Prince Belofá
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Com apenas 21 anos, o rapper e compositor Prince Belofá estreia com força total no cenário da música preta brasileira. Seu primeiro álbum, Neguinho, chegou às plataformas digitais no Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, e traz 12 faixas que transitam entre rap, trap, groove e influências afro-diaspóricas.

Com identidade, espiritualidade e vivência periférica, o disco aponta o artista como um dos nomes mais promissores do Distrito Federal. Nascido em Sobradinho (DF), Prince Belofá — ou João Victor, seu nome de batismo — cresceu entre poesia, religião de matriz africana e a efervescência cultural das quebradas do centro-oeste.

Candomblecista, fã de samba e leitor de Mário Quintana, ele moldou seu repertório entre Racionais MC’s, Djonga, Jovelina Pérola Negra e Alcione. Tudo isso aparece em Neguinho, uma obra que ele define como “afro trap, sampa rap… mas no fim das contas, é um disco de rap. Rap pra caralho. Um disco que o Rappin Hood faria.”

Sonhos, luta e fé

Com participações de Marcelo Café, Nayê, Aggin, Isa Marques, Aqualtune e Layó, o álbum é um mosaico de vozes negras que se cruzam em afeto, denúncia e fé. Produzido por Noze, Piá The Kid, ZucaBeatz e Rubão, o disco costura beats de diferentes escolas com letras que exaltam a vivência preta no DF, abordando temas como racismo, ancestralidade, religiosidade e sobrevivência.

Prince explica que o título Neguinho é uma provocação carregada de camadas: “Na boca da família, pode ser carinho. Na boca de um branco, pode ser ofensivo. E tudo isso está no disco.” O álbum se propõe a atravessar essas nuances — do afeto ao incômodo — com a intenção de reforçar identidade e provocar reflexão.

Levar o disco até o fim foi um caminho de três anos entre ideias, colaborações e momentos de introspecção. Algumas faixas surgiram durante um acampamento musical promovido pelo próprio Prince, reunindo artistas locais em um ambiente de troca criativa. Ele define esse processo como um “game artístico”, onde as faixas nascem de vivências reais, muitas vezes escritas no estúdio, no calor do momento.

Estética sonora e discurso afiado

As faixas do disco não se limitam à métrica do rap. Há pontos de macumba, grooves dançantes e melodias que evocam a ancestralidade. Com lirismo e entrega, Prince transforma espiritualidade em rima e faz do rap um espaço sagrado: “Assim como Exú é o dono das ruas, o rap é um movimento nascido nelas. É elementar.”

Com intro, interlúdio e 10 faixas, o disco tem uma estrutura que convida o ouvinte a acompanhar a trajetória de um personagem — o “neguinho” — em meio a seus medos, crenças, conquistas e dilemas. A sonoridade abraça o rap clássico, flerta com o trap e atravessa o samba, o afrobeat e o neo-samba. O resultado é um trabalho coeso, denso e, ao mesmo tempo, sensorial.

Para Rubão, um dos produtores do álbum, Prince tem o potencial de alcançar muito além do cenário local: “Ele tem uma fala e uma presença. As ideias que ele passa nesse álbum têm tudo pra mudar não só a vida dele, mas de vários ‘neguin’ por aí.”