
Veja o resumo da notícia!
- Retorno da banda Ironias com álbum que aborda o presente, a tecnologia e a condição humana na contemporaneidade.
- Evolução musical da banda, unindo influências do pós-punk, darkwave e punk hardcore com a música brasileira.
- Letras com referências literárias e filosóficas, explorando temas como fracasso, isolamento e crise existencial.
- Sonoridade que mistura elementos clássicos do pós-punk com texturas urbanas e ruídos, refletindo o caos do presente.
- Arte visual do álbum como linguagem que dialoga com o conteúdo musical, utilizando símbolos pré-colombianos e alquimia.
Depois de uma década em silêncio, a banda paulista Ironias retorna com um disco que olha diretamente para o presente, sem nostalgia e sem concessões. Odisseia Emergente ao Fracasso marca o reencontro do grupo com a estrada e com o público em um cenário musical profundamente transformado pela lógica dos algoritmos e das plataformas digitais.
Formado em Leme, no interior de São Paulo, o Ironias construiu sua identidade a partir do pós-punk, da darkwave e do punk hardcore, sempre com letras marcadas por inquietação existencial e crítica social. O novo álbum mantém essa essência, mas amplia o repertório estético da banda, abrindo espaço para momentos mais contemplativos e solares.
Odisseia Emergente ao Fracasso conduz uma poesia existencialista e imagética feita de paradoxos, angústias e pequenas epifanias. O álbum reflete sobre a relação entre o humano e o tecnológico, entre o toque e a ausência, entre o desejo e a anestesia. As letras orbitam a distopia algorítmica do presente, mas encontram beleza e sentido nas ruínas, naquilo que ainda pulsa entre o caos e a lucidez. Um exato retrato da nossa relação humana completamente intermediada pelos aparelhos eletrônicos.
Disponível nas plataformas de streaming, o disco soa como um diagnóstico de um mundo hiperconectado e, ao mesmo tempo, cada vez mais solitário.
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Uma banda moldada pelo hiato
Durante os dez anos longe dos lançamentos oficiais, os integrantes do Ironias seguiram caminhos artísticos distintos. O vocalista Jacintho aprofundou sua pesquisa na música latina em seu trabalho solo, que resultou no álbum Tropical Desespero, além de atuar como produtor cultural e idealizador do Festival MIGRA.
“Eu me dediquei absolutamente ao meu projeto solo, numa pesquisa na música latina que gerou, em 2019, o disco Tropical Desespero. Foi um trabalho no qual me concentrei até o período da pandemia e, posteriormente, me engajei mais na atuação como produtor cultural, na idealização e realização do Festival MIGRA, no interior de São Paulo.”
Já Cely Couto (bateria) e Matheus Campos (guitarra) mergulharam em uma estética mais radical com o duo Cáustico, projeto de noise punk conhecido no circuito underground pela crueza sonora e performática e que já apareceu neste TMDQA!. Essas experiências individuais ajudaram a moldar o som e o discurso de Odisseia Emergente ao Fracasso, que carrega o peso e a maturidade de uma década de vivências. Integra também o Ironia o baixista Lucas Rosa.
Letras entre filosofia e canção brasileira
As letras do Ironias partem de referências literárias e filosóficas ligadas ao existencialismo. Autores como Machado de Assis, Dostoiévski, Nietzsche e Zygmunt Bauman ajudam a construir temas como fracasso, estranhamento, crise do sujeito e isolamento contemporâneo.
“A narrativa existencialista permeia a filosofia e é um processo de conhecimento de autores e títulos que foram me afetando ao longo da vida, que vai do Alienista, de Machado de Assis, a Notas do Subsolo, de Dostoiévski, passando por Nietzsche, Bauman, Hakim Bey, Pierre Lévy e tantos outros”, conta Jacintho.
Ao mesmo tempo, a forma poética dialoga diretamente com a música brasileira, especialmente na maneira de trabalhar ritmo, melancolia e intensidade emocional.
“A lírica, as métricas, a musicalidade e o ritmo das letras são essencialmente influenciados pela música brasileira. Por Gilberto Gil, por Cátia de França, por Djavan e, sobretudo, por Jards Macalé, que tinha uma capacidade absurda de abordar a melancolia, o caos e o desprezo com uma visceralidade poética incrível.”
Essa combinação resulta em um som que pode ser definido como um “pós-punk tropical”: denso e crítico, mas sem perder calor e humanidade e com uma atmosfera de nostalgia oitentista.
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Entre referências clássicas e atuais
Sonoramente, o álbum transita entre matrizes clássicas do pós-punk e do punk hardcore como Bauhaus, Gang of Four, Siouxsie and the Banshees e Black Flag e nomes contemporâneos como Idles, Viagra Boys, Metá Metá e Boogarins.
A produção aposta em texturas urbanas, ruídos, silêncios e atmosferas fragmentadas, refletindo o próprio conteúdo das letras e a sensação de deslocamento típica do tempo presente.
Arte que também comunica
A capa de Odisseia Emergente ao Fracasso é assinada por Diogo Robert de Lima, artista indígena que vive no interior de São Paulo, com finalização de Lari Limoeiro. A arte utiliza um sistema de ideogramas e glifos inspirados em símbolos pré-colombianos, adinkra e referências à alquimia e ao tarô.
Cada imagem representa temas e etapas da jornada proposta pelo disco, funcionando como uma linguagem visual que dialoga diretamente com o conteúdo musical.
Um retorno sem nostalgia
Mesmo após dez anos, o retorno do Ironias não se ancora no passado. A banda encara o presente como um novo território a ser explorado, inclusive na relação com o público e com a cena independente, hoje atravessada por algoritmos e grandes plataformas. Com shows recentes feitos no interior paulista e planos de circulação para o primeiro semestre de 2026, o Ironias reafirma seu compromisso com o contato direto, a escuta atenta e a experiência ao vivo.
Odisseia Emergente ao Fracasso é um convite para conhecer — ou redescobrir — uma banda que prefere observar o caos de frente, abraçar abismos e transformá-los em música.
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