
O lendário The Kooks sempre foi sinônimo de um indie rock vibrante e atemporal. Este ano, a banda liderada pelo prolífico vocalista – e agora produtor – Luke Pritchard, iniciou um poderoso ato de autorreflexão criativa. Em seu sétimo álbum, Never/Know, o grupo britânico entrega 11 faixas que nasceram de uma missão singular: se reconectar com o impulso criativo original e buscar a essência da banda, com a premissa de “apenas esquecer que o passado aconteceu”.
Lançado via Virgin Music Group, o projeto não busca um retorno nostálgico ao som de seu disco de estreia, mas sim um mergulho nas raízes de suas influências para encontrar um som “natural”. Essa busca por uma identidade renovada se manifesta em faixas que celebram a arte pop complexa (como o cover de “Arrow Through Me”, uma joia do Wings) e em momentos de profunda intimidade. O single principal, “If They Could Only Know”, por exemplo, leva Pritchard a refletir sobre a conexão entre as gerações, expressando o desejo sincero de que entes queridos falecidos – seu pai e sua avó – pudessem testemunhar sua felicidade atual.
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Em uma conversa exclusiva ao TMDQA!, transitando entre a nostalgia e o futuro, Luke Pritchard compartilha os bastidores da autoria e produção de seu último disco, detalha como as perdas pessoais o inspiraram na criação de novos trabalhos e revela as influências que moldaram sua carreira, revisitando a trajetória do The Kooks e o caminho para o maior show de suas vidas.
Venha conosco descobrir como ao desafiar o passado e abraçar o impulso criativo original, o The Kooks e seu líder encontraram a essência para se lançarem em uma fase que mesmo que não seja a melhor, é definitivamente uma das mais admiráveis de sua história!
TMDQA! Entrevista Luke Pritchard (The Kooks)
TMDQA!: Luke, é um prazer imenso, irmão! Como vai você?
Luke Pritchard: Cara, o sol está brilhando por aqui. Eu estou com uma pequena “ressaca pós-festival”, pois acabamos de encerrar a temporada de festivais na Europa [risos].
TMDQA!: Primeiramente, muito obrigado por me receber, me sinto honrado. Quero iniciar esta entrevista com uma pergunta que costumo fazer no final: Eu faço parte de um portal chamado Tenho Mais Discos Que Amigos!. Considerando essa informação, você também diria ter mais álbuns do que amigos? E se pudesse escolher um álbum para descrever a si mesmo, ou que seja muito significativo em sua vida, qual seria?
Luke Pritchard: Ok, em primeiro lugar, obrigado por me receber, eu realmente tô bem feliz em falar com você – e nossa, eu definitivamente tenho mais discos do que amigos [risos]! Tenho 40 anos, e quando você chega aos 40, você naturalmente perde alguns amigos. Por outro lado, eu realmente tenho uma coleção de discos bem extensa – parte dela era do meu pai, mas sempre fui um grande colecionador de vinil. Acho que todos deveriam ser, é algo maravilhoso ter um disco físico.
No momento, o disco que eu escolheria é Troubadour, do J.J. Cale, acho esse álbum “super cool”! É mais ou menos a minha vibe atual – as letras falam sobre viajar, ser um trovador e principalmente sobre música. Tem uma identidade emocional – o que espero que atingir com o tempo, e é romântico, o que também espero ser. Então, realmente, Troubadour é um disco incrível.
TMDQA!: Sensacional, vou procurar ouvir! Vamos falar sobre “Never/Know”. Ao assumir a cadeira de produtor, você usou a “psicologia de produção” para criar uma atmosfera mais descontraída, chegando a dizer à banda que vocês estavam apenas ensaiando. Que hábitos ou abordagens você incorporou para criar essa vibe no estúdio?
