A 27ª temporada da aclamada série de animação South Park estreou na última quarta-feira (23) e tem dado o que falar.
Isso porque, enquanto muitos acreditam que o episódio intitulado “Sermão da Montanha” serviu apenas como mais uma oportunidade de criticar e zoar o presidente dos EUA Donald Trump, a produção também aproveitou para alfinetar a Paramount, que possui os direitos da série e recentemente se envolvou em polêmicas com o presidente.
Antes de explicarmos a possível relação entre o episódio e os estúdios Paramount, que exibe a série, vem com a gente entender o que foi abordado no episódio.
South Park estreia 27ª temporada com episódio polêmico
No início do episódio, o personagem Eric Cartman aparece deprimido pois seu programa de rádio favorito na NPR, rádio pública dos EUA, havia sido cancelado pelo presidente. Cartman aparece criticando a perspectiva de censura governamental, dizendo:
“O governo não pode cancelar o programa, quer dizer, qual programa eles vão cancelar em seguida?”.
Mais tarde, Trump surge sendo criticado por outros personagens pelo aumento das tarifas no Canadá e, pouco depois, ele é visto na cama com Satanás, insinuando que possivelmente quer ter relações sexuais. Satanás o rejeita, mas Trump insiste: “Vamos, Satanás, trabalhei duro o dia todo”. Satanás retruca: “Você não trabalhou! Você ficou fazendo seus memes idiotas e só brincando”.
Durante todo o episódio, aliás, a animação faz questão de mostrar Trump abaixando as calças para revelar um pênis minúsculo – no total, o “órgão” do presidente aparece 5 vezes. Na série, ele também tem como característica constantemente processar qualquer um que se oponha a ele.
Casa Branca responde críticas a Donald Trump
Em um comunicado oficial, a Casa Branca se pronunciou sobre a estreia de temporada de South Park após a enorme repercussão do episódio. Como informa a Rolling Stone, a mensagem do porta-voz Taylor Rogers diz:
“A hipocrisia da esquerda realmente não tem fim – por anos eles perseguiram ‘South Park’ pelo que eles classificaram como conteúdo ‘ofensa’ [sic], mas de repente eles estão elogiando a série. Assim como os criadores de ‘South Park’, a esquerda não tem conteúdo original ou autêntico, e é por isso que sua popularidade continua a bater recordes negativos. Essa série não é relevante há mais de 20 anos e está se segurando por um fio com ideias sem inspiração em uma tentativa desesperada de atenção. O Presidente Trump entregou mais promessas em seis meses do que qualquer outro presidente na história do nosso país – e nenhuma série de quarta categoria vai tirar o Presidente Trump de sua ótima sequência.”
Apesar do foco em Trump, próximo ao final, o episódio muda de tom e faz uma referência ao recente cancelamento do prestigiado programa The Late Show with Stephen Colbert, e a figura de Jesus aparece implorando à população de South Park que negocie um acordo com o presidente após o protesto contra ele.
Os termos estipulam que os cidadãos devem parar de protestar e concordar em fazer “mensagens pró-Trump” em seus próximos anúncios de utilidade pública, o que ajuda a mostrar que a verdadeira intenção do episódio não é necessariamente criticar Trump, e sim usá-lo como ferramenta para atingir a própria Paramount.
South Park mais polêmico do que nunca
Para entender ainda melhor o contexto, é preciso saber sobre as negociações por uma renovação de South Park, que envolveram a fusão da Paramount com a Skydance.
A 27ª temporada de South Park foi adiada em duas semanas, de 9 para 23 de julho. Após o anúncio, a conta oficial da série no X/Twitter divulgou um comunicado duro culpando a fusão em questão pelo atraso da nova temporada. A declaração dizia (via Variety):
“Em resposta ao comunicado de imprensa do Comedy Central sobre a mudança na data de estreia de ‘South Park’, Trey Parker e Matt Stone disseram: ‘Essa fusão é uma merda e está acabando com o ‘South Park’. Estamos no estúdio trabalhando em novos episódios e esperamos que os fãs consigam vê-los de alguma forma.’”
