Marina Lima
Foto por Candé Salles

Por Nathália Pandeló Corrêa

Não é por acaso que Motim é o nome do novo trabalho de Marina Lima. O EP remete a movimento, e se tem algo que a cantora, compositora, arranjadora e multi instrumentista carioca faz bem é se recusar a parar no tempo.

São 66 anos, 44 de carreira, 21 discos e 175 composições. Mais que números, esse é o saldo de uma vida dedicada à canção e que agora ganha ares de obra completa. Isso porque a artista disponibilizou recentemente, de forma gratuita em seu site, um songbook digital – Marina Lima Música & Letra – que traz todas as músicas dessa carreira prolífica e quase totalmente autoral.

Olhar para trás e revisitar o passado não são hábitos para Marina, mas reconhecer o tamanho da sua obra foi um passo importante para ressignificar para ela mesma o valor do seu trabalho em particular e da mulher na música em geral.

A necessidade de se provar em um mercado dominado por homens era ainda mais vital décadas atrás. Talvez por isso, Marina faz de seu songbook, organizado por Giovanni Bizzotto, parceiro musical desde a década de 90, uma celebração do que a voz da mulher consegue realizar em tantos anos de carreira.

Para acompanhar esse trabalho de visita ao passado, Marina lança também Motim, seu primeiro EP. A coleção de quatro faixas traz colaborações nos vocais – Alvin L e Mano Brown – e, ao mesmo tempo em que encerra seus lançamentos em disco, inaugura um novo momento em que formatos mais fluidos e menos rígidos dão o tom para uma criadora que mantém a sintonia com o seu tempo.

Esse é o mote da conversa que tivemos com Marina Lima por Zoom, onde ela falou francamente e de forma generosa sobre suas visões com relação a parcerias, estratégias mercadológicas, a posição da mulher compositora no cenário atual e o Brasil de 2021. Confira abaixo.

Entrevista com Marina Lima

TMDQA!: Marina Lima, bem vinda ao Tenho Mais Discos Que Amigos, pra gente é um prazer enorme poder falar com você, que é uma artista que admiramos tanto e que crescemos ouvindo. De certa forma, você acompanhou muito da trilha sonora das nossas vidas. Não sei se você tem essa mesma impressão, mas recentemente a gente tem tido várias novas oportunidades de estar em contato com o seu trabalho, até através de artistas mais jovens. Por exemplo, o Qinho fez um resgate do seu trabalho, e ficou muito bonito, e trouxe talvez uma nova geração de ouvintes pra ele. Então queria te perguntar se trazer um novo olhar sobre o seu trabalho de certa forma também mudou sua perspectivas sobre como você olha as suas próprias músicas.

Marina Lima: Me deu uma alegria enorme, de que a minha aposta tinha dado certo. Porque quando eu componho e quando escolho alguma canção que não seja minha pra gravar, eu quero cantar aquilo porque acho que pertence a mim e a todo mundo. Fora as questões mundanas – o governo, a pandemia, pontuais – as questões internas, íntimas, de todo mundo, são muito parecidas. As dúvidas, os medos, os desejos… Então eu gosto que uma geração mais nova possa se traduzir com as minhas músicas, porque eu sempre quis isso. Tudo bem, elas são contemporâneas à época que eu vivo, descrevem a minha época, mas espero que elas possam durar por muito tempo, antes e depois.

TMDQA!: E as melhores músicas são atemporais, né?

Marina: Eu acho, claro! Você não vê o sucesso que o Gilberto Gil, o Caetano [Veloso], o Chico [Buarque], a Rita Lee, fazem? É que comigo isso aconteceu agora, eu sou um pouco mais nova, mas na realidade as pessoas buscam canções para serem trilha da vida delas. E algumas são mesmo, de qualquer época!

