Evans. A divertida “Big Balls” vem na sequência mantendo a linha devassa de “Squealer”, e mais uma vez nota-se como se Bon Scott estivesse ali, se autodeclamando. O boogie de “R.I.P. (Rock in Peace)” remete à “There’s Gonna Be Some Rockin’”, tanto pelo andamento quanto pela letra. Lembrando que essa música saiu apenas na versão australiana de Dirty Deeds Done Dirt Cheap. A acelerada e ótima “Rocker” (que saiu apenas na versão internacional) vem como um cruzado de direita na cara do ouvinte desavisado, traçando mais uma vez nas letras o estereótipo roqueiro. “Ride On”, um blues atípico para os padrões do AC/DC chega sorrateiramente em meio às pauladas sonoras distribuídas no disco, sendo facilmente citada como uma das melhores músicas do conjunto. Sua letra soa sombria, contando a reflexão de um homem sobre os erros que cometeu em um relacionamento enquanto bebe. A versão australiana ainda conta com o hino “Jailbreak”, uma das músicas mais famosas do grupo, que conta a fuga de um presidiário condenado por dezesseis anos de prisão por ter cometido um assassinato. “Elétrico” pode ser considerado uma definição justa para Dirty Deeds Done Dirt Cheap, mas a verdade é que a evolução deste para High Voltage fez o mundo finalmente considerar a Austrália como um lugar com ótimas bandas, e se há algum responsável por isso, com certeza é o AC/DC.
Thin Lizzy – Jailbreak
Se o ano de 1976 não foi do Thin Lizzy, eles com certeza chegaram muito perto disso. Única banda a ter conseguido figurar duas vezes nesta lista, é inegável que a trupe de Phil Lynott estava no seu auge. O disco abre com a icônica faixa-título que à época também virou single, dando uma excelente primeira impressão ao que estar por vir ao ouvinte, combinando elementos típicos do Thin Lizzy numa melodia certeira. A irresistível “Angel from the Coast” vem em seguida, com um belíssimo trabalho de guitarras de Scott Gorham e Brian Robertson, dando um toque havaiano à canção. “Running Back”, que a princípio seria um single é uma balada romântica muito agradável que enfatiza os vocais de Phil Lynott, muito bem encaixados, por sinal. “Romeo and the Lonely Girl” remete a “Angel from the Coast”, com uma levada contagiante, leve e dançante. “Warriors” já aparece mais pesada e abusa do swing da guitarra e da malandragem de Lynott, sendo esta até o momento a que mais lembra a banda de trabalhos anteriores, com um grande solo. E o que falar sobre “The Boys Are Back in Town”? O maior hit do grupo, uma música acelerada, com um trabalho excepcional de Gorham e Robertson, com uma letra recheada de dualismos. Destaque ainda para as levadas rápidas do baterista Brian Downey. Depois do empolgante clássico, “Fight or Fall” chega sorrateira, soando extremamente sofisticada. Acertaram em cheio ao colocá-la entre “The Boys Are Back in Town” e “Cowboy Song”. Por sua vez, “Cowboy Song” segue a ritmia de “Jailbreak”, em mais um momento que o Thin Lizzy brilha como banda, até nas construções de refrãos e solos de guitarras surpreendentes. O desfecho triunfal para um disco do quilate de Jailbreak não poderia ser melhor, com a épica “Emerald”. Nela, os irlandeses entregam-se ao heavy metal com direito a um dos melhores solos de guitarras gêmeas da carreira da banda. Com certeza, “Emerald” foi inspiração de vários conjuntos que viriam a formar as bandas do movimento conhecido como New Wave of British Heavy Metal. Com um trabalho de composição e instrumental incríveis, o Thin Lizzy crava para posteridade seu melhor disco, e um dos melhores da música pesada como um todo.
