Phoenix

Por Nathália Pandeló Corrêa
Quem nunca dançou “Lisztomania” na baladinha, que atire a primeira pedra. Não é de hoje que o Phoenix é um dos representantes da cena indie/pop/eletrônica/alternativa francesa, ao lado de nomes como Daft Punk, M83, Justice e muitos outros. No caso do quarteto de Versailles, já se vão quase 20 anos de atividades.

Agora, Thomas Mars (vocal), Deck d’Arcy (baixo), Laurent Brancowitz (guitarra) e Christian Mazzalai (guitarra) se preparam para lançar seu sexto álbum de estúdio. Ti Amo, o sucessor de Bankrupt!, já deu as caras com o single “J-Boy”, que ecoa a referências oitentistas, sem se levar muito a sério. A faixa-título também já foi divulgada. Desde meados de maio, o Phoenix está em turnê pelos Estados Unidos. Sobre o novo álbum, já declararam se tratar de seu trabalho mais romântico até aqui, como o nome sugere.

A banda assina a produção do disco, que foi gravado na La Gaîté Lyrique, em Paris, com a ajuda do colaborador Pierrick Devin. Segundo os próprios músicos, as canções de Ti Amo são sobre emoções puras: amor, desejo, luxúria e inocência. E também sobre suas raízes latino-europeias, em uma versão fantasiada da Itália, como se fosse um paraíso perdido. Tudo é claro, é leve, tem gosto de gelato de pistache, ao som de jukeboxes na praia, com direito a estátuas de mármore, Monica Vitti e Marcello Mastroiani.

O lançamento acontece no dia 9 de julho. Para saber mais sobre o que vem por aí na esteira desse caldeirão de referências, conversamos por telefone com o guitarrista Christian Mazzalai. Nossa conversa passou pelo processo de gravação – que chama atenção por ter acontecido em uma antiga ópera parisiense, agora reformada e transformada em teatro e museu -, a noite em que ficou preso no estúdio devido ao toque de recolher após o atentado terrorista na cidade e sobre Chico Buarque e Charles Aznavour.

Confira o papo abaixo:

TMDQA!: Olá, Christian. Obrigado por falar com a gente. Estamos muito curiosos sobre o novo álbum e o que vocês têm planejado pra ele. Vocês já descreveram esse disco como “colorido” e que soa como “verão e disco italiana”. Essa é uma vibração que fica após ouvir “J-Boy”, tanto a música quanto o clipe. O quanto da inspiração veio de um lugar de nostalgia pra vocês… e o quanto foi a banda olhando para o futuro?

Christian Mazzalai: Na verdade, nós não fazíamos ideia do que fazer após a última turnê (risos). A gente só queria experimentar musicalmente, sair da zona de conforto. E acabou acontecendo que tudo que tocava ao nosso redor tinha essa vibração mais alegre. Então fomos colocando isso nas músicas, sem tentar analisar a situação. Víamos como um presente que estávamos recebendo, essa inspiração, e se fôssemos analisar, poderíamos estragar tudo (risos). Não foi nada planejado, só queríamos colocar ali as emoções que tínhamos.

TMDQA!: Eu ainda não ouvi o disco, mas acho que já dá pra dizer que Ti Amo será algo único na discografia de vocês – senão pelas músicas, pelo menos pela forma como foi gravado, naquela ópera antiga e que agora é uma casa de shows. Como essa experiência ajudou a dar forma ao álbum?

Christian: Mudou bastante a nossa experiência. Para cada álbum, escolhemos um lugar diferente – um país, uma cidade nova. Neste, optamos por gravar no coração, no centro de Paris. E aí encontramos esse belo teatro antigo, fomos até lá e tinha uma sala bem bonita, onde couberam todos os nossos equipamentos… Em geral, nós ficamos isolados do mundo quando estamos gravando, mas esse teatro ainda funciona, sabe? Ele estava aberto ao público, tinha shows acontecendo lá. Então tinha muita vida acontecendo ao nosso redor, novas experiências o tempo todo. Muitas vezes, a inspiração vinha das pessoas do teatro mesmo. E isso nos ajudou a dar um verdadeiro tom parisiense que era tão importante pra nós.


