Rafael Kent é conhecido aqui no Brasil como diretor de grandes videoclipes.

O cara já trabalhou com nomes como Charlie Brown Jr., Cone Crew Diretoria, Vivendo do Ócio, Black Drawing Chalks, Tiago Iorc, Selvagens À Procura de Lei, Hellbenders e mais.

Além disso, ele também é o responsável pela belíssima sessão intimista Studio62, gravada em seu apartamento, que mostrou um lado diferente dos diversos artistas que filmou.

Agora, Kent está lançando seu primeiro curta, um retrato chamado “Litefeet – A Generation In Movement”, que mostra um grupo de dançarinos que utiliza as barras dos vagões do metrô de Nova York como plataforma para mostrar seus passos.

O filme mostra as motivações do grupo para fazer aquilo, a luta contra policiais e até mesmo como a administração do metrô colocou avisos de que o que eles fazem é proibido após algumas de suas apresentações.

Conversamos com Rafael Kent a respeito de todo o projeto e ele nos revelou que está chateado com a realidade do mercado fonográfico brasileiro hoje em dia, principalmente no que diz respeito a clipes, e começa a explorar novas possibilidades na carreira.

Leia o papo logo abaixo e veja “Litefeet” na íntegra.

 

TMDQA!: Como surgiu a ideia de se aventurar por um curta e a partir dela, como definiu o tema que abordaria na sua estreia?

Rafael Kent: Cara, eu já tenho a vontade de fazer curta metragem e sair um pouco da música e entrar no “storytelling” há muito tempo. Isso é bem nítido no último clipe do Emicida (“Passarinhos”) que conta uma história.

Eu estou muito feliz de fazer um trabalho totalmente meu, contando a história de pessoas que acho sensacionais com o meu ponto de vista e finalmente conseguindo fazer um outro tipo de material que não seja clipe.

Basicamente não foi uma ideia. Eu fiquei um tempo em Los Angeles e depois fiquei um mês em Nova York. Lá, eu ficava com a câmera no pescoço o tempo todo, capturando imagens do dia a dia da cidade. A maior parte do material que eu já tinha era da cidade no geral e do metrô. Eu tinha um apanhado de imagens sobre a cidade e o cotidiano de Nova York, não tinha uma história específica. Aí eu conheci o Litefeet três dias antes de ir embora pro Brasil. Não tinha pretensão nenhuma, estava só de turista mesmo.

 

TMDQA!: E como acabou rolando o encontro com o Litefeet no metrô de Nova York?

Rafael Kent: Voltando de um show com a Tania, minha namorada, na volta eu tava com a câmera só para fotos, a gente entrou no metrô e aconteceu. Aconteceu de naquele momento estar aquela galera dentro do vagão e eles me abordaram. Eles tiraram com a minha cara, viram a câmera e perguntaram, “Yo! Você é profissional, cara?”

Eu respondi brincando que estava tentando ser, e hoje conhecendo eles melhor, tenho certeza que eles tavam me tirando.

O Dree (cara das asinhas no tênis) pediu se eu poderia mostrar um material meu, porque estavam precisando de trabalhos e eu falei que mesmo que mandasse, era brasileiro e estava voltando pra casa em três dias, então não daria pra fazer nada planejado ou pensado.

Ele deixou quieto, voltou a conversar com os caras e logo colocaram uma música e alguém começou a gritar “What time is it? Showtime!”, e eu fiquei maluco.

Aí eu tirei um monte de fotos e quando eles pararam eu os abordei e falei “cara, olha só, eu já esqueci meu turismo de Domingo, não vou mais sair e preciso muito filmar vocês, mesmo. Me fala um horário e lugar e a gente se encontra.”

Eles ficaram mega desconfiados porque têm sido presos pela polícia e uma das coisas que a polícia precisa fazer é ter provas gravadas contra eles. Mas ficou pré-marcado, trocamos uns e-mails e aconteceu.

Fiquei com eles 4 horas filmando e me senti um deles, fiz parte do grupo.

 

TMDQA!: Então foram só 4 horas com os caras? Entre filmar as apresentações e pegar os áudios dos relatos deles também?

Rafael Kent: Isso foi interessante. Como eu tive que voltar rápido, eu pedi para um amigo nosso, Carlinhos Feitosa, ele é mega talentoso com áudio, mix, etc. Eu pedi pra ele gravar as entrevistas dos moleques. E foi engraçado porque eles são os verdadeiros nova iorquinos das ruas, a expressão da cidade que vem do Brooklyn, do Bronx.

Eu fiz algumas perguntas e mandei pro Carlinhos, mas foi muito difícil porque a desconfiança era grande. Eles não quiseram que fosse até a casa deles para uma entrevista melhor e eles não quiseram ir até a casa do Carlinhos. Muito menos passaram número de telefone.

Eles aceitaram se encontrar somente na rua. O que eu queria era que eles fossem entrevistados sozinhos. Em grupo rola que meio uma bagunça, então não foi muito bem o que eu esperava mas funcionou.

 

TMDQA!: Dá pra ver no filme vários avisos dentro dos trens sobre como é proibido u tilizar os postes para danças. Nesse período não chegou a rolar nenhuma abordagem policial?

Rafael Kent: Eu nem sabia que eles estavam sendo presos de fato. Só fiquei sabendo depois, mas nem sabia dos avisos no metrô, e foram eles que me mostraram, até meio orgulhosos. Isso foi muito louco, aí eu filmei na hora.

Mas é uma proibição meio mais ou menos, porque na entrevista que eles deram, disseram que um ou dois deles foram pegos e dois foram para frente do juiz e o juiz falou, “Velho, não acredito que você está aqui por ter dançado. Segue seu rumo, vai embora, só não faz de novo.” Eles não são tratados como criminosos de verdade.

Durante a filmagem a gente não foi abordado não. Eu achei isso fenomenal, realmente me senti fora do Brasil porque aqui você abre uma câmera em um lugar público e logo aparece alguém pedindo se você tem autorização, ou seja, dinheiro, pra pagar pra filmar ali. No Brasil se você não tem dinheiro…

É por isso que não tem material legal, porque você tem que pagar pra fazer qualquer coisa nesse país. A gente perde muito com isso.

 

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