Barão Vermelho
Fernando Magalhães, Guto Goffi, Rodrigo Suricato e Maurício Barros. Foto: Leo Aversa

A década de 80 foi a mais importante para o Brasil quando o assunto é rock. Na época, a cena assumiu o mainstream, passou a lotar cada vez mais casas de shows e produziu canções que hoje são vistas como clássicos. Na ocasião, algumas bandas se destacaram, inaugurando o grupo não-oficial do “BRock”, que contemplava o trabalho de nomes como Legião Urbana, Os Paralamas do Sucesso, Titãs e Barão Vermelho.

Dentro de suas particularidades, todas essas quatro bandas continuam fazendo história no Brasil, seja por conta do sucesso da carreira solo de seus integrantes, turnês comemorativas ou shows em festivais grandes. Entre elas, e com novidades, está o Barão Vermelho!

Como tudo suscetível ao tempo, o Barão passou por várias mudanças ao longo de seu legado (desde 1981). Perdeu seu emblemático vocalista Cazuza, mas se reinventou na liderança de Roberto Frejat e continuou se mostrando relevante ao longo dos anos 2000.

Em 2019, 15 anos após o seu último disco de inéditas, o Barão lançou VIVA e mostrou que ainda tem muita lenha para queimar. Mais do que o retorno de uma banda que nunca foi embora, o novo álbum entrega uma sonoridade capaz de conquistar tanto os fãs mais antigos quanto um potencial novo público.

 

“Nós queríamos seguir em frente e o Frejat, não”

Conversamos com o guitarrista Fernando Magalhães por telefone. Simpático como sempre, Fernando nos falou sobre a nova fase da banda, que agora conta com os vocais de Rodrigo Suricato. Também falamos sobre o legado do Barão enquanto uma das bandas mais importantes do rock nacional.

Confira abaixo o papo na íntegra:

Barão Vermelho - Viva
Foto: Divulgação

TMDQA!: Eu queria saber de você como foi a decisão de voltar ao estúdio e começar a gravar o novo disco. Algum momento específico despertou essa vontade ou já era um plano da banda?

Fernando Magalhães: Na verdade, o Barão estava vindo com o Frejat sendo uma banda comemorativa. A gente já não estava mais gravando discos desde 2004, que foi aquele disco vermelho que tem “Cuidado“. Depois, nós nos reunimos de novo para uma turnê comemorativa em 2012, que foi a Mais Uma Dose, que se estendeu até o início de 2013. Em 2016, o Frejat nos comunicou que não tinha mais vontade de estar no Barão, que ele pretendia se dedicar completamente à carreira solo dele. A gente começou a conversar entre nós e sobre a possibilidade de continuarmos com o Barão. Nós queríamos seguir em frente e o Frejat, não. Era a opinião dele; não estou criticando nem nada.

Estávamos cheios de música. Somos compositores. Somos produtores. Estávamos a fim de tocar. Nesse tempo, aconteceu outra coisa chata, que foi a morte do Peninha. O Guto [Goffi] cogitou voltarmos com o Maurício [Barros], um dos fundadores da banda. Ele havia saído da banda em 1987 e voltou como músico convidado depois. Dessa vez, ele voltou a ser um integrante de fato da banda. Ele aceitou.

Só faltava a gente encontrar um vocalista. O Maurício fez aquele projeto Nivea Rock com Paula Toller, Nando [Reis], Suricato… Ele teve um contato bom com o Suricato, que se mostrou completamente fã e conhecedor da banda. O Maurício nos mostrou um vídeo dele. Estávamos cogitando vários nomes, mas escolhemos ele. Estávamos torcendo para que ele aceitasse o convite, e ele aceitou! Foi um casamento de coisas que resultou no que somos hoje em dia.

