TMDQA! Entrevista: Marianna mistura pop e R&B com “pegada brasileira” em singles de estreia
Foto por Flora Negri

Abrir mão de outros trabalhos para investir somente na carreira musical ainda não é uma realidade para muitos artistas. Apesar de se encaixar nessa definição, Marianna não conseguiu mais adiar os seus sonhos.

A cantora e compositora carioca, que se tornou amante da música na infância por influência dos pais e trabalhou nos bastidores do entretenimento enquanto não podia se dedicar à vida de cantora, recentemente começou a dar os primeiros passos de sua nova jornada.

Conhecida inicialmente na internet por conta de seu canal do YouTube “De Mudança”, em que buscou criar uma comunidade para falar sobre os desafios de morar sozinha, Marianna agora se uniu à produtora Vivian Kuczynski e nos últimos meses disponibilizou seus singles de estreia “Deixa Ir”, “A Culpa É Sua” e “Meu Vício É Você”.

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Em conversa exclusiva com o TMDQA!, a artista, que atualmente também trabalha como especialista de mídias sociais, compartilhou detalhes sobre suas músicas que exploram Pop, R&B, eletrônico com “uma pegada brasileira” e abordam situações ligadas à sua vida pessoal.

Além disso, Marianna revelou algumas de suas principais referências na música e falou sobre a narrativa visual que acompanha suas primeiras faixas, indicando que é algo que ela pretende manter em todos os seus lançamentos.

Confira a conversa na íntegra assim como as músicas de Marianna logo abaixo!

TMDQA! Entrevista Marianna

TMDQA: Oi Marianna, tudo bem? É um prazer te conhecer e trocar essa ideia contigo. Você lançou recentemente seu segundo single “A Culpa É Sua” e, antes de conversarmos sobre ele e seus outros trabalhos, queria saber um pouco mais sobre a sua trajetória e entender quando foi seu primeiro contato com a música.

Marianna: Olá, o prazer é meu! Meu primeiro contato com a música foi muito na infância ainda, porque meus pais sempre foram dois apaixonados por música. Então cada um no seu estilo me introduziu nesse mundo. Eu diria que minha mãe muito do lado da MPB e meu pai do Pop internacional, Michael Jackson, Sade, então eu sempre gostei muito de ouvir música. Sou uma pessoa bem viciada, não faço nada sem ouvir música.

E esse processo de me descobrir cantora na verdade começou na infância, já que além de amar aquilo eu descobri que eu tinha uma voz um pouco afinada, gostava muito de cantar, de me apresentar para ninguém, sozinha num quarto, e aí na minha cabeça era aquilo que eu queria fazer da vida sem saber exatamente o que significaria aquilo. Eu fui crescendo, tentei fazer algumas aulas específicas focadas para música, mas por várias razões diferentes e oportunidades de vida eu não consegui investir na arte, então eu fui buscando a arte do jeito que eu podia, que estava ali no meu limite. Quando eu entrei na faculdade eu fiz jornalismo, por exemplo, porque na minha cabeça era uma forma de eu estar mais próxima ao que eu queria, ao entretenimento, à TV de alguma forma.

Então eu fui ali, sempre namorando a música de algum jeito. Entrei para o mercado de trabalho, consegui trabalhar com entretenimento e comecei a ficar mais próxima desse sonho e chegou um momento que eu falo que não fui nem eu que escolhi, “Ah, agora eu vou cantar”. Chegou um momento que não tinha mais como, eu realmente não tinha outra escolha. Eu precisava fazer isso. Então é um processo que eu respeito muito e estou muito feliz de poder lançar música agora.

TMDQA!: Como você mesma disse, antes de apostar na carreira como cantora, você ganhou experiência na área do entretenimento nos bastidores e, além disso, você também ficou conhecida na internet por conta do seu canal no YouTube “De Mudança”, em que você auxilia pessoas que estão passando por transições na vida, seja saindo de casa ou mudando de país. Queria saber como você iniciou esse projeto.

Marianna: Claro. O “De Mudança” começou por causa de um outro sonho que era morar sozinha. Na minha cabeça, eu pensava que eu tinha que passar vergonha sozinha, num lugar sozinha, na minha casa. Não dá para eu ficar mais dançando na casa da minha mãe, eu preciso de um cômodo só meu. Então eu sempre tive muito essa vontade de morar sozinha, de sair de casa. Então, quando eu saí pela primeira vez que fui morar com a minha melhor amiga, eu abri o canal para conversar com outras pessoas que tivessem passando por aquele momento.