Luke Pritchard: Sim, muito do que pensei sobre ser produtor estreante era sobre: como você leva as pessoas ao mesmo tipo de eletricidade e produtividade de quando você começou a fazer música? E quando você faz isso há 20 anos, essa energia começa a se dissipar porque você já sabe demais, sabe?
Às vezes, acho que algo se perde, porque há uma certa ingenuidade nos álbuns de estreia. Então, o que eu estava fazendo era, na verdade, não deixar ninguém pensar demais. E como você disse, eu meio que enganei as pessoas porque eu dizia: “Vamos lá e fazer uma pré-produção, tipo ensaios!”.
Acho que assim você consegue esses acidentes felizes e mágicos, e você ganha uma liberdade na música. É o tipo de música que eu amo. Você lê sobre como foram feitos os discos de Bob Dylan ou do Velvet Underground, e eu pensei: não que eu não me importe com discos muito considerados, como Dark Side of the Moon, mas o que eu realmente gosto são aqueles discos que você nota a liberdade artística. Eu estava tentando fazer isso no mundo moderno, o que é difícil – com computadores, você pode fazer quantos takes quiser, é um desafio. Então, o jeito que encontrei foi esse, o de não ser totalmente explícito.
TMDQA!: Inclusive, como produtor solo pela primeira vez, qual foi o aspecto mais assustador na tomada de decisões? E qual foi o momento em que você sentiu que havia capturado com sucesso a atmosfera que procurava?
Luke Pritchard: Acho que a coisa mais difícil é sempre quando parar, porque você sempre pode continuar. Você sempre pensa que haverá outra música, que virá “aquela” que será a melhor. Então, esse é provavelmente o aspecto mais desafiador.
Mas eu senti que fiz discos suficientes, estive por perto o suficiente para não me estressar muito com isso. Eu só queria fazer um disco que eu pudesse colocar em casa e que soasse ótimo em vinil. Essa era a minha filosofia. Uma vez que tínhamos uma boa coleção e faixas que tinham uma vibe real e que tinham a quantidade certa de vulnerabilidade nas minhas letras, o trabalho estava ali.
Houve momentos complicados. É difícil produzir sua própria banda, lidar com políticas internas e coisas assim, mas todos entraram em acordo, e isso foi brilhante.
TMDQA!: Eu sei que você conectou o grito primal de suas primeiras canções à perda de seu pai. Agora, depois de ter processado isso através de uma lente mais madura, você escuta canções como “Naive” ou “She Moves in Her Own Way” e sente que elas eram mais sobre você do que sobre as garotas sobre as quais você cantava?
Luke Pritchard: Eu realmente sinto – é uma ótima pergunta e muito perspicaz. Falei com outros compositores que discutem isso: as músicas que você escreveu na adolescência podem ter algo no subconsciente que você não percebeu na época, eu certamente sinto isso. Em “Naive”, por exemplo, eu estava cantando sobre essa garota dizendo: “você é tão ingênua, você é tão ingênua”, mas, na verdade, eu estava falando comigo mesmo. Eu era o ingênuo na história, isso se torna uma revelação que você tem em algum estágio pós anos.
A perda do meu pai tão cedo leva uma vida inteira para ser compreendida. Mas eu peguei o violão por causa dele; era o que eu tinha por perto. Como eu disse, eu tinha poucos discos, um violão e alguns livros, e eu escolhi o violão. Ao longo dos anos, escrevi algumas músicas sobre isso, como “See Me Now” e a canção “If They Could Only Know“ no novo álbum, onde falo diretamente sobre o tema.
Nós nos unimos muito como banda em torno de figuras paternas. O pai de Max não estava presente, e o pai de Paul, nosso baterista, morreu no dia do nosso primeiro show com o The Kooks em Brighton. Nenhum de nós tinha modelos masculinos fortes, e essa tem sido uma grande parte desta banda: sermos garotos que tentam encontrar isso em nós mesmos.
