Beartooth antecipa novo disco com o single
Créditos: Jimmy Fontaine

Se reinventar é, muitas vezes, a última opção buscada por uma banda que tem uma carreira sólida. No caso do Beartooth, projeto liderado por Caleb Shomo, foi uma necessidade e o resultado é um disco sensacional chamado The Surface.

Desde sua capa, o álbum é uma mudança drástica na direção da banda, estabelecida há anos na cena Metalcore. Trocando o preto pelo rosa, Caleb Shomo simboliza a sua movimentação em direção a uma vida mais longe das sombras, buscando representar uma série de mudanças pelas quais passou nos últimos anos ao largar o vício e se colocar na posição de ser uma pessoa melhor.

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Embalada pelo single “Riptide”, que já tem tocado em diversas rádios até mesmo aqui no Brasil, a banda não teve medo de transpor barreiras e explorou sonoridades que vão do Pop Rock ao Metal pesado em praticamente cada uma das 11 faixas de The Surface, sempre apostando em letras confessionais que praticamente fazem o ouvinte embarcar na jornada dos últimos anos junto com Caleb.

Com tanto a dizer, Caleb Shomo conversou com o TMDQA! sobre todo o momento que o levou até The Surface e como chegou até a sonoridade mais Pop do Metal em 2023. Você pode ler a entrevista completa abaixo e, clicando neste link, confira também a nossa resenha de The Surface.

TMDQA! Entrevista Caleb Shomo (Beartooth)

TMDQA!: Oi, Caleb! É um prazer estar falando contigo. Eu tenho ouvido The Surface no repeat desde que recebi o disco. É um álbum tão bom, um dos meus preferidos do ano. Achei ele tão grudento, do melhor jeito possível! E sinto que isso é algo que a banda tem ficado cada vez melhor em fazer, ainda que as partes pesadas também estejam sempre ali para contrastar. Qual o segredo para esse equilíbrio entre os ótimos refrães e o peso, como vemos na própria faixa-título?

Caleb Shomo: Olá! Estou feliz de estar por aqui. Olha, é uma boa pergunta. Às vezes eu mesmo queria saber a resposta. [risos] Tem horas que parece algo automático, e tem horas que parece que é algo que eu realmente estou buscando. Mas eu amo a música Pop, sabe? Eu amo compositores e eu sempre passo muito tempo ouvindo coisas que vêm disso, então eu acho que é inevitável que isso seja uma grande influência nos trabalhos do Beartooth.

Mas, sei lá, eu amo coisas pesadas também! Eu acho que com esse disco, especificamente, eu simplesmente foquei em fazer o que parecia bom e não me preocupei tanto em caber em uma caixa mais Pop ou mais pesada. Meio que só juntei os dois e foi assim que chegamos nesse disco que temos hoje.

TMDQA!: Faz sentido. Acho que outro bom exemplo disso é “Riptide”, que ao mesmo tempo que tem algumas partes pesadíssimas, é super possível escutá-la na rádio — o que, aliás, tem rolado bastante. Você acha que esse sucesso é um resultado das pessoas ficando novamente dispostas a ouvir músicas com guitarras? Tipo, as pessoas estão se reacostumando com isso, né?

Caleb: Sim, eu acredito demais que isso esteja acontecendo! Você tem visto várias coisas diferentes nesse sentido. Tem, sei lá, o Lil Uzi Vert trabalhando junto com o Bring Me the Horizon, sabe? Eu vi que o Bad Omens tá no topo das paradas alternativas de rádio, o Pierce the Veil está no topo das paradas alternativas de rádio… As rádios de Rock estão mais fortes do que nunca, de verdade.

É um momento muito bom para o Rock e até para o Metal, e eu acho que o Metal está fazendo muito barulho. E era uma questão de tempo, né? Mas acho que chegou a hora e as pessoas estão se acostumando de novo, sim.

TMDQA!: É como se essa nova geração das bandas de Metal realmente se conectasse com as pessoas, né? Talvez muitas dessas pessoas se sentíssem excluídas por gerações passadas.