TMDQA!: Com certeza! Falando sobre essa questão geracional… É curioso, eu sempre associei a Marina Lima àquela coisa carioquíssima, até pelo sotaque, mas sei que há alguns anos você já mora em São Paulo e você tem um diálogo com essa geração efervescente daí e que agora está se tornando um dos principais nomes da música no Brasil. Queria saber como você transita entre esses artistas, porque sei que alguns deles até inspiram o seu trabalho e participam dele. Como é essa troca pra você?

Marina: A música é feito mar: é indomável. É natural que alguém bom, que faça canções que eu goste, é natural que ele goste de mim – pra mim é natural e pra ele também. Então o Qinho ter gravado um disco de músicas minhas foi muito bom pra mim. Primeiro porque ele canta muito bem e eu gostei do resultado. Se eu fosse jovem, se tivesse começado agora, eu provavelmente seguiria o que eu faço. E pra mim, que é que parece comigo hoje em dia? É a Letrux, a Alice Caymmi… Eu vejo como o que eu faria se tivesse a idade delas.

Eu sou carioca mesmo, venho de lá e tenho orgulho de ser carioca, porque eu sei da potência, da possibilidade, se a maré estiver a favor, da minha cidade. Mas não está a favor há muito tempo. Os próprios cariocas têm culpa disso. Por isso que eu vim embora pra São Paulo há 11 anos. Muita gente do Brasil inteiro vem tentar a vida em São Paulo. Eu tive a chance aqui de conhecer gente que eu não conheceria no Rio. A periferia é diferente. É uma cidade que eu não domino, ela é muito maior que o Rio.

Mas a minha música atrai a periferia. O Mano Brown toca comigo nesse disco, eu trabalho com a Letrux, que é da periferia do Rio de Janeiro. Eles são de periferias e essas pessoas gostam do meu trabalho. Quem gosta de música, em geral gosta do meu trabalho. É natural, é isso que me move. Então São Paulo me trouxe outros encontros.

TMDQA!: E dá pra ouvir isso nesse novo EP. Até falando um pouquinho dessas colaborações, hoje principalmente a questão do feat ficou com um viés muito mercadológico, porque tem um impacto óbvio, de conectar públicos e facilitar playlists, etc, mas acho que vai muito além disso, porque acaba sendo uma troca.

Marina: É, não vou nem falar disso, isso nem me ocorreu.

TMDQA: Foi algo orgânico, né?

Marina: Eu nunca fiz algo assim. O Alvin L é meu parceiro. Em primeiro lugar, eu fiz um EP, não fiz um álbum. E é meu primeiro EP, e eu estou feliz com isso, porque me libertou daquele formato de anos, anos e anos. Quando eu comecei, um artista como eu, Caetano, a gente entregava um disco de ano em ano, ou de dois em dois anos. Era uma coisa quase obrigatória. E não faz o menor sentido, porque hoje em dia a forma de consumir e se absorver música é outra. Os caminhos são diferentes, o tempo… tudo mudou!

E continua: pra você ver, o Gil lançou o último disco dele, Ok Ok Ok, há um tempo. O meu último foi em 2018. Caetano tem 10 anos que não lança. Por que? Porque o mundo não funciona mais assim. E é bom que o artista entenda, porque se você é um artista como eu, que vive no seu tempo, não funciona mais assim. O que interessa para mim é entrar na playlist, porque é como se consome música. Eu não entendo nada mercadologicamente. Eu adorei poder fazer um EP, só quatro músicas. Pra um compositor, um cantor, quando você faz um disco, é um romance. Quando você faz um álbum, é quase como gerir um livro. Agora você pode ouvir online, no aplicativo que quiser… É o meu trabalho, que não mudou nada musicalmente, por causa disso. Mas eu quero que ele seja ouvido.

Então tem um songbook que eu dei, de graça, com a minha obra inteira até hoje. São 21 discos, é muita música. Como eu fui rata de songbook, eu achei que o melhor que eu fiz foi poder ter um songbook à minha disposição. Toma agora pra vocês tudo: a partitura, cifra, letra… Quem quiser aprender, tá aí, e tem quatro músicas novas, que fiz agora, pra quem quiser aprender. Eu lancei uma coisa agora que tem a ver com como o mundo funciona. Eu estou dando uma entrevista pra você, que é um site, não é um jornal. Assim como o jornal mudou, e tem site, e a música também. É importante que o músico entenda isso. Um monte de gente não entendeu ainda que tem que trabalhar com site, com aplicativo… Nem loja de música tem mais.

