Sem pressão por hits, Michel Teló celebra a liberdade de criar novo projeto com releituras surpreendentes
Crédito: Wirso

Imagine uma roda com os amigos, clima descontraído e uma trilha sonora que vai de Raul Seixas e Paralamas do Sucesso, passando por Los Hermanos e, claro, pelos clássicos do sertanejo que atravessaram gerações.

Foi nesse clima que surgiu o novo projeto audiovisual de Michel Teló, que chega embalado por releituras de grandes sucessos acompanhadas pela sonoridade do batidão que o músico domina como poucos.

Com direito até a uma faixa inédita, “Se Eu Tô Querendo Ir”, a produção intitulada Sertanejinho do Teló marca um momento em que o cantor se permite criar sem pressão de hits, apenas movido pela paixão de fazer música por prazer. Em conversa com o TMDQA!, Michel comentou sobre esta fase de sua carreira:

“Acho que chega um momento em que você fala ‘Cara, posso fazer uns projetos que…, não preciso me preocupar mais com a responsabilidade de fazer um projeto que precise explodir’. É lógico, a gente grava e poxa, se alcançar o coração das pessoas e for para o grande público, maravilhoso. Mas acho que a gente pode se dar o direito também.”

A primeira parte do audiovisual, que foi gravado em Campo Grande (MS), apresenta um clima intimista, onde Michel Teló reuniu sua família e amigos para apresentar o novo repertório.

No material, é possível ouvir Teló mesclando nomes improváveis em pot-pourris – como Cássia Eller e César Menotti & Fabiano, na faixa “Caso Marcado/Malandragem Dá Um Tempo”, e Raul Seixas e Los Hermanos em “Metamorfose Ambulante/Ana Júlia”, além de transformar as faixas “Meu Erro/O Sol” de Paralamas do Sucesso e Vitor Kley em uma canção sertaneja.

Na conversa, o músico comentou sobre a liberdade criativa dentro do sertanejo, apontando que a música permite que fusões como as citadas acima aconteçam:

“Eu já tenho um histórico muito bom disso. Desde 2010, quando eu lancei ‘Fugidinha’ e foi a música mais tocada naquele ano. E é uma composição do Thiaguinho e do Rodriguinho. Um pagode que a gente conseguiu trazer para o sertanejo, um arranjo de sanfona com a batida e o toque do sertanejo.

[…] Eu queria botar uma música do Bob Marley, por exemplo, eu tentei tocar ela, mas ela não se encaixou com o ritmo. Eu não conseguia achar. […] Então, é muito do feeling, muito da sensação. Mas a música permite isso, a gente poder fazer essas fusões. E, realmente, não vai ser toda a música que vai se encaixar. Mas a grande maioria que a gente pensou acabou dando certo.”

No papo, que você pode conferir na íntegra logo abaixo, Michel Teló comentou mais detalhes sobre o processo de produção do Sertanejinho do Teló, apontou como ter sido técnico do The Voice Brasil ampliou sua visão musical e respondeu se o novo projeto pode se tornar uma turnê.

Leia a entrevista e ouça o primeiro volume do projeto ao final da matéria!

TMDQA! Entrevista Michel Telô

TMDQA!: Michel, eu vi alguns registros nas suas redes sociais do dia da gravação do “Sertanejinho do Teló” e pra gente começar, eu quero saber o que aquela noite representou pra você?

Michel Teló: Foi uma noite muito especial. Poder reunir a família, os amigos e fazer música é algo que faz parte da minha essência. Eu tenho uma família muito grande. Meu pai tem 12 irmãos, minha mãe tem 12 irmãos. É uma galera. Tenho primo pra caramba. É uma turma que gosta de festar, gosta de cantar, de dançar, de estar junto. Faz questão de estar junto, sabe? Então, é muito especial. Voltar pra Campo Grande, chamar a minha família, chamar os amigos e fazer um som juntos foi uma noite muito gostosa.

E fazer um som que tenha a ver com o que eu gosto de fazer. “Cara, vamos tocar tudo quanto é estilo aqui, no nosso batidão”, que é uma coisa que eu faço desde sempre. Literalmente. Então, é algo que você se sente em casa, sabe? Sem preocupação. Só para se divertir mesmo. Então, foi muito especial. É um projeto que foi feito assim. Bora chamar a turma, cantar umas modas de tudo quanto é estilo, aleatório, transformar isso num batidão sertanejo e dançar e cantar junto.

