Rafael Bittencourt tocando violão e guitarra
Foto por André Tedim

Veja o resumo da notícia!

  • Reunião da formação 'Nova Era' do Angra com Edu Falaschi, Aquiles Priester e Kiko Loureiro impulsionada pelo Bangers Open Air.
  • Afastamento de Fabio Lione ocorreu durante pausa da banda, sem relação direta com a reaproximação dos ex-integrantes.
  • Rafael Bittencourt idealiza um Angra com formações flexíveis, priorizando o legado e a história da banda.
  • Show de reunião no Bangers Open Air celebrará diferentes fases do Angra, com a participação de vários vocalistas.
  • Reunião é vista como oportunidade comercial, desejo dos fãs e chance de superar mágoas entre os membros.

Nas últimas semanas, em que o Bangers Open Air se tornou a fada madrinha dos fãs do Angra ao realizar a tão esperada reunião entre Edu Falaschi, Aquiles Priester, Kiko Loureiro, Felipe Andreoli e Rafael Bittencourt, a chamada fase Nova Era da banda, o TMDQA! conversou com o guitarrista Rafael sobre os bastidores dessa história.

Com uma enxurrada de anúncios, o Angra surpreendeu os fãs ao apagar suas publicações no Instagram e deixar um enigmático: “foi bom enquanto durou”. O fandom reagiu em euforia ao saber que a formação mais popular da banda voltaria a se reunir.

No rastro desse reencontro veio o desligamento de Fabio Lione e, em seguida, a entrada de Alírio Neto, nome já conhecido no Angraverso: ele havia sucedido Andre Matos no Shaman e, no passado, chegou a ser cogitado para substituir Edu no próprio Angra.

Reaproximação acontece há mais de um ano

Rafael Bittencourt explicou que a reaproximação com os antigos companheiros, o baterista Aquiles e especialmente o vocalista Edu, estava no radar do Angra havia mais de um ano — com Edu, principalmente para revisar obras e organizar questões de direitos autorais. Nesse contexto, os dois passaram a tocar, ainda que superficialmente, no assunto de realizar eventos juntos, algum tipo de colaboração, não necessariamente a reunião completa dos ex-integrantes.

Em meio à reaproximação com ex-integrantes, o atual vocalista Fabio Lione anunciou sua saída da banda. Rafael explica que a decisão do Angra por uma pausa indeterminada — iniciada em agosto deste ano, após o show de encerramento de uma extensa turnê comemorativa dos 20 anos do álbum Temple of Shadows — atravessou a decisão do cantor de se afastar e voltar-se para seus outros projetos e que a decisão do italiano não tem relação com a reaproximação com os ex-membros.

O show do Bangers Open Air marcará o último compromisso de Lione com o Angra. Ainda assim, ele permanece ocupado no Brasil até o ano que vem: segue em turnê por diversas cidades, apresentando obras do Rhapsody of Fire ao lado de orquestra e coral.

O show Angra Reunion no Bangers Open Air acontecerá em uma data curiosa: 26/4/26 — um palíndromo, número que lido de trás pra frente ou de frente pra trás permanece o mesmo. Uma espécie de poesia numerológica para celebrar os 25 anos de Rebirth no ano que vem, álbum que marcou a estreia da formação Nova Era.

Bangers Open Air cupido do Angra

Os fãs mais atentos perceberam que, neste ano, membros e ex-membros do Angra estavam reatando o coleguismo de alguma forma. Nas redes sociais, o próprio Rafael e Edu trocaram emojis em brincadeiras simpáticas entre eles.

Curiosamente, foi no Bangers Open Air deste ano que uma imagem mexeu com os fãs: Felipe Andreoli, Edu e Aquiles registraram, em foto, um encontro no festival, já dando indícios de que a ponte entre eles estava sendo refeita. Rafael repercutiu a foto em seu canal no YouTube, Amplifica, brincando e se perguntando se “era reunião do Angra e ele não tinha sido avisado”.

Reunião poderá ser gravada

A possibilidade de um show de reunião da “Nova Era” do Angra existe, segundo Rafael Bittencourt. “É um grande momento, tem de ser documentado”, defende. Caso isso aconteça, o evento terá um caráter quase místico, já que um dos registros mais queridos pelos fãs — o icônico DVD Rebirth World Tour • Live in São Paulo, que marcou o batismo de Edu, Aquiles e Andreoli no Angra, poderá ser simbolicamente revivido.

Rafael explica que a banda ainda não se encontrou pessoalmente, ainda não houve um grande aperto de mão entre as partes e as tratativas por enquanto são online. Diz que mais próximo do show estabelecerão uma rotina de ensaios. Segundo ele, o show pretende celebrar as três fases do Angra, com prováveis momentos em que todos os vocalistas estarão no palco, incluindo alguns duetos.

A nova fórmula do Angra

Se no passado Rafael, único membro fundador remanescente e sobrevivente de todas as fases do Angra, havia sinalizado que não suportaria outra mudança na formação, hoje ele diz ter elaborado melhor essa questão e encontrado um elixir mais doce para lidar com situações amargas e frustrantes. Por isso, afirma que “não gostaria que o Angra fosse algo definitivo a partir de agora”.

Rafael explica que tem o desejo de impor ao Angra um novo ritmo, que não siga o modelo tradicional de banda com formação fixa. Ele defende que o Angra se tornou algo maior do que seus integrantes — uma espécie de escola, uma tendência — e que, por isso, gostaria de experimentar maior fluidez nos palcos, ajustando a formação conforme cada momento exigir.