TMDQA!: Ter um som com a cara da banda, acredito, é um bom objetivo a se manter em mente. Mas como continuar fazendo isso ao longo dos anos, na medida em que vocês mudam, o público também… Já são seis discos, ainda dá pra descobrir algo novo?

Christian: Claro, mas é sempre um desafio. Eu diria até que é um desafio maior do que quando éramos mais  jovens e estávamos compondo as primeiras canções. Pra cada disco, a ideia é jogar fora todas as receitas e começar do zero. E essa é a beleza da coisa! No caso do novo álbum, no início nós gravamos tudo que vinha de ideia, foi muito produtivo e rápido pois nos sentíamos muito inspirados. Essa parte foi mais prazerosa. Mas depois vem a disciplina, de separar o que há de melhor, o que nem sempre é fácil.

TMDQA!: Vocês também disseram que esse álbum vem de um lugar sombrio, e é difícil não ligar isso àquela noite que você passou no estúdio por conta do toque de recolher da polícia, logo após o ataque ao Bataclan. Nem posso imaginar como deve ter sido estar nessa situação, nesse momento trágico, a sensação de medo e incerteza. Você diria que esse tipo de “escuridão”, como vocês disseram, entrou um pouco no disco, apesar de sempre falarem do clima positivo das canções?

Christian: Agora nós conseguimos ver uma ligação entre as duas coisas, mas no momento, não percebemos que havia. Pensando em retrospecto, acho que talvez por causa dos ataques em Paris, nós sentimos que precisávamos fazer um disco tão pra cima. Estávamos procurando uma razão para seguir em frente. Sabe o cantor francês Charles Aznavour?

TMDQA!: Claro, sei sim.

Christian: Então, quando Charles e a Brigitte Bardot terminaram, ele começou a escrever suas músicas mais pop e alegres. Acho que é uma forma de ir em busca da alegria, de sobreviver ao caos. É isso.

TMDQA!: Faz sentido. Bem, o Bankrupt! saiu em 2013, e em 2014 vocês já estavam trabalhando no Ti Amo. Por que demorou tanto para que pudéssemos ouvi-lo?

Christian: Ah, sim! Mas é que nós queríamos que o disco ficasse exatamente da forma como imaginávamos. Nosso único critério era esse, que a música vem primeiro, e que a gente não ia lançar enquanto não estivéssemos 100% satisfeitos com elas.

TMDQA!: E como você sabe que está 100%? Quer dizer, vocês já estão tocando algumas dessas músicas ao vivo. Quando fica claro que é hora de soltar essas músicas no mundo?

Christian: A hora chega quando nós já estamos cansados demais de trabalhar naquelas músicas, sabe? A gente chega num limite e diz, “chega, eu preciso dar isso como terminado”.

TMDQA!: Bem, falando em terminar… Pra encerrar, nós sempre pedimos aos músicos com quem conversamos para nos contarem um pouco dos discos que eles mais têm ouvido. Nosso site é muito voltado pra álbuns e vinil, estamos sempre buscando descobrir preciosidades! Você poderia compartilhar com a gente alguns que tenham sido uma boa surpresa pra você ultimamente, algo que descobriu recentemente e que não consegue parar de ouvir?

Christian: (Pausa) Uhm…  Você conhece Chico Buarque?

TMDQA!: Sim, claro!

Christian: Construção, acho que é esse o nome do álbum.

TMDQA!: Sim, Construção é um clássico!

Christian: Eu descobri esse disco no ano passado e fiquei simplesmente encantado por ele. É simplesmente magnífico, do início ao fim.

https://www.youtube.com/watch?v=yRpt8Asm9Z0

TMDQA!: Não sei se você conseguiu compreender as letras, mas…

Christian: Ah, sim, eu li as traduções das letras. São realmente muito boas. Tristes, mas ao mesmo tempo muito bonitas, bem construídas. E os arranjos são… bons demais pra ser verdade!

TMDQA!: Que legal que você escolheu esse disco, ele é respeitado e considerado muito importante pra música brasileira. Bem, esperamos ver vocês aqui no Brasil pra essa nova turnê.

Christian: Com certeza, nós também não vemos a hora de voltar!

 

Ti Amo, novo disco do Phoenix, será lançado em 09 de Junho.

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