
Mais de 25 anos após o sucesso mundial de “Save Tonight”, Eagle-Eye Cherry retorna às origens com Become A Light, seu sétimo álbum de estúdio. O trabalho marca uma reconexão com a energia crua do rock e do pós-punk que o inspiraram no início da carreira – e também um momento de introspecção e renovação pessoal.
“Durante a pandemia, eu comecei a revisitar os discos que comprava quando era adolescente”, contou o músico em entrevista ao TMDQA!. “O primeiro álbum que comprei foi London Calling, do The Clash, e aquilo reacendeu algo em mim. Eu me lembrei da energia e da empolgação que sentia com a música naquela época.”
Gravado entre Los Angeles e a Suécia, Become A Light é resultado de dois mundos sonoros que se equilibram. Em LA, Cherry trabalhou com o produtor Jamie Hartman (Kylie Minogue, Rag’n’Bone Man, Kygo) e com o baixista do The Killers, Mark Stoermer; já na Escandinávia, retomou a parceria com Peter Kvint, colaborador de longa data.
É engraçado, porque eu nunca gostei muito de Los Angeles. É uma cidade onde não costumo me sentir inspirado. Mas decidi dar uma chance – e acabei fazendo músicas incríveis lá. Acho que o fio condutor é a minha voz. Quando começo a cantar, tudo ganha coerência.
O disco carrega contrastes marcantes entre faixas vigorosas e momentos mais delicados, refletindo a dualidade do artista. “Tem músicas como ‘Chasing Down a Dream’, que são amplas e cheias de camadas, e outras como ‘Long Way Home’, que é bem seca, direta, com a minha voz ali na cara. Eu gosto dessa dinâmica, dessa sensação de arco dentro do álbum”, explica.
Eagle-Eye Cherry e seu Become A Light
O título Become A Light vem da canção mais pessoal do projeto – escrita em homenagem à mãe de Eagle-Eye, falecida há alguns anos.
Essa música nasceu no dia em que a enterramos. Foi um dia de imensa dor, mas também de uma consciência intensa de estar vivo. Eu sentia o vento, os cheiros, as pessoas ao redor… tudo parecia tão presente. E percebi que minha mãe, de certa forma, havia se tornado luz. Ela está comigo, de outro jeito.
A espiritualidade e o senso de presença também se traduzem no modo como o cantor encara a estrada, lugar onde se sente verdadeiramente em casa. Filho do lendário trompetista de jazz Don Cherry, Eagle-Eye cresceu em turnê com a família, o que moldou sua relação com o palco. “Quando saí em turnê com o meu primeiro álbum, foi como voltar pra casa”, relembra. “Estar no ônibus, indo para o próximo show, ainda é onde me sinto mais à vontade. É o melhor trabalho do mundo.”
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Sobre voltar ao Brasil, país que o acolheu desde os anos 90, o músico é direto:
É meu lugar favorito para tocar. Não estou dizendo isso só por dizer – amo o público, a comida, a música, o sol. As vibrações dos shows aí são sempre incríveis. Espero voltar no ano que vem.
E o que ainda o motiva a continuar gravando discos, mais de duas décadas depois do estouro de Desireless? A resposta vem rápida, com um sorriso:
Eu tenho uma música chamada ‘Are You Still Having Fun?’, e essa é a pergunta que sempre me faço. Enquanto a resposta for ‘sim’, eu continuo.
Com Become A Light, que você ouve logo abaixo, Eagle-Eye Cherry prova que a chama que o levou ao topo das paradas segue acesa – agora mais madura, intensa e sincera do que nunca.