Alissic
ARC 01: MAIDEN é um mergulho para o universo onírico de Alissic, com recortes da mente, como sons, sentimentos, sonhos, pesadelos e crises existenciais (Divulgação).

A artista de avant-pop Alissic, também conhecida pelos fãs como Alissa Salls, começou na música depois de seguir a carreira de modelo, trabalho que começou aos 15 anos de idade. A brasileira iniciou suas experimentações com os sons e as aventuras com composições durante 2019, mas foi em 2020 que ela lançou o primeiro single Like, relançado pela gravadora Ministry of Sound no ano seguinte. Depois de algum tempo de espera, os fãs foram agraciados, no primeiro semestre de 2025, com o lançamento do primeiro EP ARC 01: MAIDEN, durante o outono brasileiro. A experiência de ouvir este novo projeto é um verdadeiro convite à um mergulho onírico no universo pessoal da cantora e compositora. 

O trabalho, que conta com um total de cinco faixas e foi feito através da própria gravadora da artista, a CLASSII Records, marca uma fase experimental da artista em direção ao pop. O EP é uma espécie de busca de uma jovem descobrindo o mundo, com momentos espirituais e também desilusões. “Eu gosto bastante de TREANTS, é a energia que estou no momento. Mas também gosto de BE NO BODY porque essa música fala sobre você não se apegar à uma ideia sobre você mesmo, ideias sobre a vida. E só “let it go”, sabe? Deixa ir e o que vai acontecer, vai acontecer. E agora, estou tentando me centrar no presente. Tenho ficado mais em casa porque posso ter os bebês a qualquer momento”, compartilhou Alissic em meio a risos ao conversar com o TMDQA!

A artista, que está neste momento na Inglaterra, aguarda o nascimento dos seus filhos, uma menina e um menino, ao lado do seu marido e companheiro, Oliver Sykes, vocalista da banda Bring Me The Horizon – com quem está casada desde 2017 e quem dividiu com a artista a tarefa de co-escrever o EP. “Foi muito especial e divertido co-escrever e estar tão envolvido no novo capítulo da jornada musical da Alissic. À medida que o seu som e visão continuam a evoluir, parece uma progressão natural para nós construirmos este universo juntos: não apenas como colaboradores, mas como parceiros que compartilham a vida e a criatividade”, disse Oli Sykes. 

MAIDEN: O primeiro arco fonográfico de Alissic

Ao refletir sobre a jornada que traçou para criar este EP, Alissic compartilha detalhes como a maneira que o nome do trabalho se comunica com a fase atual da sua jornada, que tem se dividido entre a promoção musical do trabalho e a gravidez: “Pra mim, o nome que escolhi (ARC 01: MAIDEN), é incrivelmente adequado pois representa uma versão antiga minha e, foi meio sem querer, porque eu nem sabia que estava grávida! Esse trabalho representa tudo que criei antes de passar por essa transformação na minha vida pessoal. Eu lancei o EP e, atualmente, estou me redescobrindo sonoramente falando, então parece que estou fechando um capítulo para abrir um novo, que não faço a menor ideia de como vai ser (risos). Acho que soltar o EP ao mesmo tempo que tudo isso acontece significa uma nova versão minha se abrindo, uma representação bem espiritual de abrir e fechar portais”. 

O arco de MAIDEN, por assim dizer, começou com o lançamento da faixa CONCRETE no começo deste ano. A faixa mistura pop acústico com distorções eletrônicas experimentais. E, além dela, Alissic já tinha todo o restante do material finalizado há quase dois anos. 

“Foi um processo que mudou bastante, mas eu sempre tive a ideia de fazer os EPs em arcos narrativos onde cada EP conta uma história, conectadas umas com as outras. Musicalmente, eu já sabia por onde eu ia trilhar porque já tinha as músicas prontas há algum tempo, além da capa do EP. Então, este tempo foi mais focado em criar as histórias dos vídeos. Comecei a gravar [os vídeos] em novembro do ano passado e o último foi BE NO BODY que eu gravei há um mês atrás, por aí”, disse a artista de 27 anos.

Quando o assunto são as referências musicais, Alissic compartilhou que além de contar com nomes como Björk e outros artistas do pop e rock, o processo criativo foi bastante intuitivo, onde ela pensava no visual e, depois, no aspecto sonoro da composição. Ali, ela ficava desenvolvendo as narrativas visuais que iria, mais tarde, explorar por meio dos vídeos e foi assim que se pareceram os dias de produção de ARC 01: MAIDEN. Cada música tem uma estética e narrativa próprias, refletindo a personalidade multifacetada da artista, com distorções e batidas bem ritmadas.  

“Quando ia trabalhar com produtores musicais ou algo do tipo, eu tinha uma referência do dia: uma música que escutei ou algum tipo de outra vibe que eu tava no momento, sabe? Veio também bastante música brasileira como referência, com as escolas de samba e o som característico de TREANTS. Já na parte visual, queria passar uma energia meio alienígena”, compartilhou durante uma entrevista exclusiva para o TMDQA!

