
A atual fase de Mac DeMarco é, no mínimo, contemplativa. Não é exagero dizer que o multi-instrumentista canadense, um dos nomes mais relevantes da música indie na última década, vive um momento de profunda depuração artística. Seus últimos anos foram marcados por lançamentos instrumentais como Five Easy Hot Dogs e a colossal, densa coletânea de demos One Wayne G, projetos que sinalizavam um artista mais interessado em explorar texturas e processos do que em entregar hits radiofônicos.
Essa fase mais quieta deixou um vácuo inegável na cena musical, mas também preparou o terreno para o que estava por vir. Longe da imagem de slacker que marcou seu início de carreira com álbuns como 2 e Salad Days, DeMarco parece ter encontrado um novo tipo de conforto em sua própria pele.
Então, chega 2025. Em meio ao anúncio de uma aguardada e extensa turnê pelo Brasil em 2026 – que teve ingressos para algumas das apresentações esgotados em poucas horas, Mac DeMarco finalmente oficializa seu retorno com Guitar, que chega às plataformas digitais nesta sexta-feira, 22 de agosto.
O TMDQA! teve a oportunidade de ouvir o material antecipadamente – além de uma chance de conversar rapidamente com o artista – e você confere nossa opinião sobre Guitar logo abaixo. Vamos lá?
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Mac DeMarco se recusa a revisitar o passado em Guitar
Os primeiros singles, “Home” e “Holy”, chegaram e imediatamente definiram o tom do álbum. Com uma sonoridade serena e reflexiva, as faixas apresentaram um som focado no violão, desprovido de grandes artifícios. A reação inicial foi de alívio por ouvir a voz de Mac novamente, mas logo veio a preocupação: será que teremos um disco homogêneo demais?
A resposta é um complexo “sim, mas essa é a intenção”. Na íntegra, o projeto mostra que DeMarco não está interessado em revisitar o passado, mas sim em destilar sua essência ao máximo. O álbum foi inteiramente composto, gravado e produzido por ele em menos de duas semanas, com clipes e fotos feitos com um tripé. Não há um produtor externo para guiá-lo; a visão é puramente sua. Em entrevista exclusiva ao TMDQA!, o próprio artista confirmou essa natureza confessional:
“Acho que Guitar é o mais próximo de uma representação verdadeira de onde estou na minha vida hoje conforme consigo colocar no papel. […] As músicas foram inspiradas pelas experiências, pessoas, músicas que ouvi, coisas que vivi. […] você pega tudo isso, espreme uma esponja ou uma laranja, e o que sai é o suco – o resultado desse processo todo.”
A diferença é gritante. Enquanto álbuns anteriores equilibravam melancolia e humor, Guitar é um atestado de que Mac entendeu que o motivo para sua relevância atual não é o que ele já foi, mas a honestidade crua de quem ele é agora.
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Mac DeMarco se apoia na vulnerabilidade em novo álbum
Em sua totalidade, Guitar é um álbum que demonstra por que Mac DeMarco é tão especial. É um disco que se apoia na vulnerabilidade como sua principal força. As melodias de guitarra, descritas em uma análise como “chorosas”, se unem a padrões de bateria ágeis e ao falsete de Mac, que por vezes soa como um sussurro.
Dois ótimos exemplos são as faixas “Punishment” e “Sweeter”, momentos comoventes onde os acordes melancólicos de DeMarco enfatizam a angústia das letras. Não é mais a solidão com um verniz descolado; é a alma de um artista sendo aberta para quem quiser ver. Aliás, Mac sempre pareceu avesso a ser colocado em uma caixa, e agora, mais do que nunca, ele se recusa a atender expectativas. Como ele mesmo disse, One Wayne G o libertou para “fazer o que quiser” – Guitar é a prova disso.
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Vulnerabilidade e autoconfiança: uma nova fase
Quase uma década após sua última grande turnê no Brasil, Mac DeMarco nunca pareceu tão seguro de si – justamente por abraçar suas incertezas. A fase pessoal do artista é que parece ditar as regras, e a excelência contida em Guitar é resultado direto disso.
Mais do que a aprovação do público ou da crítica, o álbum parece ser, antes de tudo, para ele mesmo. A confiança para descartar um disco inteiro e começar do zero, e a paz de espírito para lançar um trabalho tão íntimo, são o verdadeiro foco aqui. Como ele concluiu na entrevista, sua satisfação pessoal vem em primeiro lugar:
“Depois de terminar o disco, fiquei com ele só pra mim por uns quatro meses. […] Pude sentar com ele, entender minha relação com ele. Isso foi lindo. […] já me sinto satisfeito só por ter feito. Claro que compartilho porque quero, mas a forma como as pessoas vão receber… não me afeta tanto. Se gostarem, ótimo. Se não, tudo bem também. Estou feliz com ele.”
Se depender de Guitar, a boa fase está renovada. Um bom disco contemplativo, Guitar se mostra o trabalho mais corajoso do artista em anos – mas os fãs de longa data talvez possam se sentir distantes. No final das contas, tá tudo bem: ver um artista se sentir bem consigo mesmo e com sua arte diz muito mais tendo em vista a realidade que vivemos hoje em dia.
Guitar será lançado oficialmente via Mac’s Record Label // Virgin Music Group nessa sexta-feira (22). Não perca, e tire suas próprias conclusões!
★★★☆☆ (3/5)
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