Brasil enfrenta aumento de casos de feminicídio, com dados alarmantes revelados pelo Mapa Nacional da Violência no primeiro semestre.
Canção 'Mulher Eu Sei', de Chico César, ganha destaque como reflexo do crescimento da violência contra a mulher no país.
Música é utilizada em casos de feminicídio, como ferramenta de denúncia e sensibilização em julgamentos e debates.
Desde a última semana de novembro, o Brasil voltou a se deparar com uma sequência de casos de feminicídio que chocaram o país. Somente no primeiro semestre deste ano, o país registrou 718 mortes, segundo dados do Mapa Nacional da Violência levantados pelo Observatório da Mulher Contra a Violência.
No último domingo, dia 7, manifestações contra a violência de gênero foram realizadas em pelo menos 20 cidades. É nesse cenário que Chico César comentou a atualidade da canção “Mulher Eu Sei”, lançada há 30 anos no álbum Aos Vivos, ao TMDQA!. A fala ocorreu durante uma conversa sobre sua próxima apresentação ao lado da orquestra percussiva Aguidavi do Jêje, marcada para quinta-feira, dia 11, no Auditório Simon Bolívar, no Memorial da América Latina, em São Paulo.
“Tem uma canção que, nesses últimos dias, ganhou uma relevância para mim, pelo menos, nos shows mais recentes, que é ‘Mulher Eu Sei’, por causa dessa violência crescente, escancarada, que parece ter um caráter epidêmico contra a mulher no Brasil.”
Lançada no início da carreira de Chico César, “Mulher Eu Sei” integra um álbum que levou o artista a uma série de apresentações pelo Brasil ao longo do ano. A letra, que já denunciava relações atravessadas por desigualdade e violência, volta a ecoar com força em um país em que as estatísticas mostram a persistência e o agravamento da violência de gênero.
A gente não passa um dia sem que venha uma notícia muito absurda. Não é que teve um tabefe, um espancamento, não. Uma mulher foi arrastada por mais de um quilômetro por um carro, uma oficial é morta por sufocamento por um colega, uma cantora do Pará é morta a pauladas. Então, a música ‘Mulher Eu Sei’ tem trazido bastante reflexão para mim. Como há mais de 30 anos eu estava ali tocado por essas questões, e compus a música, de repente, agora, esse sentido, infelizmente, tristemente, se torna muito explícito.”
Para o compositor, o que está em jogo não são episódios isolados, mas uma estrutura que autoriza e naturaliza a agressão contra mulheres:
“É doloroso viver essa realidade em que o patriarcado, a misoginia, uma masculinidade tóxica e doentia têm estabelecido a violência contra a mulher como regra, e nós não podemos conviver bem com isso.”
A força simbólica da canção também transbordou para fora do campo estritamente artístico. Um trecho de “Mulher Eu Sei” foi usado pela promotora de Justiça Ana Carolina Castro ao concluir a sustentação no Tribunal do Júri, em Bonito (MS), em um caso de tentativa de feminicídio que resultou na condenação do réu a 14 anos de prisão em setembro deste ano.
O episódio é um exemplo de como a obra passou a ser acionada também como instrumento de denúncia e de sensibilização em ambientes institucionais.
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Liz Sacramento é jornalista há 10 anos e cantora. Já passou por grandes telejornais da TV aberta, e atualmente atua como correspondente internacional. Ao longo da carreira, percorreu diversos estados do país cobrindo grandes eventos, política, cultura e meio ambiente. Com paixão pela música, pesquisa trajetórias sonoras marcadas por autenticidade, identidade e transformação social. Sempre sonhou em unir jornalismo e música, e para isso tem se dedicado a escrever sobre narrativas que celebram a música preta, brasileira e global.
Liz Sacramento é jornalista há 10 anos e cantora. Já passou por grandes telejornais da TV aberta, e atualmente atua como correspondente internacional. Ao longo da carreira, percorreu diversos estados do país cobrindo grandes eventos, política, cultura e meio ambiente. Com paixão pela música, pesquisa trajetórias sonoras marcadas por autenticidade, identidade e transformação social. Sempre sonhou em unir jornalismo e música, e para isso tem se dedicado a escrever sobre narrativas que celebram a música preta, brasileira e global.
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