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TMDQA!: Quase metade de seus ouvintes tem menos de 24 anos. Por que você acha que as emoções e os sons que você capturou como um jovem em 2006 ainda ressoam tão bem com essa nova geração?
Luke Pritchard: É algo lindo, Acho que somos meio retrô agora [risos]. Acho que escrevemos as músicas quando éramos adolescentes, então há muita angústia do jovem ali com a qual as pessoas ainda se relacionam. Mas quem sabe?
Eu acredito em persistência, e acho que essa é a chave para qualquer tipo de sucesso. Talvez não fôssemos vistos como a melhor banda ou a maior, mas amávamos o que fazíamos e continuamos – o universo recompensa isso. A cada ano você tem uma nova chance.
No momento, acho que a mídia social tem sido ótima para nós, a democratização de ter sido uma banda independente por sete anos. O fato de as pessoas compartilharem nossa música significa que não precisamos de grandes orçamentos. Estamos vendo o fruto disso. Tocamos no Reading Festival, um dos maiores do Reino Unido, em um palco principal e eram milhares de jovens cantando todas as músicas. É uma loucura!
Acho que também é uma coisa da sociedade, não importa quando uma música foi escrita, as pessoas simplesmente amam música. Eles não estão mais tão ligados na rádio tocando a música nova. Quando lançamos nosso álbum, estávamos competindo com o Rumours do Fleetwood Mac no Top 10. É a democratização da idade da música, e isso é legal, é bom para mim.
TMDQA!: Você mencionou os festivais, e agora vocês estão prestes a fazer o maior show da história da banda na O2 Arena. No entanto, “Never/Know” é provavelmente o seu disco mais íntimo e autoproduzido. Como você está encarando o desafio de traduzir os momentos mais íntimos do álbum para o formato de arena?
Luke Pritchard: Acho que a gente ainda não tem ideia, ainda vamos tocar todas as músicas que as pessoas querem ouvir! E essas músicas são boas faixas ao vivo.
A maneira como o álbum foi feito não usa computadores ou IA, é uma banda de verdade. Então, acho que deve ser traduzível – nos festivais, tem dado muito certo. Sim, a mudança para arenas será diferente, posso até fazer uma troca de figurino, quem sabe? Um pouco de showbiz! [risos] Mas quero apenas entregar um ótimo show indie. Não quero complicar demais.
A música ao vivo é um escapismo brilhante. Tudo o que quero é fazer isso, que os shows sejam uma bolha para as pessoas. Que por duas ou três horas, elas não tenham que pensar em toda essa merda do mundo.
TMDQA!: Cara, aliás, essa é uma pergunta obrigatória e você sabe que eu preciso fazer: e o Brasil, Luke? Os fãs brasileiros estão com saudades!
Luke Pritchard: Eu sei, eu sei, e nós sentimos falta do Brasil! Infelizmente, às vezes, está fora do nosso controle. Mas nós realmente falamos muito sobre o Brasil e a América do Sul. Se não estivermos aí no próximo ano, algo está errado. Esperamos muito que aconteça!
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TMDQA!: Para terminar: depois de 20 anos, sete álbuns e esse show no O2, o que o The Kooks ainda busca criativamente?
Luke Pritchard: Eu gostaria de pensar que ainda temos o nosso melhor disco por vir. Quero apenas me esforçar para ir mais fundo, ser mais vulnerável, mais real, embora eu não saiba como chegar lá. Estamos vivendo o sonho, tudo está ótimo olhando de fora.
Eu só quero criar outro momento cultural. Não temos controle sobre isso, mas eu adoraria capturar o zeitgeist (espírito da época). Não sei como isso vai acontecer, mas estou na jornada, cara.
TMDQA!: Cara, essa foi uma conversa realmente ótima. Mais uma vez, muito obrigado por me receber e por toda atenção!
Luke Pritchard: Irmão, eu gostei muito de conversar com você. Muito obrigado pelo papo!
TMDQA!: Até o Brasil, se Deus quiser!
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