
Um dos festivais de música pesada mais icônicos — e desafiadores — do planeta vai ganhar uma versão cinematográfica sob ótica brasileira. O documentário Come To Wacken – Dois Peregrinos em Busca de Histórias de Brasileiros (título provisório) mergulha na intensa conexão entre o público do Brasil e o maior festival de heavy metal do mundo.
A produção percorre histórias de emoção, fé metálica, superação e verdadeira devoção ao gênero, revelando como fãs atravessam continentes para viver a experiência única no vilarejo alemão de Wacken, que empresta o nome ao festival. Com cerca de 2 mil habitantes, a pequena cidade se transforma, todos os anos, no epicentro global do metal desde a primeira edição do festival, em 1990. O filme acompanha essa jornada sob a perspectiva dos dois documentaristas brasileiros em busca das narrativas que fazem dessa relação algo tão singular.
A produção é do jornalista Lucas Steinmetz, mais conhecido como Moita, criador do canal Heavy Talk no YouTube, no ar desde 2016 e que acumula quase 9 milhões de visualizações com conteúdos que giram principalmente em torno de entrevistas e documentários biográficos de músicos e bandas. Ao lado do videomaker Tiago Camini, a dupla registrou de perto não apenas os shows, mas também a jornada física e emocional dos brasileiros no festival — sempre marcada por devoção, carisma e o jeito inconfundível de cantar a plenos pulmões que, segundo Moita, faz os nativos torcerem um pouco o nariz, é verdade.
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Da lama ao caos: 66km a pé em 4 dias
Moita, que nunca havia ido ao Wacken Open Air, conta que a imagem que tinha do festival era a de um verdadeiro paraíso para o fã de heavy metal. Imaginava que seriam os dias mais felizes da vida, afinal, estaria no maior festival de metal do planeta. E, nesse sentido, não estava errado: é realmente o maior do mundo, com 100 mil pessoas circulando, oito palcos, quase 200 bandas, shows acontecendo o tempo todo e muitas oportunidades de ver bandas inusitadas ao vivo.
“Em termos de grandeza, é tudo isso mesmo”, explica. “Mas a realidade foi um pouco diferente da expectativa, especialmente porque foi muito mais trabalhoso do que eu imaginava. O período chuvoso, intercalado a momentos de sol, o frio intenso, e o desgaste físico acabaram custando caro. E algo que me surpreendeu foi a distância entre os palcos. Eu achava que seriam mais conectados, mas na prática são várias áreas de shows distintas. Para quem vai a trabalho e precisa circular bastante, isso se torna um desafio extra”.
Durante o festival, Moita registrou 66 quilômetros percorridos em seu marcador de passos — uma distância comparável ao trajeto entre o centro histórico de São Paulo e o porto de Santos. Essa verdadeira maratona foi enfrentada com lama até os tornozelos, sob sol e chuva intercalados, com roupas que secavam no corpo e um desgaste físico que só apresentou sua fatura na volta ao Brasil: febre, dores intensas e um cansaço que só quem viveu entende. “A cada passo erguíamos pelo menos dois quilos de lama junto”, conta Moita.
Casamento e reencontro de família no Wacken
Entre as histórias captadas por Moita durante o Wacken, uma das mais marcantes é a do casamento de Jéssica e Jean, de Poços de Caldas, em Minas Gerais, que decidiram oficializar a união “no solo sagrado do Wacken”. A cerimônia aconteceu na manhã de quarta-feira, primeiro dia do evento, com tudo que um casamento alternativo merece: aliança, kilt escocês para o noivo, vestido preto para a noiva e um amigo caracterizado de padre como celebrante.
Toda a produção foi organizada com a ajuda da chamada “Embaixada Brasileira no Wacken” — grupo no WhatsApp com cerca de 200 integrantes que se reúne para planejar idas frequentes ao festival com presença também no Instagram. Enquanto o casal celebrava na Alemanha, dois amigos que ficaram no Brasil foram ao cartório, com procurações em mãos, para oficializar o casamento no mesmo horário.
O ponto alto veio mais tarde, quando Jéssica e Jean protagonizaram uma cena espontânea que, segundo Moita, poderia ser descrita pela internet como puro “absolute cinema”: os dois se beijando na grade durante o show do Dimmu Borgir — o mais aguardado por ela.
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Outro destaque é o reencontro emocionante das irmãs Lívia e Helena, separadas por um oceano — uma vivendo em Porto Alegre e a outra na Espanha. O Wacken foi o ponto de encontro perfeito, mostrando como o festival vai muito além de assistir a bandas, tornando-se também espaço de reencontros e histórias de vida.
O metal brasileiro no palco do Wacken
Em segundo plano, o documentário também registra a participação dos artistas e das bandas brasileiras que se apresentaram em 2025 no fest: Krisiun, Aquiles Priester (com o W.A.S.P.), Max Cavalera, com o Nailbomb, e o Torture Squad, que contou com a participação de Prika Amaral (Nervosa).
O Torture, aliás, bateu recorde como a banda brasileira que mais tocou no festival (quatro vezes) e se tornou personagem central da narrativa. Moita acompanhou desde o último ensaio no Brasil até os bastidores e os shows na Alemanha. Depoimentos dos artistas farão parte.
Lado B: perrengues e devoção
Mesmo com credencial de imprensa, a dupla de documentaristas optou por ficar na área comum com os fãs. A ideia era captar o espírito real da presença brasileira no Wacken — e isso incluiu perrengues de carregar equipamentos, procurar onde carregar baterias e enfrentar as mesmas intempéries da multidão. “Não é fácil estar no Wacken, é muito sofrido em termos de distâncias, clima e falta de conforto. Mas a devoção é o que move os brasileiros, tanto que quando acaba uma edição eles já estão organizando a próxima”, diz Moita.
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Thunderflix e Heavy Talk
O documentário sobre os brasileiros no Wacken foi financiado pela Thunderflix — uma espécie de “Netflix do metal”. A plataforma mexicana de streaming, dedicada exclusivamente ao universo do heavy metal, está no ar há dois anos e será responsável pelo lançamento do filme, previsto para o final de 2025, segundo Moita. Teaser e cartaz oficial devem ser divulgados em setembro. Para quem ainda não é assinante, a Thunderflix oferece três dias de degustação gratuita para novos usuários.
No fim, Come To Wacken mostra que o festival não é apenas um evento de música, mas uma verdadeira jornada de fé metálica — e que o brasileiro, com sua intensidade, acolhimento e resiliência, escreve alguns dos capítulos mais apaixonados dessa história.
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