
Nesta quarta-feira (3), o Foo Fighters lançou a inédita “Today’s Song”, faixa que celebra os 30 anos da banda. Junto com o single, Dave Grohl divulgou uma longa carta aberta ao público, onde reflete sobre a história do grupo e conta vários detalhes bem interessantes que aconteceram ao longo dessas três décadas de estrada.
A narrativa começa na noite de Ação de Graças de 1994, em Seattle, onde tudo começou: “parecia o clima ideal para um jantar formal em casa”. Em tom bem-humorado, ele conta que o jantar acabou virando uma sessão com um tabuleiro Ouija, o que o fez suspeitar que sua nova casa era mal-assombrada.
Dave conta: “Perguntei baixinho ao tabuleiro: ‘Tem um fantasma nessa casa?’. Para minha surpresa, a pecinha de plástico barato sob meus dedos começou a se mover suavemente até parar na palavra ‘SIM’.”
Mas para além da sessão espírita, ali também acontecia algo que mudaria o rumo das coisas: seu primeiro encontro com o baixista Nate Mendel.
Havia um novo rosto entre os amigos, e logo descobri que ele era tão grato pela música quanto eu fui a vida inteira. […] Algumas garfadas de comida, algumas garrafas de vinho, uma coisa levando à outra, e logo tínhamos começado uma nova banda com outros amigos queridos, Pat Smear e William Goldsmith. Chamamos de Foo Fighters.
O texto segue como um diário de memórias, no qual Grohl fala bastante sobre o momento que vivia em 1994. Naquele ano, o Nirvana, banda que o colocou nos holofotes, acabou abrutamente após a morte trágica do vocalista Kurt Cobain. Dave estava no grupo como baterista desde 1991, apenas três anos antes de seu fim.
Sobre sua vontade de começar o Foo Fighters, ele explica:
Essa banda começou quase como uma desculpa. Um motivo para pendurar instrumentos no pescoço e fumar cigarros com os vidros fechados enquanto ouvíamos nossas fitas cassete favoritas, acelerando pela estrada rumo ao próximo palco escuro e pegajoso. Já estávamos nesse jogo há um tempo, vale dizer. Todos nós já tínhamos tocado em outras bandas, com outras pessoas – algumas que terminaram cedo demais. Mas estávamos longe do fim.
Mas o que começou como brincadeira logo ganhou profundidade. “Ficou claro que estávamos diante de algo maior do que só uma fuga. Era mais sobre vida. Era um novo começo. Uma mudança. E parecia certo”, conta Dave.
Histórias do Foo Fighters
No texto, Grohl também compartilha memórias das primeiras turnês, da icônica van apelidade de “big red delicious”, e da construção da identidade da banda.
Nossa primeira van, uma Dodge RAM estendida de 1996 apelidada de ‘big red delicious’, rasgava o asfalto de estado em estado até que cogumelos literalmente começaram a crescer debaixo das camisetas velhas e suadas enfiadas atrás dos bancos. Com um trailer sobrecarregado a reboque, cada show daquela primeira turnê com o lendário e poderoso Mike Watt, ícone do punk rock, parecia um salto de bungee jump musical, torcendo para que o arnês não arrebentasse antes de sermos puxados de volta em segurança. Mas a gente sempre topava pular de novo.
Grohl também reflete sobre as transformações ao longo das décadas: “Com o tempo, houve mudança. Dores do crescimento, talvez.”
A carta ganha um tom ainda mais pessoal ao falar sobre o significado da banda: “O que antes era uma ‘desculpa’ para existir agora tinha se tornado uma ‘razão’. E a cada ano, a cada turnê, a cada álbum, as raízes se aprofundavam, a árvore crescia. […] E quando nossas raízes se firmaram, percebemos que não havia mais volta. O Foo Fighters agora era uma coisa de vida. Para sempre.”
Agradecimento a integrantes do passado
Na carta, Dave Grohl ainda homenageia os ex-integrantes do Foo Fighters:
Sem a energia inesgotável de William Goldsmith, a sabedoria experiente de Franz Stahl e a maestria estrondosa de Josh Freese, essa história estaria incompleta. Estendemos a eles nossa gratidão sincera pelo tempo, música e memórias que compartilhamos ao longo dos anos.
E então, o momento mais emocionante da carta: o tributo a Taylor Hawkins, baterista da formação considerada clássica da banda. Taylor nos deixou em 2022, repentinamente, aos 50 anos de idade.
E… Taylor. Seu nome é dito todos os dias, às vezes com lágrimas, às vezes com um sorriso, mas você ainda está em tudo o que fazemos, em todos os lugares por onde passamos. Para sempre. A enormidade da sua alma linda só é rivalizada pela saudade infinita que sentimos com a sua ausência. Todos nós sentimos sua falta além do que as palavras podem expressar. O Foo Fighters sempre incluirá Taylor Hawkins em cada nota que tocarmos, até finalmente chegarmos ao nosso destino.
A carta, que você lê na íntegra clicando aqui, encerra com uma reflexão inspirada em um bilhete misterioso que Grohl recebeu durante um voo, sugerindo que ele buscasse “a história da lagosta e o rabino”. Ele descobriu, depois, que a história se trata de uma metáfora sobre crescimento e dor.
Veja, a lagosta é um animal pequeno e macio que vive dentro de uma carapaça dura e rígida. À medida que seu corpo cresce e fica grande demais para essa carapaça, ela começa a sentir desconforto. Quando isso acontece, a lagosta instintivamente se recolhe para um lugar seguro, se desfaz da carapaça menor, desenvolve uma nova e volta à tona. Mas, eventualmente, essa nova carapaça também se torna desconfortável, conforme o corpo continua a crescer, então ela se recolhe novamente. Nova carapaça, novo crescimento, e assim por diante. A questão é que os desafios da vida têm uma maneira própria de sinalizar quando é hora de mudar e crescer. Quando esse momento chega, você se recolhe, se reconstrói e ressurge mais forte do que antes. Algo com o qual, tenho certeza, todos podemos nos identificar como seres humanos. E, se tiver sorte, você compartilha esse processo com as pessoas que mais ama, no palco ou fora dele.
Grohl termina com um agradecimento comovente e um chamado ao futuro: “Foram 30 anos desde aquele jantar em 1994. […] Continuo grato pela vida, pelo amor, pela música e pelo mistério de onde esse caminho ainda pode nos levar. Vamos seguir em frente.”
Nova música do Foo Fighters
Você pode ouvir “Today’s Song”, que ganhou uma arte de capa feita pela filha de Dave Grohl, Harper, logo abaixo.