Mariana Volker
Foto por Maria Clara Miranda

Veja o resumo da notícia!

  • A organização da música por gêneros distintos está se diluindo com o streaming, que possibilita a combinação de estilos e a quebra de fronteiras.
  • O streaming transformou a descoberta, o consumo e a criação musical, representando grande parte da receita do mercado fonográfico brasileiro.
  • A mistura de ritmos e estilos é uma característica da identidade sonora brasileira, influenciando artistas a experimentarem e conectarem diferentes sons.
  • A fluidez sonora permite que canções encontrem espaço em diversos projetos, demonstrando a aceitação do público à variedade musical.
  • A música, assim como as pessoas, não se limita a categorias fixas, e a mistura se torna uma linguagem de conexão e compartilhamento.

Por Mariana Volker, cantora e compositora

Durante muito tempo, a música foi organizada em gavetas bem separadas. A gente ouvia, classificava e consumia por gêneros. Tinha a tribo do axé, o grupo da roda de samba, os aficionados por rock, os apaixonados por pop, os ouvintes de bossa nova e tantas outras caixinhas, mas essa lógica está mudando. As plataformas de streaming abriram as portas para que tudo pudesse se misturar, dando espaço a uma dinâmica “genre-fluid”, em que playlists combinam estilos, cruzam cenas e rompem fronteiras que antes pareciam rígidas.

O streaming não é mais só um meio de ouvir música, ele mudou a forma como a gente descobre, consome e cria. No Brasil, em 2024, cerca de 88% de toda a receita do mercado fonográfico veio dessas plataformas digitais,  segundo o relatório anual Mercado Brasileiro de Música da Pro-Música. Seja pela facilidade de acesso, pela possibilidade de descobrir artistas de diferentes estilos em poucos cliques ou pelas indicações personalizadas das plataformas, essa nova forma de consumir música vem se tornando cada vez mais comum.

É um movimento global, mas com uma força muito especial aqui no Brasil, onde as misturas sempre fizeram parte da nossa identidade sonora. A música é para ser sentida, compartilhada e, debaixo dessa crença, cresci ouvindo de tudo: de MPB a Rock, Pop, Jazz e Blues. Quando comecei a compor, percebi que minhas letras e melodias não cabiam em uma única definição, pois minha identidade musical é feita dessa colcha de retalhos. Quando canto, carrego na minha voz as memórias do Rock que me influenciou tanto no começo, as batidas do Pop que me traziam cores e novas referências e a leveza da música brasileira com sua mistura de ritmos e sonoridades — tudo junto.

Não há mais uma prateleira certa para caber. Vejo isso acontecendo com muitos artistas da minha geração, como Liniker, Tim Bernardes, Troá, Bruno Berle, Ana Frango Elétrico, entre tantos outros. Nossa arte é menos sobre “encaixar” em um gênero musical e mais sobre experimentar e conectar. Essa fluidez sonora é reflexo de uma nova forma de ouvir e sentir música.

Minhas canções têm encontrado espaço em playlists que cruzam cenas, em trilhas de novelas e séries, como a novela Mania de Você, na Globo, ou até mesmo no Big Brother 21, quando uma canção minha foi tema do grupo de mulheres. Outras canções já foram temas de projetos acadêmicos, pano de fundo de outros trabalhos artísticos de dança e performance, e em colaborações com artistas como Capital Inicial e Gilsons, que representam cenários diferentes dentro da música brasileira, que vêm de universos bem distintos. Os caminhos se cruzam, e cada mistura abre uma nova possibilidade de encontro entre vozes e sonoridades.

Diante desse novo cenário, o público vem respondendo com entusiasmo. De acordo com dados do Spotify, mais de 25 milhões de horas de música brasileira são ouvidas todos os dias no país e no mundo, e mais de 815 milhões de playlists de usuários incluem artistas brasileiros. Isso mostra não apenas a força da música feita aqui, mas também como as pessoas estão dispostas a conhecer e transitar entre estilos e sons diferentes.

E sabe a parte mais bonita desse movimento? É que ele constata que a música não cabe em caixas fechadas, assim como nós. Misturar não é mais exceção: é linguagem. É assim que nos conectamos com quem ouve, com quem sente, com quem compartilha. E é nesse lugar, entre fronteiras borradas e sons que se encontram, que eu escolhi cantar.

OUÇA AGORA MESMO A PLAYLIST TMDQA! BRASIL

Música brasileira de primeira: MPB, Indie, Rock Nacional, Rap e mais: o melhor das bandas e artistas brasileiros na Playlist TMDQA! Brasil para você ouvir e conhecer agora mesmo. Siga o TMDQA! no Spotify!