TMDQA!: Eu percebo que vocês possuem uma relação muito boa. A banda voltou com essa questão da composição coletiva, onde todo mundo participa com suas respectivas composições. Vocês falaram sobre o Suricato. Nós entrevistamos ele por conto do novo disco solo. Ele comentou bastante sobre essa nova fase dele, como frontman do Barão Vermelho. Falou sobre o quão feliz ele está se sentindo.

Fernando: Ele trouxe uma bagagem muito bacana. É um rapaz muito maduro. Eu já o conhecia pessoalmente e estava ligado nas músicas, mas nunca havia tocado com ele. Achava ele desde aquela época um cara emergente. É uma pessoa maravilhosa, um músico fantástico e um comunicador muito bacana. Eu acho que ele ficou muito bem na frente do palco do Barão. Eu acho que foi uma escolha muito bacana. E ele é da nossa galera! Apesar de ser mais novo, ele gosta do que a gente gosta. Tivemos muita sorte.

 

“O Barão sempre teve essa coisa da renovação do público”

TMDQA!: VIVA é um álbum moderno, mas tem elementos melódicos que remetem à trajetória do Barão. Tem solos de guitarra, baladas no piano e até som de órgão. Como foi a reunião da banda a partir de Suricato? O que mudou no processo de composição de vocês?

Fernando: Tem uma frase antiga do Guto que eu gosto sempre de repetir: “O Barão enche o saco antes do público”. Somos pessoas que ouvem muita coisa. Temos uma bagagem musical grande. Apesar do Barão ser uma banda centrada no blues e no rock, temos uma gama de outras influências. A gente sempre pensou para frente em termos de sonoridade. Queremos uma sonoridade moderna, mas não querendo ser “modinha”, sabe? Estamos sempre ligados no que está acontecendo para não perder a nossa raiz. A gente nunca quis fazer um disco arrogante. Quisemos pensar a nova sonoridade sem perder a nossa essência. Eu acho que deu certo.

TMDQA!: Isso me lembra do Barão Pra Sempre, disco que vocês lançaram no ano passado, já com o Rodrigo, que apresenta novas versões de clássicos da banda. Mostra que vocês estão antenados. Pensando para frente, como você afirmou, sem negar as origens e respeitando os clássicos.

Fernando: Esse álbum, que foi lançado digitalmente, teve dois objetivos. O primeiro era mostrar como a banda estava soando. E o segundo era colocar essas canções antigas na voz do Suricato. A gente fez isso com o Barão Ao Vivo [de 1989].

TMDQA!: Vimos uma apresentação de vocês com ele no início do ano passado. Foi incrível e, de fato, rejuvenesceu a sonoridade de vocês. Acho que foi uma ótima forma de apresentar o Barão para um novo público.

Fernando: Ficou muito interessante a fusão dele com o Barão! No primeiro ensaio que tivemos com ele, tocamos 19 músicas. Ele já toca esse repertório há tempos. É um cara que já tocou muito em bar. Ele veio com essa bagagem de fã do Barão. A gente se adequou a ele, e isso gerou essa sonoridade.

TMDQA!: Uma coisa que talvez tenha agregado valor à nova fase da banda está no fato de que a voz dele talvez tenha levado a um novo público às músicas de vocês.

Fernando: O Barão sempre teve essa coisa da renovação do público. Tem gente que, acredite se quiser, nem sabia que o Cazuza era do Barão (risos). O Barão já está por aí há muito tempo, assim como Roupa Nova, Paralamas [do Sucesso]… Tinha uma galera que nunca teve a chance de presenciar o lançamento de um disco do Barão. Agora há pouco, saiu o documentário “Por Que A Gente É Assim?”, que também despertou uma certa curiosidade sobre o legado do Barão. Inclusive eu mesmo passei a entender a fase do Cazuza mais do que já entendia, mesmo tendo convivido com os caras esse tempo todo. Foi aí que entendi melhor como foram aqueles três anos do Barão com o Cazuza, que foi uma coisa muito explosiva.