O músico tem que se atualizar pra lançar o seu trabalho. Se eu tivesse feito um álbum, pra uma loja que está fechando, você nem ia saber. É muito importante essa consciência dos jornalistas, que a música mudou, assim como o jornalismo. Não estou falando da qualidade, e sim da maneira de enxergar. É muito importante para o artista saber disso, e se ajudar, e aproveitar o que vem disso para poder lançar o trabalho dele aí no ar. É isso que eu fiz.

TMDQA!: E dá pra sentir que você queria ter essa liberdade do formato, não ficar restrita às amarras do disco.

Marina: Total! E você falou de feat, e entendo o que você está dizendo, não me ofendo não (risos). Mas eu chamei o Alvin L, que é meu parceiro, porque eu gosto da voz dele nas músicas. Gosto quando ele canta comigo. Não é a primeira e nem vai ser a última vez. E o Brown é muito meu amigo, é muito ligado a mim. Ele admira meu trabalho, eu admiro o trabalho dele, a gente vinha combinando isso e, na pandemia, falamos “agora é a hora”. Ele começou a me encontrar, vir aqui, e começamos a trabalhar. O feat é a consequência, mas que bom também.

TMDQA!: Com certeza. Ainda nesse tópico de parcerias, não é de agora que você colabora com outros criadores – compositores, como por exemplo, seu irmão [o poeta e compositor Antonio Cícero]. Como que é pra você essa troca na hora de criar a música? O que os seus parceiros trazem pra você criativamente e que acha que acrescenta na sua composição?

Marina: Eu tenho 44 anos de carreira, 66 de idade e 21 discos. Mas eu ainda tenho poucos parceiros, pretendo ampliar isso. Eu geralmente sou muito responsável pela parte musical. Faço letra também, mas geralmente meus parceiros fazem mais letra, e a parte da música é minha. Agora tá mais misturado. Mas uma coisa que compreendemos é que os parceiros são cúmplices. Até você ter algo bom, você erra muito, joga muita coisa fora.

TMDQA!: Tem que ter esse desapego, né?

Marina: Tem que ter essa intimidade, é mais que isso. Tem que ter admiração pelo parceiro, admirar o que ele faz, tem que querer compor com ele. Eu sou muito exigente, não gosto de ninguém imitando ninguém, gosto de sentir que a música vale e que vai transformar tudo, aquela música vale a pena ser feita. Se não valer, eu nem faço, e eu trabalho com gente exigente também.

No caso do meu irmão, Cícero, ele é meu irmão mesmo, então a gente tem uma troca muito grande, e eu tive a sorte de ter um irmão poeta, então a gente compunha morando junto. No começo era facílimo. Meus parceiros mudaram muito, agora componho menos com o Cícero, até porque ele mora no Rio e eu em São Paulo. Tem mudanças aí. Os meus parceiros são pessoas muito talentosas e que a gente se agrega. A gente admira, fica feliz, vibra, aí muda uma palavra… até o negócio estar pronto, demora, mas porque a gente fica procurando defeito, mas quando é bom, a gente acredita naquilo. Pode outra pessoa não gostar, mas pra gente, aquilo é maravilhoso, então são pessoas que eu admiro muito e que só vem a agregar.

Por exemplo: esse EP tem quatro músicas minhas e duas letras só minhas – que é “Pelos Apogeus” e a “Nóis”. Mas adoro trabalhar com o Alvin, tem duas com ele. Uma, eu Alvin e Giovanni [Bizzotto], que é um músico que fez todo o songbook. Um livro de músicas, com partituras, cifras e letras de um repertório. Eu, por exemplo, cresci comprando muito songbook dos artistas que eu admirava.

