Mahmundi
Foto: Lucas Nogueira

Apesar da celebração anual do Dia da Consciência Negra, feita todo dia 20 de Novembro, a participação do negro na sociedade brasileira há de ser refletida todos os dias. Afinal de contas, não é novidade que vivemos em uma sociedade racista. A luta pela igualdade social no Brasil (e no mundo) se estende no tempo e deve continuar em prol de necessárias mudanças.

Não se trata apenas de uma data, apesar do importante simbolismo da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695. Com a premissa de dar a essa discussão uma vida longa, a produtora, cantora e diretora artística Mahmundi idealizou o projeto Sorriso Rei. Apresentado em parceria com a Universal Music, trata-se de uma série de homenagens à cultura preta na música brasileira.

Para primeira dobradinha de lançamentos, a produtora escolheu duas canções muito diferentes entre si, mas popularizadas por artistas pretos. São elas “Sorriso Aberto“, composição de Guará Sant’anna que ganhou fama na interpretação de Jovelina Pérola Negra, e “Tempo Rei“, de Gilberto Gil. E isso é apenas o começo de um projeto maior.

As canções vieram acompanhadas por clipes e por um mini-documentário, em que Mahmundi e os artistas convidados falam mais sobre o projeto e sobre seu significado. E por falar em artistas convidados, precisamos destacá-los.

 

Um grande elenco

A equipe que participou do projeto foi majoritariamente composto por pessoas pretas. Mahmundi, por sinal, não assumiu as vozes no projeto, especializando-se cada vez mais como produtora e diretora artística. Os intérpretes das belas releituras foram artistas pretos da gravadora, de vertentes que vão do samba ao funk. Segundo a artista, o maior desafio maior foi, a partir de músicas já existentes e atemporais, dar a elas um novo ar em pleno 2020, imprimindo uma identidade jovem para a música popular.

“Sorriso Aberto” ganhou potência através dos vozeirões de Ruby, Malía Mumuzinho. A cereja do bolo, que atribuiu ainda mais originalidade para a cover, foi a contribuição de MC Zaac. “Logo eu, com meu sorriso aberto e o paraíso perto para a vida melhorar”, diz um dos trechos da versão, digna de arrancar aplausos de Jovelina Pérola Negra!

Já “Tempo Rei” nos apresentou a uma interessante química vocal entre Xande de Pilares, Léo Santana e Priscila Tossan. Samba, pagodão e soul, juntos, formam uma mistura formidável, de abrilhantar os olhos dos defensores da nossa rica antropofagia musical (o que inclui o compositor da faixa).

 

Valorização dos símbolos

O TMDQA! participou da coletiva sobre o lançamento. Muito do papo abordou a trajetória profissional de Mahmundi e temas relacionados à cultura preta e sua importância para a música brasileira.

Questionada sobre a concepção das releituras, que reuniram artistas de variadas vertentes musicais, Mahmundi contou:

Chega uma hora, quando você está produzindo para os outros, que você precisa entender o universo dos outros. Eu fiquei vendo todos esses artistas antes, através de vídeos e shows. No final das contas, não queria que eles fizessem igual em nenhum momento. Eu queria que eles ficassem habituados com o instrumental, que foi propositalmente feito como um instrumental popular. A ideia não é revisitar o que você está ouvindo. O Léo Santana falou comigo que nunca tinha cantado isso. O Xande de Pilares, que é difícil de ser contatado, quis se deslocar para cantar Gilberto Gil. O Zaac tem a coisa da cornetinha que ele faz com a mão. Ruby também é uma artista super diversa. A ideia disso é valorizar cada um desses símbolos.

Ruby, nova artista no catálogo da Universal, começou sua carreira neste ano. No entanto, a exemplo de sua participação na releitura de “Sorriso Aberto”, ela tem muito potencial para crescer cada vez mais. Complementando Mahmundi, a cantora disse:

Foi muito incrível fazer parte desse projeto! Foi um prazer conhecer a Mahmundi e todo o pessoal envolvido no projeto, incluindo quem estava nos bastidores fazendo com que tudo acontecesse da melhor maneira possível. É sempre uma questão de troca. A arte não se trata do artista apenas. Somos parte de uma coisa muito maior, que é para o coletivo. Talvez seja meio utópico pensar em como a música pode nos eternizar sendo, ao mesmo tempo, algo para todo mundo. Esse projeto revisita o passado, por causa das músicas que carregam história, mas, ao mesmo tempo, é cantado por artistas novos e jovens. Esse convite veio em um momento maravilhoso, especialmente no que diz respeito ao mês da Consciência Negra. Poder tratar desta questão delicada de uma forma diferente, através da música, para mim foi algo muito bom.

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