As formações híbridas permitiriam excursões comemorativas, celebrações, pois, para Rafael, o que importa atualmente é o legado do Angra. “Já tenho a mentalidade de fazer o Angra ser uma grande instituição e já havia criado há um tempo atrás o ‘Angra Family’, para que a imagem fosse muito mais ao redor da história, do que a gente representa, do que uma formação específica, de um determinado momento. Então para mim essa (reunião) também é uma vitória do ponto de vista estratégico, que eu já pensava anos atrás”. 

Assim, o show especial Angra Reunion será uma bela amostra do que pode ser o futuro da banda com o Bangers Open Air funcionando como uma espécie de incubadora desse modelo que reunirá em cima do palco as duas encarnações do Angra: a atual, com o guitarrista Marcelo Barbosa e o baterista Bruno Valverde, e a anterior. Além disso, celebrará a fase clássica e primordial de Andre Matos com Alírio.

Segundo Rafael, o modelo também esclarece dúvidas sobre a possibilidade de o Angra ter três guitarristas com a volta de Kiko para a reunião (ele deixou o Angra em bons termos para integrar o Megadeth entre 2015 e 2023) além de sanar especulações sobre a permanência do baterista Bruno Valverde que hoje tem carreira de expressão internacional.

Na esteira dessa ideia de show com diferentes formações, Rafael afirma que adoraria celebrar os 30 anos de Holy Land em 2026 com Ricardo Confessori e Luis Mariutti, mas não há planos: “Seria lindo, mas é complexo demais com o compromisso do Bangers”. Além disso, Rafael diz que pretende colocar a banda para hibernar novamente após o show no Bangers para cumprir o que anunciou no início do hiato: descansar das turnês longas e organizar pendências das banda.

Reunião: demanda de mercado e oportunidade pessoal e espiritual 

A volta da formação de Rebirth e Temple of Shadows é vista como uma combinação entre desejo do público, demanda de mercado e fator emocional interno, segundo Rafael. A concretização da reunião parte de proposta feita pela cúpula do Bangers Open Air.

“É uma oportunidade comercial, sim, existe demanda. Mas é também uma oportunidade pessoal. Existiram mágoas, e, para mim, esse reencontro é importante até mesmo espiritualmente. Uma chance de sermos pessoas melhores.”

Alírio: um nome antigo no Angraverso

Alírio Netto foi escalado para o reencontro histórico do Angra em 2026 no Bangers Open Air, mas sua permanência após o show não está confirmada, já que a banda pretende retomar a pausa. Cantor e ator de projeção internacional, Alírio estrelou musicais como Jesus Cristo Superstar e We Will Rock You, e integra o Queen Extravaganza com a benção dos caras do Queen. Amigo de longa data, está “pronto para segurar a bronca”, mas sem previsão de continuidade, diz Rafael. Ele faz parte do Angraverso e sempre esteve em colaboração com o universo Angra. Quando Edu deixou o Angra, Lione entrou como convidado antes de ser efetivado — cenário que pode se repetir com Alírio.

Era Lione: a mais contestada e mais próspera

Rafael reconhece que parte dos fãs nunca aceitou completamente a entrada de Fabio Lione, mas afirma que a fase foi a mais bem-sucedida comercialmente. “Existia muita procura pelo Angra como ele é”, assegura. “Tivemos casas lotadas, turnês incríveis, convites internacionais. Fomos ao Japão recentemente, inclusive”.

Lione foi o vocalista mais longevo do Angra e sua estadia durou 13 anos e rendeu três álbuns de estúdio — Secret Garden, Ømni e o recente Cycles of Pain, que vem se cristalizando entre crítica e público como um dos melhores discos da história da banda — além de um álbum acústico.

Crises pessoais marcaram década de Rafael longe dos ex-membros

Perguntado sobre quem era o Rafael que os ex-integrantes deixaram para trás e quem é o Rafael de agora, o guitarrista reflete sobre as profundas mudanças vividas ao longo de quase duas décadas de afastamento de Aquiles e cerca de quinze anos distante de Edu.

Um divórcio complexo, um novo casamento, a transição de gênero da filha que se afirmou homem trans, a saída de Kiko, disputas pela marca, a entrada de novos integrantes, o fortalecimento de seu projeto solo, o Bittencourt Project, que o levou ao microfone como cantor, e sua empreitada como comunicador à frente do canal de conteúdo musical que criou, o Amplifica: tudo isso atravessou sua vida ao longo desses anos, moldando-o.

“O Aquiles saiu eu estava nos meus 30 anos e hoje estou nos meus 50, então só isso já muda bastante coisa”, diz. “Poderia até ter acabado com o Angra naquela época (saída de Edu), mas, não por vontade ou por pressão de haters, mas sim por questões pessoais delicadas que estavam me atravessando”.

Rafael revela que, durante as gravações de Secret Garden — o primeiro disco sem Edu Falaschi e Aquiles Priester —, contou com o apoio irrestrito de Kiko Loureiro, já que fatores emocionais pessoais o desestabilizaram naquele período.

A ausência de André Matos e o impacto emocional

Perguntado sobre se a morte de André Matos influenciou a decisão de reunir a formação, Rafael é direto: “sempre quis a reunião com o André. A morte matou a esperança. Mas acho que, para alguns, ficou claro que estar vivo é uma oportunidade.”

Entrevista em colaboração

Esta entrevista foi produzida em parceria entre o TMDQA! e o Canal Amplifica. A versão completa em vídeo estará disponível em breve no canal Amplifica no YouTube.

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