
O Foo Fighters iniciou oficialmente sua nova fase de estúdio com o lançamento do single “Asking for a Friend”, o primeiro desde a entrada do baterista Ilan Rubin.
A faixa chega acompanhada de uma carta assinada por Dave Grohl, que reflete sobre fé, recomeços e o sentimento de gratidão que impulsiona o grupo após quase três décadas de estrada – leia na íntegra abaixo!
A chegada de Rubin, conhecido por seu trabalho no Nine Inch Nails e também no Angels & Airwaves, marca uma mudança significativa na formação da banda, sucedendo Josh Freese, que retornou ao grupo de Trent Reznor. A movimentação inesperada entre as bandas gerou uma curiosa “troca de bateristas”.
Foo Fighters e Queens of the Stone Age
O lançamento também veio acompanhado de um grande anúncio: uma turnê por estádios da América do Norte, marcada entre 4 de agosto e 26 de setembro de 2026, com abertura do Queens of the Stone Age, banda liderada por Josh Homme, parceiro de longa data de Grohl em projetos como o Them Crooked Vultures.
Na carta que acompanha o lançamento, Dave Grohl ainda relata uma experiência simbólica ao avistar o Monte Fuji, no Japão – uma metáfora sobre reencontrar a fé e o propósito após tempos nebulosos. O vocalista também celebra a amizade de três décadas com Homme e o reencontro com os fãs após o retorno aos palcos.
Confira a tradução completa da carta de Dave Grohl abaixo e ouça “Asking For a Friend”.
‘Espero que amanhã o céu limpe e você consiga vê-lo. É uma visão tão bonita’, me disse o concierge, com um tom levemente arrependido.
Sorri e caminhei até o terraço externo do hotel, sob a chuva suave da tarde. Olhando para as águas calmas do Lago Kawaguchi logo abaixo, encontrei uma parede espessa e impenetrável de mau tempo no horizonte. Eu sabia que o Monte Fuji – a montanha mais alta do Japão e uma das maravilhas naturais mais majestosas do mundo – estava escondido em algum lugar atrás daquelas nuvens, em um glorioso sono. Todo mapa, folheto e foto me prometiam que ele estava lá, a uma curta distância do nosso hotel. Tendo tocado inúmeras vezes no lendário festival Fuji Rock ao longo dos últimos 28 anos com o Foo Fighters, Queens of the Stone Age e Them Crooked Vultures, eu já conhecia bem sua lenda. Só não conseguia vê-lo fisicamente.
Quando a noite caiu, me sentei em silêncio na varanda do hotel, envolto pela névoa e pelo frio, esperando que as nuvens se dissipassem – ansiando por algum sinal de que o gigante realmente existia. Mas, à medida que as horas passavam, o fuso horário começou a pesar, e acabei indo para a cama, na esperança de que, no dia seguinte, o céu finalmente se abrisse e meu desejo se realizasse.
Depois de algumas horas de sono (quem me conhece bem sabe que sou alérgico a dormir), voltei à varanda com um cobertor pesado e retomei minha vigília. Eu estava determinado (outra característica bem conhecida por quem me conhece) a testemunhar a montanha surgindo diante dos meus olhos, em tempo real. Mas… havia movimento agora. Uma pausa na chuva e uma mudança no vento começaram a separar as camadas de neblina e névoa sobre o lago, revelando, de tempos em tempos, pequenos e nítidos recortes do contorno da montanha – apenas para vê-los serem engolidos novamente pelo manto de névoa e chuva. Por mais frustrante que fosse, não desisti. Esperei pacientemente.
Um teste de fé, digamos assim.
Não demorou muito para que as estrelas aparecessem no céu noturno. De repente, a neblina se dissipou, e… lá estava ele. Imponente na escuridão. Prendi a respiração diante de sua imensidão. Fiquei em reverência. Dessa distância, parecia ainda maior e mais nítido do que quando estive aos seus pés, tantas vezes antes. Humilhado diante de sua silhueta colossal, meu coração se encheu de gratidão e humildade ao ver meu desejo se concretizar. Eu tinha minha prova. Me senti tão pequeno diante de algo tão vasto.
Fiquei ali por horas, absorvendo tudo.
Quando o sol começou a nascer e o horizonte a leste começou a brilhar, vi um clarão no céu – como um relâmpago – e uma estrela cadente cruzou o topo da montanha.
Fiz um novo pedido e comecei o meu dia. Pura serendipidade.
À medida que as nuvens lentamente se dissipam e a vida volta a ganhar forma, há muitos motivos para sentir gratidão. E humildade. Eu sei disso – e sinto isso – todos os dias.
Desde o nosso retorno aos palcos em San Luis Obispo, há cinco semanas, fomos lembrados do motivo pelo qual amamos e somos eternamente devotos a fazer o que fazemos com o Foo Fighters. Desde o processo de reconexão como banda, revisitando uma lista de músicas de 30 anos, até repensar versões com a bênção incrível de termos Ilan Rubin na bateria, e reencontrar nossos fãs incríveis, entregando tudo o que temos (não importa o tamanho do palco), sabemos que não estaríamos aqui sem eles. Temos o núcleo mais sólido – e o sol finalmente está nascendo no horizonte.
E que melhor maneira de compartilhar essa vista do que com amigos próximos?
Em 1992, vi pela primeira vez o lendário Kyuss tocar no Off Ramp, em Seattle, e conheci Josh Homme. A banda era amiga de um amigo, e não demorou para que o álbum ‘Blues for the Red Sun’ se tornasse a trilha sonora daquele verão.
Trinta e três anos depois, com muitos quilômetros percorridos, compartilhei alguns dos momentos musicais mais gratificantes da minha vida ao lado do meu querido amigo Josh – um vínculo de vida inteira que vai muito além do som que fizemos juntos. Por isso, é com enorme felicidade que podemos compartilhar este próximo capítulo junto dos poderosos Queens of the Stone Age.
Preparem-se.
Mas nada disso estaria completo sem uma nova música minha, de Pat, Nate, Chris, Rami e Ilan. “Asking for a Friend” é uma canção para aqueles que esperaram pacientemente no frio, confiando apenas na esperança e na fé para ver o horizonte surgir. Que buscaram “provas” enquanto se agarravam a um desejo – até o sol voltar a brilhar.
Uma entre muitas músicas que ainda virão…
Vamos ver essa montanha surgir juntos.
— Dave