Santana - IV

Em 2014 o guitarrista Neal Schon comemorou seus 60 anos de idade com uma festa em Las Vegas. Dentre os convidados estava Carlos Santana, amigo de longa data de Schon, que o presenteou com um relógio. O presente, no entanto, tinha um significado maior, era um símbolo, a forma que Santana escolheu para dizer ao amigo que era hora de reunir a antiga formação da banda. Era hora de revisitar a energia que impressionou Woodstock e fora imortalizada nos clássicos do grupo.

Schon, que em 1971, ainda adolescente, abandonou a escola para entrar no grupo durante as gravações de Santana III, tentava uma reunião há tempos, mas as famosas ”diferenças musicais”, que o fizeram abandonar a banda em 1973 para formar o Journey, ainda falavam mais alto do que a vontade de fazer música. Não mais, Santana deu o sinal verde e a banda, composta também pelo tecladista e vocalista Gregg Rolie, o percussionista Michael Carabello, e o baterista Michael Shrieve, começou a esboçar um novo trabalho, Santana IV.

O disco em si é quase uma admissão de culpa. Culpa pela banda ter acabado cedo demais, deixando um espaço em branco dentro de um estilo que ninguém mais dominava – aquela mistura de blues, rock e ritmos latinos que por anos foi esquecida e só ganhou força novamente quando, em 1999, com um formato diferente e completamente grudado no pop, Santana lançou Supernatural e ganhou mais Grammys que amigos.

Então, no final de 2014, a formação clássica entrou em estúdio e partiu exatamente de onde parou, mantendo aquele feeling e o clima dos ótimos Abraxas e do já citado Santana III.

O grande acerto de Santana IV é o desapego comercial que só um disco gravado por quem já não tem mais nada a provar apresenta. Logo no início, em ”Yambu”, o grupo lança mão de ritmos latinos que embalam uma linha de órgão de atmosfera mística e os riffs funkeados que fizeram de Carlos Santana um dos guitarristas mais característicos do mundo.

”Shake It” é uma festa no quintal de algum bairro hispânico de São Francisco, regada a riffs gordos e vocais blueseiros, enquanto ”Blues Magic” acena para um dos maiores sucessos do grupo: a releitura de ”Black Magic Woman”, que ganhou tanta personalidade nas mãos de Santana que pouca gente sabe que a música foi composta pelo inglês Peter Green e foi um dos primeiros singles do Fleetwood Mac.

A guitarra de Neal Schon entra em cena em ”All Aboard” e ”Caminando”, dando um tempero mais rock n’roll à percussão da banda. O contraste entre a técnica de Schon e Santana fica bem aparente (e interessante) em ”Love Makes The World Go Round”, que traz Ronald Isley, do Isley Brothers, no vocal.

O único ponto negativo do disco é exatamente o que faz dele tão bom. Calma, eu explico: tudo o que os caras fizeram no passado está ali, guardadas as devidas proporções. Santana IV tem a energia, a pegada e toda aquela atmosfera latino-psicodélica-blueseira que quebrou barreiras no final dos anos 60 e começo dos 70, no entanto, letras sobre ”celebrar a paz”, ”curar a raça humana” ou ”encontrar o arco-íris”, funcionavam em Haight-Ashbury durante o verão do amor em meio a viagens lisérgicas, mas na realidade atual soam um pouco ingênuas demais para o meu gosto.

Ainda assim, é muito legal ver e ouvir uma galera ”das antigas” fazendo o som que eles criaram há 50 anos pelo simples prazer de fazer música e compartilhar uma inquietação criativa que faz com que a gente queira sempre evoluir de alguma forma.

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