TMDQA!: No projeto você apresenta faixas que misturam artistas como Raul Seixas e Los Hermanos, Paralamas do Sucesso e Vitor Kley, como você enxerga a liberdade criativa dentro do sertanejo hoje e até onde dá pra fazer essas fusões sem perder a identidade do gênero?

Michel Teló: A música permite isso, né? Eu já tenho um histórico muito bom disso. Desde 2010, quando eu lancei “Fugidinha” e foi a música mais tocada naquele ano. E é uma composição do Thiaguinho e do Rodriguinho. Um pagode que a gente conseguiu trazer para o sertanejo, um arranjo de sanfona com a batida e o toque do sertanejo. Então, é sempre um desafio achar essa fusão. Tanto que, quando a gente foi tocar, várias músicas… putz, eu queria botar isso aqui, mas não ornou. Eu queria botar uma música do Bob Marley, por exemplo, eu tentei tocar ela, mas ela não se encaixou com o ritmo. Eu não conseguia achar. Então, vamos para outra.

E aí você vai buscando as músicas que, quando você toca, você fala… “Nossa, ficou gostoso isso aqui”. Vamos embora, tá? Então, é muito do feeling, muito da sensação. Mas a música permite isso, a gente poder fazer essas fusões. E, realmente, não vai ser toda a música que vai se encaixar. Mas a grande maioria que a gente pensou acabou dando certo.

TMDQA!: Além das músicas que eu mencionei, você também apresentou canções de veteranos da cena do sertanejo. E eu percebo que ao longo da sua carreira você sempre busca maneiras de contar a história do sertanejo, assim como você fez no “Bem Sertanejo – O Musical”. Eu queria saber se tanto esse projeto, como fazer agora a releituras dessas músicas é uma forma de conectar o público mais jovem com referências que marcaram outras épocas?

Michel Teló: Eu acredito que sim. Eu acho que o próprio “Bem Sertanejo”, que foi programa no Fantástico, foi muito importante pra isso. Porque a família toda tá assistindo ali. Então, pega desde o pessoal de mais idade até a gurizada. E estão todos vendo aquelas referências, e aquilo vai acontecendo por osmose, “Opa, eu já ouvi isso em algum lugar”. Então, eu acho que é importante a gente manter essa essência, essa raiz viva. Raul Seixas mesmo, eu tinha um LP do Raul. Se bobear, tá por aqui. Quando eu era criança, tinha lá. Meu pai nem ouvia rock. Meu pai sempre ouvia música sertaneja, música gaúcha. Porque ele é gaúcho, né? Mas tinha um LP lá do Raul Seixas que eu, criança, adorava ouvir.

Então, eu ouvia e quando eu fui fazer esse repertório, eu falei: “Cara, podia botar lá do Raul.” E aí começaram a tocar algumas, até que veio “Metamorfose”. Falei: “Cara, ficou divertido, ficou legal”. E eu gosto de tocar bateria. Falei: “Essa eu vou tocar na batera”. E foi uma coisa que foi acontecendo, foi fluindo.

TMDQA!: E nessa primeira parte do lançamento você apresenta a música inédita “Se Eu Tô Querendo Ir”. Com 30 anos de carreira e tantos lançamentos, como você faz para se reinventar? E onde você busca novas inspirações para suas músicas?

Michel Teló: Por exemplo, esse projeto mesmo, Sertanejinho do Teló, nasceu de uma brincadeira. Das reuniões de família, desses rolês que a gente faz aqui em casa. Então, poxa, é tão gostoso isso. Acho que chega um momento em que você fala “Cara, posso fazer uns projetos que…”, não preciso me preocupar mais com a responsabilidade de fazer um projeto que precise explodir. É lógico, a gente grava e poxa, se alcançar o coração das pessoas e for para o grande público, maravilhoso. Mas acho que a gente pode se dar o direito também. “Cara, vou fazer um projeto. Vou me divertir. Vou reunir a turma e a gente vai tomar uma, vai cantar, vai fazer festa. E vamos gravar isso”.

E, poxa, se as pessoas sentirem essa vibração, nossa, sensacional. Mas não tem tanta responsabilidade, não tem aquela preocupação. E aí, quando você sente que “Pô, isso aqui é legal, vou fazer isso. Nunca fiz, é diferente pra mim, pro meu público. Bora fazer”, entendeu? Então, acho que isso vai acontecendo naturalmente, quando você vai buscando, vai jogando assim pro universo a vontade de querer fazer algo, o universo te devolve.

