Guioak, em registro promocional
Divulgação

O TMDQA! teve o privilégio de mergulhar no universo de Guioak, nome artístico de Guilherme Carvalho, um jovem compositor paulistano que está provando que a música não precisa apenas ser ouvida — ela pode (e deve) ser sentida em cores. Se em 2023 o artista nos apresentou a melancolia monocromática de seu EP de estreia, Músicas em Preto & Branco, agora ele abre as cortinas para um espetáculo de saturação e intensidade com o lançamento de Sinestesia Primária.

Neste projeto – lançado no mês passado -, Guioak abandona o porto seguro do violão acústico para desbravar as texturas da guitarra, transformando timbres em pigmentos. Produzido pela dupla Joni e Glimpse, o EP é uma jornada psicológica onde o vermelho, o azul e o amarelo deixam de ser simples cores para se tornarem veículos de autoconhecimento, desejo e catarse. Flertando com o Indie Rock e o R&B, o artista encontra sua verdadeira identidade na coragem de expor fragilidades e “pensar até demais”, como o próprio confessa.

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Nesta entrevista exclusiva realizada na cidade de São Paulo, conversamos com Guioak sobre o processo quase artesanal de construir esse novo capítulo de sua carreira ao longo de dois anos. Exploramos a fundo como a sinestesia moldou sua infância e sua arte, o peso de transformar crises existenciais em hits ensolarados e a visceralidade de sua “carta de amor à música” que encerra o disco. Prepare-se para uma conversa que desafia os limites dos sentidos e convida você a enxergar os sons por trás de cada acorde.

TMDQA! Entrevista Guioak

TMDQA!: Primeiramente, Guilherme, muitíssimo obrigado por nos receber, é uma grande honra! Queria começar falando sobre o seu novo EP, “Sinestesia Primária”, que busca misturar passado, presente e futuro em uma imersão nas cores. A faixa de abertura, “Sinestesia”, funciona como um prelúdio meditativo, como se você cantasse de dentro de uma sala vazia na sua mente. Qual foi o momento crucial que te fez perceber que a sinestesia e as cores seriam o mapa para este seu novo processo de autoconhecimento?

Guioak: Eu gosto muito de observar os diferentes processos criativos. O meu é baseado em um fluxo de consciência: eu nunca sei exatamente sobre o que estou escrevendo ou propondo no início. Às vezes, a música se materializa e eu só percebo o que ela é de fato muito tempo depois. A ideia das cores me acompanha desde o meu primeiro EP(Músicas em Preto & Branco), e, sem perceber, comecei a ser guiado pelas cores primárias. Foi um processo natural. Sinto que este projeto é maior do que eu, pois ele parece saber coisas sobre mim que eu ainda não descobri. Essa “sala vazia” de “Sinestesia” funciona como um limbo onde minhas experiências de passado, presente e expectativas de futuro viram um conglomerado de sensações.
Curiosamente, essa foi a última música que compus a letra, embora o riff de guitarra já estivesse comigo há cinco anos. Ela acabou se tornando a porta de entrada não só para o EP, mas para o Guilherme na sua plenitude.

TMDQA!: Conceitualmente, as cores primárias são opostas, mas você as usa como forças complementares. Como você garantiu que a transição entre o vermelho voluptuoso, o azul introspectivo e o amarelo catártico soasse orgânica e não apenas como um agrupamento de canções distintas?

Guioak: Meu objetivo era terminar o EP entendendo quem é o Guioak por completo, sabe? Eu vim de uma pegada acústica e agora queria “chutar a porta”. O EP acaba sendo uma homenagem ao próprio processo criativo, porque minhas referências são muito variadas.
Propus estéticas diferentes: “Perspectivas” puxa para o R&B arrastado, “Pulsões” é puro Synth-pop e “Passagens” é rock alternativo, gritaria, doideira [risos]. Cada faixa explora uma faceta minha.
Vendo o projeto inteiro, você tem a ideia real de quem eu sou.

TMDQA!: Falando sobre o vermelho de “Perspectivas”, a música aborda o risco, a ambição e usa a metáfora de se jogar de um prédio. O som é arrastado, com aquela pitada de R&B. Como você equilibrou a angústia descrita na letra com a coragem desse “salto de fé” inconsequente?