Eu tinha muitas fantasias relacionadas a sair de casa, para mim era muito óbvio que em dois meses minha casa já estaria toda decorada, que eu ia viver uma vida de rainha no meu lar e quando eu fui, bom, eu aluguei a casa. Era isso que eu precisava. Mas como que eu vou comprar a cama, geladeira? Não sei. Então o canal veio muito disso, de querer criar uma comunidade em torno disso. Mas na época, que foi em 2016, toda essa questão de ser um criador de conteúdo, de ser um YouTuber estava começando, ainda tinham poucos estabelecidos; eu falava de um assunto muito nichado, então eu achava que nunca iria crescer com aquilo.

Mas é o que eu gosto de falar e de fazer, e consegui encontrar um nicho incrível, de um assunto que eu gosto muito de falar que é casa, organização financeira, decoração. E aprendi com o “De Mudança” a ser empresária de mim mesma, até uma carreira que dependesse de mim, da minha imagem. Então, eu acho que sem o “De Mudança” eu estaria patinando muito mais agora. Eu aprendi muito com o canal e amo ele de paixão.

TMDQA!: Eu ia perguntar exatamente isso, se de alguma forma o “De Mudança” também influenciou no início da sua carreira musica. 

Marianna: Influenciou. Eu acho que de duas formas engraçadas. Acho que de uma forma um pouco mais óbvia e outra nem tanto, mas a primeira é na questão da vergonha mesmo. Eu sempre gostei de me comunicar; falar para a câmera nunca foi um problema, mas é muito diferente quando você começa a ver milhares de pessoas te assistindo. Você realmente entende, “Nossa, um canal com 100 mil inscritos, tem várias cidades que têm menos habitantes do que isso”, então é muita gente te vendo. Eu senti uma responsabilidade grande porque eu estava falando de um momento de vida importante para as pessoas, então eu me preocupava muito em estudar e tudo mais, mas eu rompi essa barreira da vergonha da comunicação.

E a outra parte foi aprender a lidar com haters. Porque na época eu falava, “Cara, quando você tiver haters é porque está dando certo”. E, gente, é horrível a cultura do cancelamento da internet, tudo isso eu acho horrível. Mas de fato eu perdi um pouco o medo. Assim, quando eu lancei a música, no meu imaginário eu pensava, “Nossa, vai ser horrível se as pessoas falarem mal da música, quem não gostar”, e aí hoje eu penso, “Ninguém é unanimidade, não é mesmo?”. Então eu estou achando tudo muito legal e é um sentimento que eu acho que o “De Mudança” me ajudou muito a processar, as questões das críticas um pouco mais pesadas e tudo mais.

TMDQA!: Muito bom! E você pretende conciliar o canal com sua carreira musical?

Marianna: Eu vou tentar, porque agora eu tenho um outro emprego. Sou CLT, miss CLT! Então eu sempre fiz muitas coisas ao mesmo tempo, mas eu amo muito o canal, eu tenho muita vontade de continuar produzindo. Agora, agora, eu não estou conseguindo levar os dois ao mesmo tempo, mas eu pretendo sim retomar e fazer um mix “De Mudança” e música, lives na sala de casa e é isso.

TMDQA!: Falando agora sobre “A Culpa É Sua” e “Deixa Ir”, são singles que dialogam entre si ao abordar a necessidade de se auto valorizar após o término de um relacionamento. Queria saber o que te motivou a escrever sobre isso e qual é a importância que você enxerga em falar sobre esses assuntos?

Marianna: Minha principal motivação eu diria que é botar pra fora primeiro. Eu me expresso muito através da escrita, então tudo que acontece na minha vida que é muito forte, que tem uma carga emocional muito forte, eu preciso escrever para entender. E essas músicas vieram de momentos assim, que eu precisava colocar pra fora, organizar meus pensamentos, entender por que que eu estava passando por aquilo, como seria a melhor forma de passar por aquilo, e elas vieram disso. É muito estranho ver todo mundo cantando, eu penso, “Gente, escrevi chorando no chão de casa e agora estou aí”. Mas tem sido um processo incrível e elas vieram de relacionamentos que eu aprendi bastante, muito porque foram relacionamentos que não deram tão certo.