Eu acho que o Suricato, claro, está trazendo um público mais novo para o Barão. Também tem as participações do BK e da Letrux. São públicos realmente diferentes. Achei muito bacana esse crossover. A gente fez o disco com uma sonoridade que é para a galera mais jovem ouvir. O VIVA tem todas as características de um disco do Barão, mas ele não é retrô. Ele tem cara de 2019. A gente teve essa preocupação. Estamos ligados em tudo: música, teatro, cinema, política. Somos cidadãos. Ele retrata tudo o que está acontecendo no Brasil, mas de uma forma natural e não-panfletária. O mundo é para todos, não tem ninguém que seja mais que ninguém. Não dá mais, em 2019, a gente ficar falando de preconceito.

 

“Nós nos surpreendemos com nós mesmos”

TMDQA!: Existe um lugar um tanto viciante de bandas, de continuar fazendo a mesma coisa. É normal entrar em uma zona de conforto, mas eu não vejo isso no Barão. O que motivou vocês a continuarem se reinventando?

Fernando: O Barão sempre foi muito rico musicalmente, desde a época com o Cazuza. O Frejat sempre foi um cara muito atualizado também. Tem uns na banda que gostam mais de hip hop do que outros, tem uns que curtem mais salsa. Eu, por outro lado, já sou mais do rock n’ roll. É um arco-íris, uma grande gama de informação. Cansa ser o mesmo. A vida é mutabilidade. Nós somos inquietos. Não queremos soar antigos. Quando a gente lançou “Puro Êxtase“, por exemplo, a gente foi do Carne Crua, que foi um disco pesado, depois foi para um álbum de regravações e depois veio esse disco, que contempla camadas de eletrônico. Teve muito fã que xingou a gente. E depois lançamos um disco acústico ainda. Essa inquietude é o que dá a luz ao Barão.

TMDQA!: Passados esses 15 anos, aconteceu muita coisa na música brasileira. O rock decaiu ainda mais. Eu queria saber se, nesse período, surgiu algum nome da nova cena que inspirou vocês estética ou liricamente?

Fernando: O rock n’ roll é uma grande árvore com vários galhos. Eu acho que o rock é uma música do mundo. Não é mais uma música americana ou europeia. Eu acho que existe muito rock brasileiro. O Barão sempre teve isso de misturar as coisas, e hoje em dia tem isso, mas conseguimos dosar de uma forma que não fique tão “abusiva”.

TMDQA!: Mesmo após tantas mudanças na formação, o Barão continua mantendo a sua identidade. Muitas bandas hoje em dia apontam inspiração em vocês. Como é reconhecer esse valor todo?

Fernando: A gente tem uma coisa muito curiosa. Sem querer me gabar, a quantidade de banda tributo que tem do Barão é impressionante! E muitas dessas bandas são garotada. Essa coisa da identidade é muito legal também. O Barão tem muito uma coisa com a letra. Eu fico muito feliz com esse reconhecimento!

TMDQA!: O que é o “quê” da banda, na sua opinião? O que faz o Barão ter essa identidade?

Fernando: Eu acho que a gente é bem verdadeiro. Tem essa coisa da informação das letras e que a gente tenta escrever coisas que sejam bacanas e que tenham contexto. O resto é uma química. É uma mágica que é nossa e faz soar daquele jeito. Não é algo forçado. Nós nos surpreendemos com nós mesmos.

TMDQA!: O Barão já viveu muita coisa. Nesse tempo, como você vê a evolução da banda? E sua evolução pessoa enquanto artista?

Fernando: São fases bem diferentes. A fase do Cazuza foi um meteoro. Já a fase com o Frejat foi diferente. Ela tem discos mais pesados, tem discos mais rebuscados, e tem até disco acústico. Eu vejo tudo isso como uma evolução bacana. E vou te falar: não vai acabar com o VIVA, não. A gente ainda tem muita coisa para fazer. Vai ter muita coisa diferente pela frente. Vai ter Barão até ninguém aguentar mais (risos)!

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