AJAXX, em foto por @ferbersa
Foto por @ferbersa

Com uma assinatura sonora que moldou hits para alguns dos maiores nomes do rap nacional, Ajaxx construiu silenciosamente uma trajetória de peso na indústria musical. Acumulando mais de 7 bilhões de streams, 40 discos de platina e 145 de ouro, o produtor de Lapa (PR) sempre esteve nos bastidores, atuando como o alquimista por trás de sucessos estrondosos da Mainstreet Records e além.

Agora, Ajaxx assume o protagonismo de sua própria jornada artística. Essa nova fase foi oficialmente inaugurada com o lançamento de “Colheita“, seu primeiro single como artista principal, uma faixa explosiva que une três gigantes da cena do rap/trap nacional: Filipe Ret, Borges e Vulgo FK.

Para discutir esse marco de sua carreira, a transição de produtor a artista de linha de frente, os anos dedicados à Mainstreet Records, e os próximos passos de seu aguardado álbum de estreia – que será narrado em quatro etapas – o TMDQA! bateu um papo exclusivo com o produtor. Ele compartilhou insights sobre o simbolismo de “Colheita”, a força de sua conexão com a Mainstreet e a visão completa para a era em que se apresenta como um artista completo.

Venha conhecer os frutos da “Colheita” de Ajaxx!

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TMDQA! Entrevista Ajaxx

TMDQA!: Fala Ajaxx! Cara, primeiramente, obrigado mesmo por nos receber – prazer imenso em te conhecer! Bom, pra começar, você é um produtor com mais de 7 bilhões de streams, sempre estando nos bastidores como um “alquimista sonoro no seu laboratório”. Mas eu queria saber: qual é a sensação de finalmente dar a cara ao público e ser o artista que bebe dessa própria poção? Essa transição foi um sonho ou uma necessidade, considerando esta fase da sua carreira?

Ajaxx: Pô, o prazer é todo meu, muito obrigado. Cara, eu acho que no ponto que eu cheguei da minha carreira, sou muito grato por tudo que já aconteceu, né? – Por todas as oportunidades que eu tive, por todas as pessoas que eu já trabalhei. Mas sim, a transição surgiu como um sonho de certa forma, mas também uma necessidade.
Eu venho trabalhando com muitos artistas, e eu acho que o papel do produtor é entregar muito o que o artista deseja pro público. A gente se entrega para que o artista esteja feliz com o resultado do projeto – e muitas vezes, a nossa visão como produtor passa meio batida. Assumir este projeto é para mim dar a minha visão de arte, do que é a música, e com 100% do meu direcionamento.

Este álbum tem muitas coisas que são muito malucas e fora da curva, coisas que eu não podia fazer no trabalho normal com os artistas – essa necessidade de dar um próximo passo. Não tenho muitas metas restantes no Brasil hoje, graças a Deus; todas as pessoas que eu almejava trabalhar, eu já trabalhei. É um conjunto da necessidade e do sonho.

TMDQA!: Isso é de fato impressionante, ainda mais considerando seu início na música eletrônica lá na Lapa. Entretanto, você acabou encontrando essa identidade no trap. Porém irmão, adoraria saber se o trap lhe ofereceu algo que a eletrônica não oferecia – existe alguma influência da sua fase eletrônica que ainda pode ser ouvida nos seus beats, e vice-versa?

Ajaxx: Nossa, exatamente! [risos] Eu sempre tive um sonho de ser DJ de música eletrônica. Acredito que, com o passar dos anos – se este projeto engajar – é esse o rumo que vai tomar, por incrível que pareça. Mas o trap me deu a oportunidade porque as coisas vão fluindo e te levam a caminhos que você quer alcançar, por mais que seja algo diferente.
Eu tive consciência de que a música eletrônica era um mercado muito mais difícil porque eu teria todo esse trabalho de artista, de posicionamento e precisaria de toda essa estrutura que hoje, graças a Deus, eu tenho.

Eu sempre gostei muito do hip-hop, e no momento em que o trap estava expandindo e crescendo, eu vi a oportunidade de entrar nesse meio porque eu também gostava disso. Nesse processo, acabei me apaixonando pela produção musical como um todo e tudo aconteceu em um momento muito propício para dar certo. Eu cheguei no momento em que a Mainstreet estava nascendo; participei das primeiras músicas… Morei com o Orochi e o Maquiny, e todos me deram suporte. Foi um momento muito propício que me trouxe até aqui e hoje me dá a condição de realizar meu sonho de criança.

TMDQA!: E cá estamos. “Colheita” acabou de sair com Filipe Ret, Borges e Vulgo FK. Você revelou que a narrativa do seu álbum será contada em quatro etapas, e “COLHEITA” simboliza o seu início. Se esta é a primeira etapa, o que as próximas três representarão na sua jornada artística e no que você quer apresentar? Elas terão temas e sonoridades diferentes?

Ajaxx: Você tá totalmente certo, a sonoridade é bem diferente, sim. Eu acho que a próxima etapa vai causar uma ruptura muito grande na cena – talvez um estranhamento, porque é algo bem fora da curva. Eu vejo este álbum como um lugar de pura experimentação.
O universo que tentei imprimir é para demonstrar todas as minhas capacidades, tudo o que eu gosto de fazer. É isso, essa evolução sonora e esses contrastes vão estar muito presentes daqui para frente. [risos]

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TMDQA!: Como produtor, eu sei que você tem muito envolvimento com as letras e o que elas transmitem. Há uma parte em “Colheita” que fala sobre fazer dinheiro rápido, fazer parecer fácil, e eu queria relacionar com essa habilidade em produzir sucessos. Quais foram os maiores obstáculos dos bastidores que você precisou superar para que as coisas começassem a parecer fáceis para o Ajaxx?