Clima intimista permeia o trabalho da artista

Quando perguntei à Alissic sobre uma história engraçada que poderia compartilhar sobre o EP, ela riu e começou a dizer que gravou as músicas de ARC 01: MAIDEN em diversos lugares. Inclusive na “ponte aérea” entre o Brasil e a Inglaterra. “Às vezes, as pessoas podem pensar que gravei em um estúdio super chique, mas eu gravei na minha casa, na casa dos meus pais. Um dia, precisava gravar um som, só algumas linhas, e para não dar eco eu coloquei uma coberta na minha cabeça na casa dos meus pais, com um microfone, 30ºC e um calor… Acontece bastante disso, tem várias partes das músicas que foram gravadas e regravadas em lugares diferentes então é bem engraçado como normalmente a gente precisa improvisar”, disse rindo. 

“Trabalhar entre as nossas casas deu à música uma dualidade única. O Brasil traz uma energia exótica e de outro mundo: há algo onírico em estar cercado por uma natureza densa. Essa atmosfera vaza para a música. Então, Sheffield [na Inglaterra] fundamenta tudo um pouco com sua espinha dorsal industrial e áspera, mas também é onde o trabalho pode ser feito de forma mais fácil, com ferramentas e colaboradores mais acessíveis. É onde realmente podemos moldar as ideias e refinar a produção. Trabalhamos em explosões: compartilhando referências, desenhando esboços, gravando takes vocais estranhos às 3 da manhã ou salvando notas de voz em um drive. É caótico, mas de um jeito agradável”, completou Oliver. 

Além disso, Alissic comentou que as inspirações sonoras poderiam vir de muitos lugares, até de aplicativos de contatos com alienígenas e meditações guiadas, como compartilhou durante a nossa entrevista. “Um dos meus sons chamado MR BURNS foi inspirado em, mais ou menos, como seria uma conversa entre eu e um alienígena na minha casa ou na sua! Essa foi a vibe da música, eu tive a ideia e eu trouxe vários sons nessa música que eu achei em aplicativos. Então, tem bastante desse elemento espalhado pelo projeto”, pontuou Alissic. 

A conexão de Alissic com a floresta amazônica

Quando Alissic voltou ao Brasil depois de passar temporadas em terras europeias, ela compartilhou que sentiu o chamado de ajudar as comunidades indígenas. Alissic, que também é bastante conhecida pela fanbase por ser artista visual envolvida com arte, pintura, desenho e criações audiovisuais, criou o projeto chamado ERFLING, onde os valores recebidos por suas obras e criações autorais são revertidos para apoiar causas indígenas na floresta amazônica. 

“É um projeto mais do coração. Quando eu tive meus primeiros contatos com povos indígenas foi com cerimônias de Ayahuasca. Quando eu fui para a Amazônia, eu conheci uma liderança indígena do povo Huni Kuĩ e eles me explicaram o quanto precisam de ajuda. Me lembro que tinha bastante gente e eu senti que todos escutavam mas não tinham um interesse e aí que eu conectei que eu tenho muito a oferecer: que poderia pintar, fazer música e fazer muitas coisas para ajudar. Eu comecei com uma pintura que eu fiz inspirada nesse momento na Amazônia”, relembrou Alissic. A artista tem planos de expandir o projeto ERFLING para abraçar causas voltadas para a construção de escolas em comunidades no interior de São Paulo, onde a artista nasceu e cresceu. 

Aspectos desafiadores e próximos arcos? 

A cantora compartilhou que um dos maiores desafios foi o fato de ter as músicas há um bom tempo. “Eu saí da gravadora que estava e isso consumiu um bom tempo, muita burocracia que atrasou o lançamento. Se ver nesse limbo há bastante tempo, sem saber se eu ia conseguir soltar essas músicas foi a parte mais desafiadora. Eu cheguei a acreditar que nunca lançaria essas canções. Eu tive que manter a minha cabeça no lugar, porque via na internet que fazia tempo que eu não lançava nada e eu já tinha o material. Depois que eu saí da gravadora eu falei “Agora dá pra fazer, colocar a mão na massa” e o que é mais engraçado é que eu descobri que estava grávida, como se o universo estivesse colocando tudo de uma vez”, afirmou Alissic.

Demos e material para ser finalizado? Temos sim! Alissic diz que os fãs podem esperar “uma vibe diferente, um caminho mais intuitivo e puxado para o rock”, gênero que a artista sempre quis explorar. “Os próximos projetos serão um pouquinho mais dark”, reforçou. Por fim, a artista quis complementar com uma mensagem aos fãs brasileiros: “Como moro na Inglaterra e faço músicas aqui, eu acabo fazendo mais entrevistas para cá, mas eu queria aproveitar pra falar o quão incrível é o apoio que recebo do Brasil e dos meu fãs. Sou muito grata, eu sempre estou por aí e o Brasil continua sendo minha maior referência na música”, completou. 

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