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Foto: Reprodução / Youtube

Vivemos a era da pós-verdade e isso é motivo para discutir do que se trata, portanto, a tal verdade. Além de dar nome a um dos maiores sucessos de Zeca Pagodinho, o termo tem gerado, especialmente nos dias atuais, discussões sobre seus limites.

Entendemos documentos, que vão desde as pinturas rupestres até, enfim, a invenção da imprensa, como forma de registrar a história e conceitos importantes para a vivência em sociedade. Antes disso, a verdade era repassada por gerações através da oralidade. As tradições eram contadas de ouvido em ouvido.

Mas é claro que sempre existiram ruídos, que vão desde um erro ou outro na transmissão oral no passado até o infeliz advento das fake news na atualidade. Isso se encaixa muito bem com o mundo da música, onde determinados trechos ficam associados a palavras às quais não estavam antes. Parece bizarro pensar nisso hoje, já que temos à nossa disposição sites especializados justamente em letras de música. Mas, mesmo assim, acabamos criando diversas “memórias coletivas erradas” ao longo das últimas décadas.

Separamos abaixo uma divertida lista com alguns exemplos de como a confiança na oralidade já nos deixou na mão algumas vezes. Você pode se identificar ou até se surpreender com alguns pontos selecionados.

Se você lembrar de alguma outra canção que costumava cantar errado, sinalize para nós nos comentários. Dito tudo isto, vale sempre reforçar: não acredite de primeira no que te dizem (ou repassam) por aí. Desconfie. Pesquise. Contribua para a propagação da verdade.

13 – “Alagados” (Os Paralamas do Sucesso)

Os Paralamas do Sucesso são uma banda revolucionária para o rock brasileiro, ao incorporarem elementos de reggae e ska à cena dos anos 80. Naturalmente, eles vão trazer algumas referências líricas desse mundo para as suas canções. É o caso de Trenchtown, uma favela jamaicana que serviu de berço para nomes como Bob Marley e Peter Tosh.

A localidade é exaltada no refrão de “Alagados“, uma das mais populares canções do grupo. Mas não são todos que sabem do que se trata a Trenchtown. Aliás, estamos no Brasil enquanto o local citado fica, bom, em outra parte da América.

Os fãs confiaram na oralidade para cantar outros termos de sonoridade parecida. Essa canção, especificamente, não ganhou uma nova “cara”, já que a criatividade dos ouvintes foi capaz de preencher o icônico refrão com os mais diversos termos. Vai de “free style” a “Flintstones”, passando por “sem sal”, “cristal” e “coisa e tal”.

Reparem que fazer sentido não é exatamente uma regra.

 

12 – “Amor de Chocolate” (Naldo Benny)

Um absoluto hit do pop brasileiro da década passada, “Amor de Chocolate“, de Naldo Benny (na época apenas Naldo) foi hino de pistas no Brasil inteiro, sendo trilha sonora para flertes e coreografias. Mas um certo mistério circula sobre a música até hoje.

Tudo está indo muito bem, tanto em relação à levada quanto à dicção do cantor, mas eis que chega uma das partes mais memoráveis da letra. O “auto, em cima” original foi submetido à criatividade dos fãs. Os resultados: “a piscina”, “axila”, “apostila” e o memorável “autoestima”.

11 – “Minha Alma” (O Rappa)

“A minha alma tá armada e apontada para a cara…”

Do sujeito? Não, claro que não! Aliás, como que “Minha Alma“, uma música que fala sobre uma hipotética paz, teria um eu-lírico capaz de assassinar alguém de forma fria? Ele tampouco está fazendo ameaças a um potencial “suspeito”. E, muito menos, a um “morcego” (acreditem se quiser, tem gente que pensava isso).

O que a letra da banda O Rappa, de autoria do grande Marcelo Yuka, insinua, na verdade, é a morte do “sossego”. Isso conversa com a narrativa da música, que diz que a inquietude é necessária para se encontrar a paz verdadeira.

