Scracho

Nos seis anos desde o lançamento de A Grande Bola Azul (2007), o disco de estreia do Scracho, o grupo mudou bastante, por dentro e por fora. O vocalista e guitarrista Diego Miranda e o baixista e vocalista Caio Corrêa hoje são acompanhados pela baterista Débora “Dedé” Teicher, e o guitarrista Gabriel Leal, autor de alguns dos maiores sucessos da banda, se mudou para a Alemanha para se especializar em energias renováveis. Juntos, os quatro lançaram em 2011 Mundo a Descobrir, um álbum carregado pelas expectativas criadas pelo sucesso do anterior e do DVD ao vivo MTV Apresenta: Scracho (2009). Mas de lá para cá  nem tanta coisa está diferente. Afinal, em Boto Fé, o recém-lançado terceiro álbum de estúdio do (agora) trio, o pop banhado por reggae e rock do Scracho continua presente, apenas mais experiente e confiante.

Produzido por Chico Neves, o homem por trás de clássicos recentes do rock nacional como Lado B, Lado A (1999) d’O Rappa e O Bloco do Eu Sozinho (2001), do Los Hermanos, Boto Fé é o álbum mais eclético da carreira do Scracho. A razão por trás disso é justamente a coesão do grupo no momento em que a renovação se mostrou necessária. “A saída do Gabriel forçou essa renovação”, conta Dedé, que além da bateria, canta três músicas do disco e escreveu a base de pelo menos duas. “A gente continua amigo, o disco tem até algumas músicas dele. Mas tivemos que pensar em uma nova forma de trabalhar. Para mim foi muito bom poder me descobrir mais, me conhecer em novas esferas”. Caio concorda com a baterista: “Desta vez trabalhamos mais em conjunto, o que sempre foi uma vontade nossa”, diz. “E com os três se forçando a escrever mais, acabamos trabalhando melhor na composição do disco como um todo”.

Depois de experimentar trabalhar com uma grande gravadora, o Scracho voltou ao mercado independente de cabeça em pé. “Somos o Scracho que é pequeno, independente, mas também somos o Scracho com muita coisa na bagagem”, avalia Diego ao explicar a decisão de gravar o álbum em um grande estúdio, com um dos maiores produtores do país. “A gente poderia ter gravado de uma forma mais simples, mas não iria soar como gostaríamos que o nosso terceiro álbum soasse”. Mas em tempos de vacas magras, em que até ídolos pop têm dificuldade de se estabelecer no mercado, quem iria pagar um projeto tão ambicioso? Os fãs, claro.

Boto Fé foi totalmente financiado por 415 admiradores da banda que conseguiram juntar R$ 44 mil através de um projeto de financiamento coletivo encerrado em Setembro, um mês antes do lançamento do disco. “Começamos a gravar antes de a meta ser atingida, correndo o risco de ficar sem nada se não juntássemos o suficiente”, conta Dedé, apreensiva. “Mas foi muito emocionante porque vimos muitos fãs sofrendo tanto quanto a gente, mobilizando todo mundo para que atingíssemos a meta”. Além das recompensas, os apoiadores ganharam de presente uma faixa exclusiva: “Tá Perto”, gravada durante as sessões de Boto Fé, e que tem a participação de Teco Martins, vocalista do Rancore.

Na segunda quinzena de Julho, Caio, Diego e Dedé se mudaram temporariamente para o home studio de Chico Neves, localizado em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte. Fora do cotidiano no Rio de Janeiro, a banda conseguiu mergulhar completamente na produção do álbum, o que os três garantem que influenciou no resultado final. “Nós acordávamos para tomar café da manhã com o cara, jantávamos com o cara… E como o estúdio é na casa dele, a gente começava a gravar na hora que nos sentíamos à vontade”, relembra Diego. Dedé compara a experiência a uma grande reunião de amigos, que pouco lembrou uma relação profissional. “Ele conseguiu deixar a gente muito à vontade. Tinha dias em que ficávamos horas sentados à mesa conversando e ouvindo música, sempre no maior astral. Foi muito saudável para a gente, como banda, ter trabalhado com ele”, conta. “Ele é muito experiente. A gente se acha uma banda difícil, mas de vez em quando a gente nem percebia e ele já tinha feito do jeito que queria (risos)”, brinca Caio.

Talvez o maior acerto de Chico Neves na produção de Boto Fé tenha sido manter intacta a veia pop do grupo e permitir, ao mesmo tempo, a exploração de novos timbres, arranjos e estruturas, como no trecho final de “O Carnaval”, na psicodelia doce de “Faz Sentido” e na tensa “Situation”. Por mais que o objetivo imediato da banda não seja roubar o lugar de Naldo ou Anitta no mercado atual, nenhum dos três esconde a admiração pela versatilidade da música pop, nem rejeita o rótulo. “A gente nunca vai ter a ambição de tocar no Faustão, mas não vamos reclamar se chegarmos lá”, argumenta Diego. “Não tem ninguém aqui ouvindo músicas progressivas de oito minutos, e no Boto Fé há músicas que são mais comerciais que algumas dos outros discos”. O objetivo, segundo Dedé, é plantar para colher a longo prazo. “O momento musical do Brasil não é favorável ao pop rock, mas tudo é feito de ciclos, de ondas, e acho que a gente faz muito bem em resistir, em não ficar esperando essa onda chegar. Não dá pra ficar esperando isso acontecer”, desabafa.

Boto Fé está à venda no iTunes e disponível em serviços de streaming como o Deezer (player abaixo). Na próxima segunda-feira (27), o TMDQA! vai publicar um Faixa a Faixa exclusivo com a banda, com comentários dos três integrantes sobre cada uma das dez músicas do disco.

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