Humberto Gessinger em entrevista
Reprodução/YouTube

Em entrevista recente, o cantor e compositor Humberto Gessinger abordou a polêmica envolvendo Nasi, vocalista do Ira!, após o músico se posicionar politicamente durante um show e receber reações divididas do público.

Sem fugir do assunto, o líder do Engenheiros do Hawaii defendeu ao programa Perimetral (via Whiplash) o direito de artistas manifestarem opiniões no palco e comparou a reação negativa a uma tentativa de controle ideológico.

“Cara, eu gosto muito do Ira, e acho que falar tuas ideias no show faz parte, não só esteticamente, quanto politicamente. Fala o que tu quiser. Vaiar e aplaudir também faz parte do show”, afirmou Gessinger, destacando que o palco é, por natureza, um espaço de diálogo com a plateia e também de discordância.

Apesar disso, o músico criticou o que chamou de “arquitetura para estigmatizar” certos posicionamentos. Sem citar nomes de grupos ou setores específicos, Gessinger resgatou uma expressão de Jânio Quadros para se referir a possíveis interesses ocultos por trás de reações exageradas a manifestações políticas de artistas:

O que eu acho é que a coisa do boicote… não sei se sou paranoico, mas aí eu acho que já entra, como falava Jânio Quadros, forças ocultas. Já tem uma arquitetura desenhada pra estigmatizar isso. Porque não me parece fora do normal um artista falar a sua opinião e gente gostar e gente não gostar.

Gessinger também comentou a cobrança que artistas recebem para manter neutralidade política. Segundo ele, há quem queira transformar a música em mero entretenimento inofensivo, esvaziado de reflexão. “Tem gente que vê arte como uma coisa decorativa. Quer que tu cante ‘Volare’, entende? Mas as pessoas que vão ver o Ira! estão a fim de ouvir ‘Volare’? Quem é que tava lá?,” questionou o músico.

O gaúcho revelou ainda que chegou a publicar um texto defendendo Nasi nas redes sociais, mas recebeu mensagens o mandando “ficar quieto” e apenas cantar. Ele ainda completou:

Eu tento não trazer isso pro palco, mas meio com ciúmes disso, entendeu? Porque eu acho que a música deve ser o que eu faço e deve ser o que deve ficar na frente. Tenho ciúmes quando esses acessórios tomam a frente do que é o teu trabalho e as pessoas começam a não ouvir a música.

Encerrando o assunto, Gessinger usou uma analogia provocativa para defender que a arte deve ser livre e desafiadora – mesmo quando incomoda.

Tem gente que quer música como papel de parede, como se esses quadros que tu compra por metro fossem arte. Mas, cara, tu vai pro museu pra ser surpreendido. Um cara pegou um mictório, botou no museu e mudou a história da arte. Quer dizer, uma manifestação artística. O segundo que botasse o mictório no museu não mudaria nada – mas o primeiro, sim.

Confira o vídeo da entrevista logo abaixo.