 

10 – “Pacato Cidadão” (Skank)

Bom, a gente já falou sobre essa história por aqui. Trata-se de um ótimo exemplo para esta lista, porque essa história fez muita gente ver que também cantava “Macaco Cidadão”. No entanto, a confusão não é novidade.

Desde seu lançamento, em 1994, a letra de “Pacato Cidadão“, do Skank, é entendida forma equivocada. No mais, vamos deixar vocês com o esclarecimento do vocalista Samuel Rosa.

Samuel Rosa Macaco Cidadão 2
Foto: Reprodução/Instagram

 

9 – “Haja Amor” (Luiz Caldas)

Aqui o erro é muito sutil, mas interessante. Em 1987, Luiz Caldas lançou o que se tornaria aos poucos um dos maiores hinos do Carnaval brasileiro. “Haja Amor” tem uma letra leve e romântica, o que, por si só, já faz com que seja uma canção contagiante.

Muitas pessoas por ai cantam “A de amor”, como uma espécie de aula de português. Mas o certo é “haja”. Coincidentemente, Xuxa lançou, no ano seguinte, seu famoso “Abecedário“, que começa justamente com o erro apontado acima. Talvez isso possa ter contribuído, em alguma escala, com essa pequena confusão que se estende até os dias atuais.

https://www.youtube.com/watch?v=rP6FbCn0Gnc&t=18s

 

8 – “Mulher de Fases” (Raimundos)

Outro clássico! Em 1999, a banda Raimundos lançou “Mulher de Fases“, seu inquestionável maior sucesso comercial. Lançada em Abril, muitas pessoas passaram a associar a música com o Carnaval por causa de um verso mal compreendido.

Ao ouvirem o refrão, muitos cantam “Meu namoro é na folia” quando, na verdade, o namoro é na “folhinha”. Não é muito claro se o termo se refere às fases da lua ou ao período de menstruação feminina, mas a letra não tem relação direta com a maior festa da cultura brasileira.

E o pior é que o problema não está na pronúncia do ex-vocalista Rodolfo Abrantes. As pessoas continuaram compreendendo a letra de forma errada mesmo com Digão ou até mesmo com Dinho Ouro Preto cantando.

 

7 –  “Oceano” (Djavan)

A canção “Oceano” é uma das maiores obras-primas de Djavan, um dos maiores compositores da música brasileira. Ela nos conquista em melodia, ritmo, arranjo e, especialmente, na letra.

Djavan inicia o refrão com o reflexivo verso “Amar é um deserto e seus temores”, mas a maneira como as palavras são articuladas abriu uma nova interpretação que acabou se tornando tão “oficial” quanto. A música se transformou em “Amarelo deserto e seus tremores (ou tenores)”.

Mas isso não é de todo mal, certo? Ok, não sabemos muito bem sobre as possibilidades sísmicas de um deserto. Mas podemos concluir que a cor característica de um deserto nada mais é do que uma variação de tom do amarelo?

 

6 – “Whiskey a Go-Go” (Roupa Nova)

Aqui temos um caso semelhante ao dos Paralamas. Cantar em um outro idioma pode gerar confusões de compreensão. Se o termo “Trenchtown” originou tantas interpretações, imagina uma frase inteira.

Em seu provável maior sucesso comercial, a canção “Whisky a Go-Go“, a banda Roupa Nova foi ousada ao citar, bem no refrão, “Do you wanna dance?”. Por causa da pronúncia das palavras e do ritmo pela qual elas são mencionadas, muitos entendem até hoje que o refrão começa com a frase “eu perguntava tudo em holandês” ou algo parecido. Apesar das adaptações, “holandês” é sempre uma palavra presente nas interpretações erradas.

Mas, convenhamos, se aproximar de alguém em uma festa falando em um idioma não convencional pode ser uma boa tática (ou não).