TMDQA!: Pra aprender a tocar, né?

Marina: É! Quem fez a parte suja, difícil, de partituras foi ele… Eu chamei o Giovanni pra fazer o songbook. Ele toca violão muito bem. E aí eu estava muito próxima a ele. Então no songbook tem uma música minha, do Alvin e do Giovanni Bizzotto, “Motim”.

TMDQA!: Sobre o songbook, você comentou que não precisou fazer a parte mais pesada de letras, cifras, etc, mas fez toda a revisão. Foi uma forma de revisitar sua obra, né?

Marina: São 21 discos, praticamente só música minha. Songbook geralmente é só autoral. Eu não fiz isso. Fiz dos meus 21 discos. Nos meus discos é que tá o ouro. A maioria das músicas são minhas mesmo, mas volta e meia tem alguma música que tá ali e que eu não gravei à toa.

TMDQA!: Mas eu ia te perguntar se essa experiência de revisitar uma obra que é quase totalmente autoral te fez gerar alguma autocrítica ou se você passou a pensar naquelas músicas de outra forma, com mais carinho, talvez?

Marina: Eu acho que você é uma mulher super sensível, porque você pergunta mas já adivinha a resposta (risos). Teve essas três coisas que você mencionou. Eu fico de saco cheio de ficar olhando para trás. Eu adoro o tempo que eu vivo, não queria estar vivendo em outra época, não sou saudosista. Posso ser nostálgica, às vezes, porque o tempo que a gente tá vivendo é muito ruim, cheio de problemas. Mas é o tempo que me foi dado, é o hoje, eu gosto desse tempo.

Então o songbook me fez ter que revisitar muita coisa. Depois do décimo disco, eu disse “chega! Pra que tanto disco?”. Depois eu fiquei uma tarde pensando sobre isso, porque fiquei com má vontade mesmo. O Giovanni estava hospedado aqui, ele mora em Friburgo, saiu da serra [fluminense], veio me encontrar quando terminou o songbook pra revisar. Ficou aqui em casa, meu hóspede, de máscara e tudo, ficamos aqui os dois. Depois do décimo disco eu falei, “pra que tanta música?”. O Giovanni esperou passar a minha raiva disso, até eu perceber que eu precisava fazer mesmo. Até pelo fato de eu ser mulher. Porque nós não costumamos deixar as provas do que a gente já fez. As mulheres não deixam provas do que já realizaram. As mulheres querem tanto compartilhar que não pegam a sua autoria.

Na minha área, tem 6% só de compositoras. Isso é absurdo. Você acha que é falta de talento? Não! No mínimo é falta de coragem, porque ficaram anos sendo convencidas de que não tinham capacidade de fazer nada. Isso tá passando, cada vez mais, graças a Deus. Não só das mulheres, mas de um monte de gente, que foram sendo mudas e sem conseguir se expressar.

Então eu vi que tinha que fazer isso, revisar, pegar meu mau-humor, enfiar num saco, ser profissional e ter o trabalho de passar isso a limpo pra lançar um songbook. Não tinha que reclamar, voltei piano, quieta, pra rever tudo e tínhamos um songbook pronto. Um mês depois que revisei, a pandemia estava solta. Então pensei, “não vou lançar só um songbook. É um trabalho saudosista, é esquisito, eu não sou isso”. Tudo bem, eu demorei pra lançar, não por falta de proposta. Achava que estava muito cedo, não fiz nada do que eu penso ainda. Eu só fiz quando em 2018 eu percebi que eu tinha 21 discos. Tomei um susto! Porque o Caetano tem 4, 5 songbooks, Rita Lee também, eu não tinha um. Pensei, “eu sou louca”.

