
Por Victor David, fundador e diretor geral da Rap Marketing, agência que atua em branding, campanhas e lançamentos para artistas de Rap, Trap e Funk, conectando cultura e mercado com estratégia
O Hip Hop sempre foi mais do que ritmo e rima. Desde suas origens nas periferias urbanas, essa cultura me ensinou que criatividade, resistência e estratégia caminham juntas. Ao longo dos anos, vi o Rap dar voz a quem nunca teve espaço, transformar realidades e influenciar gerações inteiras. E hoje, olhando para o cenário do Rap e também para outros estilos, posso afirmar com convicção: a profissionalização deixou de ser uma tendência e virou uma necessidade urgente. Não dá mais pra depender só do talento. Quem não entende de posicionamento, presença digital e estratégia está ficando pra trás. O jogo mudou, e quem quer viver da música precisa jogar com inteligência.
No entanto, no cenário atual, fazer música é apenas o ponto de partida. Para crescer e se manter relevante, artistas do Rap precisam investir em estrutura, posicionamento e inteligência digital. A profissionalização tornou-se um fator decisivo para garantir visibilidade e retorno. Segundo o estudo “O impacto das estratégias de marketing digital no cenário musical” (Santos et al., 2023), “as estratégias de marketing digital se tornaram indispensáveis para impulsionar o alcance e a consolidação de carreiras na música”.
Com o ambiente digital dominando a jornada do consumidor musical, ignorar esse espaço é comprometer o potencial de crescimento. Plataformas como Spotify, YouTube e TikTok não são apenas vitrines, são motores que impulsionam carreiras e definem tendências. Nesse contexto, profissionalizar-se digitalmente é mais do que uma escolha estratégica: é uma necessidade para quem deseja transformar arte em legado.
Durante muito tempo, o Rap nacional sobreviveu com poucos recursos e muita criatividade, mas, em um mercado competitivo e orientado por dados, lançar uma faixa e esperar que o algoritmo funcione é como jogar uma carta ao vento. A profissionalização digital garante que a música tenha direção, chegue ao público certo e gere retorno.
Estudos indicam que cerca de 67% da jornada do consumidor musical ocorre no ambiente digital, o que reforça a urgência de estratégias bem definidas para garantir engajamento e relevância (Santos et al., 2023).
O Rap e o mercado, o que falta para ser alcançado?
O Rap é um dos gêneros mais ouvidos do Brasil. Está no topo das plataformas de streaming, nas campanhas publicitárias que mais performam e nas conversas que moldam o comportamento. Ainda assim, segue sendo subestimado por parte do mercado fonográfico e da publicidade.
De acordo com o estudo Empreendedorismo Musical (Monteiro da Silva et al., 2018), o Brasil já movimentou quase US$300 milhões com música gravada em 2017, e mais de 90 mil negócios atuavam na cadeia produtiva da música. Já entre os anos de 2023 e 2024, houve um crescimento expressivo de 21,7%, onde o setor ultrapassou pela primeira vez a marca de R$3 bilhões em arrecadação anual, alcançando um faturamento total de R$3,486 bilhões e levando o Brasil à nona colocação no mercado musical do mundo, segundo a Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI).
O Rap movimenta narrativas, forma comunidades e cria tendências. Tudo isso tem valor de marca. Profissionalizar é proteger o que foi construído e garantir que a arte se transforme em legado.
E isso envolve mais do que presença nas redes. É preciso cuidar da imagem, narrativa, distribuição, performance e análise de dados. Exemplos como BK’, Filipe Ret e Tasha & Tracie mostram que é possível fazer arte com identidade e conduzir uma carreira com inteligência.
Segundo o artigo “Do gatekeeper à fama: O impacto do marketing digital no sucesso musical” (Felício, 2025), plataformas como Spotify e TikTok se tornaram as principais ferramentas de promoção para artistas independentes. Em 2024, 84% das músicas que entraram na Billboard Global 200 já haviam viralizado no TikTok. Esses dados revelam que os canais digitais não são apenas meios de divulgação, são motores que potencializam.
Kendrick Lamar e Project 3: um exemplo global
Em 2025, o rapper Kendrick Lamar fundou, ao lado de Dave Free e Cornell Brown, a Project 3 Agency, uma empresa criativa focada em branding, cultura e posicionamento. A iniciativa reforça a ideia de que, hoje, todo artista é também uma marca.
“Nós vemos as marcas hoje, e um erro pode fazer você questionar sua existência ou o público questionar seu propósito”, afirmou Cornell Brown, da Project 3. A frase resume o cenário atual: reputação se constrói com estratégia e se perde num deslize.
Rap Marketing: visão semelhante, realidade diferente
No Brasil, a Rap Marketing atua com propósito semelhante ao da Project 3. A agência nasceu com a missão de profissionalizar o Rap nacional, conectando cultura e mercado. Vivemos o Rap, sabemos os desafios e as dores de quem tenta fazer acontecer com pouco recurso e muita vontade.
A diferença está na escala, mas o compromisso é o mesmo: ajudar o movimento a se estruturar, se valorizar e se manter forte, resistir e se adaptar.
O Rap sempre foi uma adaptação. E num mundo onde tudo muda o tempo todo, resistir também é se organizar. A profissionalização digital não é luxo, é necessidade. Se a arte já tem impacto, o que falta é estratégia para transformar esse impacto em carreira sólida, independência real e legado duradouro.
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