 

5 – “Xibom Bombom” (As Meninas)

O axé dominava a cena musical do final dos anos 90. Foi (e ainda é) um fenômeno dançante e divertido. Mas não é por isso que as letras precisam ser necessariamente superficiais.

No hit “Xibom Bombom“, lançado em 1999, o grupo As Meninas já abrem com uma crítica social bastante cabível. “Analisando essa cadeia hereditária, quero me livrar dessa situação precária”, reflete a vocalista Carla Cristina.

Mas muita gente, por algum motivo, entendeu “Analisando essa cadeira, ela é de praia”. A praia até combina com a energia do axé, mas não se aplica no caso em questão. A letra inteira da música, por sinal, se desenvolve a partir deste pensamento crítico. Aliás, “o de cima sobe e o de baixo desce”.

 

4 – “Evoluiu” (MC Kevin O Chris e Sodré)

Você está redondamente enganado se pensa que isso de se enganar com letra de música é algo das gerações anteriores. Aliás, não é sempre que as pessoas têm a disposição de pesquisar a verdadeira letra de uma canção para confirmar ou desconfirmar suas convicções.

Nessa falta de paciência, muitos passaram a acreditar que o icônico Kevin O Chris tem um outro apelido: Will. Isso porque, logo no final da primeira estrofe do megahit “Evoluiu“, ele solta uma frase que pode gerar uma diferente interpretação para quem está ouvindo. Em vez de “Eu sou o Rio” (em homenagem ao lugar onde nasceu), muitos ouvem “Eu sou o Will” (uma revelação chocante?).

Ainda existem aqueles que já alegaram ouvir “É do Brasil”, “Evoluiu” ou até mesmo “Eu tô com frio”. Até o próprio MC já entrou na brincadeira sobre o “misterioso” verso.

 

3 – “Arerê” (Ivete Sangalo)

Mais um axé para a lista! Em “Arerê“, Ivete Sangalo cita as palavras “lobby”, “hobby” e “love” com uma velocidade que encantaria o rapper com o mais afiado flow. O resultado? Ninguém sequer sabia que ela pronunciava essas três palavras.

Nos shows e blocos da vida, é super comum as pessoas acompanharem a cantora repetindo “love”, “love” e “love”. Existem boatos de que a própria Veveta canta “love” várias vezes. Mas vamos ficar com a narrativa oficial da história.

 

2 – “Menina Veneno” (Ritchie)

Você tem abajur na sua casa? Se sim, qual é a cor dele?

Se for “cor de carne”, certamente você se inspirou no clássico “Menina Veneno“, de um dos maiores one-hit-wonder da música brasileira, o cantor britânico Ritchie. Mas por causa do conceito estranho do termo, muitos passaram a pensar que a verdadeira cor do objeto era “carmim” (que é, de fato, uma cor). Mas, pasmem, é “de carne” mesmo.

Em visita ao programa “Agora É Tarde”, Ritchie explicou para o apresentador Danilo Gentili do que se trata a tal cor. Ah, e vale citar também que ele é vegetariano.

 

1 – “Noite do Prazer” (Claudio Zoli)

Ok, você provavelmente já imaginava que essa música estaria na primeira colocação.

Em “Noite do Prazer“, o compositor Claudio Zoli descreve uma romântica noite, com direito a amassos, álcool e música boa. A trilha sonora é composta por clássicos de B.B. King, executados por meio de uma vitrola. Por algum motivo, na cabeça de muitos, a vitrola está, na verdade, “trocando de biquíni sem parar”.

Mas dessa vez vale dar um desconto. A sonoridade das palavras juntas, em meio à melodia da canção e ao ritmo de pronúncia das palavras, realmente engana. Fora que não são todos que conhecem o legado de um dos maiores mestres do blues.

A confusão criou uma brincadeira engraçada e um tanto inusitada que marcou a carreira de Zoli.

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