Sou uma pessoa que não tem nem os meus discos. Minha mãe que tinha, eu herdei os meus discos da minha mãe. Minha mãe morreu e uma das coisas que eu herdei foram os meus discos, porque nem isso eu tinha. Então revisei tudo e aí veio a pandemia, eu não queria lançar só uma coisa que revisava o que eu já tinha feito, não é muito a minha cara. Voltei a tocar, estudar; eu sempre gostei de estudar música, achava que ia ser maestro. Meu pai concordou, eu fui estudar música, leio música, partitura. Voltei a estudar, tanto no violão quanto no computador, durante a pandemia. E um músico quando começa a estudar, é inevitável que componha coisa nova. Eu comecei a compor, tinha mais do que quatro músicas, tinha umas 10. Selecionei as que eu achava que eram mais concisas desse momento meu. Então lancei o songbook e produzi as quatro músicas.

TMDQA!: Dá pra sentir no EP que você não está apegada no passado. Está focada no presente e até olhando pro futuro.

Marina: Não mesmo, eu só acho que eu estou na idade e com respaldo pra chegar com tudo junto. Eu posso chegar em qualquer lugar, uma grande companhia, uma empresa pra buscar um patrocínio – falando em negócios, agora – eu chego com a minha obra. Eu sou uma mulher que tem uma obra.

TMDQA!: Ganha outro peso, né?

Marina: Outro peso. E vi que estava na hora de eu assimilar isso e assumir o que eu fiz.

TMDQA!: Na verdade, o trabalho pesado você fez, que foram os 21 discos (risos).

Marina: São 44 anos de carreira, lançando quase 1 disco por ano, é um trabalho danado.

TMDQA!: Eu vi você falando que está no verão da sua vida. Queria saber como está seu entendimento dessa fase da vida, ao envelhecer.

Marina: Sendo mulher, há pouco tempo que a gente tomou nosso espaço no mundo.

TMDQA!: Faz pouco tempo que a gente está exigindo nosso espaço, né?

Marina: É, há pouco tempo que botamos a boca no mundo e falamos “não aceito mais segundo lugar. Quero ser reconhecida, aceita, remunerada”. Há pouco tempo, graças a Deus uma geração nova tomou isso como uma missão. Eu comecei na minha época, não fui tão exigente quanto agora, peguei isso pra mim também.

Foi ótimo o que as mulheres fizeram, o que os negros fizeram, foi ótimo o que os gays, trans fizeram. Resolveram ocupar espaços, como cidadãos, para trazer igualdade. Ter mais de 60 anos, eu que tenho uma saúde boa, foi libertador. Até os 50 e poucos, eu me sentia tendo que dar satisfação de tudo ao mercado, ao mundo, aos homens, eu fui criada assim. Eu furei uma bolha. A dificuldade que era trabalhar era um inferno.

E agora esse espaço acabou, porque eu tenho nome, sucesso, muita música, já provei que eu sei fazer. Então ninguém se mete mais comigo. Eu consegui isso há pouco tempo. Ninguém nunca se meteu, mas era uma briga por isso, era muito chato. Eu gastava muita energia dizendo “Não, não quero assim”, “Não, não foi isso que eu combinei”. Era briga. De uns 10 anos pra cá, é tranquilo pra mim. O meu trabalho é muito aceito. Então envelhecer, pra mim, de certa forma, foi libertador. Como eu tenho uma saúde boa, não me sinto prejudicada. Claro que não vou fazer nenhuma loucura, não vou correr uma maratona, mas faço tudo que posso. Eu pratico esporte, eu malho, eu gosto do mar. Me cuido de uma maneira para ficar saudável e componho, trabalho. Estou me sentindo muito mais livre. E quem não gostou… [manda beijo] (risos).

Antigamente não, mas hoje, se tem alguém que não gostou, outro vai gostar. O mundo ficou muito mais livre, muito melhor pra mim agora. O que eu já vivi – meus 20, 30, 40 anos -, eu vivi até o talo. Vivi muito bem. Não vou voltar atrás. Quero saber o que tem agora. Quero ver até o que envelhecer tem de bom. Que sabedoria é essa? Que maturidade é essa? Eu quero aprender. Todo mundo vai morrer um dia. Não vou ficar eternamente presa a uma época que não existe mais. Quero viver a minha idade e me cuidar bem.