E eu acho importante falar sobre isso, eu tenho refletido muito sobre esse aspecto específico porque eu sou uma pessoa, sou uma mulher negra que se descobriu bonita há pouco tempo. Eu consegui me achar bonita, uma pessoa interessante, quase uma pessoa digna de ser amada e tudo mais, então eu sinto que eu ainda estou em um processo com meus relacionamentos amorosos de aprendizado — apesar do tempo, da idade, apesar de ter aprendido um monte de coisa no meio do caminho. Então, o que eu tenho percebido nas músicas também, é que eu tenho falado sobre esse processo de me descobrir uma pessoa interessante que no meio do caminho vai dar muita topada porque eu passei mais tempo da minha vida com as pessoas desinteressadas e eu achando que eu era uma pessoa feia do que uma pessoa interessante. Então, tem sido um aprendizado muito legal para mim e eu pretendo continuar trazendo isso nas músicas porque faz muito parte do meu momento e eu acho um assunto relevante de forma em geral.

TMDQA!: Seus singles chegam sempre acompanhados por um fashion video. Queria que você me falasse um pouco sobre a sua relação com a moda e queria saber se esse impacto visual é algo que você pretende sempre destacar nos seus trabalhos.

Marianna: Sim, é algo que eu pretendo continuar fazendo. Eu sempre tive uma relação muito próxima com moda. Na minha infância ainda toda a minha relação com música era sempre impactada por um visual muito forte. Eu gostava muito daquelas propagandas de perfume totalmente loucas que não faziam a menor noção com nada e era minha grande referência. Eu dizia, “É lindo, é muito estético, a mulher desce do helicóptero, depois beija alguém, depois tira o sapato”. Eu não sei, eu quero fazer isso também na minha vida.

Então, eu sempre fui muito afetada por essas coisas e sempre fui muito fã de música pop, que é um segmento de músicas e artistas que vem sempre acompanhado por essa proposta visual muito forte. E eu sempre gostei muito de moda, sempre estudei, tive a oportunidade na faculdade de estudar jornalismo de moda no início da minha graduação. Então eu acho que o meu trabalho realmente anda de mãos dadas [com a moda], sempre que eu penso numa música eu penso em como ela pode impactar visualmente, porque é importante para mim. Então, eu vou manter essa barra alta que eu mesma me coloquei nesses dois primeiros singles e as pessoas podem esperar a mesma coisa para os próximos.

TMDQA!: Muito bom saber disso. E suas músicas lançadas têm produção musical de Vivian Kuczynski. Me conta um pouco de como surgiu a parceria e como foi realizar essa colaboração com ela?

Marianna: Então, eu seguia a Vivian no Instagram um tempo porque eu estava pesquisando este universo pop e eu vi que ela era uma das poucas mulheres produzindo, escrevendo para o pop. Eu adorei o estilo dela e coincidentemente eu tenho um grande amigo, que se chama Arthur Marques — te amo amigo! — que é um grande compositor. E quando eu comecei os primeiros passos na música, eu falei para ele que eu precisava produzir e ele disse, “Primeiro você tem que achar um produtor que seja seu grande match”, e aí ele me apresentou para a Vivian e realmente é o meu grande match.

A gente está produzindo outras músicas juntas. Vivian é muito generosa. Eu entrei no estúdio cheia de medo, era a primeira vez que eu estava fazendo aquilo e eu disse, “Vivian, eu não sei falar. Eu sei o que eu quero mas eu não sei os termos corretos, você vai ter que ter paciência comigo”. E a gente se deu muito bem. Eu amo produzir com ela, fiquei muito feliz de ter encontrado essa parceria, de poder produzir com uma mulher também e com certeza podem esperar.

TMDQA!: Poxa, que legal essa parceria! E ouvindo seus singles a gente percebe a sonoridade mais voltada para o Pop e R&B. Eu queria saber quais são as bandas e artistas que te influenciam e quais deles foram referências para esses primeiros trabalhos.

Marianna: Para esses primeiros eu me inspirei muito, muito, na Jorja Smith. Tanto na parte visual como na forma de cantar, na intenção que eu queria dar para as músicas. Eu acho que ela tem um trabalho em que ela é uma mulher muito sensual e eu queria um pouco dessa sensualidade tímida, quase, que a Jorja tem. Amo a voz dela, sou bem apaixonada pelo trabalho dela, então eu trouxe bastante isso.