Caleb: Sim! Sem dúvida nenhuma há coisas diferentes sendo ditas em comparação ao passado, e isso cria uma vibe diferente dentro do Metal. Não sei, acho que o Metal é um lugar muito bom para se estar nesse momento. Acho que há muitas coisas boas, coisas positivas acontecendo musicalmente, e tem toda essa energia boa sendo colocada por trás disso.

TMDQA!: Acho que outro exemplo é o próprio HARDY, que colabora com vocês em “The Better Me”. É um cara que une mundos tão diferentes, né? E, nesse sentido, qual foi a ideia por trás desse feat e como foi essa conexão com ele?

Caleb: É uma loucura, pra dizer o mínimo! [risos] Eu tinha essa música pronta há algum tempo e não sabia muito bem o que fazer com ela. E eu falei com o HARDY sobre ela, eu só disse que tinha uma faixa em que eu achava que ele encaixaria perfeeitamente e ele foi incrível. Sério, tipo, ele simplesmente deu vida à música.

E isso de poder trabalhar com alguém que está tentando explorar os limites das cenas musicais como é o caso dele, sabe… O Country, há muito tempo, tem seguido por um caminho bem reto. E aí ele traz essa influência do Metal, do Rock, coisas da cena musical que eu cresci para dentro disso. Então, poder colaborar com ele é poder trazer um pouco do Rock pro Country e um pouco do Country pro Rock. É algo que me empolga muito.

E eu acho que é algo que está funcionando bem, as pessoas pareceram curtir. Eu mal posso esperar pra tocá-la ao vivo! Mas acho que é um bom exemplo de como, novamente, o Rock e o Metal realmente estão tentando uma movimentação para voltar ao mainstream, sabe?

TMDQA!: Sim, totalmente. Você falou em “coisas positivas” vindo dessa cena e acho que “Might Love Myself” é um exemplo fantástico disso. É uma música tão positiva, com uma mensagem forte, especialmente quando comparamos com o disco anterior. Eu li sobre você estar em um momento muito bom pessoalmente, sóbrio e tudo mais… Queria que você falasse um pouco sobre como tudo que você viveu nos últimos anos inspirou esse disco.

Caleb: Nossa, cara, foram dois baita anos, é o mínimo que posso dizer. Sem dúvidas. É até difícil colocar em palavras às vezes, e eu acho que a forma mais simples de me explicar é realmente através da música, do disco como um todo, sabe? Acho que ele todo conta a história desse ano e meio, dois anos, desde “Riptide” e “The Surface” no começo até “I Was Alive” no final.

Eu acho que, em resumo, eu percebi que a vida é curta e eu preciso fazer tudo que estiver ao meu alcance para ser feliz por mim mesmo. E eu sei que ser feliz é algo bem subjetivo, significa coisas diferentes para pessoas diferentes, mas pra mim, ser feliz é só poder ir dormir à noite sabendo que eu trabalhei o suficiente para fazer algumas boas escolhas naquele dia. E eu percebi que essas boas escolhas parecem se somar e isso realmente ajudou meu estado mental e construímos um disco inteiro falando sobre isso.

TMDQA!: Acho que outra das coisas bem legais desse disco é que ele mostra uma coisa muito real, que é essa luta constante. Você fez mudanças, você está progredindo, está se tornando uma versão melhor de si mesmo, mas ainda há uma batalha. Tem momentos difíceis, né?

Caleb: Sim, obrigado por perceber isso. É uma parte da vida, sabe. A batalha sempre vai estar ali, e não importa onde você esteja nesse mundo, isso é algo que todos nós vamos sentir sempre. As emoções da vida são uma coisa muito complexa, sabe? Acho que, no fim do dia, ao menos pra mim, eu só estou tentando simplificar algumas coisas, como por exemplo cuidar de mim mesmo.

Acho que enquanto eu fizer isso, o que eu coloco no mundo, a energia que eu jogo para o mundo é muito mais saudável e muito melhor para quem ouve o que eu tenho a dizer. Acho que eu começo aí.