TMDQA!: Acho maravilhoso ouvir isso, mas ao mesmo tempo chocante. Porque a gente – o público, que observa à distância -, não imagina que com a estatura que você tem há décadas na música brasileira, precisaria lutar pelo seu espaço pra ter uma voz reconhecida dentro do mercado.

Marina: Os mercados têm outras maneiras de prejudicar a gente. Tinham, né? Não têm mais. São pouquíssimas mulheres à frente de uma empresa ou de um trabalho. Sempre tem um chefe. Eu digo prejudicar nesse sentido de parecer que eu precisava de alguma autonomia que não fosse a minha. Se eu componho, produzo, trabalho com eletrônica… por que preciso de um produtor? Posso escolher alguém pra co-produzir pra mim. Mas por que sou obrigada a trabalhar com alguém que não quero? Esse tipo de dúvida acabou. Não há mais tempo a perder com besteira. Agora a conversa é séria. Eu falo bobagem com quem eu escolho, ninguém me impõe nada.

TMDQA!: Agora pensando em termos de estilo, acho que os mais desavisados, que só conhecem do rádio, de novela, podem associar seu trabalho muito à MPB, mas se você olha a capa de um disco, tem lá a Marina com guitarra. Ou se ouve suas coisas mais recentes, vai ver esse flerte que você faz com o eletrônico e está mais presente nesse EP. E como você vê essa questão do gênero? Porque a indústria fonográfica impunha algumas coisas e hoje está bem mais fluido. Você vê a possibilidade de transitar para algumas coisas que você não fez ainda?

Marina: Eu vejo sim. Eu vejo o público heterogêneo. Agora não tenho feito shows, mas quando tinha, você via todas as idades. Os do começo vão, me acham um espelho de uma geração mais velha. Eles me veem ali em cima, animada, e é uma vitamina pra eles. Mas tem muita gente jovem, muita gente gay, trans e muita gente bonita. Eu acho que esse mundo novo não tem gênero, esse mundo que se apresenta novo pra mim, fascinante.

Eu não transito tanto por ele até por estar casada há muito tempo, estar numa relação meio monogâmica há 8 anos. E eu quero que dure, porque eu sou feliz. Mas eu não acho nada difícil que um dia eu poderia me apaixonar por um homem trans. Ou a Pabllo! Poderia me apaixonar fácil por ela (risos)! Melhor nem conhecer, pra não trazer problema (risos)!

TMDQA!: Orientação: Pabllo-sexual.

Marina: É!

TMDQA!: Tá certo, somos todos. Mas falando em público, pensando num mundo bonito em que tá todo mundo vacinado e podemos ter eventos novamente, o songbook saiu digital apenas, o que democratiza muito o acesso. O EP está nas plataformas digitais, mas você pensou em algo mais presencial, tipo o livro impresso, ou fazer algum tipo de show?

Marina: Eu penso em fazer shows de lançamento, desse songbook e EP, muito diferentes. Com o Giovanni, mostrando exercício, com músicas de sucesso, claro, mas pra dar um susto no público, com algo que eles nunca viram. E eu tenho estudado, e a cada dia tenho uma ideia diferente (risos), pro show de lançamento. Não sei quando será, quando tiver a vacina e for seguro pra todo mundo.

TMDQA!: Nossa, gostoso ouvir isso, tomara que venha logo. Você está vacinada, Marina?

Marina: Eu tomei a primeira dose, falta a segunda, porque foi a de Oxford, essa demora mais. A segunda dose agora é só em julho.

TMDQA!: Mas tá chegando.

Marina: Tá chegando. E tomara que o Brasil tome vergonha na cara, né? Vamos ver se essa CPI serve pra alguma coisa, pra que em 2022, nós eleitores tenhamos um quadro que a gente possa mudar e tirar esse elefante da sala.

TMDQA!: O elefante e o gado junto, né?

Marina: Com certeza.

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