TMDQA!: Você chegou a falar ali sobre os arranjos e testes, e você assina a direção musical do projeto ao lado do Newtinho. Entrando nesse assunto, qual foi o principal foco de vocês em termos de arranjo e sonoridade para criar essa identidade das músicas do Sertanejinho?

Michel Teló: Como nasceu dessas festas que a gente faz aqui e de um day off que eu tava com a minha banda, aí, uma hora eu pegava o baixo, tocava uma música, saía puxando canções aleatórias nesse batidãozinho. Tocando bateria e tal. Eu falei “Vou gravar assim”. E aí, acho que foi muito do feeling. Um dia eu liguei pra banda e falei: “Decidi, vou fazer.” Chamei minha banda, que veio lá de Campo Grande aqui pro Rio de Janeiro. O Niltinho veio, montei uma estrutura na garagem aqui de casa. Vamos tocar. Foi muito fluido, foi muito natural. Aí, eu fui fazendo o repertório que eu achava que ia ser legal.

Quando a turma chegou, eu falei “Vamos começar com essa aqui”. Aí, vamos embora. Por exemplo, a do Bob Marley que a gente tocou… poxa, eu queria gravar ela, mas não rolou. Não tava dando o swing que tinha que dar. Vamos passar pra outra. Então, foi muito natural. O arranjo foi acontecendo assim, na vera, sabe? Tipo, não é que nós paramos no estúdio, vamos arranjar música por música. Não, foi todo mundo tocando ali, e a coisa foi acontecendo, sabe? Eu mesmo na bateria: “Vou fazer essa batida aqui”. Quero uma bateria que eu possa tocar de pé, sabe? Curtir com a turma aqui. E vou fazer uma levada mais tranquila, não é pra ser uma batida forte. É uma roda de sertanejo. Então, a gente foi achando a sonoridade desse jeito, de forma natural. Tocando. Literalmente tocando.

TMDQA!: Você comentou sobre a música do Raul Seixas que você ouviu mais novo e o repertório do projeto apresenta várias clássicos da música brasileira. Eu queria saber se tem alguma música ali com um significado mais especial pra você, que traz alguma lembrança específica, por exemplo.

Michel Teló: Nossa, tem! Tem a dos Paralamas, eu gostava muito deles. E eles me influenciaram um pouco com um álbum deles, que tinha uma batida de reggae. E essa batida veio pro sertanejo, porque a batida do sertanejo, não tinha essa batida que é hoje, né? Eles me influenciaram nessa batida quando eu era pequeno. Eu falei “Putz, vou botar os Paralamas”, porque teve essa influência dos Paralamas nessa coisa dessa batida, do batidão, que hoje quase todo mundo toca assim. E aí, eu fui escolhendo músicas que, de alguma maneira, tinham uma boa recordação de algum momento na minha vida.

TMDQA!: Falando sobre essa diversidade de gêneros, como técnico do The Voice Brasil você teve contato com artistas dos mais variados estilos. Aquela vivência ampliou também a sua visão musical?

Michel Teló: Sem dúvida nenhuma. Nossa, foi um aprendizado pra mim esses… acho que foram nove anos fazendo o The Voice. Ali tive grandes professores. Desde os meus colegas de trabalho ali, e até a galera toda da produção sempre muito carinhosa. Então, foi realmente uma grande aula. Mas eu acho que a maior aula na vida de um músico é o baile. O baile e o bar, o boteco, te ensinam muito. Você ter o feedback das pessoas em tempo real. A banda de baile, a sala, quando tá cheia, é porque a coisa tá certa, tá acontecendo. Quando dá uma esvaziada, é porque alguma coisa que não tá funcionando. Você ter esse feedback em tempo real te ensina muito.

TMDQA!: Eu fui avisada que a gente precisa finalizar. Então antes de me despedir, eu queria saber se você pensa em transformar o Sertanejinho do Teló em uma turnê?

Michel Teló: Eu espero que sim. Eu já vou botar no meu show independente. Independente de ter uma label, digamos assim. Mas quem sabe fazer uma label. A gente já tem alguns shows agendados pra gente fazer. Porque como ele é um projeto bem intimista, bem diferente, essa característica de você estar como se estivesse em família ali, tem que acontecer. Então, a gente vai fazer mais alguns, vai testar, vai ver se a galera curte. E se isso acontecer, se essa magia acontece, aí a gente roda o Brasil.

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