Guioak: A guitarra é o esqueleto de tudo. Muita gente me falou que a música soa “atrás do tempo”, e isso foi proposital; os acordes da guitarra estão levemente atrasados. Isso traduz o ímpeto de querer sair da inércia, mas ainda se sentir preso dentro de uma bolha, mesmo movido por uma vontade maior.
“Perspectivas” é sobre se jogar de cabeça, sem pensar nas consequências.

TMDQA!: Já “Pulsões”, inspirada pelo azul, vira para a introspecção e a ansiedade de “pensar demais”. Mas a sonoridade é um pop chiclete, bem solar. Essa estética foi uma escolha para mascarar os atritos existenciais da letra?

Guioak: Nunca nada foi planejado ou calculado para ser “chiclete”, foi intuitivo. Ela acabou trazendo uma pitada de Foster The People (estilo “Pumped Up Kicks”): a música é alegre, mas o assunto é sério.
“Pulsões” é a música mais introspectiva do EP e essa sonoridade pop mascara isso justamente para refletir como nossos sentidos nos enganam – o que você vê e ouve nem sempre é o que o seu corpo está sentindo. Ela é o ponto central do projeto, a conexão entre as extremidades.

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TMDQA!: Encerrando com “Passagens”, que é a favorita de muita gente! Ela é pura catarse: gritos, bateria pesada e solos. O quanto o barulho do rock alternativo foi essencial para traduzir essa emancipação das suas inseguranças?

Guioak: As músicas foram tomando forma em sequência – eu gravava e lançava, gravava e lançava. “Passagens” foi o reflexo direto de tudo o que vivi desde o começo do ano passado. Acabei acumulando muitas frustrações, inclusive pelo tempo que o projeto levou para sair. Essa música foi o “chega, vamos para a próxima”.
Eu não teria chegado a essa realização sem ter passado pelo processo das outras faixas, então, ela abre mão da insegurança e foca no desejo de viver o sonho de ser artista e jogar isso para o público.

TMDQA!: O seu primeiro EP era “Preto & Branco” e este é “Sinestesia”. Notei que na capa do primeiro você está de frente e borrado; neste, você está de costas e as cores são nítidas e vibrantes. Além disso, você mencionou uma coincidência incrível envolvendo a bandeira da Colômbia. Pode explicar isso?

Guioak: Total! Eu não tinha me dado conta de que a capa era o inverso exato da primeira (frente/costas, P&B/colorido, borrado/vívido) até o momento de criar. Sobre a curiosidade: na primeira faixa do meu primeiro EP (“Brilho Eterno”), deixamos uma conversa de estúdio onde meu produtor, o Joni, cita o jogador colombiano James Rodríguez.
Anos depois, percebi que as cores primárias do meu novo EP são justamente as cores da bandeira da Colômbia. Como eu disse, esse projeto revela coisas que eu ainda nem sei. [risos]

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TMDQA! Quase finalizando: se a sua música é um ato sinestésico, qual cor secundária (laranja, verde ou roxo) melhor representa o seu som hoje?

Guioak: Roxo. Com certeza, roxo. Eu sou uma pessoa que pensa demais e poucas ideias se materializam no papel, mas tudo o que venho vivenciando ultimamente tem sido bem “roxo”. Se eu lançasse algo agora, seria nessa cor!

TMDQA!: E como é tradição aqui no TMDQA!, queremos saber: você tem “mais discos que amigos”? E quais artistas você indicaria para o mundo hoje?

Guioak: Sem dúvida! Sou muito grato à cena independente e me sinto abraçado por ela. Alguém que me vem à cabeça na hora é a jumorelo. Sinto que nossos sons caminham juntos; as diferenças são parecidas. O trabalho dela é sensacional. Quanto aos discos que me moldaram:

  1. Michael Jackson – Thriller: A planta baixa do pop. Meu som, no fundo, é muito pop.
  2. John Mayer – Where the Light Is (Live in Los Angeles): O disco que me fez querer tocar guitarra. Mudou minha vida.
  3. Terno Rei – Violeta: O álbum que me inspirou a escrever. Descobri em 2019, num momento em que eu precisava me encontrar como artista e escrever minha própria história.

TMDQA!: Guilherme, muitíssimo obrigado por esses 17 minutos de conversa. Foi uma honra!

Guioak: Eu que agradeço! Foi um espaço muito especial, uma honra para mim!

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