TMDQA!: É um ótimo começo, certamente. Bom, olha, eu adorei o disco mas, pensando nos fãs de forma geral, tudo que envolve The Surface foi uma grande mudança, né? Você sentiu algum tipo de medo ao lançar esse trabalho com relação à reação dos fãs? E, agora, vendo a reação tão positiva, como tem sido esse momento?

Caleb: Sim! Definitivamente me deu muito mais confiança na direção que eu estou assumindo musicalmente. Sabe, acho que a maioria dos fãs do Beartooth sabe que o que está acontecendo na minha vida realmente influencia muito nos discos. Tipo, os discos são basicamente eu falando exatamente o que eu estou vivendo. Então ter essas coisas como uma influência tão positiva e ver as pessoas reagindo tão bem acalmou muito os meus medos, sem dúvidas.

“Riptide” foi onde o medo realmente foi maior, porque foi a grande revelação, sabe? Meio que de todas as escolhas que eu fiz, as mudanças que eu fiz. E desde então, músicas que eu não sabia se as pessoas iriam entender, a resposta foi muito positiva e elas entenderam totalmente. Coisas que são um pouco mais fora da caixinha do Beartooth, como “Might Love Myself” e “The Better Me”, por exemplo.

Sentir esse apoio é uma coisa absolutamente incrível, e é algo que simplesmente me força a continuar seguindo em frente.

TMDQA!: Falando da sonoridade, acho que o disco realmente explora umas direções bem diferentes. Você mesmo disse que é fã de Pop e acho que o Rock e o Metal vivem momentos muito bons, né? Então, queria saber, dentro de tudo isso, quais foram as influências diferentes que você trouxe pra esse trabalho, pra mudar tanto assim a sonoridade.

Caleb: Olha, essa é uma ótima pergunta. Como eu disse, o Pop sempre foi uma grande influência, mas acho que eu simplesmente deixei isso transparecer de vez nesse disco. Acho que eu vinha ouvindo muito… por exemplo, acho que “Might Love Myself” é a mais fácil de explicar.

Quando eu estava escrevendo essa música, eu estava ouvindo muito Ariana Grande, o que acabou fazendo com que ela fosse uma grande influência nessa música. Acho que é algo que é um pouco diferente do normal pra mim, que foge da “caixa” de influências que eu costumo explorar quando estou fazendo músicas do Beartooth, mas acabou gerando uma das minhas músicas preferidas no disco.

Acho que, acima de tudo, é um exemplo de que você não precisa ter medo do que está funcionando naquele momento. É só questão de tentar umas paradas novas e ver o que acontece.

TMDQA!: É bem curioso você dizer isso porque eu conversei com a Courtney LaPlante, do Spiritbox, um tempo atrás, e ela também citou a Ariana Grande como influência. Talvez ela só seja Metal e a gente não percebeu ainda. [risos]

Caleb: Ela é demais, cara. Sem dúvidas. [risos]

TMDQA!: Bom, eu tive a sorte de vê-los ao vivo em uma viagem pros EUA em 2014, ou algo assim, em uma turnê que vocês fizeram com o Memphis May Fire. Eu lembro que fui pra ver o Hands Like Houses, que eu estava curtindo muito na época, e conheci vocês e virei fã na hora. Dito isso, infelizmente o Brasil ainda não teve essa oportunidade e, bom, no momento vocês têm tocado bastante nas rádios por aqui…

Caleb: Essa turnê foi bem divertida! Olha, o Brasil está definitivamente no nosso radar, é algo que estamos há algum tempo tentando encontrar a forma certa de fazer. Porque é meio que a nossa grande estreia no Brasil, né? Eu queria poder falar mais, mas obviamente eu não posso.

TMDQA!: Mas então quer dizer que tem mais?

Caleb: Sim, estamos trabalhando em algumas coisas. Há e-mails e ligações e pessoas tentando fazer as coisas funcionarem. Sem dúvidas!

TMDQA!: Maravilha! Bom saber. Caleb, foi um prazer falar contigo! Espero poder te ver em breve no Brasil.

Caleb: Eu também! Obrigado você.

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