Ajaxx: Eu acho que tudo o que a gente divulga nas redes sociais é uma parte muito pequena da nossa vida. Eu sou do Paraná e tive que me mudar para o Rio – tiveram diversas coisas que eu abri mão da minha vida para alcançar este sonho.
Eu passei muito menos tempo com a minha família, e há pouco tempo, perdi meu pai. Considero que passei pouco tempo com ele, apesar de sempre tentar estar presente. Tenho dois sobrinhos que não acompanho muito o crescimento… O que mais me pesa nesse lance de abrir mão é a minha família.

Eu acho que tudo o que a gente faz que é grande e exige esforço vai cobrar um preço – e a gente tem que estar disposto a pagar esse preço. Sou muito grato por isso porque me mostra o quanto as coisas têm valor de verdade. Para as coisas parecerem fáceis, foram muitos anos de trabalho intenso, quase 24 horas por dia.
Hoje tenho uma vida mais regrada, mas por muito tempo tive uma rotina intensa de estúdio. Tudo isso faz parte. Para alcançar lugares que as pessoas normalmente não alcançam, você paga um preço muito alto.

TMDQA!: Sinto muito pela perda do seu pai, meus sinceros sentimentos – mas com certeza sua família compreende e tem orgulho de você. Agora, continuando, há um verso – eu acho que é do Ret – que fala sobre fazer MCs parecerem rasos. Como um dos produtores mais influentes do país, o que exatamente diferencia um MC “raso” de um “marco”? É uma questão de flow, autenticidade, ou a forma como interagem com seu beat?

Ajaxx: Muito obrigado por isso, significa muito. Respondendo a pergunta, eu acho que na questão do Ret, ele é um personagem muito específico na cena porque conseguiu fazer uma transição de gerações – e isso é muito difícil. É algo que eu admiro muito.
Um ensinamento que peguei dele é que as pessoas que você mais aprende são as pessoas novas. Os artistas antigos te passam vivência, mas em questão de sonoridade e ser algo fresh, os artistas novos é que te ensinam.

Isso exige muita humildade do artista: olhar e abrir espaço para aprender com pessoas novas que estão vindo depois dele. O Ret se torna essa figura muito forte porque é imponente, mas é muito humilde; ele abre espaço para testar o novo. Ele é lá do início e está até hoje fazendo coisas que são atuais. Isso é muito difícil. Essa linha específica do Ret retrata essa figura única que ele é na nossa cena.

TMDQA!: E voltando um pouco a um assunto comentado anteriormente, você praticamente ajudou o Orochi a fundar a Mainstreet e produziu a maioria dos lançamentos da gravadora. Como você enxerga o legado por um todo, e como o lançamento desse trabalho solo se encaixa na história que vocês estão construindo como selo?

Ajaxx: A Mainstreet é um lugar que eu tenho um enorme carinho e eu sempre serei da Mainstreet, acredito. [risos] Admiro muito todo o processo, os sonhos que o Orochi teve e a visão dele, que se juntou ao nosso empresário, que também tenho eterna gratidão. Eu acho muito bonita a história que a gente construiu.
É um lugar que me sinto muito bem e acolhido – tenho todo o suporte que preciso. Sinto muita sorte de ter chegado no momento certo. Óbvio que envolve muito trabalho, mas a sorte foi importante para mim nesse assunto.

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TMDQA!: Depois de ter colaborado com praticamente todos os grandes nomes da cena e agora assumindo a linha de frente, você não apenas reafirma sua importância, mas se apresenta como um artista completo. Qual é o legado musical do Ajaxx, o artista, que você espera consolidar, que talvez o Ajaxx produtor ainda não tenha conseguido?

Ajaxx: Tendo este projeto sob minha supervisão, e podendo me comunicar não só musicalmente, mas visualmente… O que eu quero fazer é trazer coisas que ajudem as pessoas. Para mim é muito sobre isso.
Músicas moldaram como eu sou e me trouxeram até aqui – em momentos difíceis, encontrei músicas que me deram forças para seguir em frente. O que me pulsa é saber que eu posso ter esse poder.

TMDQA!: Essa é uma resposta muito forte, que lindo. Cara, para a gente finalizar, aqui no Tenho Mais Discos Que Amigos! (TMDQA!) sempre fazemos esta pergunta: você considera ter mais discos que amigos? E, já que você citou as músicas que te influenciaram, se você pudesse indicar um álbum ou uma música que te influenciou, qual seria e por quê?

Ajaxx: Eu acho que é um equilíbrio, não podemos cair para um lado e nem para o outro. [risos]
As relações que a gente tem são importantes e hoje eu reconheço isso com bastante força. Um artista específico que me ajudou, que tenho um carinho muito grande e hoje tenho a honra de trabalhar com ele, é o Rashid.

Eu escolheria o primeiro álbum dele e a música “Acendam as Luzes” em específico. Essa música pode representar muito do que eu sou.
É uma música que eu sempre recorro em momentos difíceis. Sou muito grato ao Rashid e ao Marechal também, que está envolvido nesse trabalho. Sem sombra de dúvidas, esse álbum e essa música me trouxeram até aqui.

TMDQA!: Escolha sensacional, papo reto. Ajaxx, obrigado mesmo pela chance, nossa conversa foi espetacular. Muita luz nessa sua nova fase, conte conosco!

Ajaxx: Obrigado, viu mano? Foi um prazer, tamo junto!

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