
Veja o resumo da notícia!
- LEALL lança EP 'Você Precisa do Álibi', marcando nova fase com experimentação sonora e maturidade, servindo como prólogo para seu terceiro álbum.
- O EP explora fragmentos íntimos de um artista negro em deslocamento, abordando territórios simbólicos, sociais e geográficos a partir de sua vivência.
- O título reflete a necessidade constante de justificação enfrentada por pessoas negras, usando a arte como ferramenta de sobrevivência e afirmação.
- O EP tensiona a relação entre arte e mercado na era digital, com foco na pressão por quantidade versus a qualidade e cuidado no trabalho artístico.
Como quem atravessa um túnel sabendo que, do outro lado, o mundo não será exatamente mais simples, LEALL lança Você Precisa do Álibi, EP que funciona como ponto de inflexão em sua discografia. O projeto, já disponível nas plataformas digitais e no YouTube, inaugura uma fase de maior experimentação sonora e também de maturidade artística, servindo como prólogo conceitual para o terceiro álbum de estúdio do rapper carioca.
Com seis faixas, o EP se organiza como um conjunto de fragmentos íntimos: relatos, observações e inquietações de um artista negro em constante deslocamento entre territórios simbólicos, sociais e geográficos. Nascido em Marechal Hermes, na Zona Norte do Rio de Janeiro, LEALL construiu sua trajetória a partir de uma escrita crua e sensível, consolidada nos discos Esculpido a Machado (2021) e Eu Ainda Tenho Coração (2024). Agora, ele amplia esse vocabulário ao flertar com novas texturas, climas e arranjos, sem perder o fio narrativo que sempre marcou sua obra.
“Eu aprendi muita coisa desde que comecei, mas quando estou com os gigantes da música vejo que ainda falta muito pra evoluir”, reflete o artista. “Quero melhorar minha escrita, minha sonoridade. Minha escrita é forte, mas já estou aprendendo a produzir e tocar instrumento pra crescer ainda mais.”
O álibi de Leall
O título Você Precisa do Álibi carrega o peso conceitual do projeto. Para LEALL, a frase sintetiza uma experiência cotidiana de pessoas negras que precisam, constantemente, justificar sua presença, suas conquistas e seus deslocamentos.
“A gente sempre tem que provar que não está errado. Eu moro num condomínio de classe média e as pessoas ficam me olhando, tentando entender o que eu faço. É o racismo velado, cheio de tensão no ar”, conta. A arte, nesse contexto, surge como ferramenta de sobrevivência, afirmação e proteção simbólica.
Essa ideia de travessia se materializa logo na faixa de abertura, “Túnel Rebouças”, que estabelece o conceito central do EP. A música reflete sobre o acesso a espaços historicamente negados e o impacto que a presença de um homem negro provoca nesses ambientes.
Mas a travessia não é apenas social: é também afetiva. LEALL relembra que sua mãe cruzava diariamente o túnel para trabalhar, sonhando um dia fazê-lo dirigindo. “De certo jeito, consegui realizar esse sonho dela”, diz, transformando memória pessoal em narrativa coletiva.
Já em “Quem Sabe Um Dia”, LEALL retorna ao campo da vulnerabilidade, expondo dúvidas e cansaços internos. “Eu sou cheio de questões que preciso resolver comigo mesmo”, admite. “Não sou bom em falar o que sinto no dia a dia, então é na música que essa válvula de escape aparece.” A sequência com “Todo Menino É Um Rei” funciona como resposta a esse mergulho introspectivo, reafirmando sonhos, identidade e pertencimento, ao mesmo tempo em que reflete sobre o corpo negro em espaços majoritariamente brancos.
De olho no futuro
O encerramento com “Era Digital” aponta diretamente para o futuro da carreira do artista. A faixa desacelera o ritmo e propõe uma escuta mais atenta, incorporando teclado orgânico e uma atmosfera próxima do jazz. “Quero que meu próximo disco tenha mais músicos presentes na produção”, revela LEALL. “Esse EP reúne faixas que eu já tinha, mas é ‘Era Digital’ que aponta para o que vem depois.”
Ao longo de Você Precisa do Álibi, LEALL também tensiona a relação entre arte e mercado, especialmente diante da lógica acelerada do streaming e do algoritmo. “Hoje o artista precisa estar presente no digital para além da música”, observa. “Quem gosta de fazer um trabalho com cuidado sente muito essa pressão por quantidade. A gente tenta não se render totalmente a essa nova indústria.”
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A coluna que mergulha nas histórias, letras e batidas que estão redefinindo o cenário musical do Rap. Acompanhe de perto os lançamentos e a força das rimas que ecoam pelas ruas.
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