De referência nacional, a minha grande referência é Alcione. Eu acho que ninguém interpreta uma música igual ela. A paixão que ela dá para as letras, a paixão que ela canta, o amor. Então é algo que eu tentei trazer bastante para o meu trabalho, e mulheres que com certeza vão estar bem presentes na sonoridade. A minha ideia é sempre juntar esse pop, eletrônico, com uma pegada bem brasileira, então eu e Vivian temos estudado bastante sobre isso e eu diria que essas duas mulheres são as minhas maiores referências.

Mas de música eu escuto muito Solange Knowles, amo, Beyoncé, quem falar que não gosta infelizmente não tinha nem que estar aqui, musa de tudo. Marina Sena, eu sou apaixonada pela voz da Marina. Então muita gente entrou para fazer esse bem bolado da música.

TMDQA!: Quase chegando ao fim aqui do nosso papo, eu queria saber quais são os seus próximos planos. Essas músicas lançadas vão integrar um EP ou um disco?

Marianna: No final do ano eu lanço outro single. Então eles não vão fazer parte de um EP, eles vão vir como singles e, final do ano, eu e Vivian vamos começar a produzir o disco. Então, já estamos fazendo reuniões para entendermos quem queremos chamar para produzir, para escrever, para criar junto com a gente e a minha ideia é lançar o disco ano que vem. Estou muito animada desde já e é isso.

TMDQA!: Adorei saber! Já estou ansiosa pelos próximos lançamentos.

Marianna: Vai ser muito legal!

TMDQA!: Para encerrar, como o nome do nosso site é Tenho Mais Discos Que Amigos, queria saber: quais discos você considera seus verdadeiros amigos?

Marianna: Nossa, é muito difícil. Eu vou falar que o disco que está me acompanhando total agora é MOTOMAMI [da ROSALÍA]. Estou muito feliz que ela fez o show no Brasil, mas eu diria que é o disco que eu estou escutando todos os dias. Gosto muito da sonoridade que ela trouxe para tudo, estou bem obcecada. Tenho escutado muito Marina Sena no repeat, porque esse disco tem muitas referências que eu vou tentar trazer para o meu álbum também. Esse novo da Beyoncé [RENAISSANCE] é uma aula; eu tenho escutado com a caneta na mão, porque realmente é um trabalho que dita todos os outros trabalhos para o pop a partir de agora, então eu estou escutando muito também.

E outro dia voltei a escutar Mamonas Assassinas. Eu falei com Vivian, “Ai, amiga, eu quero fazer uma coisa diferente. Sabe o que eu vou escutar? Mamonas”. Então eu ouvi o disco muito para ouvir críticas sociais, como eles traziam essa parte das críticas de uma forma humorística e dentro da música. Então, eu achei que tinham referências para mim e eu voltei a ouvir o disco depois de anos e anos.

TMDQA!: Ouvindo você falar dos discos eu fiquei curiosa para saber quais artistas nacionais você tem mais vontade de colaborar um dia.

Marianna: O Jão! Eu amo, sou apaixonada pelo Jão, acompanho ele desde o início da carreira dele e eu acho brilhante a trajetória dele. É uma pessoa que eu gostaria muito de colaborar. DUDA BEAT também, me inspiro muito no trabalho dela. Larissa Luz eu acho brilhante, brilhante, brilhante, é uma pessoa que eu adoraria gravar, encontrar. Eu acho que são as personalidades da música do Brasil que mais inspiram meu trabalho e me inspiram como carreira. Porque eu estou começando uma carreira nova e elas são pessoas que acho que têm um posicionamento irretocável, então gosto muito e amaria colaborar.

TMDQA!: Que massa, adorei! Marianna, muito obrigada pelo papo. Eu te desejo muito sucesso e deixo o espaço livre para você deixar um recado aos nossos leitores.

Marianna: Ai gente, que lindo! Primeiro, eu estou muito feliz de estar aqui, é um orgulho mesmo. Eu acompanho há muito tempo o trabalho de vocês, então é uma honra para mim estar aqui. Eu espero que vocês acompanhem meu trabalho, tem muita coisa legal por vir. Sou uma pessoa — como boa criadora de conteúdo — que adora referências, que adora trocar ideia, então me sigam nas redes sociais, quero muito saber o que vocês escutam e é isso, espero que a gente continue junto.

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