Alan Freed
Foto via Wikimedia Commons

No meio dos anos 1950, não existia o “rock and roll”. E, se hoje podemos usar esse termo pra lá e pra cá, devemos isso a Alan Freed, um radialista americano que tem uma triste história ligada ao famigerado “jabá”.

Mas, antes de chegarmos nesse pedaço infeliz da história, é bem importante ressaltarmos a importância de Freed para o gênero que tanto amamos hoje em dia. Chamado por muitos de “pai do rock and roll”, ele ganhou esse título após anos tocando músicas do estilo em rádios populares do início dos anos 50.

À época, a importância de Alan foi também social: em um momento onde as versões de homens brancos para músicas de homens negros eram mais populares do que as originais, ele sempre fez questão de apresentar as canções em suas formas autorais. Por isso, ele é creditado como responsável por uma diminuição na segregação — ao menos dentro da cena musical.

Cleveland, Alan Freed e o Rock and Roll

Aluno da Universidade do Estado de Ohio quando desenvolveu seu interesse pela rádio, Alan Freed chegou a trabalhar como DJ na rádio do Exército americano durante a Segunda Guerra Mundial e em várias estações pequenas antes de chegar no “turno da madrugada” da WJW Cleveland.

Foi lá que as coisas começaram a mudar — para ele e para o rock and roll. Enérgico, ele sempre tratava seus ouvintes como parte de uma única comunidade de “hipsters”, que se viam unidos pelo amor à música feita pelos negros. Foi nessa época, no início dos anos 50, que ele começou a popularizar o termo “rock and roll” para a música que tocava em seu programa.

Em 1952, tudo mudou de vez: com base na Arena de Cleveland, Freed promoveu o show “The Moondog Coronation Ball”, em referência ao nome de seu programa (“The Moondog House”). Com cinco bandas na escalação, o evento ficou conhecido como o primeiro show de rock da história e reuniu um público bem maior que a capacidade do local — aliás, a festa teve que acabar devido à superlotação e um princípio de confusão.

A partir dali, a popularidade de Freed chegou a níveis impressionantes, a ponto de ele chegar a estrelar como si mesmo em diversos filmes durante os anos 50. Aliás, foi em um deles (Rock, Rock, Rock, de 1956), que ele deu uma das definições mais precisas de rock and roll que já vimos:

O rock and roll é um rio de música que absorveu suas águas de diversas fontes: rhythm and blues, jazz, ragtime, músicas de cowboy, músicas country, músicas folk. Todas contribuíram de forma enorme para a ‘grande batida’.

A queda de Alan Freed

https://www.youtube.com/watch?v=cbPEzjX8Htg

Depois do fatídico evento de 1952, o renome de Alan Freed eventualmente o levou à cidade de Nova York, mais especificamente à rádio WINS. Mas, se a polêmica daquele ano lhe fez bem, a partir de 1957 ele passou a não ter a mesma sorte e viu o princípio de sua derrocada.

A queda começou com seu programa de TV, em horário nobre. The Big Beat, que estava sendo transmitido pela ABC, foi encerrado abruptamente depois de uma polêmica (felizmente) inimaginável nos dias atuais: o cantor negro Frankie Lymon foi visto dançando com uma garota branca da plateia e isso causou furor dentro das filiais sulistas da emissora.

Em 1958, a coisa voltou a piorar depois de uma polêmica em Boston, quando se dirigiu ao seu público com críticas à polícia local, acusando-os de impedir que os cidadãos se divertissem. Por isso, ele foi preso e eventualmente demitido da rádio novaiorquina.

O golpe final foi quando surgiram — e foram comprovadas — as acusações de que ele havia aceitado suborno de gravadoras para tocar determinadas músicas. Mais do que isso, ele teria sido creditado como co-autor em músicas como “Maybellene”, de Chuck Berry, e passava a receber royalties por promover suas próprias obras.

A polêmica na época teve vários lados. Alguns artistas, como Harvey Fuqua (The Moonglows) insistiam que os créditos eram justos já que Freed havia de fato participado da composição das músicas. Mas, no fim das contas, em 1962 o “pai do rock and roll” se declarou culpado em um julgamento que levava em conta as acusações.

Sua sentença foi uma multa e uma “sentença suspensa”, uma espécie de condicional em que o réu fica livre mesmo tendo sido condenado, com sua liberdade condicionada ao cumprimento da lei durante um período estabelecido. Graças a isso, Freed foi pulando de estação em estação, com seu legado sempre manchado, até sua morte em 1965.

Ele faleceu vítima de uremia e cirrose, ambas causadas por seu alcoolismo, e morreu jovem — tinha apenas 43 anos de idade. Em Março de 2002, as cinzas de Alan foram colocadas no Hall da Fama do Rock and Roll, um dos maiores exemplos de seu legado à cidade de Cleveland, e seus restos ficaram por lá até Agosto de 2014.

O fato é que, independente de onde esteja fisicamente, Alan Freed está no rock and roll que tantos de nós ouvimos todos os dias.

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