Os criadores da animação também acusaram Jeff Shell, ex-CEO da NBCUniversal, que deverá se tornar presidente da Skydance Media-Paramount, resultante da fusão, de interferir nas negociações contratuais com a Netflix e a Warner Bros. Discovery.
Segundo uma reportagem do The Hollywood Reporter, a Paramount, Parker e Stone haviam fechado um acordo de US$3 bilhões que duraria mais de uma década. Porém, a Skydance, que atualmente está em processo de fusão com a Paramount, teria desistido do acordo.
Por fim, a Paramount e a equipe de South Park chegaram em um novo acordo, com o serviço encomendando 50 novos episódios e garantindo os direitos de streaming de todas as 26 temporadas anteriores para o Paramount+. A 27ª temporada irá ao ar no Comedy Central e será disponibilizada no Paramount+ sempre no dia seguinte.
South Park alfinetou a própria produtora em novo episódio
Tendo em mente esse contexto, um produtor de conteúdo chamado Blooms, que costuma falar sobre a famosa série de animação em seu canal do YouTube, explicou em sua conta do X/Twitter sua teoria do motivo pelo qual o novo episódio do South Park tem como objetivo final “acabar com a Paramount”.
Depois de ter mencionado parte do que te contamos acima sobre as atuais negociações da Paramount, ele explica:
“O problema com a fusão é que a FCC (Comissão Federal de Comunicações), que é obviamente controlada pela administração atual, ainda não a autorizou. A Paramount sabe que o motivo pelo qual essa fusão não foi autorizada é o processo do Trump [contra a Paramount], então eles concordam em fazer um acordo e pagar a ele 16 milhões, e a Skydance pagará a ele outros 20 milhões após a fusão.
E em um caso de timing incrivelmente coincidente, a Paramount decide encerrar seu talk show de décadas com Stephen Colbert, do qual Donald Trump é um crítico ferrenho, já que Colbert zomba dele o tempo todo. Então, com o processo resolvido, a Paramount está esperando para concluir a fusão com a Skydance e eles finalmente fecham um acordo com South Park por incríveis 1,5 bilhão de dólares.”
Apontando que a série lançou o episódio em que eles “criticam Trump com mais veemência do que qualquer coisa que Colbert já tenha feito” logo em seguida a toda essa polêmica, ele complementa:
“Mas Trump, na realidade, não é o alvo pretendido. Matt e Trey estão simplesmente provocando-o com um único objetivo: acabar com a Paramount. Eles querem irritá-lo tanto a ponto de ele processar a Paramount novamente ou se recuse a permitir a fusão.
Então, literalmente, um dia após a Paramount assinar um acordo com eles e chegar a um acordo com Trump, eles decidem se vingar de todas as vezes que a Paramount os prejudicou, aproveitando-se da insegurança de Donald Trump – depois de ter acabado de tirar US$ 1,5 bilhão da empresa. Isso é uma jogada de supervilão com 200 pontos de QI de Matt e Trey, e eles acabaram de se tornar bilionários com isso.”
Alguns fãs, aliás, têm apontado para um possível simbolismo na cena final do episódio, em que Cartman diz “eu te amo, cara” para Butters. O primeiro personagem é dublado por Trey Parker, enquanto o segundo tem sua voz feita por Matt Stone – para alguns, essa cena foi feita como uma possível despedida caso a série venha a ser cancelada por ter apostado tão alto em sua crítica.
Outro ponto levantado é a possibilidade deste episódio ter sido alterado de última hora, já que reflete acontecimentos bastante recentes, o que sugere que a dupla teria aproveitado o atraso no lançamento para alterar algo que já havia sido combinado anteriormente.
Nenhuma destas informações tem qualquer confirmação oficial até o momento, e vale lembrar que o contrato de renovação por mais 5 anos já foi assinado, até onde foi informado pela imprensa especializada, o que pode ter sido feito apenas por coincidência (e sorte, talvez!) dos criadores.
Você pode ler o texto completo da explicação sobre o episódio aqui ou logo abaixo, após a cena final que mostra Cartman e Butters.
