
O governo do Reino Unido deve anunciar nesta semana uma das ações mais rigorosas já propostas contra o cambismo digital: a proibição da revenda de ingressos por qualquer valor superior ao preço original.
A decisão, que atende a uma demanda antiga de artistas e consumidores, surge após anos de críticas ao modelo de mercado que permitia lucros exorbitantes e práticas fraudulentas em plataformas de revenda.
A nova legislação deve abandonar a possibilidade, anteriormente cogitada, de permitir um limite de até 30% acima do valor original. Segundo fontes próximas às discussões, a escolha do governo de bloquear qualquer margem de lucro atende diretamente a um apelo recente de artistas como Radiohead, Coldplay e Dua Lipa, que assinaram uma carta pública pedindo ao primeiro-ministro Keir Starmer o cumprimento da promessa eleitoral de coibir “touts”, como são chamados os cambistas no país.
Pelo plano, que pode integrar o discurso do Rei do próximo ano, qualquer pessoa que revender um ingresso só poderá cobrar o valor exato que pagou na compra. Plataformas ainda poderão aplicar taxas de serviço, mas esses extras terão um teto regulado para evitar que se tornem uma forma indireta de lucro, um ponto que gerou forte pressão de empresas do setor, que acusam o governo de prejudicar o funcionamento de marketplaces inteiros.
A medida também pretende evitar brechas que acabaram migrando para redes sociais e grupos privados. O governo quer que a proibição se estenda a canais como Instagram e Facebook, usados com frequência por vendedores não autorizados. Além disso, será vetado que um revendedor ofereça mais ingressos do que poderia ter comprado legalmente na bilheteria, uma forma de conter operações profissionais que compram lotes inteiros e esgotam shows em segundos.
Um dos pontos mais debatidos durante a revisão da lei foi a possibilidade de criar um sistema de licenciamento para empresas de revenda, algo que acabou descartado. Em vez disso, plataformas serão responsabilizadas caso permitam anúncios que violem a legislação – e a fiscalização ficará a cargo da Competition and Markets Authority, órgão de concorrência e proteção ao consumidor.
Turnê do Oasis e mudanças nas revendas de ingressos
A pressão por mudanças ganhou força após vários escândalos envolvendo a turnê de reunião do Oasis, que expôs o tamanho do problema. Uma investigação recente (via The Guardian) flagrou revendedores profissionais anunciando dezenas de ingressos por valores combinados que ultrapassavam £25 mil. Em casos extremos, ingressos para festivais chegaram a ser listados por mais de £100 mil, valores que grupos de defesa do consumidor classificam como abusivos e prejudiciais ao público.
Além dos preços inflacionados, investigações apontam para a prática conhecida como “speculative selling”, quando cambistas anunciam ingressos que sequer possuem, esperando consegui-los depois a um valor menor – um esquema que já foi considerado fraudulento e que a nova lei pretende coibir.
Plataformas de revenda reagiram negativamente ao plano do governo. Representantes de empresas como Viagogo e StubHub afirmam que um teto de preços empurrará compradores para mercados paralelos e aumentará o risco de golpes. Elas citam exemplos de países como Irlanda e Austrália, que adotaram regulações semelhantes e enfrentaram índices mais altos de fraudes em sites não supervisionados.
Ainda assim, o governo parece decidido a seguir com a regulamentação, impulsionado por anos de denúncias, perda de confiança do público e pressão contínua de artistas. Enquanto isso, o impacto já começa a ser sentido: ações da StubHub Holdings chegaram a cair após as primeiras notícias do plano virem à tona.
Se aprovada, a mudança deve redesenhar o mercado britânico de ingressos e fortalecer iniciativas de revenda a preço de face, como Twickets e os sistemas internos de troca de ingressos de grandes empresas de ticketing.
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