
No trap, o estranho é necessário. E é exatamente a partir dessa premissa que Matuê lança XTRANHO, seu novo disco visual, que desafia as regras do mercado, questiona os rumos do mainstream e aposta na força criativa do underground.
Lançado de surpresa na última quarta-feira (10), durante um evento gratuito em São Paulo que reuniu 10 mil pessoas, o trabalho reafirma a posição do rapper cearense como um dos principais articuladores estéticos, políticos e culturais do gênero no Brasil.
Ao longo de 13 faixas, Matuê experimenta com formas, narrativas e sonoridades, num mergulho radical em sua própria visão artística. “Eu represento o meu bando”, avisa logo na primeira música, estabelecendo que o disco é também um manifesto de pertencimento: à sua equipe, ao selo 30PRAUM e à base criativa que sustenta a resistência da cena. Mais do que um álbum, “XTRANHO” é um gesto de ruptura estética e ética.
Desconforto como imagem
Gravado em apenas quatro meses, o álbum nasceu do incômodo de Matuê com os caminhos previsíveis da indústria musical. Ao invés de agradar, ele provoca. Ao invés de polir, ele fere.
A estranheza não é acaso, mas uma escolha. Na faixa-título, com participação de Brandão, o desconforto é assumido como ferramenta de expressão: “Foda-se se você não entende / Meu estilo é inconveniente”, canta o duo.
Referências ao caos sonoro de Aphex Twin aparecem como pista para o universo do álbum, que evoca sonhos febris, paisagens visuais sombrias e recortes de um imaginário que flerta com o grotesco. Em “MEU CEMITÉRIO”, por exemplo, a arte confronta a beleza como moeda, propondo uma distorção provocadora que questiona a idealização do artista e o apagamento de sua subjetividade pela lógica do espetáculo.
Mais do que som, XTRANHO é um ecossistema. Matuê não apenas compôs, gravou e produziu as faixas, como também criou, em paralelo, um laboratório criativo com designers, produtores e artistas visuais que ajudaram a expandir os limites do disco para além do áudio. Foi daí que nasceu o website interativo, as peças de moda, as artes conceituais e o espetáculo multimídia do evento de lançamento, com palco em formato de X.
Esse universo se desdobra em faixas como “ÍCONE FASHION” e “ALTERADO”, onde o lifestyle do trap é exaltado com adrenalina e autenticidade. Já em “BACKSTAGE” e “TALKIN BOUT”, o artista fala de sexo, fetiches e liberdade com uma honestidade crua, sem filtros.
Matuê e a coletividade
Apesar da autoria central de Matuê, XTRANHO é também um gesto coletivo. Nos momentos finais do processo criativo, o rapper reuniu nomes emergentes da cena para colaborar com ele, apostando na força da vanguarda do trap brasileiro. Kouth, N.A.N.A., Phl Notunrboy, Cashley, FAB GODAMN, LPT ZLATAN e Okie estão entre os convidados.
Esse espírito é sintetizado em “AUTOBAHN”, quando Matuê canta: “Baby, eu tenho um plano pra gente ficar gigante”. O plano, ao que tudo indica, é justamente esse: crescer de forma autêntica, sem se render às fórmulas. Resgatar o underground não como passado glorioso, mas como futuro possível.
O evento de lançamento em São Paulo foi uma celebração dessa ideia. No centro do palco, Matuê apresentou pela primeira vez as faixas de XTRANHO, cercado de fãs e colaboradores, num espetáculo que misturou moda, música e arte performática. O encerramento veio com a faixa “TODAS AS LUZES”, onde o artista declara guerra às estruturas caducas e se coloca ao lado das ideias que provocam, queimam e transformam.
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