Rush – 2112
Rechaçados desde o primeiro álbum, o Rush caminhava debaixo de pedras jogadas tanto pela gravadora quanto pela mídia especializada, que os acusavam de serem plagiadores do Led Zeppelin. Com a entrada do baterista Neil Peart no segundo disco Fly By Night, as coisas começaram a tomar um rumo diferente, com a banda se enveredando para um estio mais próximo do rock progressivo, mas ainda assim com a pegada pesada que vários power trios tinham à época. Mas foi com 2112 que o grupo conseguiu agradar fãs, mídia e a si próprio. Ignorando o “conselho” da gravadora, que pediu aos canadenses que fizessem músicas mais comerciais, 2112 tem como tema central a faixa-título dividida em 7 partes, com seus mais de 20 minutos de duração. A épica “2112” surpreende e extasia o ouvinte mais incrédulo: trata-se de uma obra que engloba uma temática futurista (como o nome prevê, no ano de 2112), onde o planeta encontra-se controlado pelos Sacerdotes do Templo de Syrinx, e comandam o sistema de tal forma que tudo que é visto como ilógico, tem de ser obrigatoriamente descartado. O mundo é visto como triste, solitário e frio até que o protagonista da história – sem nome – encontra uma guitarra e fica maravilhado com o som que aquele instrumento pode emitir. Entusiasmado, ele vai de encontro aos sacerdotes enganosamente pensando que sua ideia seria acatada e que a partir de então, o planeta seria mais alegre; mas para sua surpresa, os governantes descartam veemente sua ideia dizendo que aquilo já era conhecido e que era uma perca de tempo. Desolado com a reação dos sacerdotes, o protagonista cai no sono e sonha um mundo onde a criatividade reina, as pessoas são felizes e racionalmente individualistas. O desesperado despertar do sonho o faz cometer suicídio, por não suportar mais viver num planeta onde cada passo é controlado pelos sacerdotes. Após a morte do protagonista, uma voz ecoa um dos dizeres mais famosos da história da música: “attention all Planets of the Solar Federation, we have assumed control”, ficando na mente do ouvinte se os Sacerdotes do Templo de Syrinx foram derrotados pelo planeta o qual o personagem sonhou, ou se com a morte do protagonista, a única ameaça dos Sacerdotes foi extinta. A inspiração maior para a letra (composta por Peart) de “2112” veio do livro Anthem, de Ayn Rand (1938), e a composição musical ficou a cargo de Geddy Lee e Alex Lifeson. Apesar da faixa-título ser conceitual, o disco não é, com as outras canções não fazendo qualquer correlação com “2112”. O lado B do disco reserva ainda aos ouvintes a nipônica “A Passage to Bangkok”, a enigmática “The Twilight Zone”, a edificante “Lessons”, a emotiva “Tears” e a poderosa “Something For Nothing”, para fechar esse, que é uma das maiores obras-primas da história da música. Clássico indiscutível.
Rainbow – Rising
Após o lançamento de Ritchie Blackmore’s Rainbow, o líder e mentor Ritchie Blackmore apenas deixou da formação que gravou o primeiro disco o vocalista Ronnie James Dio, recrutando para os postos de baixista e baterista, Jimmy Bain e Cozy Powell, respectivamente. O álbum abre com a excelente “Tarot Woman” e conta com uma introdução de teclado muito bem executada, a cargo de Tony Carey, trazendo o misticismo que Blackmore levaria para sempre em suas bandas dali em diante. “Run With the Wolf” vem na sequência vibrante, dando destaque à bateria marcada e compassada de Cozy Powell, além de um solo pra lá de inspirado de Blackmore. “Startruck” chega e pela levada, lembra muito o que o guitarrista fez com sua ex-banda Deep Purple, contagiando qualquer ouvinte, com destaque para a interpretação despojada de Dio ao tema. Mais uma vez, o guitarrista é um dos destaques. A empolgante “Do You Close Your Eyes” aparece com força, com uma letra intensa e sacana. “Stargazer” chega imponente, como a música que pode muito bem definir o que é o Rainbow: preciso, grandioso, épico e técnico; como se fosse um supergrupo, sem a parte de que todos na banda já haviam recebido o devido reconhecimento àquela época. Com uma introdução extremamente característica de Cozy Powell, a música contou com a participação da Orquestra Filarmônica de Munich e conta a história de um mago que, obcecado com a ideia de voar, recrutou centenas de pessoas para que pudessem construir uma torre que fosse alta o suficiente para que ele pudesse ali fazer seu vôo, porém, no final da história; o mago ao invés de voar, cai e morre. A inspiração e alma que Ritchie Blackmore conseguiu inserir no solo principal de “Stargazer” é algo inacreditável. O disco fecha com a não menos épica “A Light in the Black”, chegando aceleradíssima (aqui está mais uma das provas do Rainbow ter sido o avô do Power Metal), e conta a história do povo que perdeu o propósito de vida após terem testemunhado a morte do mago, sendo que Blackmore mais uma vez brilha. Com uma formação que mais parece uma escalação de seleção campeã mundial, o Rainbow encabeça a lista dos melhores discos de 1976 com muita propriedade, visto que Rising é um registro irretocável.
Ficou curioso para ouvir uma parcela do que foi falado nessa lista? Confira a playlist abaixo, que comemora os 40 anos destes grandes álbuns.
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